Oi meus amores!

Sim, isso não é uma miragem, é uma fanfic nova ~de uma pessoa que nunca termina as dela~, enfim... essa fic faz parte do projeto One-Shot Oculta, um amigo oculto entre autoras, em homenagem aos 10 anos (!) da estreia de Crepúsculo no Brasil. Cada uma enviou 2 fotos e 2 músicas para servir de inspiração à pessoa sorteada. Confira todas as 10 participantes na página / ~projetooneshotoculta, o link é esse aqui: www(PONTO)fanfiction(PONTO)net/u/10714985/

Essa fic é dedicada a minha amiga oculta Alissa Nayer! Gatinha, espero que você curta isso aqui! Me perdoe qualquer erro absurdo de português, é que eu não tive tempo de corrigir! Se divirta lendo essa loucura, que Deus amado, como foi difícil de escrever!

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***O REI DRAGÃO E A MADAME PERDIDA***

Título: O Rei Dragão e a Madame Perdida

Autor: Sophie Queen

Shipper: Edward/Bella

Personagens: Humanos

Gênero: Romance/General

Classificação: M – Maiores de idade

Banner: uploaddeimagens(PONTO)com(PONTO)br/imagens/o_rei_dragao_e_a_madame_perdida_-_banner-jpg

Sinopse: Tudo o que ela conhecia lhe foi imposto, até que ela pode decidir por si só, e essa decisão levou até ele, um homem misterioso, com um poder que ela não conseguia compreender, mas que a seduziu.

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10 de fevereiro de 2018.

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10:22 – CNN URGENTE: Acidente de helicóptero em Cedar Springs – 4 mortos confirmados.

10:27 – U.S. WEEKLY: Cedar Springs – o caminho da morte.

10:31 – LIFE & STYLE: Acidente em Cedar Springs – atriz de Hollywood entre os mortos

10:39 – TV GUIDE: Acidente em Cedar Springs mortes confirmadas.

10:43 – TMZ: Acidente em Cedar Springs atriz ganhadora do Oscar Isabella Swan entre as vítimas.

10:46 – PEOPLE MAGAZINE: Acidente de Helicóptero tira a vida da jovem atriz Isabella Swan.

10:51 – E! ONLINE: Isabella Swan sofre acidente a caminho de set de gravação.

11:17 – TIME MAGAZINE: Acidente em Cedar Springs vítimas:

Mike Newton, piloto do helicóptero.

Tyler Crowley, co-piloto do helicóptero.

Lauren Mallory, executiva da Sony Pictures Entertaiment.

Renée Dwyer, mãe da atriz ganhadora do Oscar Isabella Swan.

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15 de julho de 2018.

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Isabella admirou pela janela do quarto de hotel onde estava hospedada no ultimo mês. O mar caótico de carros, de pessoas que iam de lugar algum para nenhum lugar, apressadas, despreocupadas, atordoadas, inúmeras pessoas sem rosto, sem de uma cidade que ela odiava, mas que pelos últimos 25 anos chamou de lar. Los Angeles. A cidade dos anjos. A capital mundial do entretenimento, o local que ela, Isabella Swan, vencedora do Oscar de melhor atriz por "Você Mal Sabe", perdeu a sua família, a sua identidade. Melhor dizendo, nunca encontrou sua própria identidade.

Ela suspirou pesadamente.

Ela mal se lembrava de Charlie. Fazia 20 anos desde que ele a deixava com a sua mãe errática, neurótica, fascinada pelo poder, pelo dinheiro e pela fama e tudo mais que Hollywood lhes dera desde que ela fizera aquele grande blockbuster de Natal. Enquanto Renée era a sonhadora, Charlie era aquele que tinha o pé no chão, mas na década de 90 os recursos da medicina não eram tão avançados e infelizmente 6 meses após a descoberta de um câncer no estômago, o seu super-herói a deixou.

Suas lembranças de Charlie, hoje em dia, eram nubladas, ou apenas memórias imortalizadas por fotografias descontextualizadas, onde apesar do brilho e da felicidade latente, os sorrisos, muitas vezes eram forçados e tão pouco naturais. Isabella não lembrava como era a sensação da sua espeça bigodeira quando ele dava um beijo estalado em sua bochecha, ou o quão quente era o seu abraço, ou qual era o aroma do seu perfume, ou ainda qual o timbre da sua voz. Isabella não se recordava nada mais sobre Charlie e isso a deixava despedaçada.

Com Renée era diferente. Por 20 anos era ela e Renée, uma dupla: unida, forte, sempre um suporte, um sustentáculo a outra. Nos três primeiros anos após a morte de Charlie, Renée foi o que realmente se esperava de uma mãe, principalmente para uma adolescente Isabella não se perder como tantos jovens atores de Hollywood tendiam se perder em sua juventude. Lhe dava suporte, conselhos, todo o apoio que jovens, que perdem seus pais cedo precisam. Renée foi na falta de uma palavra melhor excepcional.

Porém, com a adolescência, e a perspectiva da vida adulta apontando, e uma carreira extremamente promissora pela frente, quando completou seus 15 anos, Renée começou a pressionar Isabella. E invés de ser sua mãe, Renée parecia muito mais sua "chefe". Nesta fase que ocorreu o primeiro casamento de Renée.

Jason Jenks era fantástico e talvez um dos grandes impulsionadores da carreira de Isabella, sendo um dos executivos mais influentes da 20th Century Fox, ele foi fundamental em colocar o nome de Isabella como uma das queridinhas de Hollywood, tanto se ela conseguiu as 4 indicações ao Oscar, ganhando um dos prêmios, e as 8 indicações ao Globo de Ouro e faturando 4, e tantos outros prêmios, um dos principais responsáveis foi J. Jenks, como ele gosta de ser chamado. O enlace com Jenks, foi o casamento mais longo de Renée 13 anos, mas terminou, justamente porque Jenks não aceitava a forma como Renée queria gerenciar a vida de Isabella.

Seu segundo casamento, e sem sombra de dúvidas o maior erro cometido por Renée, foi com Royce King Jr. um diretor de cinema fracassado que só se envolvera com Renée com a intenção de se aproveitar de Isabella. Felizmente Renée, que apesar dos inúmeros defeitos que tinha, era uma leoa quando era algo envolvendo a filha e percebeu rápido demais as intenções do homem e menos de 3 meses de enlace entrou com o pedido de anulação com alegações que levou a corte de justiça a iniciar um processo que enterrou de vez a carreira de Royce King Jr. e se seguiu com uma série de acusações de estupro de outras atrizes que resultou no suicídio do homem menos de um ano depois.

O terceiro e último casamento foi com um ator que contracenou com Isabella na série de filmes "Lua de Prata" como seu pai, Phil Dwyer. Phil era um cara legal, contudo, o enlace com sua mãe não durou muito. Assim como todos os grandes atores de Hollywood, ou pelo menos, os atores que buscam provar-se como homens viris, Phil que vivia aquela fase dos 50 anos, em que quando uma jovem mulher lhe dá atenção é pegar ou pegar. Assim, após 2 anos de casamento trocou Renée por uma jovem atriz que estava protagonizando ao seu lado o remake de Lolita.

Renée ainda estava se curando do baque, afinal Phil não foi nenhum pouco simpático decidindo pedir o divórcio na noite de Natal, chegando na festa que Renée havia feito com a jovem Gianna Hall a tiracolo. O último natal ao lado de sua mãe havia sido o pior natal da sua vida.

Na verdade, aqueles 48 últimos dias ao lado de sua mãe foram horríveis. Isabella sentia-se culpada pela forma como tratara Renée aqueles dias, as duas estavam irritadas, gritos eram trocados constantemente, ofensas eram distribuídas ao vento sem qualquer motivo e a todo tempo. Isabella evitava Renée a todo custo, enquanto Renée forçava Isabella a trabalhar mais e mais, assinar a todo e qualquer contrato, toda e qualquer propaganda publicitária, qualquer coisa que deixasse seu nome em evidência. Renée queria trabalhar sem descanso, e queria que Isabella trabalhasse sem descanso.

Por mais que Siobhan, sua empresária, alertasse Renée que Isabella precisava descansar a sua imagem, que Isabella precisava de uma pausa. Que Isabella estava no seu limite trabalhando nos últimos 3 anos sem folga, nada fazia para acalmá-la. No mês de janeiro Isabella, mais como pirraça recusou inúmeros contratos publicitários, aparições em programas e eventos, inúmeros papeis que ela sabia que eram importantes. E aquilo levava ainda mais Renée ao limite. Mas o ápice da briga entre mãe e filha veio um dia antes do fatal acidente que ceifou a vida de Renée.

Isabella havia sido convidada para ser protagonista de um grande projeto da Sony Pictures, era um contrato milionário e a garantia de mais uma indicação na temporada de prêmios e provavelmente mais uma porção de prêmios na sua estante. Mas ela não queria isso. Ela queria uma pausa. Não apenas queria, ela precisava. Ela queria se conhecer, ser um pouco ela. Com 31 anos, Isabella pouco sabia sobre si mesma, mas Renée, achava que isso era uma grande besteira.

A briga que tiveram não foi nada bonita. Isabella acusou Renée de fria, calculista, de nunca a tratar como uma filha, mas como um negócio. Já Renée chamou Isabella de egoísta, mesquinha, disse que ela não entende como a recusa desse papel poderia lhe causar problemas para o resto da sua carreira.

Naquela noite Isabella recusou-se dormir em casa junto com sua mãe, ligou para um grande amigo e ex-amante, o também ator Jacob Black perguntando se podia passar a noite com ele. Jake sempre foi o tipo de cara que estava a disposição para qualquer coisa, principalmente para Isabella. E sem se preocupar em dizer para mãe onde estava indo, ou se preocupando em saber sua agenda para o dia seguinte a morena deixou sua enorme casa Beverly Hills e seguiu para a casa de Jacob em West Hollywood.

