"Remember Me" foi originalmente escrita por AnotherSentimentalFool em inglês. Tradução autorizada e acompanhada pela autora. Link da estória original: s/11170428/1/Remember-Me

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Como os eventos de Orgulho e Preconceito seriam alterados se Fitzwilliam Darcy soubesse de antemão que Elizabeth Bennet era sua futura esposa e amor de sua vida? UA/Regência

Remember Me

Prólogo

Agosto de 1801

Pemberly, Derbyshire

Anne Darcy estava deitada em sua cama tentando obter um muito necessário descanso. Recentemente seu sono tinha se tornado elusivo, interrompido por crises se tosse e falta de ar. Sua forte tosse podia ser ouvida até mesmo fora do quarto que tinha se tornado sua casa à muitos, muitos meses.

Virando-se de lado, Anne olhou pela janela o céu enegrecido, seus pensamentos voltados para sua família, especialmente seu filho, Fitzwilliam.

Ela suspirou suavemente. Anne sabia que seu tempo estava acabando. O nascimento de Georgiana 4 anos antes tinha destruído sua já frágil saúde. Os médicos tinham avisado que ela não deveria tentar ter outro filho depois dos dois abortos espontâneos que sofreu após o nascimento de Fitzwilliam. Apesar dos avisos médicos, ela ansiava por outro filho. Ela orava incessantemente por uma menina. Depois de muitos anos esperando e orando, ela finalmente engravidou e deu à luz sua tão esperada filha.

O parto foi longo e difícil, e houve momentos em que Anne achou que não sobreviveria. Ela se recuperou, mas pagou um alto preço. Sua já frágil saúde ficou permanentemente danificada. Suas frequentes crises de doença tinham lentamente drenado a pouca força que lhe restou. Cada nova doença que aparecia lhe deixou cada vez mais fraca, até que ela se tornou apenas uma concha vazia da antiga Anne.

Ela queria desesperadamente poder ver seus filhos crescerem, casarem e ter seus próprios filhos; ficar velhinha ao lado de seu amado marido, George. O preço que ela pagou para ter Georgiana foi alto, mas mesmo agora, deitada em seu leito de morte, ela não conseguia se arrepender de desejar outro ter filho. Seu sacrifício permitiria que sua amada filha tivesse uma chance de viver.

Seu único arrependimento foi ter enganado, escondido a verdade de como ela sabia que George seria seu. Seu melhor amigo, seu marido, amante e confidente. Seus 18 anos de casados foram maravilhosos, pontuados com alguns desentendimentos e desafios. Era inevitável entre dois indivíduos teimosos e independentes como eles. Anne sorriu, fechando os olhos e lembrando do passado; seus triunfos, dores, pesares; mas especialmente seu completo contentamento e alegria com a vida que ela sabia que nasceu para viver.

Desde que Anne era uma criança, ela tinha sido abençoada com sonhos, visões sobre o futuro. 'Sonhos Proféticos' como seu pai os chamava. A pedido de seus pais, ninguém fora da família sabia. Ela nunca falou sobre seus sonhos com ninguém. Eles eram tão infrequentes, que não afetaram sua infância. Foi apenas quando ela tinha 14 anos que ela teve o 'sonho' que mudaria o curso de sua vida. A princípio, eram apenas vislumbres de um homem pontuados com vários flashes de cenas e lugares - um salão de bailes, uma sala, um quarto. Os sonhos eram breves, mas as sensações que ela experienciava durante esses sonhos eram de puro contentamento e alegria. Ela ficava frustrada por não conseguir lembrar de muitos detalhes, mas ela sabia mesmo então que aquele homem seria importante em sua vida. Ela sonhava com ele três ou quatro vezes por mês, sempre os mesmos breves vislumbres que a deixavam frustrada e desejando mais.

Continuou assim por cerca de seis meses, até um evento bagunçou completamente seu mundo perfeito. Seu pai morreu subitamente, deixando sua mãe, irmão e irmã em choque e dor. No seu pesar, Anne desejou tão fortemente qualquer coisa que a trouxesse consolo que os seus sonhos do homem misterioso se tornaram cais claros e detalhados. Além de 'ver' o homem, ela agora tinha visões mais detalhadas sobre sua vida com ele. Ela soube então que aquele homem era seu futuro marido. Anne passou seu período de luto desenhando o homem, alterando um pouco a cada novo sonho, até que o desenho estava idêntico a como ela o via em seus sonhos. Então ela guardou o desenho e esperou.

