Tomorrow

Himuro seguiu a pé da estação até seu apartamento, utilizando aqueles minutos para esticar as pernas. Ele sentia-se parcialmente descansado, já que pegara no sono cerca de meia hora depois de sair de Tokyo. O longo cochilo o deixou moroso e ao passar em frente à sua cafeteria favorita foi impossível não entrar e retornar à rua com um café médio e forte, que foi responsável por mantê-lo acordado o restante do caminho.

Com exceção da cafeteria, a única parada foi na loja de conveniência, onde ele comprou seu jantar. Eu estou enjoado de obentos, mas não estou com ânimo para cozinhar. A sacola com as três bandejas dançava em uma de suas mãos e ele subiu os degraus da escada externa do prédio pensando no que Kuroko havia dito ao telefone. Eu ligarei amanhã e pedirei para nos encontrarmos em algum lugar. Atsushi deve estar furioso por eu ter dormido na casa de Taiga, mas insistirei para que me ouça.

Os pensamentos o faziam juntar as sobrancelhas e a concentração em planejar o que diria era tão forte que ele não notou que quase pisou naquele sentado na entrada de seu apartamento. A chave teria caído ao chão, mas uma grande mão a segurou a tempo. Sua companhia levantou-se, batendo a calça jeans que vestia e o fazendo erguer os olhos. Como sempre, ele é enorme. A surpresa por vê-lo ali pareceu congelar sua mente e, ainda que seus lábios estivessem entreabertos, Himuro parecia ter se esquecido de como se comunicar.

"Eu estou com fome."

Murasakibara encarou a sacola em sua mão antes de abrir a porta. O moreno permaneceu imóvel, processando o que havia acabado de suceder e precisando ser avisado de que deveria entrar. Seus passos foram lentos e ele tirou os tênis com os próprios pés, sem acreditar no que estava acontecendo. O que ele faz aqui? O amante já havia acendido as luzes e aberto as janelas e parou à sua frente, olhando-o de cima e esticando a mão para segurar a sacola.

"Kuro-chin me ligou," a voz soou baixa, "ele estava bravo."

"Ku-Kuroko?" Himuro entregou a sacola e abriu a jaqueta.

"Sim, ele me deixou assustado. Eu nunca vi Kuro-chin daquele jeito." Murasakibara parecia genuinamente surpreso. "Eu decidi ouvir o que você tem a dizer, Muro-chin, dessa vez..."

"Entendo," Ah... então essa é a compensação. Eu preciso agradecer depois. "Eu estou morrendo de fome, o que acha de conversarmos depois que comermos? Eu trouxe comida suficiente para nós dois."

"Sim... Eu estou com fome."

Himuro seguiu acompanhado até a cozinha, consciente demais de sua situação para aparentar tranquilidade. O atendente da loja de conveniência já havia aquecido os obentos, então não seria necessário perder tempo. Os dois retornaram e sentaram-se frente a frente, escolhendo a bandeja que queriam. A fome que ele sentia desapareceu totalmente e era impossível ignorar seu estômago dando voltas. Não estava em seus planos ter aquela conversa naquele dia, mas não aproveitar aquela oportunidade seria uma atitude tola.

A refeição foi parcialmente rápida e silenciosa. Seus olhos permaneceram o tempo todo na bandeja e por várias vezes ele sentiu-se observado, porém, não teve coragem de retribuir o olhar. Normalmente, eles teriam ligado a televisão e o jantar transcorreria entre comentários e piadas, fossem relacionados ao programa de variedades ou algo dito pelos jogadores do time. Aqueles momentos de descontração sempre o animavam, principalmente quando Murasakibara vinha somente para jantar. Retornar sozinho para a cama era a pior parte, mas as lembranças do jantar o faziam pegar no sono e ansiar pelo dia seguinte.

Himuro recolheu as bandejas vazias enquanto o amante pegava a sobremesa do freezer.