Suas noites com Jacob eram sempre regadas de drogas, álcool e sexo – algo que sempre era movido pela escolha das pessoas a sua volta, ou simplesmente para agradar os outros do que sua própria escolha -, e aquela, noite em questão como uma tentativa de nublar toda a raiva que sentia por sua mão ela deixou-se levar pela influência tóxica de Jacob, simplesmente para agradá-lo. Isabella tinha uma necessidade tão patológica em agradar as pessoas, e naquele dia em agradar Jacob que ela deixou-se levar por ele, abusando de substâncias, de situações que ela jamais se colocara. Ela poderia facilmente descrever aquela madrugada como radical, selvagem, entorpecedora.

Fora uma noite tão cheia de extremos que quando seu telefone tocou desesperadamente na manhã seguinte ela não fez qualquer esforço ou deu qualquer atenção a ele. Pois apesar dos excessos da noite anterior, e dos arrependimentos que mais tarde consumiram a sua alma, ela sentia ligeiramente livre naquelas poucas horas, e aquele maldito sino do telefone, significava que Renée estava mais uma vez estendendo seus tentáculos sobre ela tentando sufocá-la com a sua própria necessidade de fama constante.

Em sua mente nublada pelos seus próprios excessos e egoísmos, Isabella acreditava que seria uma nova rodada de discussões e tentativas de persuadi-la a assinar contratos que não queria por parte de Renée.

Mas ela nunca esteve tão enganada. Nunca.

Foi somente duas horas depois do acidente que ceifou a vida de sua mãe que Isabella enfim compreendeu a gravidade da situação que se encontrava, e só se deu conta disso, não porque resolveu atender as incansáveis ligações que continuavam desesperadamente sinalizando em seu telefone, mas foi quando Jacob atendeu o telefonema de seu agente dando a trágica notícia.

Jacob que ainda estava completamente embriagado e sob os efeitos das drogas que consumira na noite anterior não tivera qualquer tipo de tato ou delicadeza em contar a Isabella o que havia acontecido. Foi um simples: "Oh, então Isabella, sua mãe, Renée, ela morreu em um acidente de helicóptero, explodiu, pegou fogo. Morreu.", declamou com uma voz mole e sem qualquer emoção, na falta de uma palavra melhor, com um certo deboche, que após declarar deitou novamente em sua cama e voltou a dormir como se nada tivesse acontecido.

Apesar da forma como a notícia foi dada, a crueza e a realidade da sentença dela era muito real e Isabella mesmo em seu estado de embriaguez e entorpecimento sentiu-se atordoada. Não atordoada no sentido de confusa, mas atordoada no sentido de um completo mix de sensações, o que a deixava ainda pior, porque ela não podia sentir feliz porque a sua mãe havia morrido, mas de certa forma ela sentia-se feliz porque todas as brigas, todo aquele controle, todo aquela pressão que foi colocada sobre ela finalmente iria acabar; mas ela também sentia triste, triste porque agora não existia nenhum parente vivo mais em sua vida para lhe estender a mão, para lhe dar carinho, aconchego, atenção, paz.

Ela sentia dor. Sentia o desespero. Sentia-se sufocada. Mas o que era pior, que a cegava, que a deixava praticamente imobilizada, congelada era a culpa. Todos diziam que ela não deveria sentir-se culpada, mas ela sequer lembrava qual era a última palavra que disse a Renée. Aquilo fazia seu coração pesar mil toneladas em seu peito. O zumbido, o entorpecimento, a própria ressaca do álcool e das drogas que havia ingerido poucas horas antes era ao mesmo tempo um castigo e um aviso de como ela própria, mesmo não sabendo quem era si própria conseguia ser narcisista, egoísta.

Exatamente por isso que ela não chorou.

Nenhuma lágrima caiu de seus olhos durante os funerais de sua mãe ou até mesmo depois. E isso a doía ainda mais.

Por Deus! Ela era uma atriz, chorar com facilidade era quase uma segunda natureza, mas ela simplesmente não conseguia, mesmo que se esforçasse em produzir um choro falso, nada vinha, nem uma simples ameaça. Nada.

Ela estava atordoada.

Não apenas atordoada. Ela estava em um estado que muitos descreveriam como luto, mas não era apenas luto, era um luto que envolvia um certo alívio – algo como se tivesse sido liberta de um sofrimento, mas também era um luto que se confundia com culpa, pois era para ela estar naquele helicóptero. Era um luto de pesar por perder sua única família, mas era um luto que envolvia possibilidade, possibilidade de enfim começar a decidir por si só, da possibilidade de ser ela.

Óbvio, que tentar se encontrar em meio a uma tragédia não é algo que se faça do dia para a noite, muito menos em poucas semanas, quiçá em alguns meses.

Os dois primeiros meses que seguiram a morte de Renée foram confusos, ela estava de luto, se sentia culpada. Uma espiral de sentimentos ruins que estava levando a uma ruína nenhum um pouco saudável, pois quando parecia que as coisas iam começar a melhorar, ela voltava a cair em um sentimento de auto piedade que só piorava o sentimento. Foi no ápice de uma dessas crises, talvez uma das piores, que sua empresária, Shioban, aconselhou que Isabella procurasse uma terapeuta, algo que em retrospecto foi a melhor atitude tomada pela morena.

Com seções duas vezes por semana, Isabella começou a perceber diversas noções sobre sua vida, escolhas que nunca tomou ou que tomou não por desejo próprio, mas numa tentativa patológica de sempre agradar outras pessoas para ser aquilo que os outros gostariam que ela fosse. Essas atitudes, foram o ponto crucial para o inicio da perca de sua identidade. O colocar as necessidades alheias acima das suas, tornou-se para Isabella algo tão natural, que para ela pouco importava se tal situação era incomoda ou não, e por isso que ela percebeu que tudo na sua vida nada foi feito a partir de uma decisão ou escolha de si própria.

Aquelas seções de terapia tão uma jornada de autoconhecimento tão profunda que Isabella reconheceu, que nem o seu próprio nome ela gostava. Sim, seu nome, aquele escrito na sua certidão de nascimento era Isabella Marie Swan, mas ela sempre via esse nome ou até mesmo Isabella Swan como um nome cheio de contraste, cheio do peso atribuído a ele por Hollywood. O nome que ela se sentia mais confortável era aquele que seu pai sempre a chamara: Bella. Era um diminutivo do seu nome, algo bobo, simples, mas aquelas 5 letras significavam muito mais sobre ela, do que seu nome jamais foi.

O outro fator que Bella, descobriu sobre si mesma é que ela não sabia nada sobre si mesma. Ela nunca tivera uma cor favorita. Ela sempre respondeu que sua cor favorita era rosa, mas ela nunca realmente gostou de cor-de-rosa. Ela nunca soube qual era a sua comida favorita. Ela sempre disse que era comida japonesa, mas ela sempre sentiu que mastigava isopor quando comia. Sua música favorita, sempre foi aquela que disseram pra ela que era a sua cara, um pop cafona da década de 90. Que sua banca ou artista favorita deveria ser sempre um pop suave. Seu filme favorito, foi um romance água com açúcar que a sua mãe uma vez disse que era perfeito para ela dizer que era o seu favorito.

A verdade é que tudo na sua vida lhe foi imposto: sua vida, suas escolhas, sua profissão, seus namorados. Até mesmo todos os homens com quem ela se envolvera sempre tivera alguém por trás a manipulando, a fazendo tomar aquela decisão, a dizendo que ela deveria fazer aquilo para o bem da sua carreira. Para o bem de determinado filme. Para o bem de determinado contrato.

Assim, o seu primeiro beijo, sua primeira vez, foi milimetricamente orquestrado para acontecer no momento que sua mãe achou mais pertinente para ela. Não importava que ela gostava ou não de Sam Uley, o menino que ela compartilhou seu primeiro beijo embaixo de um visco na noite de Natal, ou se ela tinha algum sentimento por Paul Lahote, quando este tirou a sua virgindade no seu aniversário de 19 anos, ou se ela sentiu algo por Jared Cameron, Embry Call, Sam Clearwater, Quil Ateara, Collin Littlesea, Brady Fuller ou até mesmo Jacob Black, todos os homens que de algum forma cruzaram a sua vida até aquele momento, foi a sua mãe que escolheu, que os colocou ali, seja por serem atores importantes, filhos de membros da indústria cinematográfica ou então executivos, produtores, pessoas que tinham algum tipo de influência na indústria e que podiam fazê-la crescer profissionalmente.

Com quase 32 anos, Bella Swan estava finalmente descobrindo quem ela era, e ela sabia com toda certeza que a pessoa que ela fora pelos últimos 25 anos não era alguém que ela gostaria de ser mais. A pessoa que ela era, a pessoa que a mídia fez dela, que a sua mãe fez dela, que o público seguia e se apaixonou era alguém que ela própria odiava.

Isabella Swan a atriz, era fútil, mesquinha, inconsequente, alienada, metida, aproveitadora, manipulável, influenciável, arrogante, insuportável. E ela, Bella Swan, definitivamente não queria ser mais essa mulher, nunca mais, se possível.

Para ser Bella Swan, ela tinha que matar Isabella Swan, e matar Isabella Swan, era mais difícil do que a bela morena imaginava inicialmente.

Quebrar contratos de filmes, de séries, de campanhas publicitárias foi algo mais complexo do que ela esperava que seria, mas sua equipe de advogados e empresária foram fenomenais em conseguir isso. A parte mais complexa, mas que depois de muita conversa, e felizmente, de um pré-roteiro do estúdio que mostrava que a sua presença na série de filmes que a fizera alcançar fama mundial não era mais requerida, e finalmente a última barreira que ligava a sua carreira de atriz enfim foi superada.

Bella era agradecida a Shioban. Extremamente agradecida a ela, que nos últimos 18 anos, cuidou de sua carreira com cuidado e esmero, contornando os abusos de Renée e ponderando o que era melhor para a Isabella e somente para ela, e por mais que no fundo Bella saiba que jamais retornará a essa carreira, se um dia ela resolver, sabe que basta um telefone a bela e amável irlandesa estará a sua disposição para gerenciar sua carreira novamente.