Ela esperou por quase três anos que aquele homem aparecesse em sua vida. Na sua primeira temporada em Londres como debutante aos 17 anos, George Darcy apareceu em sua vida. O cortejo foi breve e idílico. Dentro de seis meses eles estavam casados e a vida para Anne realmente começ que ele não iria entender, sua mãe a avisou para não contar para seu novo marido sobre seus sonhos e o desenho que ela tinha feito dele. Sem querer começar seu casamento debaixo de uma mentira, Anne discutiu com sua mãe. Foi só quando seu irmão mais velho, Henry, o novo Conde de Matlock, entrou na discussão que Anne concordou em não contar sobre seus 'sonhos' para seu marido. Então Anne trancou o desenho em seu cofre e começou seu casamento sem contar nada para George. Foi a única vez em que ela escondeu algo dele. Dentro de dois anos ela engravidou e com o nascimento de seu filho, Fitzwilliam, sua vida estava completa.

Com o passar dos anos, Anne começou a ter 'sonhos' de novo. Por meio desses sonhos, Anne soube que outra criança nasceria para completar a sua pequena família. Depois de dois abortos espontâneos devastadores, e do diagnostico dos médicos de que outra gravidez lhe tiraria a vida, seu sonho de ter outro filho parecia inalcançável. Consternada, Anne se recusou a acreditar nos médicos, se apegando ao conhecimento de que ela teria outro filho. Ela implorou ao seu marido para tentar outra vez, sem sucesso. Ele não arriscaria a vida dela. Em seu desespero, ela contou ao seu marido aquilo que ela manteve em segredo, como ela sabia que ele seria seu marido mesmo antes de conhece-lo e como ela sabia que eles teriam outro filho. Sua revelação foi respondida com descredito, reprovações, e até mesmo ridículo. Ele disse que ela tinha simplesmente inventado essa estória para convence-lo a ter outro filho. Mesmo depois de lhe mostrar o desenho que ela tinha feito três anos antes de conhece-lo, sua única resposta foi 'besteira'.

Levou anos para Anne voltar a confiar plenamente em seu marido. Ela ainda o amava muito, mas tinha ficado profundamente magoada pela descrença e desconfiança dele. Ela nunca mais falou sobre seus sonhos de novo. Quando Anne ficou grávida mais uma vez, sua alegria foi incomparável. A cada mês de gravidez que se passava, ela ficava mais confiante que seu sonho seria realizado.

Uma suave batida na porta trouxe Anne de volta para a realidade. Sua criada de quarto entrou carregando a bandeja com a dose da meia-noite de seu remédio. Anne lutou para se levantar, tossindo violentamente. A criada se apressou para o lado de sua ama, deixando a bandeja de lado apressadamente antes de ajudá-la a se levantar. Tomando a dose do remédio, Anne afundou pesadamente contra os travesseiros, cansada com o simples esforço.

"Conseguiu dormir, senhora Darcy?" A criada perguntou suavemente.

"Não, não consegui." Anne suspirou. "Não consigo parar de pensar na minha família. Vou sentir tanta muita deles."

A criada balançou a cabeça, mas não respondeu. O que ela poderia dizer para aliviar a óbvia aflição de sua senhora?

Anne sorriu e lhe agradeceu pelo seu serviço. Depois de perguntar se Anne precisava de mais alguma coisa, a criada silenciosamente deixou sua senhora com seus pensamentos.

Enquanto andava pelo corredor, a criada orou para que sua senhora recebesse algum alívio e que a família fosse confortada nesses últimos dias.

Depois que a criada saiu, os pensamentos de Anne se voltaram para seu filho. Seu Fitzwilliam. Ela lutou contra as lágrimas enquanto pensava em tudo o que ela perderia nos anos seguintes. Ele era tão bom, seu Fitzwilliam. Tão devotado à família, leal, gentil e responsável. Mesmo aos 16 anos, ele já era muito mais maduro que os rapazes de sua idade. Ela sabia que o seu estado de fraqueza progressiva o afligia. Sua saúde fraca fez com que seu antes despreocupado filho se tornasse mais sério e pensativo. Ela não conseguia se lembrar da última vez que ele riu, realmente riu. Um garoto de 16 anos não deveria ter um fardo tão grande para carregar. Apesar da dor que sentia, ele autruistamente passava horas com ela, lendo, conversando, ou só sentado em silêncio. A presença dele a confortava, e ele entregava de boa vontade todo o tempo livre que tinha.

Ele iria para Cambridge em alguns anos. Por causa de sua saúde frágil, ele não quis sair de casa para estudar em colégios internos, como a maioria dos garotos de sua posição social. Ele preferiu professores particulares pra estar mais perto dela, perto de Georgiana.

Georgiana. Sua preciosa, preciosa menina. Mesmo aos 4 anos de idade, ela já era muito parecida com Anne. Por ela valeu apena cada dor, cada lágrima, cada oração. Nenhum sacrifício era grande demais para dar vida à sua menina especial. Georgiana não compreendia completamente a gravidade da doença de sua mãe. Ela entrava dançando no quarto de sua mãe todos os dias para mostrar um desenho que ela tinha feito, ou para contar o que ela tinha aprendido naquele dia. Sua conversa infantil e despreocupada enchia o quarto e isso aliviava seu coração. Ela era tão cheia de luz, sua Georgiana. Um raio de sol em seus dias vazios e cheios de dor. Ela fazia Anne se esquecer da doença por um tempo.