Namorar aquela pessoa significava ter sempre alguma coisa doce à disposição, não apenas na despensa, mas na geladeira e cômodas. Ele havia abdicado da gaveta de sua escrivaninha e aquela área havia se tornado oficialmente o recanto dos pirulitos e balas de Murasakibara. Por mais infantil que isso soasse, Himuro perdeu as contas de quantas vezes a reabasteceu após passar em alguma doceria.

Ambos retornaram para a sala, no entanto, dessa vez sentaram-se no sofá. O rapaz de cabelos roxos não fez questão de manter distância e o moreno corou quando viu suas pernas serem puxadas e colocadas sobre as de Murasakibara, da maneira como costumavam sentar. Eu posso entender isso como um sinal de que está quase tudo bem?

"Muito do que eu vou dizer não era para ser dito agora. Eu planejava ter essa conversa antes da minha formatura."

Murasakibara não respondeu, olhando-o ao mesmo tempo em que devorava seu potinho de sorvete de morango.

"Nas últimas semanas eu tenho estado ausente e por diversas vezes acabei te negligenciando, não somente como namorado, mas como amigo e parceiro de time. Tenho plena consciência de que meu rendimento está deixando a desejar e mesmo que já tenha falado com Araki-san sobre o assunto, eu devo um pedido formal de desculpas a você e aos demais jogadores."

"Eu não me importo com o basquete e aqueles idiotas não merecem seu pedido de desculpas."

"É algo que eu farei na segunda-feira, Atsushi," ele riu da expressão contrariada ao ouvir sobre os colegas de time. "Eu já me desculpei por ter me esquecido do nosso encontro no domingo passado, mas reafirmo que sinto muito pelo que fiz, ou melhor, não fiz, e só posso imaginar como foi triste para você ter me esperado por todo aquele tempo. Prometo que irei te recompensar de alguma forma, está bem?"

"Hm..." Murasakibara pegou uma colherada generosa de sorvete, mas não comeu. "Você disse que estava ocupado e cheio de coisas para estudar, mas encontrou tempo para viajar e dormir na casa daquele cara." O nome de Kagami raramente era mencionado, sendo referenciado como "aquele cara" ou "o idiota de Seirin".

"Eu precisei fugir depois daquela nossa conversa, não havia a menor chance de eu voltar para cá." Usualmente ele o repreenderia por falar de Kagami daquela forma, mas naquele momento aquilo não importava. "Sabe, Atsushi, faz mais de dois anos que estamos juntos. Eu me mudei para este apartamento um mês antes de começarmos a namorar, então basicamente todas as memórias que tenho daqui são lembranças suas."

Os olhos correram pela sala, como se ele pudesse ver várias versões deles transitando pelo cômodo e entrando e saindo dos corredores.

"No começo você vinha uma vez ao mês, depois aos sábados, depois aos finais de semana e desde o começo da primavera você passa metade do tempo em sua casa e a outra metade aqui. Uma parte do guarda-roupa tem roupas dois números maiores do que as minhas e meus talheres e louça se tornaram duplos sem que eu percebesse. Ah, e não vamos esquecer a gaveta da escrivaninha..."

"Você não gosta, Muro-chin?" A voz soou irritada e o olhar sério. "Se eu te atra—"

Murasakibara calou-se ao vê-lo levantar a mão.

"Pelo contrário, eu estou surpreso por não me incomodar com isso. Eu sempre tive aversão por relacionamentos e responsabilidades, você sabe disso. Meus envolvimentos anteriores foram puramente físicos, e a ideia de me apegar a alguém a ponto de ter duas escovas de dente na pia do meu banheiro era simplesmente impossível." Himuro desviou os olhos. Lembrar-se de como costumava ser sempre acarretava lembranças ruins. "Agora eu não consigo me imaginar sem todos esses detalhes e, mais importante, sem ter você na minha vida. Você me mudou, Atsushi, e a vida que tenho hoje é apenas consequência dessa mudança. O que me leva ao assunto principal dessa conversa..."

A expressão séria do amante se suavizou e ele limpou o canto da boca, voltando a dar toda sua atenção.

"Eu sou um ano mais velho, isso jamais mudará, o que significa que a partir de abril do próximo ano eu não serei mais aluno do colégio Yousen."

