Autora: KuriQuinn

Tradutora: Juuh Haruno

Classificação: M-Rated

Disclaimer: Naruto e nem a história me pertencem, sou apenas a tradutora autorizada.


EPÍLOGO

結語

Indra voltou a si mesmo tarde demais.

As chamas deixaram o corpo de sua esposa irreconhecível, e mesmo que ele pare antes que as línguas negras possam reduzi-la a cinzas, o estrago está feito.

Não foi a primeira vez que matou alguém que professava amá-lo - alguém que, contra todas as probabilidades, ele encontrou seu coração batendo em reciprocidade - mas essa morte o abala. Quando se afasta, seu estômago se revolta e ele se ajoelha, vomitando em reação à violência de tudo.

Esta é a primeira morte que o fez se arrepender instantaneamente.

E, no entanto, até mesmo ela foi uma traidora no final, a voz nas sombras o lembra; falando as mesmas verdades horríveis com as quais ele vem sendo atormentado por toda a sua vida. É uma mudança dos pedidos anteriores para esperar, calmante e persuasivamente.

Indra olha de volta para a casca esquelética da mulher que ficou ao seu lado por tantos anos, deu à luz seus filhos e professou seu amor por ele até seus momentos finais. Braços enegrecidos ainda envolviam protetoramente em torno de seu ventre, e os olhos de Indra se estreitam.

A criança que foi a causa de tudo isso, e apesar de todos os seus protestos, prova de sua traição.

Ele se põe de pé, preparado para ir embora e deixar toda evidência de sua única fraqueza secar em ignomínia. Ele tem que voltar para seus filhos -os filhos deles - e contar o que aconteceu. Não que foi pela mão dele - o último pedido dela é um que ele honrará se apenas por respeito pelos anos que tiveram juntos - mas eles precisam saber.

Sabe que eles sofrerão mais uma vez, tendo acreditado nela morta por tanto tempo, mas talvez isso os torne mais fortes. Talvez isso faça com que um deles desperte o Sharingan, e todos eles podem fazer Ashura pagar pelo dano que causou a eles -

Atrás de si, sente uma labareda de chakra. Indra congela.

Não é possível. Ela não pode...

Ele se vira, meio que esperando vê-la se levantar, apesar de todas as probabilidades. Uma fantasia ridícula dela tropeçando em sua direção, seus olhos tristes, mas determinados, estendendo a mão para ele.

Em vez disso, sua forma carbonizada permanece totalmente imóvel, censurando-o por sua falta de movimento.

Seu estômago arrepia novamente e ele aperta o punho. O sentimento está fazendo com que imagine coisas.

Até o chakra brilhar novamente.

Fugaz e cintilante, como uma vela lutando contra uma chuva forte e saindo de seu corpo.

Não, não o corpo dela.

A criança!

Sachi disse, não disse? Ela prometeu-lhe que -

Ele cruza a distância em um piscar de olhos, não perdendo tempo em se ajoelhar ao lado do estômago inchado do cadáver. Não consegue mais pensar nele como ela , porque, se o fizer, pode hesitar no que está prestes a fazer.

Kunai na mão, faz incisões cuidadosas, da maneira como ele viu a curandeira usar para nascimentos na culatra. Não consegue respirar - o cheiro de carne carbonizada e a terrível antecipação travam seus pulmões - enquanto ele afasta a pele e os músculos, ignorando o sangue em suas mãos enquanto a assinatura do chakra continua piscando sem cessar.

Seus dedos roçam algo sólido e fino - uma perna, um pé - e ele torce cuidadosamente dentro do tecido ensanguentado até conseguir segurar o corpo minúsculo. Gentilmente, remove o bebê completamente do útero da mãe, o tempo todo em descrença.

Deveria estar morto. Não há como sobreviver, Indra conhece a força do Amaterasu. Seu calor deveria ter fervido Shachi de dentro para fora, e de alguma forma…

De alguma forma, a criança está viva.

Ele olha com admiração para o bebê - um garoto, observa vagamente - ouvindo gritos fracos e choramingos. Seu frágil corpo é pequeno, apenas um pouco maior que a mão que o embala, com a pele fina como pergaminho. Indra consegue distinguir facilmente as veias por baixo, pode ver os pequenos pulmões que lutam para arfar pela primeira vez - pode ver com que ardor a criança se apega à vida.

"Somente uma criança nascida de nossa união poderia sobreviver a uma coisa dessas."

As palavras de Shachi ecoam em seus ouvidos, tanto uma bênção quanto uma reprovação.

