16. Azul-marinho

O traje de gala da Marinha¹ é de um tom tão escuro de azul-marinho que até parece ser preto para um observador distraído. Zechs julgou isso apropriado. Afinal de contas, ele se sentia enlutado. Enquanto ajustava sua gravata, mirava fundo nos seus próprios olhos no espelho, mas ainda não conseguia ver o homem que saíra daquele quarto cinco meses atrás. A imagem que tinha gravada em sua retina era do rosto ensanguentado de Bernett, desfigurado pelos hematomas, exibindo olhos parados e sem luz que o condenariam para sempre.

A síndrome do sobrevivente, a culpa de ter escapado, não podia ser evitada todos os dias da semana, e especialmente hoje sua mão gelada agarrava seu coração com toda a intenção de pará-lo.

_Zechs…? –ouviu seu nome moldado por aquela que se tornou sua voz favorita. Ele costumava sonhar com aquele som muitas vezes enquanto se recuperava do sequestro. Mas agora, o som era real e estava com ele ali.

Encontrou Noin refletida no espelho. Ela vinha se aproximando dele por trás, usando seu sorriso lunar mais como um ponto de interrogação. Sua mão descansava no alto de sua barriga que estava escondida dentro do amplo casaco trapézio.

_Volte. –ela incentivou como se soubesse o que estava acontecendo dentro da cabeça dele.

Ela era aquele lado bom que existe mesmo nas piores situações. Assentindo com a cabeça, ele se virou para ela e abriu um sorriso triste, mas genuíno. Ao lado dela, a felicidade era possível. A luz serena e suave que ela emanava atravessava a escuridão e tocava diretamente no coração, aquecendo-o e livrando-o do agarre da dor.

Ele travou os olhos nos dela, notando que ela trazia seu quepe em uma das mãos.

_Agora sim você está pronto. –ela colocou o chapéu no alto da cabeça dele e murmurou aquelas palavras calmantes sem desviar os olhos dos dele. –Eu sei que você vai levar ele consigo por toda a sua vida. Eles estariam orgulhosos de você.

_Eles merecem essa medalha mais do que eu.

_Vocês três merecem ela. –ela assegurou em um tom baixo, esperando que o tremor na sua voz não fosse perceptível. Ela acabava de admitir a presença de seu próprio fantasma – poderia ser qualquer um dos três no lugar de Zechs ali. Zechs estar vivo foi apenas uma questão de sorte.

Ela procurou apoio em seus bebês por acariciar sua barriga mais uma vez. Sentia que eles estavam um pouco agitados. Já tinham quase 25 semanas de idade e agora ela precisava se acostumar com seus chutes e movimentos. Eles dois provavelmente seriam crianças cheias de energia. Zechs juntou a mão a dela, seguindo o movimento. Trocaram um olhar cúmplice, mas de repente os olhos de Noin se arregalaram.

_O que foi? –franzindo as sobrancelhas, Zechs quis saber.

_Eles se acalmaram. –e ela sorriu, interpretando aquilo como um bom sinal, talvez as crianças quisesse Zechs próximo delas tanto quanto ela.

Acertado por uma onda de devoção, Zechs tocou a testa dela com os lábios. Estes se moveram formando as palavras "te amo", mas não produziram nenhum som. Tê-la ali consigo era o mesmo que ter o mundo inteiro a seu alcance.

Para distrair as lágrimas de modo que não caíssem. Envolveu-a com um abraço bastante diferente do agarre que usava quando se conheceram. Não era apenas paixão o que sentia por ela. Seu desejo havia se transformado em algo mais poderoso. Apoiou o queixo no alto da cabeça dela e começou a embalá-la com um movimento suave de dança. Ela não estava assim tão grande, mas já cabia com dificuldades dentro dos braços dele.

A maravilha de ser pai ainda não passara. Talvez nunca passasse, de fato.