"Você não parece tão preocupado com essa separação, Muro-chin. Você tem agido como se não visse a hora de se mudar para Tokyo."

"Isso não é verdade, Atsushi."

Himuro engoliu seco. Ele se odiava por ter passado aquela imagem, quando a realidade era totalmente diferente. Eu pensei tanto nesse assunto que precisei esquecê-lo um pouco porque estava ficando deprimido. A separação no próximo ano era inevitável e quanto mais pensava em sua vida longe de Murasakibara mais difícil era encontrar motivação para estudar.

"Ir para Tokyo é o caminho que eu tenho que seguir, mas isso não significa que estou completamente feliz com isso. A mudança me assusta, principalmente porque eu terei de fazê-la sozinho."

"Eu tenho certeza de que não será sozinho. Aquele cara estará mais perto de você do que eu." Murasakibara parecia bravo. "Aliás, não sei como você não pensou em estudar na América. É para lá que aquele cara vai, não? Achei que quisessem ficar juntos para sempre!"

O moreno suspirou, pousando o potinho de sorvete sobre a mesinha de centro e levantando-se. Os passos o levaram até o quarto e o que ele buscava estava dentro da terceira gaveta da cômoda, embaixo de suas camisetas. Murasakibara mantinha o semblante sério quando Himuro retornou, contudo, pareceu curioso quando os envelopes foram oferecidos em sua direção.

"Abra e leia, se quiser." Aquele assunto não teria sido trazido à tona se o rapaz de cabelos roxos não fosse tão teimoso.

"O que é isso?"

"Convites de universidades americanas." Ele voltou a dar atenção ao seu delicioso sorvete de chocolate. "Eu recebi oito convites e recusei os oito."

Murasakibara olhou com seriedade antes de abrir os envelopes. Ao chegar ao terceiro, ele os deixou de lado, voltando a fitá-lo, mas dessa vez com menos agressividade.

"Por que você não me disse nada?"

"Porque eu já tinha decidido que não voltaria à América." Himuro não havia dito sequer para Kagami sobre aqueles convites.

"Esses convites... essa é uma grande chance, Muro-chin."

"Sim, são, mas não para mim." Ele sorriu. "Eu escolhi ficar no Japão e a bolsa de estudos da universidade de Tokyo era a única que eu esperava com ansiedade."

"Essas universidades americanas... você não precisaria estudar para entrar."

"Sim, eu sei." Foi impossível não se sentir bem ao ver a dúvida nos belos olhos violetas. "Mas não é o que quero para minha vida. Eu pretendo continuar a jogar basquete, mas posso fazer isso perfeitamente aqui."

"Você está fazendo isso por mim?"

A pergunta pairou no ar, porém, não o pegou desprevenido. O tempo que ele havia depositado naquele assunto passou de normal para "não saudável" há muito tempo, e, mesmo que a resposta não agradasse Murasakibara, Himuro jamais mentiria. Desde o dia em que percebeu que estava apaixonado ele decidira que a verdade sempre viria em primeiro lugar, ainda que machucasse. Depois de construir uma vida com sentimentos falsos e omissões, amar aquela pessoa era como respirar um sopro novo de ar.

"Não diretamente, mas minha decisão de permanecer no Japão levou em consideração o nosso namoro. Eu não tenho interesse em voltar a morar na América e depois que você disse que pretendia jogar por aqui eu decidi que seguiria o mesmo caminho."

As palavras que ele tanto ponderou saíram tão naturalmente que o moreno surpreendeu-se por não sentir tristeza ou arrependimento. Ele estava tão à vontade e certo de si mesmo com relação àquela decisão que o silêncio de Murasakibara não o deixou apreensivo ou temeroso. Particularmente, Himuro gostaria de ter tido essa conversa em outras circunstâncias, entretanto, quando aqueles sentimentos guardados finalmente ganharam forma o alívio só não foi maior do que a colherada de sorvete.

O amante desviou os olhos, mexendo-se um pouco no sofá, mas sem sair daquela confortável posição. Quando os olhares voltaram a e encontrar, ele soube que era sua vez de escutar. O potinho vazio foi colocado sobre a mesinha e Himuro acomodou a almofada em suas costas. Eu disse tudo o que gostaria de dizer. Agora é esperar que Atsushi consiga me perdoar.