Jessica Stanley e Angela Webber, talvez as únicas amigas que Bella tinha no mar de inimizades e falsidades de Hollywood. A dupla que conheceu a jovem atriz ainda na escola primária e hoje atuavam também como suas advogadas, foram as responsáveis por cuidar dos outros pormenores de sua vida em Los Angeles. A venda de seus imóveis, o armazenamento de seus pertences pessoais até que ela tenha um lugar onde ficar ou decidir o que fazer com estes, algo que até aquele momento Bella não fazia a mínima ideia o que gostaria de fazer.

Felizmente dinheiro não era um problema para Isabella. Além da enorme riqueza que havia conquistado antes dos seus 30 anos, Jessica e Angela, haviam criado um fundo de investimento, para que mesmo vivendo a vida que estava acostumada a viver, decidindo nunca mais trabalhar, Bella não tivesse que se preocupar ou mudar seu estilo de vida. Bella continuaria sendo milionária para o resto da vida.

A intenção dela era tentar viver uma vida mais humilde, mas um dinheiro para começar qualquer uma precisa. Isso até mesmo Bella Swan com toda a sua inocência sabia.

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Bella encarou o relógio em seu pulso 20:48. Era a hora. A hora de deixar LA e não olhar para trás. Ali não era mais a vida dela. Ali era o último lugar que ela gostaria de estar.

Dirigindo um clássico Chevy Camaro SS 1968 Vintage completamente restaurado na cor preta, a morena deixou Los Angeles para trás, forçando o seu carro pela interestadual levando para caminhos que nunca antes ela explorou por si só. Ouvindo um rock pesado, porque agora ela sabia, que seu estilo musical era um rock pesado, a morena baixou os vidros de seu carro deixando o vento quente do verão ricochetar por seus cabelos dando-lhe uma sensação de liberdade que nunca antes ela havia sentido.

Bella sentia-se livre. Até mesmo a mão invisível que parecia esmagar o seu coração e seus pulmões pouco a pouco a sufocando parecia agora afrouxar o aperto. Respirar ficou fácil. As batidas do seu coração que antes eram erráticas e descompassadas, agora pareciam cadenciadas e seguindo um compasso ideal.

Tudo de repente se tornou mais fácil. Ser ela se tornou mais fácil.

No primeiro mês Bella explorou cidadezinhas ao longo dos EUA, o reconhecimento vinha algumas vezes, e sim era extremamente incomodo, e por isso, que na primeira semana de sua jornada ela decidira mudar um pouco sua aparecia. Seus cabelos que sempre foram longos e castanhos, agora estavam na altura dos ombros e com mechas loiras. O reconhecimento, algumas vezes surgia, era inevitável, mas sempre as pessoas achavam um grande absurdo uma estrela de Hollywood dirigindo por cidades abandonadas dos EUA, e por exatamente isso, ninguém a incomodava.

Porém, Bella não dava motivos para as pessoas a reconhecerem ou se questionarem os motivos de uma atriz de Hollywood estar vagando por cidades aleatórias do país, pois se havia algo que Bella se tornara boa era em nunca fincar raízes. Depois de anos sendo delimitado o que lhe era decidido, ela não conseguia se estabelecer, ela não ansiava em fazer uma residência fixa, nem fazer amizades, ou criar raízes ou laços. Bella queria e precisava sentir-se livre.

No segundo mês, o ritmo do primeiro tornou-se um pouco mais lento, ela ainda tinha a necessidade de viver, de conhecer, de buscar o desconhecido, mas se outrora ela não buscava conhecer as pessoas agora ela buscava saber nomes, reconhecer lugares, ficar mais que um par de dias.

Mas quando entrou o terceiro mês, Bella sentiu algo que até aquele momento ela não havia sentido. Ela sentiu-se sozinha.

A morte de Renée havia dopado muitos sentidos dela, mas em nenhum momento ela havia se sentido sozinha, pois sempre tivera uma rede de apoio, mas vivendo a vida por si só ela começou a se sentir sozinha. E foi nesse anseio, nesse desespero de sentir-se sozinha que a morena começou a considerar a fincar raízes, mas fincar raízes para ela significava ter que definir uma vida, mas será que ela estava pronta para definir a sua vida?

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03 de novembro de 2018.

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Bella conduzia o seu Camaro que roncava fortemente por uma estrada minúscula em alguma cidade no interior do estado de Nova Iorque. Ela cantava despreocupadamente uma canção do Pink Floyd, ao longe ela observava uma tempestade se formando, as nuvens negras e nebulosas formando o que seria uma das piores que ela enfrentaria em sua jornada, mas ela ainda não estava preparada para parar por hoje.

Aquele dia havia sido um dia emocional para Bella, ela havia sonhado com Renée. Afinal se sua mãe estivesse viva hoje estaria comemorando seus 53 anos. Mas apesar da saudade e da falta que sentia da mulher que a criara, pela primeira vez o sonho que tivera com Renée a mulher não estava a criticando, ou impondo alguma coisa a ela.

Na verdade Renée parecia lhe dar conselhos. Conselhos que uma mãe dá uma filha.

Bella riu sem humor. Jamais Renée lhe daria conselhos de mãe para filha.

No mesmo instante em que ela deu um suspiro pesado pela falta de companheirismo da sua mãe seu carro deu um apito e todas as luzes se apagaram e ele simplesmente parou.

Tentando controlar o pânico, e felizmente, pela força mecânica ela conseguiu guia-lo para o acostamento. A morena tentou desesperadamente força-lo a funcionar, mas parecia ser em vão. Desesperada a mulher buscou seu celular na bolsa, somente para descobrir que estava sem bateria, em outro ponto de desespero buscou o carregador portátil, só para constatar mais uma vez que estava tão sem bateria como seu telefone.

Imediatamente ela sentiu a ansiedade tomando seu ser. Ela não lembrava que cidade estava, ou a quantos quilômetros estava a cidade mais próxima. Ela somente se lembrava que estava no estado de Nova Iorque, mais em qual parte do estado ela não fazia ideia. A morena fechou seus olhos e respirou profundamente, tentando se acalmar. Mas tudo que ela não estava é se acalmando, na verdade ela estava ficando mais e mais nervosa.

Bella estava no que poderia ser uma oração silenciosa aos céus ou ainda concentrando-se no que fazer a seguir que não ouviu um ronco a distância, ou se ouviu acreditou que fosse um trovão da tempestade iminente. A morena estava tão focada em sua auto piedade que mal percebeu a Harley-Davidson aproximando-se do acostamento onde seu Camaro estava parado, seu temor pareceu se intensificar quando ouviu uma batida no vidro ao seu lado.

Assustada e sobressaltada a morena arregalou seus olhos, encarando o homem alto e esguio – que vestia uma combinação de jeans, camisa xadrez, camiseta, jaqueta de couro, botas pretas de combate, e suspensórios que pendiam de seus quadris, seus olhos estavam encobertos com seus óculos de sol, seus cabelos de um tom singular de bronze, estavam ligeiramente despenteados e apontavam para todas as direções, o que ao seu ver só podia ser por causa do capacete que ele segurava em sua mão. Mesmo sabendo que aquele homem podia ser a sua salvação, Bella baixou seu vidro temerosa.

- Problemas com o carro Madame? – perguntou o homem ligeiramente divertido com um forte sotaque nova-iorquino.

Bella hesitou. Admirando o homem a sua frente.

- Sim. – respondeu com simplicidade, soltando um suspiro que sequer imaginou estar segurando. – Meu carro simplesmente parou e eu nem sei onde estou! – exclamou levemente desesperada.

- Syracuse. – disse o homem com um encolher de ombros.

- Quê? – perguntou reflexivamente a mulher.

- Syracuse, estado de Nova Iorque? – respondeu o misterioso homem incerto com um leve humor em sua voz.

- Oh! – surpreendeu-se Bella. – Syracuse. Desculpe, mas acho que as últimas 14 horas dirigindo não me fizeram tão bem como eu estava imaginando. – sorriu afetada pela beleza inesperada do homem do qual ela encarava com atenção depois das breves palavras trocadas.

Ele sorriu torto.

- Wow! 14 horas? A Madame está maltratando essa moça aqui. – disse com um sorriso batendo suavemente suas mãos sobre o teto onde as apoiava. – Se puder abrir o capô posso dar uma olhada pra Madame. – completou com um sorriso torto.

- Claro. – concordou um um sorriso apertando puxando a alavanca que abria o capô. Enquanto o homem se afastava Bella percebeu que seus ombros cobertos pela jaqueta eram largos, e que por mais que esse fato fosse intimidador o que mais chamava a sua atenção era a imagem do dragão bordado em vermelho em suas costas que dizia: SYRACUSE VAMPIRE DRAGONS.

Imediatamente Isabella engoliu em seco. Ela sabia – por causa da sua breve pesquisa para entrar no elenco de um filme sobre gangues, quais eram as gangues do país e que a Syracuse Vampire Dragons, era uma das gangues de motoqueiros mais sangrentas da costa leste. Imediatamente seu sangue gelou. Seus grandes olhos castanhos se arregalaram e suas mãos começaram a tremer. Evidente que o homem até o momento ele fora gentil com ela, mas ele era um criminoso, e ela não sabia como lidar com alguém desta categoria. Mas afinal? Que tipo de gente ela sabia lidar?

Bella tentou manter a sua respiração sob controle. Tentou manter o seu nervosismo – que já estava grande, por causa do problema do carro, e que fora intensificado com o emblema na jaqueta do homem – sob controle.

O homem que agora se esforçava para abrir seu capô, e que havia retirado seus óculos de sol, fechou seus profundos olhos verdes em fenda para a reação da mulher. Sim... há 20 anos na SVD o fez reconhecer com facilidade quando alguém tinha medo de uma simples jaqueta. Tentando controlar a raiva que sentia sempre quando alguém o julgava pela fama de seu clube, o homem absteve de olhar qual era o problema do carro: o que sendo um mecânico qualificado facilmente descobriu: superaquecimento do motor, a correia dentada estourada, o radiador furado e o cabeçote do motor trincado.

Sim, definitivamente a mulher havia forçado demais seu carro. Fechando o capô o homem voltou ao lado do motorista onde a mulher ainda estava com os olhos arregalados, mesmo após 10 minutos.

- Quando foi a última vez que a Madame fez uma revisão nessa belezinha? – perguntou evitando o olhar de pânico da mulher.