Tinha uma única vontade a realizar quando retornasse para casa: ver Noin outra vez. Depois de tanto pensar nela, queria confirmar suas lembranças. Sentir o olhar doce dela sobre si era seu real prêmio, mais importante que qualquer medalha. A necessidade de pedir desculpas a ela por ter sido tão distraído era tão urgente que chegava a ferir. Entretanto, queria oferecer a ela mais do que seu arrependimento. Suas intenções eram mostrar definitivamente o que sentia por ela.

Depois de resgatado, Zechs foi levado a um hospital local, onde Treize o estava esperando. A presença familiar foi um alívio, mas o verdadeiro bálsamo veio da notícia trazida:

_Noin procurou por você. Você devia ter ligado para ela, como eu falei. –Treize cobrou bondoso e bem-humorado, em uma tentativa de fazer Zechs rir, não muito bem-sucedida. –Fique bom longo. Ela está te esperando.

O incentivo, entretanto, funcionou. Em duas semanas, Zechs recuperou-se o suficiente para fazer a longa viagem para casa.

Apesar de Treize estar com ele o tempo todo, atualizando Zechs sobre os acontecimentos na base durante sua ausência, em nenhum momento ele pensou em revelar o estado de Noin. Longe dele incorrer na enorme indelicadeza de privar a moça de fazer aquele anúncio tão significativo.

Depois da saúde restabelecida, pelo menos no que dizia respeito ao corpo, Zechs estava em casa, podendo contar com os cuidados de Zenia para terminar de sarar a alma. Ele ainda tinha pesadelos e dúvidas e manteve seu retorno em segredo completo durante uma semana. Mas ao ser avisado por Treize que Noin teria dispensa aquele fim-de-semana, decidiu que tinha chegado o momento.

Contando ainda com a mediação de Treize, pediu que Noin o viesse visitar o mais rápido o possível.

Ela sabia que esse momento chegaria, entretanto, ainda se notou surpresa. A verdade era que ela estava tão nervosa quanto ele estava inseguro sobre o reencontro. Temia o modo como ele receberia a notícia e se de repente ele iria conseguir lidar com a responsabilidade naquele momento de tanta fragilidade.

O romance despretensioso deles estava passando por tantos desafios… a vontade de vencer os obstáculos provava que o desejo transformara-se em amor.

Zenia recebeu Noin e Une na porta. Era um fim de tarde agradável com uma forte brisa batendo, anunciando a Primavera.

_Que flores mais lindas! –a governanta não se conteve ao ver o vaso de girassóis, observando antes mesmo de cumprimentar as moças. Não tivera a oportunidade de conhecer Noin pessoalmente, mas se preparara para a ocasião por conversar com Zechs, que não se refreava em explicar tudo o que aprendera sobre a moça no pouco tempo que passaram juntos. –Vou pôr na mesa do jantar.

_Jantar?

_Sim, vocês irão ficar, não é? Eu até preparei arista alla Fiorentina!

Une riu, trocando olhares com Noin, que parecia um pouco indecisa.

_Será um prazer. –e Une decidiu responder pelas duas, já que Noin não conseguiria mesmo dizer nada.

_Fiquem à vontade. O tenente está na varanda.

_Posso ajudar em algo? –Une se ofereceu, pensando ser melhor Noin ver Zechs primeiro, sozinha.

_Venha comigo… –e Zenia acenou com a cabeça em direção da cozinha.

Ao passar por Noin, Une apertou o braço dela em encorajamento, e depois respondeu a governanta que já tinha encontrado um assunto, prosseguindo a entreter a convidada.

Depois de assistir a amiga ir, Noin olhou em redor. Passara apenas uma noite ali, mas lembrava-se bem da planta da casa. Caminhou lentamente até a varanda que acompanhava toda uma lateral o térreo.