"Eu não sou bom com essas coisas... essas conversas..." Murasakibara juntou as sobrancelhas e era evidente que ele estava se esforçando. "Mas eu sei que se não falar nada vou me arrepender depois. Aquele dia que você me deixou esperando no parque me deixou bravo. Eu achei que fosse porque fiquei horas sentado esperando, mas depois percebi que estava bravo comigo mesmo."

"Consigo?" Himuro juntou as sobrancelhas.

"Sabe, Muro-chin, se qualquer outra pessoa tivesse marcado comigo e não aparecido eu não teria sentido absolutamente nada. Na época de Teikou, várias vezes Kise-chin nos deixou esperando para ir se encontrar com alguma garota. Eu me cansava de esperar e ia embora, passava em alguma doceria e voltava para casa. Mas domingo... quando você não apareceu, eu fiquei muito irritado por ter me sentido afetado por isso. Eu mudei e não gostei de saber disso."

"Você mudou... por influência minha?" Ele tentou não sorrir.

"De quem mais seria? E toda vez que eu me lembro de que estamos a menos de seis meses da sua formatura meu humor fica ainda pior. Você vai para a universidade e vai conhecer um monte de gente nova e eu vou ficar aqui, para trás."

"Engraçado, porque eu vejo a situação por um ângulo totalmente diferente." Himuro colocou a franja atrás da orelha, encostando a cabeça no alto do sofá e coincidentemente na mão de Murasakibara. "Você estará no último ano e será chamado de senpai, tanto no time como pelos corredores do colégio. Uma nova leva de alunos entrará quando a minha turma sair e quem sabe se alguém mais interessante do que eu possa aparecer. Uma garota bonita, um rapaz que te chama atenção..."

"Você sabe que é impossível, Muro-chin, eu não me interesso por ninguém. Mas você é legal demais e falante demais com os outros. Eu tenho certeza de que sua mudança para Tokyo vai me trazer problemas."

Meu Deus, ele é adorável! Himuro respirou fundo antes de lançar os braços para frente, evolvendo-o pelo pescoço e o puxando para baixo. Suas pernas foram afastadas e o amante encaixou-se com perfeição, olhando-o um pouco arredio, provavelmente por ter sido interrompido em um raro momento de honestidade.

"Você realmente acha que eu terei olhos para mais alguém além de você?"

"Eu não estarei lá..."

"Mas é claro que estará." O moreno sorriu quando Murasakibara cedeu e ficou sobre ele. Eu senti falta dessa proximidade. "Você estará sempre nos meus pensamentos, Atsushi. E, sobre eu ser uma pessoa sociável, é algo que não posso evitar. O que eu garanto é que já tive a minha cota de pessoas novas, pelo menos no quesito romance. Não existe a menor chance de eu te trair ou te trocar, entende?"

Os olhos violetas se fixaram nele e ali permaneceram. Himuro já estava plenamente satisfeito por ter resolvido aquele mal entendido e sabia que Murasakibara havia compreendido a situação. A única coisa que restava era falar sobre a distância futura, mas ele sentia que nenhum deles estava realmente pronto para ter aquela conversa. Lidar com a separação física e o fato de que não se veriam todos os dias e, muitas vezes, nem frequentemente aos finais de semana ainda era um vago pensamento que ele se esforçava para afastar sempre que podia. Himuro havia se tornado confortável com sua vida atual e sentia que era cedo para dizer adeus à constante lua de mel que vivia desde que trocaram o primeiro beijo.

O rapaz de cabelos roxos inclinou-se um pouco mais para baixo e ele o recebeu prontamente em seus braços. Os lábios se aproximaram devagar, mas o beijo não tardou a acontecer e, como sempre, ele perdeu-se completamente na carícia, fechando os olhos e deixando que sua língua fosse forçosamente assediada pela do amante.

