Gêmeos (09/02/2017)

Nascem mais dois sob esse signo

A um só tempo poderoso e maldito,

Falam as Pitonisas de boca oracular

Que a um aguarda destino aflito.

Regidos pelos irmãos do céu

Como outros já foram e outros serão,

Estes que agora nascem têm dupla sina:

A da glória e a da maldição.

Estrela da desdita um deles será,

Crescendo em tormenta até que chegue o fim

E se consuma sem remédio seu destino.

A voz de Delfos falou – e será assim.

Voz divina enfeitiça a mente humana,

Tortuosos são os caminhos mas não a conclusão:

É sobre o segundo que fala a profecia,

Sobre ele pesa a condenação.

E por isso são mãos humanas

Que escondem o segundo irmão.

Condenado a errar nas sombras,

E nas terras frias do olvido,

Deve ser assim para que seja

Como se nunca houvesse existido.

Mas nada se esconde do fado,

Uma estrela é luminosa, e a outra, escura.

Enquanto uma é lucidez,

A outra paira sobre a loucura.

Loucura de poder a acomete,

A estrela clara se obscurece.

E muito embora seu fulgor não se apague,

Uma sombra sobre ela cresce.

A estrela desditosa, ainda que ferida,

À profecia, leal, obedece.

Enigmático é sempre um oráculo,

E teimam os homens em dizer que o sabem,

Mas as verdades que pretendem entender

Em suas mentes mortais não cabem.

Ai, desdita infinda!

A estrela refulgente cai

E sem que possível pareça isso,

A outra da sombra sai.

Mistérios dos oráculos, revelai dos irmãos a sina fatal!

Mal entendida a profecia deturpou-se,

E agora jaz enfim o engano acabado.

Destino estranho, terrível! Eis que afinal

O da sombra está na luz e o da luz apagou-se.

Ah! Quem é, então, o iluminado?