Zechs escutara Zenia atender a campainha, falando alto e contente. Embora não tenha ouvido a voz de Noin, conferiu o relógio e sabia que só podia ter sido ela a chegar. Saiu do escritório e espreitou os ambientes até alcançar a varanda. Viu Noin de costas para si, procurando-o confusa. Ele a assistiu mover-se de um lado para o outro, correndo a mão pela balaustrada de madeira, e então parar e apreciar a vista do oceano.

Ao mesmo tempo em que ele queria correr até ela e abraçá-la, tirá-la do chão e girar com ela pelo deck de tanta alegria de estarem juntos enfim, ele se apavorava com a recepção fria e magoada que ela poderia oferecer. Tinha colocado na mão daquela mulher tanto poder sobre si! Tinha dado a ela a decisão sobre sua sorte. Mas fizera isso porque a amava. E assim, sorriu.

Ouvindo passos, Noin olhou sobre o ombro e, então, quando seus olhos caíram na imagem dele, ela voltou-se toda, dando um passo hesitante em frente.

A feição dela entregou toda a angústia que passara na ausência dele. Ela preferia ter se contido, mas bastou percorrer os olhos pela figura abatida para as lágrimas começarem a rolar por seu rosto. O coração, que antes batia cauteloso, acelerou em um ritmo alucinado, como se não fosse suportar.

Era difícil para ele ter a ação apropriada. Qual seria? Seguiu estacado, pensativo, preocupado. Não estranhou, afinal, ela sempre deixou claro que se importava com ele e procurava mais que uma aventura. Ele só insistira em subestimar os sentimentos dela pela falta de hábito… esquecia-se de que nem todos eram desprendidos emocionalmente e meros navegantes dos prazeres como um dia ele fora.

Parou para imaginar o que ela tinha passado ao receber as informações de sua captura. Ela tinha sido aprisionada também, fora torturada também pelo medo, pela insegurança e pela dor da separação brusca. Ele não sofrera sozinho. Quem sabe ela não sofrera mais do que ele? Tinha que consolá-la.

Foi de encontro dela e a tomou nos braços.

Ela se entregou ao apoio dele feito tivesse perdido todas as forças para sustentar o corpo, se agarrando ao pescoço dele ao mesmo tempo em que escondia o rosto em seu peito. Depois de passar um minuto inteiro dentro do abraço, chorando em silêncio, o coração serenou e ela afastou-se o suficiente para procurar os olhos dele.

O sorriso que Zechs exibia era meigo e tímido. Ela acariciou o rosto dele, lendo os traços com os dedos, e suspirou de alívio, satisfeita em averiguar que era tudo real.

_Eu não via a hora de te encontrar. –ele murmurou. –Só teria paz de novo se a visse mais uma vez… nem que pela última vez…

_Última vez?

_Eu sei que falhei com você, Lucrezia. Assim, se você preferir, essa pode ser a última vez…

_Não fale assim. Eu estava te esperando.

_Sinto muito por tê-la feito sofrer desse jeito…

_Eu também. Mas nós sabemos como as coisas são… às vezes nós precisamos realmente ser soldados.

Ele ouviu a reprimenda no fundo das palavras dela, mas deixou o sorriso crescer e ganhar mais luz.

_Nós precisamos conversar. –ao mencionar, Noin se desvencilhou com suavidade dos braços dele e mostrou-se muito sóbria.

_O que houve? –a brusquidão da mudança o fez perplexo.

_Zechs… –olhou firme nos olhos dele. Suas sobrancelhas franziram ao juntar forças para a revelação a ser feita. –Sei que são momentos muito difíceis para você… –então baixou a vista, irritada com sua própria inconsistência. Arranjou um subterfúgio para ganhar mais tempo, embora duvidasse que um dia se sentiria totalmente preparada para dizer o que precisava. –Eu… eu nem perguntei como você está…

Enrugando a testa, confuso, ele a analisou por um segundo antes de murmurar:

_Você sabe… enfrentando um dia de cada vez. Ter você aqui me faz lembrar dos motivos para ser corajoso… –embora não descobrisse o porquê dela mostrar-se esquiva de repente, ele confessou com carinho, querendo envolvê-la em seu abraço de novo.