- Humm... er... quando eu comprei em LA há quase 4 meses? – respondeu soando mais como uma pergunta.

O homem riu da sua reação.

- Não julgue o livro pela capa Madame. A metade das coisas que falam sobre os vampiros dragões de Syracuse é mentira. – disse com um sorriso torto, tentando quebrar o gelo. – Meu nome é Edward, a propósito, e sou proprietário da maioria das oficinas da cidade.

Bella arregalou seus olhos mais uma vez em surpresa, pelo tom do homem.

- Bella, meu nome é Bella. – disse com uma voz fina. – E não estou julgando o senhor por causa da sua... er... hum...

- Gangue? – contrapôs divertido Edward. Isabella deu um sorriso tímido. – Só por curiosidade você não comprou seu carro na concessionária Breaking Dawn, comprou? – perguntou com um leve pesar.

- Sim, comprei. Isso é um problema? – perguntou desafiante a mulher. Edward soltou um suspiro pesado.

- Foi o que imaginei. Laurent Pierce não é um dos caras mais honestos da Costa Oeste. Tenho certeza que ele disse a Madame que o carro havia sido inteiramente restaurado com peças originais, correto?

Bella assentiu.

- Desculpe Madame, mas seu carro foi restaurado com as peças mais vagabundas que existe no mercado! Só por curiosidade, quanto pagou nessa jóia? – questionou novamente batendo suas mãos sobre o teto.

- 50 mil. – disse dando de ombros. Edward soltou um longo assobio.

- Mesmo restaurado um Chevy Camaro SS 1968 sai por no máximo 30 mil, isso com peças originais, com essas daqui? Puft, no máximo 10 mil!

Bella suspirou pesadamente. Não fora a primeira vez que alguém a fez de idiota por causa de ser quem ela era, mas ao saber a realidade pelo seu carro só a fez sentir como uma idiota ainda maior. Ela bateu sua testa contra o volante e imediatamente Edward sentiu vontade de segura-la em um abraço apertado.

- Se a Madame quiser eu posso substituir todas as peças piratas por originais, conheço um fornecedor que as faz a preço de banana, e visto como foi enganada não cobro pelos meus serviços, isso deve ficar por volta de uns 10 ou 12 mil.

Imediatamente Bella se afastou do volante e encarou o homem com seus olhos em fendas. Uma raiva direcionada brilhava neles.

- Eu posso pagar os 30 mil corretos, ou até 50 novamente! – exclamou com fervor.

- Wow, calma Madame, não quis ofendê-la. - disse Edward afastando com as duas mãos suspensas no ar em sinal de rendição.

- Desculpa... er... Ed-gar.

- Edward. – corrigiu o homem com um sorriso, pela primeira vez encarando a mulher. Seus profundos olhos cor de chocolate lembrava alguém... imediatamente o reconhecimento veio, hoje mesmo Alice estava tagarelando sobre ela, a atriz de Hollywood Isabella Swan.

- Edward. – repetiu com um sorriso. Mas diante do olhar conhecedor do homem a bela morena baixou seus olhos e murmurou. – Culpada.

- Sei que não é da minha conta, mas o que uma... estrela de Hollywood está fazendo no meio do nada dirigindo um carro, perdão da palavra, do caralho?

Bella suspirou pesadamente.

- Eu não sou mais uma estrela de Hollywood. – disse com finalidade. – Sempre vivi a vida que a minha mãe queria viver, mas agora que ela se foi... bem... vou viver a vida por mim mesma. Por isso comprei esse carro, ele sempre foi meu sonho. Ou um sonho recentemente descoberto. – disse com simplicidade, revelando mais do que deveria a esse estranho membro de uma gangue de motoqueiros.

- Sei como é isso de viver para corresponder às expectativas dos outros. – ponderou com um leve pesar, passando seus longos dedos pelo seus cabelo acobreado. – Enfim, vou ligar para o meu guincho vir buscar essa belezura e levar para a cidade, tudo bem para a Madame?

- Sim... – ponderou hesitante a morena. – Você pode me chamar um táxi? Minha bateria acabou e preciso levar as minhas coisas para um quarto de hotel.

- A esposa de Jasper tem uma das melhores pousadas da cidade. – disse distraidamente, levando seu telefone a orelha. – Jazz! Tem um Camaro SS preto na I-81 perto de Nedtown que precisa ser rebocado para a oficina, tem como você fazer isso? – o homem ouviu por alguns segundos. – O que você está fazendo em Utica? Enfim não importa, traga a sua bunda imediatamente pra cá e reboque esse carro com urgência. – mais um silêncio, mas dessa vez breve. – Sim! É uma ordem do... – Edward encarou a mulher que o olhava com curiosidade e se afastando do carro e falando o mais baixo possível disse: - seu rei.

Bella que fingia procurar algo em sua bolsa se surpreendeu com as palavras finais do homem. Ela tinha um breve conhecimento que esses grupos de motoqueiros se tratavam como uma pequena monarquia. Rei, rainha, príncipes, princesas... era uma forma mais fácil de explicar o lugar de cada um, muito mais que a ideia de presidente e vice-presidente, uma vez que normalmente essas gangues o lugar de chefia não era decidido por voto, mas era algo passado de pai para filho.

- Madame – disse Edward tirando a morena do seu devaneio. – O guincho vai demorar, e está vindo uma grande tempestade em alguns minutos, e se você continuar nesse carro sem aquecimento vai estar congelando em alguns minutos, ou pior se molhando.

Bella assentiu.

- Sim, como estava te dizendo meu celular está sem bateria, você não poderia me chamar um táxi para me levar a algum hotel na cidade? – pediu ligeiramente nervosa.

- Não! Eu te levo. – disse com um pouco de rudez. – Até um táxi chegar aqui, a tempestade já vai ter levado a melhor, e sinceramente ninguém vai vir buscá-la aqui, essa região não é das mais acessíveis.

- Er... hum... mas eu não posso deixar minhas coisas aqui! – exclamou com um leve temor. Edward arqueou uma sobrancelha em desafio.

- Jasper estará aqui em no máximo uma hora, o que é o tempo de chegarmos a cidade e você fazer um check-in na pousada. Nada do seu carro vai ser roubado, eu te garanto!

Isabella olhou desconfiada para o homem. Edward suspirou pesadamente e caminhou até a sua moto, retirando algo do compartimento de carga e indo até o para-brisa traseiro e pichando seu carro.

- Ei! – exclamou Bella horrorizada. – Você vai estragar meu carro!

Edward sorriu torto.

- Não vou estragar seu carro Madame. Além do mais, muitas coisas que você ouviu sobre os Vampiros Dragões são verdades, ninguém vai mexer no seu carro com essa marca. – disse desenhando com uma tinta branca o que parecia um dragão com presas afiadas e uma coroa na cabeça.

Bella conhecia muito pouco ou quase nada sobre o universo de gangues e de criminosos, mas ela tinha certeza que aquele simples desenho não era algo banal ou simplesmente uma demarcação de território, se caso ela ouviu corretamente o que ele falava com um de seus associados, ele se denominava rei, e se o rei seja ele do que for, no caso, de uma gangue de motoqueiros, era alguém que podia mandar e desmandar, decidir sobre os destinos de cada ser humano que cruze seu território.

A morena encarou o homem com atenção.

Edward era um homem alto, construído com músculos esguios, mesmo com a jaqueta de couro negra ela podia dizer que seus braços eram definidos e que seus ombros eram largos e fortes. Sua pele apesar de clara tinha um leve brilho prateado. Os cabelos acobreados, levemente bagunçados, com mechas claras e escuras que lhe davam uma postura desleixada, mas um desleixado do tipo que intriga, do tipo proposital. E seus olhos não eram apenas verdes profundos, esmeraldinos, eram brilhosos, cheios de vida e de algo que ela nunca antes tinha visto, e aquilo a intrigava.

Inesperadamente um desejo nunca antes sentido por ela de descobrir cada detalhe escondido, cada coisa sobre esse homem que em si parecia um grande mistério: um gangbanger, chefe de gangue, mas ao mesmo tempo gentil, cheio de vida, com um prazer verdadeiro de viver, algo que ela nunca sentiu, mas que sempre quis. Ela queria a mesma vitalidade, a mesma vivacidade desse homem.

Edward observou o olhar intenso da bela atriz de Hollywood sobre si, e mesmo sabendo que era um homem que chamava a atenção feminina, tê-la encarando daquela forma o deixava incomodado, mas a sua intensidade o deixava imobilizado, e pela primeira vez em sua vida aterrorizado. Ele tentou colocar seus pensamentos em ordem, e quando percebeu que depois de longos três minutos a intensidade do seu olhar não diminuía, e depois de recuperado do seu atordoamento, ele sorriu torto, tirando um cigarro do bolso interno de sua jaqueta.

- Algo interessante, Madame? – disse após a primeira tragada, sobressaltando Bella do seu devaneio, praticamente a assuntando-a.

- Hum... er... não... – balbuciou a atriz. – Se você diz que isso aí não vai estragar meu carro vou ter que confiar no julgamento de um... mecânico? – perguntou incerta.

O ruivo ampliou o sorriso.

- Qualificado, inclusive. Um dos três melhores da região, e os outros dois? Eles trabalham para mim! – replicou com uma piscadela para a mulher que sentiu suas bochechas ficarem quentes.

- Se você diz. – Bella respondeu depois de um longo silêncio, dando de ombros, mas com a demora de sua resposta ela perdeu todo e qualquer efeito.

Edward sorriu divertido. Porém o som da sua risada foi mascara por um forte trovão que assustou a jovem ex-atriz.

- A tempestade chegará logo, é melhor seguimos para a cidade. – disse finalizando o cigarro e apagando a brasa com a ponta de sua bota. – É melhor a Madame colocar uma jaqueta, o vento pode ser um pouco incômodo na moto. – disse com um sorriso, finalmente guardando o spray de tinta no suporte de bagagem de sua mala.