Pela primeira vez na vida, ela desejou ter seus sonhos. Ela queria 'ver' seus filhos felizes. ver como seria a vida deles já que ela não seria capaz de fazer parte delas. Algumas lagrimas escorreram pelas suas bochechas pálidas quando Anne começou a orar. Em meio as suas preces à Deus, Anne sucumbiu quietamente ao sono.


Anne acordou com um susto, sentando rapidamente, a mente em um turbilhão. Finalmente! Ela precisava por no papel antes que se esquecesse. Os detalhes do seu sono já começavam a desaparecer se sua mente, e ela rapidamente pegou o sino que ficava ao lado de sua cama e o tocou alto. Dentro de segundos, sua criada entrou no quarto temerosa de que algo tivesse acontecido co sua ama.

"Rapido! Preciso de papel e meus lápis de desenho!" Anne não deu a criada tempo de cumprimentá-la. Estava tentando sair da cama, e a criada assustada correu para o seu lado. "Não senhora Darcy! Por favor não se levante." Anne, ofegante, caiu sobre a cama frustrada.

"Por favor, se apresse! Eu não tenho muito tempo!"

"Senhora?" A criada perguntou com sua confusão evidente no tom de voz.

"Papel e meus lápis de desenho Abigail!" Diante do olhar chocado da criada, ela suavizou seu tom de voz. "Por favor, eu não teno muito tempo." Preciso desenhar antes que se apague da minha mente, Anne pensou freneticamente.

"É claro senhora Darcy, vou trazê-los num instante." Com uma pequena reverência, a empregada rapidamente entrou na sala de estar da sua ama.

Momentos depois ela voltou com os materiais pedidos. Colocando a mesa de escrever portátil, papel e lápis de desenho no colo de sua ama, ela quietamente perguntou se havia algo mais que ela precisasse.

Agarrando um lápis, Anne posicionou o papel e começou a desenhar. Bruscamente, ela disse, "Não, obrigada Abigail. Isso é tudo. Pode ir."

A criada saiu, sua confusão claramente escrita na face. Anne não prestou atenção à sua criada enquanto ela quieta e rapidamente saia do quarto. Com a criada já fora de seus pensamentos, Anne começo a desenhar a linda mulher que apareceu em seus sonhos.

Horas depois, Anne afundou contra os travesseiros e fechou os olhos em exaustão. Várias vezes ela foi interrompida por diversas pessoas tentando fazê-la descansar e tomar seu remédio. Ela ignorou todos eles enquanto desenhava febrilmente, desesperada para por no papel a mulher antes que a imagem desparecesse de sua mente. Mesmo os suaves e gentis pedidos de seu marido foram respondidos com apenas a mais breve das respostas.

Anne se sentou e olhou para seu desenho, procurando por alguma falha ou defeito na mulher que ela tinha visto tão claramente no seu sonho. Anne desejou ter tempo para colori-la. Apenas o lápis não capturava a riqueza de seus cabelos cor de mogno escuro, ou seus lindos olhos castanhos, seus traços mais belos. Eles iluminavam seu rosto com inteligencia e bom humor. Ela passou a maior parte do tempo tentando desenhar os olhos da mulher da forma certa.

"Perfeita. Ela é perfeita." Anne murmurou suavemente para si mesma. Anne sabia que aquela mulher era o par perfeito de seu Fitzwilliam. Ela tinha viso isso claramente em seu sonho. Anne sorriu contente. Tudo o que ela precisava fazer agora era dividir seu segredo com seu filho. Ela tinha decidido contar tudo a ele, incluindo a decisão de esconder os sonhos de seu marido e a reação dele quando ela finalmente o contou. Ela não queria que Fitzwilliam cometesse o mesmo erro que ela. Pondo o desenho de lado, ela finalmente se permitiu dormir.


Fitzwilliam Darcy caminhava rapidamente pelo corredor que dava acesso ao quarto de sua mãe mais uma vez se perguntando o que a fez o chamar durante suas aulas com seu tutor. Ela nunca interrompia suas aulas e ele estava se perguntando se algo estava errado apesar da garantia que a governanta deu de que estava tudo bem.

Parando na porta, ele quietamente bateu e esperou que ela o mandasse entrar. Depois de um suave, "Entre Fitzwilliam.", ele empurrou a porta e se apressou para o lado de sua mãe.