_Ah, Zechs… –e lá vinham as lágrimas outra vez morder o fundo de seus olhos. Ela se afastou um pouco, pondo-se de lado, uma das mãos correndo pelos cabelos devagar, pesarosa.

_Diga, Lucrezia, o que está acontecendo? –e investigou com pressa na voz, instigado pelo o segredo terrível que ela parecia guardar e a atribulava tanto.

_Zechs… eu estou grávida. Eu só descobri dois meses depois de sua partida… –o ar estrangulado dentro dela enfim pôde circular, o peso no peito eliminado.

_Não precisa falar mais. –não conseguiu deixar os olhos parados nela, o rosto ficando carregado e o olhar distante.

Isso mudava tudo. Mudava completamente.

Ele colocou as mãos na cintura, por um instante paralisado por seus próprios pensamentos. Eram todos vazios e, por isso, mesmo exaustivos. Teve de atravessá-los para encontrar a emoção sincera com que reagir.

Enfim, acontecera com ele também. Tinha ignorado tempo demais que todas as ações têm consequências, espertamente esquivando-se delas, saindo sempre ileso das suas ousadias.

Suspirou, querendo liberar um pouco de tensão. Voltou-se para ela, que seguia ainda refém de sua resposta.

Ela o vigiava com os olhos mareados, lágrimas escorriam com o acúmulo, refletindo a luz dourada do pôr-do-sol. Nunca fora de chorar assim. Nunca tivera medo de se expressar, entretanto, as lágrimas nunca vieram tão fáceis, nunca foram tão sentidas. Ele não falava nada e começava a ficar difícil esperar. Ela também nunca fora de muita paciência, preferiu ser independente e prática, embora sem perder a gentileza. Mas teve de se contrariar. E, já que chorava, não havia mal em ser paciente também.

É que estava assustada. Antes de conhecer Zechs, não tinha nada, mas agora se encontrava em uma posição em que tinha o suficiente para sofrer uma perda devastadora. Sabia que era o mesmo com ele. Perguntava-se se por acaso ele iria preferir escapar do compromisso por temer deixá-la desamparada assim como o pai dele fez, por culpa do risco operacional.

Por outro lado, não poderia imaginar ele se desviar de algo confiado a ele, fosse um desafio ou uma promoção ou uma nova situação de vida. Mesmo que ele estivesse se recuperando da provação enfrentada, ele era uma pessoa movida por objetivos. E ela estava ali justamente para lhe dar um novo.

Ele estivera assistindo o rosto de marfim dela ser modificado pela luz difusa que pintara o céu de tons de laranja, melancolia e encanto se combinando em uma imagem que os olhos dele tinham grande prazer em entesourar.

_Durante o tempo em que estive longe, eu percebi o que faltava para mim. Sabe como é… a gente só dá valor quando perde. Você mudou minha vida desde a primeira vez que te vi… não consegui parar de pensar em você desde que nos conhecemos. Você me marcou para sempre.

_E você a mim.

_Eu me apaixonei de verdade por você… E quando achei que não seria capaz de te amar mais, você vem e me dá essa notícia… –eliminada a distância entre eles, Zechs a abraçou mais uma vez. –Nada poderá me fazer mais feliz do que ter uma família com você.

Noin soluçou, engoliu as lágrimas e riu, tudo ao mesmo tempo. Ao sentir as mãos cálidas segurarem seu rosto, fechou os olhos e recebeu o beijo que fora plantado em seus lábios.