Bella não lembrava que momento ela havia concordado em aceitar a carona do homem, mas sem um segundo pensamento abriu o porta-malas do carro, retirando de uma de suas malas uma jaqueta de couro preta e uma echarpe preta de pashmina. Sabendo que a blusa fina que usava, a jaqueta e a echarpe não seriam suficiente para apaziguar o frio que concretamente iria congelar os ossos, a morena aproveitou para retirar um casaco térmico para colocar por baixo da jaqueta. Após vestir com as camadas mais quentes, Isabella prendeu ligeiramente o cabelo com um elástico e enrolou seu pescoço e seus cabelos com a echarpe. Colocando seus óculos de sol, Bella finalmente se virou para o homem que parecia admirar seu telefone celular com um sorriso enviesado estampado em seu rosto.

A morena mais uma vez se deixou admirar o homem. O seu ar despojado do homem e sua aura de que exasperava poder. Mesmo sabendo que ele era um gângster, Edward, como ele havia dito que se chamava tinha um ar aristocrático, uma postura de nobreza, algo que ela vira nas poucas vezes que estivera diante de membros da realeza. Aquilo a intrigava. Esse homem, como ele mesmo disse era um mecânico – não que não seja uma profissão louvável, mas simplesmente não se encaixava na postura dele; e para somar nesse quebra-cabeça intrincado e inquietante que era aquele homem, ainda havia o fator de ser um rei.

Rei da Syracuse Vampire Dragons motoclube.

- Algo interessante, Madame? – repetiu a pergunta novamente, desta vez com uma leve diversão na voz, mas sem erguer seus olhos do telefone.

- Você só tem um capacete. – constatou rapidamente, encostando-se em seu carro. Edward que estava encostado contra a sua moto levantou o olhar para encarar a mulher e sorriu.

- Eu estou acostumado a pilotar, não vai ser hoje que um acidente acontecerá comigo. A Madame usa o meu capacete hoje, na próxima eu arrumo um para você. – falou com uma piscadela a ex-atriz.

Isabella sentiu suas bochechas enrubescerem.

- Próxima vez? – repetiu ligeiramente afetada. – Convencido da sua parte. – Disse dando de ombros e recolhendo sua bolsa do banco do passageiro de seu Camaro vintage preto.

Edward sorriu torto.

- Somente apontando fatos, Madame. – replicou entregando o capacete a mulher. Bella que até aquele momento não havia dedicado uma boa olhada a moto do homem o fez pela primeira vez. Era uma Harley Davidson totalmente preta fosca, inclusive o motor o escapamento. A única coisa que não era preta era o símbolo da marca que era de um prateado brilhoso e o detalhe de uma pequena coroa no que parecia ser feito de um intrincado padrão prateado incrustado com pedras, que claramente eram diamantes e um dragão feito com pedras negras e vermelhas, seriam ônix e rubis?

Ela não tinha certeza, mas era mais uma camada no intrincado mistério que era aquele homem.

A morena mais uma vez olhou intrigada para o homem. Edward sorriu torto.

- Um dia te conto a história, Madame. – falou com um sorriso, finalizando com uma piscadela enquanto montava na moto. Bella admirou a graciosidade com que o ruivo subia na máquina, era natural, mas ainda assim com uma imponência, uma elegância única. Ela estava boquiaberta com o mistério atordoante que parecia ser esse tal de Edward. – Vamos, Madame? Ou chegaremos a cidade completamente molhados. – pontuou retirando a morena do seu devaneio.

Isabella piscou atordoada, na expectativa de clarear seus pensamentos.

- Claro. – murmurou, passando a alça de sua bolsa em torno de seu corpo e finalmente colocando o capacete. Com passos vacilantes, seguiu para onde o misterioso e imponente homem estava a esperando com a mão esticada, para auxilia-la a montar na moto.

Todavia, algo que nem Bella, muito menos Edward estavam preparados era para o estranho formigamento de suas peles ao breve contato, ambos, com os olhos escondidos pelas lentes escuras de seus óculos de sol, os arregalaram e soltaram uma respiração surpresa, mas nenhum notou a reação do outro, pois estavam surpresos demais com as suas próprias reações para observar o que acontecia a sua volta.

Edward mais uma vez foi o primeiro a recuperar a compostura.

- É melhor a Madame segurar com força. – disse com uma voz pingando sensualidade.

- Claro. – respondeu com simplicidade afetada a morena.

Quando a moto começou a vibrar sob seu corpo, Bella agarrou-se ao homem, pressionando seu pequeno corpo as amplas costas masculinas. Edward enrijeceu com a ação, mas rapidamente relaxou. A morena por sua vez aproveitou-se do momento para sentir o cheiro de couro, cigarro, graxa e algo almiscarado que ela nunca havia sentido antes, mas que definitivamente ela gostaria de sentir para o resto de sua vida.

A paisagem outonal do estado de Nova Iorque passava veloz por seus olhos. Ao longo dos últimos três meses Bella deixou-se perder pelas diferentes paisagens dos Estados Unidos, tão diferentes e tão similares em tantos quesitos, cada uma com suas particularidades. Montanhas verdes, montanhas rochosas. Lagos de águas azuis claras, outras de azul profundo, rios tranquilos e revoltosos, verdes. Mas nenhuma daquelas inúmeras paisagens, daqueles momentos de paz e tranquilidade, de uma profunda reflexão sobre si mesmo, deram a Bella o que aqueles breves minutos na garupa daquele homem estava lhe dando.

Ela não fazia ideia como explicar, quantificar ou ponderar o que era, mas era algo diferente.

Era uma liberdade que ela nunca sentiu ou nunca esperou sentir. Era um acalento, uma calmaria não só no seu amago, mas na sua cabeça, no seu coração. Seu corpo sentia-se leve. Sua alma sentia-se como nunca havia sentido antes leve. Talvez aquela era a verdadeira sensação de liberdade que tanto se procura. Tentando se agarrar dessa sensação o máximo que podia, Bella fechou seus olhos e deixou de admirar as paisagens e mergulhou naquela sensação única.

Mas infelizmente o passeio terminou cedo demais, quando Edward começou a diminuir a velocidade da moto, Bella forçou abrir seus olhos para admirar a área residencial de Syracuse, com suas casas com fachadas de tijolos aparentes e com arquitetura clássica do nordeste do país – com uma ampla varanda e colunas na frente.

Era tão doméstico, tão comum, tão reconfortante, que Bella sentiu seu coração se aquecendo com aquela visão e um sorriso, talvez o primeiro sincero desde que iniciara essa jornada brotou em seus lábios. Ela via crianças voltando do seu dia na escola, cachorros brincando com seus donos, toda aquela domesticidade que em Bervely Hills era evitada, era ignorada, era desencorajada estava ali, e pela primeira vez em toda sua vida Bella queria aquilo, e ela queria aquilo com tanta intensidade que chegava a doer em seu peito.

Mais uma vez ela estava perdida em sua própria piedade de pobre menina rica, que mal percebeu quando Edward guiava a moto por um caminho cercado de altos pinheiros que contrariavam a estação quase invernal e estavam verdes escuros, dando um frescor ao caminho de seixos cinzas e pedras brancas. Inesperadamente estavam ante uma suntuosa casa, que assim como todas as outras do bairro tinha a mesma arquitetura clássica da Nova Inglaterra, mas seus tijolos eram pintados de um cinza grafite profundo o que contrastava com as molduras brancas das janelas e das grandes pilastras na entrada. O jardim era extremamente bem cuidado, com pequenas flores que formavam um pequeno arco-íris em tons pasteis.

Quando a moto finalmente parou de vibrar sob si, Bella percebeu que a moto de Edward não era a única no amplo espaço que havia tantas outras não só ali, mas também a distância.

Seria ali o QG da Syracuse Vampire Dragons Motoclube?

Edward parecia estar lendo seus pensamentos.

- Madame, chegamos na melhor pousada de Syracuse. – disse com um sorriso, ajudando a ex-atriz descer da moto. Bella admirou o prédio a sua frente, que não parecia em nada com uma pousada, porém, finalmente ela viu a placa que se lia "Emerald Lodge B & B".

- Emerald? – perguntou reflexivamente. Edward gargalhou.

- Um dos nomes de Syracuse, melhor que Salt City ou Coração de Nova Iorque, vai por mim. – explicou com um sorriso. – Vamos entrar, Madame? Está começando a chover. – pediu, no mesmo instante que Bella começou a sentiu inúmeros pingos cair sobre seus braços e rosto. Ela assentiu e correu para a grande varanda.

Edward não bateu na enorme porta preta com um dragão prateado, mas sim foi entrando como se fosse um tipo de proprietário do local. O hall de entrada, em contraposição ao exterior era extremamente moderno, com linhas arrojadas e decoração clean. Aos cores cinza e branco também dominavam, mas alguns detalhes em amarelo e verde davam um ar de ambiente caseiro ao lugar. Seguindo ao balcão, onde provavelmente deveria se fazer o check-in, Edward chamou alguém, uma mulher com uma voz alta, mas não gritada, porém cheia de propriedade e autoridade.

- Alice! – Bella que estava mais afastada de onde ele estava encostado no balcão admirou o lugar, absorvendo cada detalhe que podia. Ela estava tão submersa em seus próprios pensamentos que não percebeu a uma mulher baixinha de cabelos negros, curtos e espetados nas pontas, usando roupas escuras e uma jaqueta similar a de Edward entrar no ambiente.

- Resolveu aparecer? Depois de me deixar falando sozinha? Por favor, Edward, só por que você é... – dizia com uma voz musical, mas estridente.

- Trouxe uma hóspede. – cortou o homem, com um olhar intenso a mulher que engoliu em seco, e admirou a mulher que agora olhava para ela do outro lado do salão. – O carro dela parou perto de Nedtown, e ela precisa de um lugar para ficar enquanto dou uma geral nele. – explicou em poucas palavras.

- Claro. – concordou a pequena mulher. Bella que ainda estava distante do balcão de check-in se aproximou de onde os dois ainda se encaravam em uma conversa silenciosa.

- Olá, boa tarde. – disse insegura chamando a atenção da mulher. – Não quero ser um incomodo, se não tiver um quarto, posso ir para algum hotel na cidade. – completou incerta, mastigando seu lábio inferior, um habito nervoso que ela sempre tivera e que Renée odiava.

