Aviso legal: Os personagens, e tudo que for reconhecido, dessa história não me pertencem, mas sim a incrível J.K. Rowling. E acreditem, se fosse minha, Harry Potter teria um fim bem diferente...

Avisos: Romance entre SS/HG, linguagem adulta e conteúdo sexual.

Notas da Autora: Hello! Mais um capítulo fresquinho e dessa vez bem mais rá deixe saber o que esta achando, boa leitura.


3. Decisão

Hermione ainda não conseguia entender porque Papoula lhe contara tudo aquilo, ela não sabia se estava feliz em saber mais sobre Snape que, de alguma forma, tinha passado a ser parte de sua vida, se é que usar a palavra feliz era apropriado diante de tudo que ela descobriu, ou se talvez a ignorância fosse uma benção as vezes. Mas ela chegou rapidamente a uma conclusão, se ele havia suportado passar por tudo aquilo, o mínimo que ela podia, e devia a ele, era escutar.

- E depois? O que aconteceu quando ele terminou a escola? – Dilys sorriu ao ouvir a pergunta, ela sabia que contar a ela sobre Severo era a decisão certa.

- Ficamos muitos anos sem vê-lo, eu nunca fui uma parte ativa da ordem, e Dilys só tem um quadro no St. Mungo's fora da escola.

- Eu tive notícias dele novamente pouco antes da morte dos Potter, ele veio a Hogwarts para se candidatar a vaga de professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, ou pelo menos foi o motivo oficial da visita.

- DCAT? Achei que ele havia aplicado para o cargo em poções. Nós sabíamos do interesse que ele tinha em DCAT, mas achávamos que veio depois.

- Não – Dilys continuou – Dumbledore lhe ofereceu o cargo em poções, mas Severo tinha ordens para conseguir a vaga em DCAT, por isso ele continuou se aplicando para a função todos os anos desde a sua contratação, mesmo sabendo que não conseguiria.

- Você disse que a entrevista era o motivo oficial, havia outro?

- Severo veio oferecer seus serviços a Dumbledore em troca da proteção de Lílian Potter. – Hermione ainda não conseguia entender que tipo de amor perduraria depois de tudo que ele passou e depois de ela se recusar em perdoá-lo por uma briga estúpida. Como nascida-trouxa ela entendia o quanto ser chamada de sangue-ruim era doloroso e colocava em xeque todas as inseguranças que alguém com seu status sanguíneo poderia ter, mas arruinar anos de amizade sem sequer uma chance de explicação, ela simplesmente jamais entenderia.

- O que aconteceu depois que ele se tornou espião da Ordem?

- Severo retornou a Hogwarts para lecionar em setembro, foi a primeira vez que o vi após sua formatura – continuou Papoula – ele deveria fazer um check-up antes do início do período letivo, assim como todos os professores. Vê-lo depois três anos foi um choque, os resquícios do garoto que eu conheci haviam desaparecido. As sombras que eu via em seus olhos aos onze anos não estava mais ali, na verdade não havia muito o que ver, seus olhos pareciam vitrificados, seu rosto era uma máscara inexpressiva. Eu sabia o que ele tinha se tornado, sabia lá no fundo o caminho que ele havia tomado, mas ser confrontada com a realidade ainda foi doloroso. Ele não queria me deixar examiná-lo, Dumbledore teve que lembrá-lo que era uma cláusula em seu contrato para que eu pudesse me aproximar. – ela se remexeu inquieta em sua poltrona, desviando o olhar para um canto vazio do quarto – Enquanto eu realizava os exames eu desejei tê-lo deixado ir. Imaginar algo e ser confrontada com a realidade são coisas bem diferentes. Havia danos no seu sistema nervoso, traços de magia das trevas que eu não era capaz nem de identificar. Encontrei múltiplas lesões em processo de cura, algumas tão extensas que eu questionei minhas habilidades em interpretar os resultados. Infelizmente a situação piorou muito nos mês seguinte, ele chegava coberto de sangue, que muitas vezes não eram só dele, em estado catatônico e até convulsionando. Eu não sei o quanto uma pessoa é capaz de sobreviver a maldição cruciatos, antes de acabar como Frank e Alice Longbotton, mas Severo sempre me surpreendeu nesse quesito. Mas o pior de tudo é que ele não queria minha ajuda, assim que eu estabilizava o suficiente para voltar a andar ele insistia que eu o deixasse voltar para as masmorras, independente se ser seguro ou não. – Ela voltou a olhar para Hermione – Até a noite de Halloween em que os Potter morreram e Voldemort caiu. Na época eu não sabia as razões que Severo tinha para ter trocado de lado, todos desconfiavam dele, não entendiam por que Alvo confiaria em um comensal da morte. Para ser sincera, eu mesma não entendia, mesmo sabendo de mais que a maioria eu não conseguia acreditar que ele seria capaz de passar por cima de tudo que ele havia sofrido, apenas para fazer o que era certo, até porque o lado da luz nunca foi justo com ele. Mas eu sempre tive esperança, e quando ele retornou a Hogwarts e continuou leal a Ordem eu me permiti acreditar mais uma vez que ele poderia ser salvo de si mesmo. Severo lutou muitas batalhas, mas sempre houve uma guerra que ele nunca pode vencer. Ele nunca conseguiu ver algo bom em si mesmo. Mesmo depois do fim da primeira guerra, ela continuou negligenciando sua saúde, sempre excessivamente magro e despreocupado consigo. A segunda guerra foi ainda pior com ele, a desconfiança de todos voltou forte como nunca e no ultimo ano, desde a morte de Alvo, ele esteve sozinho, nem eu era capaz de me aproximar, eu não consegui ter esperança, eu o julguei como todos os outros. Os único que sabiam a verdade e tentaram se manter próximos foram Dilys e Phineas.