Essa também não é a única prova; mesmo em seu estado pouco desenvolvido, a criança se assemelha a ele de uma maneira que nenhum de seus outros jamais se assemelharam.

Com as mãos trêmulas, Indra corta cuidadosamente o cordão que prende o bebê à mãe e o envolve nas dobras da capa. Está dolorosamente consciente do ser totalmente frágil em sua posse e da razão de sua fraqueza. Ele coloca dois dedos suavemente contra o coração do bebê, permitindo que uma labareda infinitesimal de seu próprio chakra penetre no corpo de seu filho.

Instantaneamente, a assinatura do chakra do bebê fica menos angustiada; seu batimento cardíaco se torna mais regular e seus pulmões não estão mais lutando tanto. Indra sabe naquele momento com absoluta certeza que esta criança viverá.

Assim como sabe, com a mesma certeza, que matou a única mulher que já foi capaz de amar.

Lágrimas caem então, como nunca caíram desde sua tenra infância, e ele range os dentes, porque não pode cerrar os punhos; não com o bebê debaixo das mãos, totalmente dependente dele para sobreviver.

Ela foi fiel.

Sachi nunca o traiu - a única pessoa em toda a sua vida que nunca o fez, e ele a matou. Ela que nunca lhe deu nenhum motivo verdadeiro para não confiar nela, que ficou ao lado dele todos esses anos, mesmo sabendo exatamente quem ele era e quem, mesmo em sua morte, procurou agradá-lo, proteger o que ele mais amava - seu filho .

Indra não tem certeza de quanto tempo se agacha ali, soluçando em conjunto com seu filho bebê.

Tempo suficiente para que sua dor se transforme em raiva.

Isso é culpa de Ashura, a voz em sua cabeça o lembra.

Shachi passou seus últimos meses com o irmão e o pai, sua presença roubada de Indra, forçando-o a se adaptar à ideia de que ela havia morrido em um ataque dos inimigos. Indra arrasou uma ilha inteira, matou todos os seres vivos lá em retribuição, e isso só piorou o buraco dentro dele. O mais próximo que chegou de preenchê-lo foi hoje, quando pela primeira vez em meses, sentiu a presença dela.

Quando a teve em seus braços novamente de uma maneira que assombra seus sonhos desde que pensou que estava morta.

E agora ela se foi. Para sempre desta vez, e pela mão dele.

Perdoe-me, queria dizer, mas as palavras não chegaram aos seus lábios trêmulos.

Não merece perdão por isso.

Indra aceitou que ele viveria com essa verdade pelo resto de sua vida - é um castigo que ele suportará silenciosamente e sozinho. Mas um dia fará Ashura pagar pelo que causou, por tudo o que tirou dele.

Mas agora não.

Tinha que criar seu filho. E sobrevivência milagrosa à parte, a criança era fraca, nasceu cedo demais. Indra não podia deixar o bebê agora para caçar seu irmão amaldiçoado e matá-lo. Essa criança precisará mais dele do que as outras, desprovida de mãe.

Essa criança é a pessoa que ela amava o suficiente para morrer, e em recompensa Indra o protegerá acima de todas as outras. Ele garantirá que os outros filhos também entendam a importância do irmão mais novo, que eles também sintam o desejo de proteger seu futuro legado.

O bebê finalmente se acalmou, depois de ter chorado até dormir. Com um dedo trêmulo, Indra traça os cílios esvoaçantes em miniatura.

" 'Atice as chamas'* ", ele murmura suavemente, a menor esperança que entra em seu coração quando a criança pressiona o calor de sua casa. "Uchiwa."


*Atice as Chamas - Fan The Flames. Como eu disse no capítulo anterior, não encontrei uma forma de adaptar essa frase para o português sem perder o significado. Fan quer dizer leque, que em japonês pode ser tanto "fan" como "Uchiwa". Por isso que o simbolo do Clã Uchiha é um leque, por ser o significado do seu nome. E como vimos, Madara usava o leque para potencializar seus jutsus de fogo, o vento atiça o fogo.

Essa criança é o ponto de partida do clã Uchiha, por isso o estilo fogo é o elemento quase oficial do clã, bem como o leque que o atiça.


E agora sim chegamos ao tão aguardado e temido final, bem no dia do aniversário da nossa amada Sarada!

Espero que tenham gostado de Samsara tanto quanto eu, foi um prazer traduzir essa história maravilhosa.

Agora vou revisar a história toda pois esses capítulos finais vieram sem revisão detalhada. E na quinta ou sexta, posto o capítulo 9 de Consequences of Saving a Life.