- Madame, tem lugar para você aqui. – replicou Edward com uma voz cansada, apertando seus olhos com seus dedos.

Alice que ainda encarava a mulher, finalmente a reconheceu.

- Isabella Swan? – gritou a pequena mulher, com seus olhos arregalados. – Você é a Isabella Swan?

Bella sorriu timidamente.

- É... mas...

- Ela prefere Bella, e ela não é mais uma atriz. – falou Edward com um pouco de rudeza. – Alice, um quarto para a Madame, é só isso que você tem que fazer! – exclamou.

- Porra Edward, você poderia ser um pouco mais educado, não comigo, porque eu não ligo mais com a sua ignorância, querendo ou não eu convivo com ela há 33 anos, mas poxa, mas a Bella não tem nada haver com isso! – exclamou com uma voz cheia de determinação. Edward ficou tenso com as palavras da pequena mulher, mas ao mesmo tempo um rubor leve tingiu suas bochechas.

- Desculpa Allie. – pediu com sinceridade. – É só...

- Eu sei... de qualquer forma Rosalie queria falar com você, parece que é um problema na oficina, ela está te esperando no Eclipse Vermelho. – falou a morena. – Pode deixar que cuido de tudo aqui. – completou com um sorriso, quando notou o olhar tenso do homem.

- Qualquer coisa, me chama Alice. – falou com um sorriso sincero. – Até mais ver, Madame. – completou com uma ligeira piscadela para a ex-atriz.

Bella admirou Edward deixar a pousada com a mesmíssima postura de poder e segurança que ela notou desde a primeira vez. Definitivamente aquele homem era um mistério, um mistério que ela gostaria de descobrir.

- Desculpa por isso Bella, Edward é intenso demais, sempre. Eu sou Alice, uma das proprietárias da Emerald Lodge. Nossa pousada não é o Four Seasons, mas a sua estadia por aqui será inesquecível, isso eu posso te garantir!

Bella sorriu para a mulher.

- É incrível a sua pousada Alice, tenho certeza que nada aqui vai deixar a desejar para o Four Seasons ou qualquer outro hotel. – falou com um sorriso. – Você e Edward parecem ser bem íntimos, casados? – perguntou insegura.

A pequena mulher gargalhou alto.

- Não! Definitivamente não! – disse com um leve tremor. – O pai dele casou com a minha mãe quando ele tinha 4 anos e eu dois, mas antes disso já erámos vizinhos, fomos praticamente criados juntos. Isso que você viu aqui só foi uma demonstração de amor entre irmãos, com suas pequenas trocas de farpas e a necessidade de tirar a cabeça dele de sua própria bunda. – brincou. – Eu sou casada com Jasper, acredito que é ele que está trazendo o seu carro de Nedtown, ele é o braço direito de Edward, amigos de infância também... um tipo de amizade que eu nunca poderia fazer parte, pelo menos. – falou com um fôlego só.

Mais uma vez Bella sorriu. Na verdade, ela estava fazendo muito isso na última hora.

- Então uma grande família? Parece ser incrível. – disse melancolicamente.

Alice sentiu a mudança no humor da atriz e com um sorriso apologético falou:

- Meus pêsames pela sua mãe. Eu não sei como é a dor de perder um pai, deve ser horrível, mas eu acredito que no fim tudo vai ficar bem. Você eventualmente ficará bem.

- Obrigada Alice. Por mais recente que seja, eu já estou um pouco conformada. Tem dias bons, tem dias ruins. Mas definitivamente me afastar de LA, de toda aura tóxica de Hollywood foi uma das melhores decisões da minha vida. – falou com uma sinceridade ímpar para uma desconhecida, algo que ao longo desses longos 9 meses ela nunca tinha feito, nem mesmo para sua terapeuta, todavia, existia algo em Alice que a deixava extremamente confortável em se abrir nesse nível.

- Então realmente você não pretende voltar a atuar? – perguntou a pequena mulher curiosa.

- Não. Por mais grata que eu seja a tudo que Hollywood me trouxe, eu odiava aquilo. Fazia tudo aquilo porque minha mãe queria que eu fizesse. No fundo, acho que ela queria ser famosa, mas ela não tinha talento ou – deu de ombros. – sei lá... era mais fácil me controlar.

Alice sorriu contemplativa.

- Espero que você encontre o que está procurando. E quem sabe você não encontre tudo o que procura aqui em Syracuse? – pontuou com um sorriso cheio de dentes.

- Quem sabe Alice? – divertiu-se Bella, enquanto assinava a sua entrada na pousada. – Alice, eu sei que vocês servem o jantar, mas...

- Será que eu não poderia enviar algo no seu quarto? – completou a pergunta da ex-atriz, que somente assentiu. – Considere feito, no quarto tem roupões, mas acho que Jasper já deve estar chegando com suas coisas, assim que ele estiver aqui levo suas coisas para cima e o jantar?

- Alice, você é um anjo! Nunca deixe ninguém dizer o contrário! – agradeceu Bella.

Alice sorriu afetada.

- Você prefere Macarrão com queijo ou Bolo de Carne com purê de batatas? – perguntou.

- Posso ter os dois? E talvez uma cerveja e um brownie? – pediu com um sorriso típico do gato Cheshire. – Estou apenas com um latte e um bagel da Starbucks que comi as 7 da manhã.

- Considere feito! Deixe-me te levar até seu quarto. – disse a mulher divertida. Enquanto as duas mulheres subiam a escada, Alice tagarelava sobre aspectos de Syracuse que Bella dava meia atenção, pois seus pensamentos estavam em um certo ruivo de profundos olhos verdes.

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13 de novembro de 2018.

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Dez dias que ela estava em Syracuse, e ela estava completamente encantada por aquele lugar.

Alice era uma anfitriã excelente. Sempre prestativa, sempre amigável, fácil de lidar. Seu marido Jasper também era uma pessoa incrível. Extremamente ponderado, mas sempre com um sorriso e uma pessoa fantástica para se conversar, principalmente sobre história e filosofia. Ele nunca perguntara a Bella sobre sua carreira ou sobre os motivos dela deixar LA, parecia que para ele aquilo não era um tópico importante, ele parecia gostar de Bella pela pessoa que ela era, não pelo dinheiro ou influencia que ela tinha, e isso a agradava de maneira reconfortante.

Ela também havia conhecido a mãe de Alice, Esme Cullen. Uma mulher que apesar de viver no seio de uma gangue de motoqueiros – que pelo pouco que ela havia entendido de meias conversas, o pai de Edward também era membro – nada tinha haver com aquele lugar. Evidentemente ela carregava um olhar perigoso, mas sendo a juíza da cidade a elegância e a seriedade eram sempre presentes em sua postura. Mas apesar da sua desconfiança sempre a espreita, Esme tratou Bella com muita atenção, carinho e respeito, chamando-a inclusive para conversar longe dos olhares dos outros. Afirmando que se caso ela precisasse de qualquer coisa, estaria a disposição em ajudar.

Carlisle Cullen, pai de Edward e padrasto de Alice, era uma versão mais velha do seu filho. O mesmo jeito de se vestir, os mesmos olhos verdes intensos, os cabelos que agora eram rajados de fios brancos em meio acobreados possuíam a mesma desordem o homem mais novo. Bella ficara pouquíssimo tempo na presença do homem, mas ela podia apostar que apesar da gentileza e das boas maneiras que Carlisle exalava quando falava com sua voz baixa e profunda, com calma e serenidade, ele era um homem extremamente perigoso. Todas as pessoas pareciam evitar seus olhos, e quando não o faziam o tratava com um respeito típico que era direcionado a um rei.

Os McCarty's, Emmett e Rosalie eram o tipo de pessoas totalmente diferentes do que Bella já havia conhecido na vida. Emmett, assim como todos ali também era membro da gangue, mas ao contrário de todos os homens não trabalhava nas oficinas, mas sim na pousada com Alice ou no bar que também possuía, o Eclipse Vermelho. A primeira impressão você juraria que ele seria um dos membros mais perigosos da Vampire Dragons, do tipo que resolvia as questões de tráfico de drogas ou de armas, mas as únicas armas que Emmett colocava as mãos eram suas facas e as únicas drogas que traficava, era a culinária impressionante que fazia na cozinha da pousada. Emmett era tão qualificado em gastronomia que possuía inclusive um diploma da renomada escola Le Cordon Bleu, o que impressionou de maneira positiva Bella.

Já Rosalie, esposa de Emmett era o tipo de mulher que intimidava a ex-atriz. Seu corpo escultural, seus longos cabelos loiros, sua postura de modelo internacional. Tudo em Rosalie gritava famme fatale, e ela de fato era, mas ela era muito mais que isso. Alice lhe contara que na ausência de Edward, Rose, como ela preferia ser chamada, era a chefe das oficinas, ela podia montar e desmontar um motor de qualquer máquina com perfeição sem quebrar uma unha sequer. Se Jasper era o braço direito de Edward, Rosalie com toda certeza era o esquerdo, e talvez até mesmo boa parte do seu direito. Mas pesar da frieza que ela carregava em seus olhos lápis-lazúli, a mulher era uma verdadeira comediante. Sua risada escandalosa, sua leveza, sua vontade de viver, era contagiante, era fácil entender o porque dela e Emmett serem um casal, eles não apenas se completavam, eles eram o que realmente se chama de alma-gêmeas.

E existia Edward.

Edward era um homem que a sua presença parecia preencher toda a sala. Mesmo seus amigos pareciam lhe tratar com um respeito atordoante, sempre dirigindo a ele como se esperasse um tipo de ordem. Aqueles que eram membros da gangue que conviviam poucas vezes, o tratava como se realmente ele fosse um rei – muito similar a maneira como todos apreciam tratar Carlisle -, todos pareciam querer agradar, ou ansiosos em cumprir suas ordens, seja elas quais forem. Claro, ele parecia um homem trabalhador, todos os dias ela via ele trabalhando na oficina do outro lado da rua da pousada das oito da manhã as cinco da tarde quase incansavelmente, mas mesmo após o jantar – que ele sempre fazia na companhia de Jasper, Alice e as vezes na companhia dos seus pais, sempre as oito e meia da noite ele dava um mínimo sinal em direção principalmente a Jasper e saia desejando a todos boa noite. Mal dava cinco minutos, Jasper se despedia de Alice afirmando que voltaria no horário de sempre.