Um beijo seguiu o outro, primeiro com uma lentidão delicada que aos poucos se transformou em uma manifestação intensa de desejo e felicidade. Já com o primeiro toque, seus corpos se lembraram da delícia de estarem juntos e da alegria incomparável com que podiam se brindar. Como naquela noite dentro do elevador, seus sentimentos fluíam desenfreados e gananciosos, enlouquecedores. A vida só fazia sentido para os dois se estivessem juntos.

_Agora, me responda uma coisa… –entre os beijos, veio-lhe uma ideia empolgante, mas absurda que tinha de conferir.

_Sim? –ela murmurou, recebendo com prazer o agarre dele em seus quadris.

_São gêmeos, Lucrezia?

Separou-se dele para confirmar:

_Como sabe? –e não conseguia disfarçar seu espanto.

Ele riu, ainda mais enternecido, juntando sua testa a dela:

_Minha avó tinha uma irmã gêmea. A possibilidade de acontecer com meus filhos não era muito grande, mas eu sempre quis ter gêmeos. Você já escolheu os nomes?

_Não. Estava esperando por você para fazer isso.

Trocaram sorrisos e outros beijos. Ele secou a umidade do rosto dela, fazendo questão de encerrar seu pranto:

_Eu vou fazer valer a pena, Lucrezia.

_Acho bom mesmo, tenente Zechs Merquise.

Ainda havia muito a ser dito, contudo, a partir de então haveria todo o tempo do mundo para isso.

Aquela noite foi de comemoração dedicada ao futuro.

Agora, quase três meses depois, era o momento de homenagear o passado.

Ele beijou a palma da mão dela, absorto. Tudo tinha uma razão se ser, inclusive os imprevistos, que nos relembram de ser humildes e fazem os momentos render juros. Por isso também que abrir mão do passado se mostra uma grande tolice, porque cada passo dado fez a diferença no destino do percurso.

Zechs estava ciente de que pensar em quem partiu sempre seria doloroso e que talvez os fantasmas jamais desaparecessem, por mais que ele fosse perdoado. Entretanto, cicatrizes não testemunhavam fraqueza, mas eram monumentos a força de vontade e comprovantes de novas chances recebidas. E ele faria tudo o possível para usar bem a dele.

Após ser condecorado com a medalha diante de familiares e amigos, houve um grande jantar, praticamente um ensaio para o que os esperava dali duas semanas.

Entretanto, embora ele não esperasse que Noin se juntasse a ele no trajar do azul-marinho profundo do uniforme de gala, Zechs pouco se importava com a cor do vestido que ela tinha escolhido para a noite de seu casamento. Lucrezia combinava com todas, ela era o prisma que as revelava e o fazia entender que o amor verdadeiro era como a luz, feito de todas as cores existentes.


¹Dress blues – Como é chamado o uniforme de gala dos militares, em tradução livre, traje azul. É o traje mais formal usados pelos militares, uniforme usado em cerimônias, recepções oficiais e outras ocasiões especiais, com todas as insignias e as medalhas. - adaptado da Wikipedia

Arista alla Fiorentina – carne de porco fatiada servida com um molho feito de sálvia, alecrim e alho, levemente fritos, banhados com vinho.


Boa-tarde! Aqui é a autora!

Este foi o último capítulo... como foi difícil se despedir desse projeto... foi uma árdua aventura, desde que ele nasceu em inglês, até chegar a última tradução. É um projeto pra mim que sempre será marcante e especial, com seus defeitos e acertos, com toda sua estrutura, e do qual sempre sentirei muito orgulho.

Quero agradecer por lerem e tirarem um tempo para comentarem! Fico muito honrada com sua presença.

Quero agradecer especialmente a Jessica Yoko pela ajuda e a ClaraxBarton que me apresentou ao fandom em inglês e por onde acessei esse desafio.

Agradeço também a Lica e a Miyavi Kikumaru por discutirem ideias para os capítulos comigo.

Nada disso seria possível sem vocês! Foi um grande prazer contar com sua companhia até aqui!

Beijos e abraços!

07.09.2018