"O que houve mãe, a senhora está bem?" Fitzwilliam temia o dia em que ele seria chamado ali para se despedir de sua mãe. Ele sabia que ela estava muito doente e apesar dos avisos médicos de que ela tinha muito pouco tempo, ele tinha esperanças e orava para que os médicos estivessem errados. Ele não conseguia imaginar sua vida sem sua mãe nela. Ela era sua ancora, sua confidente, sua melhor amiga. Ela era a única que o entendia melhor do que ele mesmo. Seu pai tentava, ma ele era era completamente dever e responsabilidade. Ele sabia que seu pai o amava, que tinha orgulho dele, mas ele tinha certas expectativas e não tirava tempo para realmente conhecê-lo. Sua mãe era diferente. Ela o via, não como o que era esperado dele, mas como ele realmente era. Apesar de suas falhas, ela o amava incondicionalmente.

Sua mãe estava sentada na cama segurando um papel em suas mãos. Fitzwilliam parou, analisando o rosto de sua mãe. Havia algo diferente nela hoje. Apesar da falta de um sorriso no rosto, seus olhos traiam um nervoso excitamento.

"Puxe uma cadeira Fitzwilliam, eu tenho algo muito importante para te contar."

Sentando, Fitzwilliam segurou a mão de sua mãe e esperou.

Olhando para seu filho, Anne respirou fundo e começou sua estória.


Fitwilliam sentou em seu quarto escuro, iluminado apenas por uma única vela. As sombras causadas pela vela dançavam erraticamente nas paredes, refletindo seus pensamentos confusos. Ele pensou de novo na conversa, na confissão que sua mãe tinha feito mais cedo naquele dia.

Verdade seja dita, ele não sabia o que pensar. Por um lado, ele confiava implicitamente na sua mãe, ela nunca tinha o enganado antes. Mas o que ela tinha dito parecia tão fantástico, tão diferente de tudo o que ele já tinha ouvido antes.

Ele olhou para os dois pedaços de papel, um em cada mão. O papel em sua mão esquerda era um desenho de seu pai. Ele sempre achou sua mãe uma artista talentosa, os desenhos dela tão reais que eles pareciam sair do papel. Ele se lembrava das inúmeras vezes que sua mãe tinha desenhado sua irmã e ele.

Seu pai tinha sido desenhado à perfeição, desde o seu sorriso marca registrada até os olhos sérios. Ele devia ter uns 28 anos quando aquele desenho foi feito.

"Será possível?" fitzwilliam sacudiu a cabeça se livrando das dúvidas e desconfianças. Ele queria, precisava acreditar na estória de sua mãe.

Seus olhos foram automaticamente para o desenho na sua mão direita. Ele a contemplou maravilhado e admirado. Ela era linda. Mesmo com sua inexperiência e falta de familiaridade com o sexo oposto, ele sabia que era.

O corpo da mulher estava levemente virado para a esquerda, com a cabeça virada para a frente. Seus cabelos estavam soltos, uma abundancia de cachos descendo pelas costas. O que o marcou realmente foram os olhos dela. Eles estavam cheios de riso e alegria, brilhando com bom humor e inteligencia. sua mãe tinha dito que os olhos dela eram de um profundo castanho e os cabelos cor de mogno escuro. Os lábios dela estavam levemente partidos e parecia que ela estava prestes a dizer alguma coisa. A julgar pelo brilho nos olhos dela, alguma coisa divertida. Fitzwilliam sorriu.

"Será que essa é a mulher com quem vou me casar?" Ele não conseguia compreender isso. Ele não podia negar o que sua mãe tinha dito sobre seu pai. O desenho em sua mão confirmava a versão dela. Não, tinha que ser verdade.

Pondo de lado o desenho de seu pai, ele olhou para o desenho da mulher, traçando o rosto dela levemente com um dedo. Sua mãe tinha lhe dado muito pouca informação sobre a mulher. A única coisa que ela podia dizer com certeza era que ela tinha visto aquela mulher num baile; mais especificamente no Baile Noite de Reis de seus tios. Eles davam esse baile todo ano e era um dos eventos mais disputados da elite.

"Quem é você?", ele sussurou. "Onde você está?" Apesar das garantias de sua mãe de que ela apareceria em sua vida na hora certa, ele se temia que acabasse perdendo-a de alguma forma. Que ela se casasse antes que ele pudesse conhecê-la, ou que ela nem mesmo gostasse dele! Ele rapidamente baniu esse pensamento.

Sacudindo a cabeça ele se levantou, pegou o desenho de seu pai e o candelabro, e andou até o cofre escondido no seu quarto de vestir. Se ajoelhando, ele abriu o cofre e cuidadosamente colocou o desenho de seu pai dentro. Segurando o desenho da mulher cuidadosamente entre as mãos, ele sussurrou baixinho, "Eu vou te encontrar. Espere por mim."