Bella nunca questionara o que eles faziam, mas ela não era idiota em achar que o negócio de gangue, toda a história que ela lera sobre os Vampiros Dragões de Syracuse, antes de conhece-los fosse mentira. Ela podia apostar que todas as noites, após os jantares de família os membros da SVD praticavam seus inúmeros atos ilegais. Ela não podia julgá-los, eles eram uma família unida que se apoiava de uma maneira que ela mesmo nunca tivera, mas ela não podia dizer que aquilo lhe agradava. Ela temia por aquelas pessoas, ela temia pela vida daquelas pessoas que ela mesma, mal conhecia, mas que naquela quase uma semana aprendera a respeitar e invejar o que tinham.

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Era meio da tarde, Bella lia um livro que Alice havia lhe arrumado no pátrio externo da pousada, aproveitando um dos últimos dias de calor, antes do inverno congelante que viria. Ela estava tão entretida em seus próprios pensamentos que não percebeu que estava sendo observada, pelos belos olhos verdes que nos últimos dias pareciam assombrar seus sonhos e pensamentos, mesmo ela não tendo pleno conhecimento.

Sabendo que não poderia ficar para sempre apenas olhar aquela bela e intrigante mulher, Edward se fez conhecido, dando uma leve tossida. Imediatamente Bella ergueu seus olhos e sorriu com a visão de Edward.

- Desculpa incomodá-la, Madame. – brincou o ruivo, aproximando-se de onde ela estava sentada e puxando uma cadeira para si.

- Não me incomoda Edward. – disse com um sorriso.

- Prometo que serei rápido. – disse retirando um cigarro do maço e acendendo. – Consegui terminar o orçamento do seu carro, e como você me pediu para trocar todas as peças que Pierce usou de 3ª categoria. – Bella assentiu. – As peças originais ficarão em 20 mil, e já as encomendei.

- Perfeito Edward! – exclamou. – E a mão de obra? Eu espero que você cobre o valor correto.

- Mas Bella, antes de discutirmos o valor final há alguns problemas. Com ação de graças há 3 semanas e depois Natal e ano-novo, algumas peças só chegaram em Syracuse na primeira quinzena de janeiro. – ponderou com cautela. – Você disse que não gostaria de ficar muito tempo parada em um lugar só. Temos um Mustang Shelby GT500, 1967 que acabamos de restaurar, se você quiser, você pode seguir viagem com ele estes próximos 2 meses, e depois você vem buscar seu carro.

- Oh! – Bella surpreendeu-se. – É... wow... er... não Edward! Eu tenho gostado bastante daqui, sei que disse que queria ficar me movendo constantemente, mas essa semana me fez ver que talvez uns meses parada é justamente o que eu estou precisando. Se eu quiser me mover um pouco, posso tranquilamente alugar um carro, ou simplesmente ir até Nova Iorque ficar uns dias lá e voltar. – completou com um sorriso.

Edward que estava nervoso com o que deveria dizer a mulher, de repente sentiu-se relaxar.

- Se a Madame diz. – proclamou com um sorriso torto. Bella sorriu amplamente com o uso do termo "madame", ela adorava quando ele a chamava assim.

- Enquanto, quando vai ser a mão de obra? – perguntou desafiante.

O mecânico suspirou pesadamente passando seus longos dedos por seus cabelos acobreados.

- Não deveria ser nada, uma vez que você irá dar um lucro surreal a Alice, mas 25 mil, talvez? – disse finalizando seu cigarro.

- Edward, você disse 30 quando nos conhecemos, e não vou pagar nenhum centavo a menos que isso! – exclamou.

Ele bufou.

- Que seja 30! Mas isso não está certo, Madame! – falou esfregando suas mãos sobre suas pernas.

- Eu acho justíssimo. – replicou com um sorriso. – Mas algo que você tenha para me falar? – pediu com um olhar cheio de segundas intenções. Inconscientemente ela prendeu seu lábio inferior com seus dentes em uma clara postura de flerte. Edward observou a ação com atenção, seus olhos pareciam hipnotizados nos lábios carnudos da bela morena a sua frente, seus olhos castanhos brilhavam de maneira pecaminosa. Bella viu os olhos verdes esmeraldinos quase translúcidos de Edward escurecerem, seu pomo de adão movimentar-se violentamente.

O olhar parecia perdurar-se pela eternidade, ambos pareciam se inclinar um para o outro, eles estavam a poucos centímetros. Bella podia seus sentidos formigarem ante a presença inebriante do homem. Edward estava com seu pensamento em branco e ao mesmo tempo em plena confusão.

- Edward! – o grito de Rosalie, tirou ambos da aura de sedução que estavam e se afastaram rapidamente. A loira não percebeu que havia interrompido algo, mas o olhar nervoso em seu rosto, parecia deixar Edward atento.

- O que foi Rose? – pediu com aquela sua voz cheia me autoridade.

- Problemas no Midnight, James e Riley. – falou claramente em códigos.

- Filhos da puta! – exclamou Edward levantando-se da cadeira em que estava. – Vou... – ele fechou suas mãos em punho. – Desculpa Bella, depois continuamos nossa conversa. – disse com um sorriso apertado saindo a largas passadas do pátio deixando uma Bella ainda atordoada pelo que quase aconteceu e uma Rosalie desconfiada.

- Eu interrompi algo? – perguntou, ocupando a cadeira em que Edward estava antes.

- Oi? O quê? Não! – disse a morena rápido demais. Rosalie fechou seus olhos em fendas e encarou a morena.

- Sabe, eu conheço Edward há uns bons anos, fomos para a escola juntos – começou a loira com cautela. – lembro que todos diziam que seriamos o casal perfeito. – Bella que até então não estava dando uma atenção a mulher, de repente se viu envolvida em cada palavra que era dita. – No começo nos acreditávamos nisso, oh sim, Edward e eu namoramos por terríveis dois meses – disse com uma risada. -, foi a pior experiência do mundo para ambos, era como beijar um irmão. Não que eu tenha um irmão, mas se eu tivesse acho que ele seria igual Edward. Aquela situação bizarra só nos fez aproximar. Alguns anos depois ele me apresentou Emmett e o resto é história.

"O que eu quero dizer Bella, é que Edward sempre foi o tipo de cara que atraiu a atenção feminina. Sei que você não é idiota e já percebeu que ele é alguém..." – ela hesitou por cinco segundos. – "foda dentro da nossa organização. Ele é o nosso chefe, alguém que todos nós devemos respeito. Só que além disso ele é meu amigo, e ao mesmo tempo que já vi ele com todo tipo de mulher, eu também nunca o vi da forma que ele é com você. Existe algo em você que o deixa inquieto, e sei que você não pretende ficar muito tempo aqui em Syracuse, não vou dizer pra você ficar longe dele também, porque vocês dois são adultos, e se querem fazer sexo, bom... façam... é bom pra caralho, mas cuidado Bella. Se existe algum tipo de sentimento da sua parte, ou se você acha que tem algum sentimento da parte do Edward... só... toma cuidado, ok? Não quero ver nenhum de vocês dois sofrendo depois, beleza?!"

Bella encarou a loira com os olhos arregalados e completamente atordoada.

- O quê? Não é só Alice e Jasper que são observadores. Enquanto os dois ficam na deles eu já sou aquela que não mede palavras. – disse dando de ombros. – Todo mundo já percebeu que rola uma certa tensão extremamente sexual entre vocês. A troca de olhares, quando Edward te chama de 'Madame' você parece hiperventilar, é tão óbvio!

- Não! – exclamou a morena completamente na defensiva. A loira arqueou sua sobrancelha perfeitamente delineada.

- O pior cego é aquele que não quer enxergar. – filosofou. – De qualquer maneira, pensa no que eu falei, Edward está interessado em você... vira e mexe eu vejo ele vendo vídeos seus, principalmente dos filmes em que você aparece em toda sua glória ou com pouca roupa. – provocou, levantando da cadeira da mesma maneira que o ruivo, mas diferentemente dele com um sorriso divertido no rosto deixando uma Bella completamente atônica.

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21 de novembro de 2018.

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Os dias em Syracuse eram diferentes do que Bella um dia já havia experimentado em sua vida. A vida pacata de cidade do interior ainda estava ali presente, mas era as pessoas com quem ela relacionava que deixava tudo mais interessante. A cada dia ela os conhecia mais e mais, e a cada dia ela queria os conhecer mais e mais.

Alice era a força da natureza, sempre curiosa sobre a vida de Hollywood, mas sem ser intrusiva, porém Bella cada vez mais se via respondendo as perguntas da morena. Jasper parecia ser a contramedida perfeita de Alice, ele parecia ponderar perfeitamente quando sua esposa estava exagerando. Conversar com Jasper sempre era uma experiência enriquecedora, e Bella se via buscando conhecer sobre assuntos para ter uma conversa com o loiro.

Emmett assumira quase uma figura de irmão mais velho para a ex-atriz, ele depois de descobrir que Bella mal sabia fazer café tinha tirado como missão de vida ensiná-la a cozinhar, e apesar de até o momento ela ter conseguido fazer apenas café, chá e ovos mexidos, Bella já se sentia muito mais prestativa do que em toda sua vida. Emmett sentia-se confiante que em poucos meses a morena poderia ser a sua sous-chef. Rosalie era o tipo de amiga louca que todo mundo deveria ter, aquela que não mede palavras que não é de ficar te tratando como uma princesa frágil. Rosalie a desafiava, mas era algo que Bella adorava em Rosalie, porque Rosalie não parecia vê-la como uma atriz empoderada, alguém frágil, mas sim alguém que pode fazer o que bem entender a hora que bem quiser.

Edward ainda era a pessoa mais reclusa de todos. Desde o momento que quase partilharam, quando ele falou sobre o orçamento de seu carro, eles não passaram mais nenhum momento sozinhos. Os olhares, os 'Madame' ainda existiam, mas tudo parecia mais tímido, contido. Bella não sabia se era por causa da percepção de que os outros já havia notado o flerte inocente que partilhavam ou se ele percebera que cruzou uma linha que não deveria, ou ainda porque um de seus amigos lhe falara algo para ele.