- Mas nós não podíamos contar, somos impedidos magicamente de contar qualquer coisa que aconteça dentro do escritório do diretor.

Hermione mastigava o lábio inferior, tentando não chorar novamente, mas a cada nova informação ela se sentia mais angustiada, mais aflita. Severo era de fato um homem de muitos defeitos. Ele é um caralho de um cretino ela pensou, mas também era o homem mais forte que ela já conhecera. Harry era corajoso, mas nem de longe se compararia a Snape, Harry fora idolatrado como o eleito, a vida havia sido dura com ele na infância e durante a guerra não tinha sido nada fácil para nenhum dos três, mas ele foi acolhido pela sociedade bruxa quando veio para Hogwarts, teve amigos leais e Dumbledore quase como um pai, teve um padrinho, mesmo que por pouco tempo, teve algo perto de uma família amorosa. Mas severo? Nada além de dor e sofrimento, a única coisa boa em sua vida lhe virou as costas em um momento de desespero. Esse homem era uma força inexplicável da natureza. Mas agora estava deitado ao seu lado, vulnerável, em um leito de hospital, com futuro incerto, não sabia sequer se acordaria. Por um instante ela desejou ver sua expressão desdenhosa novamente, ainda que fosse para chamá-la de irritante sabe-tudo, desejou ver qualquer coisa que não a expressão vazia que carregava agora.

- Phineas? – ela perguntou não se recordando do nome.

- Phineas Nigellus Black – esclareceu Dilys – assim como eu, é um quadro de um ex-diretor de Hogwarts. O único outro diretor sonserino que a escola já teve, ele e Severo tem um tipo de amizade, assim como eu e ele temos, desde sua infância. Phineas sempre viu algo promissor nele, e tem carinho por ele, ainda que não diga.

- Ah, reconheço o nome, acho que ele é tataravô do Sirius, ou algo assim – ela não foi capaz de conter sua curiosidade - Por que vocês estão me contando tudo isso? Por que agora?

- Como eu disse, os sinais vitais dele começaram a apresentar melhora, pode não significar nada, mas pode ser que ele esteja perto de acordar. Severo nunca foi um homem agradável e fácil de se conviver, ele não cultivou amizades, pelos menos não alguma que esteja viva ou fora de Azkaban. Eu me preocupo com o que pode acontecer com ele caso ele acorde. Eu receio que ele não vá permitir que eu me aproxime, nós temos muita história entre nós. Ele é oficialmente um herói de guerra com uma Ordem de Merlim Primeira Classe, mas isso fez pouco pela sua reputação. Não apagou a imagem de Comensal da Morte que as pessoas têm dele, especialmente depois de tudo o que ele fez no último ano da Guerra. Você não estava em Hogwarts, mas mesmo sabendo agora que ele estava do nosso lado, as coisas que aconteceram aqui enquanto ele foi diretor estão marcadas na memória de todos. Alunos foram torturados sob o olhar dele Hermione, muitos inclusive por ele, saber que era um disfarce não muda os fatos. Ele assassinou um diretor, não importa se foi a mando dele próprio, a sociedade jamais esquecerá do que ele foi capaz, ainda que tenha sido em nome de algo maior. As pessoas são hipócritas o bastante para agradecer o serviço prestado e jogar quem o fez na sarjeta, porque não quer ser lembrada do que foi necessário para vencer. Severo fez o nosso serviço sujo e ninguém quer ser lembrado disso. – Papoula parou um momento para se recompor e Dilys continuou.

- Se ele acordar, e eu acredito que irá, pois se tem alguém que pode voltar disso só para se martirizar e afundar na própria miséria, esse alguém é ele. – Papoula deu-lhe um olhar reprovativo, o qual Dilys prontamente ignorou – Ele vai precisar de alguém para lembrá-lo que ele é mais do que escória, que ele não é apenas uma arma de guerra largada para apodrecer por falta de serventia em tempos de paz. Ele terá que lutar contra os próprios demônios, e eu não acredito que ela terá qualquer disposição para fazê-lo sozinho.

Hermione pensou no que Dilys dissera e, se o que ambas lhe disseram fosse algo perto da realidade, ela não conseguia imaginar qualquer motivo para Snape tentar se recuperar sozinho. Ele definharia, ou sobreviveria apenas como forma de autopunição. Ele veria tudo que ajudou a conquistar, só para se privar de desfrutar. Sem amigos, sem afeto, sem motivos para comemorar.

Seus próprios demônios e medos agora lhe pareciam insignificantes perto de toda a dor que ela só pedia imaginar que havia dentro dele. Ela pensou no quanto ela própria não era compreendida pelos amigos, não entendiam por que ela não estava mais feliz com o fim da guerra, não entendiam por que ela voltara a Hogwarts e não aproveitara para descansar. Nem Ronald, que ela achou que amava e que a amava, pudera compreendê-la e apoiá-la. Sabia que Harry havia tentado, mas ela conseguia ver em seus olhos que ele simplesmente não era capaz.

Foi então que ela compreendeu o motivo de ter se ligado a ele, ambos foram armas de uma guerra e já não sabiam seu papel no mundo que ajudaram a criar. A guerra acabara para o mundo bruxo, mas dentro deles não estava nem perto de um desfecho. Hermione podia não saber o que fazer em relação a seus próprios demônios, ou mesmo o que fazer para ajudá-lo, mas ela tinha absoluta certeza de que não o deixaria sozinho. Ela podia não possuir todas as repostas agora, mas como uma boa sabe-tudo ela sabia exatamente onde procura-las.

- Ele não estará sozinho.

Depois do almoço, Hermione foi a biblioteca. Se havia um lugar que Hermione poderia começar a encontrar respostas seria ali. Desde a conversa com Papoula e Dilys, o termo stress pós traumático lhe rondava a mente. Ela sabia que essa era possivelmente a raiz dos próprios problemas, mas nunca tivera disposição para fazer nada a respeito, mas agora tinha um motivo maior para se aprofundar no assunto.

Ela tinha alguma noção de psicologia trouxa, mas nada muito específico. Não se lembrava de já ter ouvido sobre alguma especialidade de cura bruxa que se assemelhasse a um psicólogo ou psiquiatra. Era preocupante que uma sociedade permeada por guerras e preconceitos como a do mundo bruxo não tivesse qualquer especialidade em saúde mental.

Após horas rodando pelas estantes da biblioteca e depois de folhear incontáveis livros que pudessem ter qualquer indicativo de serem promissores, ela desistiu. Se não tem nada em uma das maiores bibliotecas bruxas do país, aonde eu vou encontrar alguma coisa útil? E então um sorriso espalhou-se por seu rosto. Se ela não encontraria respostas na literatura bruxa, recorrer a trouxa era a escolha óbvia.


Até a próxima :-*