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Naquele dia, véspera de Ação de Graças, Bella sentia-se um pouco entristecida. Nem mesmo a tagarelice de Alice, ou as aulas de culinária de Emmett a animavam. Ela queria ficar um pouco sozinha, e com uma desculpa meio esfarrapada de explorar a cidade após o almoço a morena saiu sem qualquer rumo.

Seus pensamentos estavam em um turbilhão e ao mesmo tempo vazios. Ela não conseguia focar-se em nada em especial, simplesmente estava ali, caminhando sem rumo por uma cidade que ela não conhecia, mas que em quase 20 dias estava sendo muito mais um lar para ela do que LA jamais foi.

Ela não faz ideia de quanto tempo caminhou, mas em algum momento ela se encontrou no Onondaga Lake Park, e sentando-se sobre uma pedra, em uma região mais afastada do público ela deixou-se perder em pensamentos e passou horas meditando, algo que não fazia há um bom tempo. Bella não percebeu que havia escurecido, e ainda um pouco desorientada ela tentou encontrar o caminho para a Emerald Lodge.

Como ela estava distraída no caminho de ida, ela não percebeu qual caminho seguiu e conforme ela andava – ela percebeu que saiu sem o celular e sem dinheiro – ela via encontrar o caminho de volta, mesmo em uma cidade pequena, onde todos pareciam conhecer tudo era impossível. O pânico começou a instalar nela. Um temor que ela nunca antes sentiu começou a consumi-la.

Ao longe ela ouviu o ronco de um motor. Motor de uma moto. Uma Harley-Davidson. Imediatamente todo o temor, toda ansiedade que parecia tomar ela se esvaiu, ela procurou desesperadamente a origem do som, porém não era a moto preta de Edward que vinha a distância, mas sim uma vermelha brilhante com um loiro a guiando. A morena tentou andar o mais rápido possível na direção contrária a que a moto vinha, mas mesmo na sua velocidade constante dos seus passos não era nada a força do motor.

- Perdida, princesa? – provocou o homem, diminuindo a velocidade da moto, para uma quase parando.

- Não. – respondeu monossilábica.

O homem sorriu divertido, dessa vez desligando a moto e indo em direção a mulher.

- Procurando diversão então! – exclamou, puxando Bella pelo braço. – O-ho! Se não é a puta mais gostosa de Hollywood, Isabella Swan! – provocou trazendo Bella para mais próximo ao seu corpo e apertando lascivamente sua bunda. – Nunca fodi uma pessoa famosa, mas sempre quis saber como seria. – disse tentando beijá-la a força. Bella lutou para se livrar dos braços do homem, mas sua força era ínfima, ante a força bruta do homem.

Bella lutava tanto contra o homem que a apertava e estava prestes a fazer algo que ela nunca antes sofrera que ela não ouvira o novo ronco de motor que vinha a distância.

- Larga ela imediatamente, James. – Edward ordenou cheio de autoridade. O homem que agarrava Bella arregalou os olhos e a morena viu o medo nas íris azuis. Imediatamente ele a soltou com cuidado.

- Edward... meu Rei Dragão, não é o que parece. – começou a se justificar, enquanto virava lentamente para encarar o homem.

- Poupe-se de explicações James, eu não quero saber. – disse o ruivo levantando a mão para calar o outro. – Não é a primeira vez que você faz uma merda dessas, fora as outras coisas. Eu quero que você vá pra casa, e amanhã esteja no Midnight Sun, no horário de sempre, totalmente são, sem a porra de uma gota de álcool no seu sangue ou qualquer merda que você usa ultimamente, e vamos votar sobre o seu destino. Dragões não deixam um dos seus pra trás, mas fazer algo como isso James, isso acaba ainda mais com a nossa reputação! Eu estou cansado das suas desculpas, do porquê a Vicky te deixou e blá-blá-blá, mas chega James! Ou você se torna um homem e assuma suas ações de peito aberto ou você não é mais digno de usar essa jaqueta ou ter sua tatuagem. – falou com finalidade o ruivo.

James apenas assentiu em concordância.

- Claro, Edward. – falou com pesar. Seguindo para sua moto.

-E a desculpas a Madame? – exigiu o ruivo.

- Desculpe meu comportamento, senhorita Swan. – se desculpou James com sinceridade. Bella apenas assentiu em concordância.

Edward não se aproximou da morena enquanto James não estava distante de onde havia acontecido todo o ocorrido. A morena ainda encarava o seu salvador com um ar de leve admiração. Há muito ela já havia aceitado que achava o homem belíssimo, que ele era o tipo de homem que toda mulher desejaria, que ela desejava, mas a sua postura de poder, a força, a autoridade que ele emanava em suas atitudes, em suas falas, em seu jeito de ser era afrodisíaco. Tudo nele era afrodisíaco, tudo naquele homem chamava ela, fazia ela querer ele. Ela não aguentava mais, ela precisava dele.

- Edward... – ela começou com um suspiro.

- Onde você estava o dia todo? Alice estava preocupada, Madame? – questionou, levemente divertido.

- Só Alice? – provocou, dando um passo em direção ao homem. Edward sorriu torto para a morena. Seus olhos verdes estavam escuros e se fixavam nos lábios rechonchudos da morena.

- Não... – respondeu reticente dando um passo em direção a morena. – Emmett estava achando que você não havia gostado da receita de panqueca que ele a ensinou. – sorriu. – Jasper achou que você estava na biblioteca procurando algum novo tópico para discutirem, e Rosalie... bem... Rose... simplesmente riu. – enumerou.

Bella prendeu seu lábio inferior com os dentes e Edward imitou a ação.

- E você? – pediu provocante. O homem admirou o rosto feminino com atenção. A aura de sedução, de desejo era latente. Palpável, espessa, dava para cortá-la com uma faca.

Edward molhou seus lábios com a língua.

- Eu vim procura-la, Madame.

Bella simplesmente não suportava mais a distância, e tampouco Edward, como se fossem imãs os dois se encontraram. Seus lábios reivindicaram um do outro com urgência e sofreguidão. Era uma necessidade completamente estrangeira para os dois. A ex-atriz embrenhou seus dedos na nuca do mecânico, enrolando entre os cabelos acobreados. O homem puxou o corpo feminino pela cintura, trazendo-a para si. Suas mãos grandes e masculinas se embrenhavam no cabelo dela, de uma maneira nada gentil, mas não menos sedutora e necessitada.

Logo os lábios deram passagem para as línguas, e mesmo no duelo desnecessário pela dominância, ambas pareciam se reverenciar e se reconhecerem. Era uma dança única e inédita, mas ao mesmo tempo tão bem ensaiada e tão única que deixava todos os sentidos inebriados de ambos. Era difícil quantificar quanto tempo passaram ali perdidos naquele beijo, poderia ser apenas segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos... décadas, não importava, partilhar aquele beijo era viciante.

Eventualmente eles se separaram, e mesmo com os olhos ainda fechados e com as testas pressionadas juntas, tentando controlar a respiração, o ruivo foi o primeiro a falar.

- Vamos te levar para casa, Madame. – provocou com uma piscadela.

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O caminho até a pousada não era muito longe, mas Edward parecia conduzir a sua moto vagarosamente para postergar aquele momento o máximo que poderia, mas eventualmente eles estavam parando em frente a entrada da casa. Cavalheiro como sempre, o mecânico ajudou a morena a descer da moto, antes de segui-la. Mas ao contrário do que era de se esperar nenhum dos dois se moveu. Bella sabia que Edward morava em algum lugar próximo a pousada e a oficina, mas nunca ela soube com exatidão onde era, e diante do olhar intenso dele sobre ela, um nervosismo de antecipação começou a dominar seu corpo.

- Está entregue, Madame. – disse com um sorriso, acariciando com seu polegar e indicador o rosto da morena.

- Você vai entrar? – perguntou incerta e cheia de expectativa a morena, mais uma vez prendendo seu lábio inferior com seus dentes.

Edward sorriu torto.

- Essa noite não. – falou passando seu polegar sobre seu lábio. Bella encarou seus profundos olhos verdes procurando o motivo da sua hesitação, mas não encontrando nada ali. – Eu quero ter meu tempo com você Bella, hoje definitivamente eu não teria. – completou, avançando seus lábios para capturar os da morena em um novo beijo sôfrego.

Mais uma vez a ex-atriz deixou-se perder nos lábios e nos braços daquele homem, porém cedo demais Edward quebrou o beijo.

- Não tem nada que eu possa fazê-lo mudar de ideia? – flertou a morena com a voz cheia de sedução.

Edward jogou sua cabeça para trás em um sorriso jovial.

- Não hoje, Madame. – replicou com uma piscadela afastando-se da morena.

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Dizer que Bella sonhou com Edward aquela noite seria um eufemismo. Ela teve o que se chama de sonhos molhados com Edward aquela noite, se sua imaginação estivesse chegando perto do que seria o dia que ela compartilhasse uma noite com ele, ela poderia ter certeza que seria a coisa mais incrível que já sentiu em sua vida. Se os beijos se partilharam foi um indicativo... ela não poderia esperar o que mais o homem poderia fazer.

Apesar da ansiedade e da expectativa de ver Edward e de saber se compartilhariam mais algum momento, durante todo o feriado de Ação de Graças o ruivo se absteve em simplesmente trocar olhares, sorrisos, ligeiras piscadelas e flertes inocentes com ela, nada que chamasse a atenção dos outros para algo que antes não vinha acontecendo entre eles.

Mesmo uma semana pós o feriado eles ainda não haviam compartilhado um momento sozinho, e a expectativa de quando seus lábios se conectariam com os de Edward novamente a deixava inquieta, expectante. Porém, com quase duas semanas se passando e nada acontecendo entre eles novamente a morena estava começando a perder as esperanças.

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N/A: Sei que o termo one-shot, significa um capítulo único, mas né... não dava para fazer uma parte só... em breve vem a segunda parte. E aí?! Pensamentos até agora?! Comenta aí, please!