Os beijos daquela pessoa nunca eram gentis ou castos. Havia fome e erotismo, e uma real necessidade por contato. Particularmente, Himuro não se importava, já que Murasakibara nunca foi uma pessoa de muitas palavras, então sua comunicação acontecia fisicamente. Todos os seus mais sinceros sentimentos foram transmitidos através do beijo, livrando-o dos pensamentos negativos e da tristeza que o assolou no dia anterior.

"E-Espere, Atsushi..." Ele riu e segurou as furtivas mãos que entravam por baixo de sua camiseta.

"Você não quer?"

"C-Claro que eu quero, mas você terá que esperar um pouco..." As pontas dos dedos tocaram um de seus mamilos e foi difícil não se entregar. "Eu preciso de um banho primeiro."

"Eu não me importo com isso." Murasakibara ignorou seus protestos, subindo a camiseta e deixando que sua língua fisgasse um dos mamilos.

"E-Espere, por favor." Himuro riu e o segurou com um pouco mais de força. "Dez minutos, está bem?"

O descontentamento de sua companhia foi expresso na força de um suspiro cansado e olhos pequeninos. O rapaz sentou-se no sofá, permitindo que o moreno se levantasse.

"Dez minutos, Muro-chin."

Ele sentiu-se segurado pelo pulso e jurou que dez minutos seriam suficientes antes de seguir na direção do banheiro. Eu não tenho tempo para encher a banheira. O chuveiro foi ligado enquanto as peças de roupa eram retiradas. O banheiro encheu-se de vapor em pouco tempo e ele dedicou-se a preparar seu corpo, ansiando pela noite que teria. Eu jamais pensei que terminaria meu sábado nos braços de Atsushi. Eu poderia jurar que precisaria de dias até que pudesse me fazer ouvir.

Um tolo sorriso cruzou seus lábios à medida que seus olhos se fechavam para receber a ducha em sua face. Himuro não ouviu seu nome ser chamado do corredor ou o barulho da porta do banheiro sendo aberta e nem ao menos se atentou ao arrastar da porta de vidro do box. Todavia, ele notou que tinha companhia ao sentir a mão percorrer seu abdômen e o modo como suas costas se encostaram ao largo peitoral de Murasakibara.

"Os seus dez minutos já passaram, Muro-chin."

Ter um nu, ávido e totalmente excitado Murasakibara Atsushi era o final perfeito para aquela noite.

"Desculpe por te fazer esperar," a mão tocou a face próxima ao seu pescoço e o beijo o fez rir baixo, "eu estou pronto."

"Ótimo."

As grandes mãos desceram por seus ombros, contornando seu pescoço até os tornozelos.

Murasakibara ajoelhou-se e pediu que ele afastasse as pernas, palavras essas que entraram como música em seus ouvidos. Himuro conseguia escutar o próprio coração e arrepiou-se de ansiedade. A antecipação sempre o corroia na hora do sexo, pois, embora soubesse o que aconteceria, fazer amor com aquela pessoa era uma caixinha de surpresas. A língua tocou sua entrada e o moreno gemeu, extremamente sensível à sua carícia favorita. O rapaz de cabelos roxos era um amante antecioso e Himuro sentia-se mimado e amado todas as vezes que seus corpos se encontravam.

A deliciosa sessão de tortura não durou o suficiente, em sua modesta opinião, e ele próprio foi o culpado pela interrupção. Quando Murasakibara começou a devorá-lo com sua língua, Himuro sentiu os músculos se tornarem fracos enquanto assistia ao pré-orgasmo escorrer por sua ereção e pingar no piso molhado do box. Seus gemidos ecoavam sem pudor e o clímax foi literalmente o auge daqueles preciosos minutos. Geralmente, os orgasmos em que ele não precisava se masturbar eram mais intensos e ele agradeceu mentalmente pela mão que o segurou pela cintura antes que seu corpo deslizasse até o chão.

A boca de Murasakibara dava atenção a seu pálido pescoço enquanto suas mãos o seguravam firmemente, transmitindo segurança e proteção. O moreno encostou a testa ao azulejo frio, respirando com dificuldade e esperando que seu corpo superasse aquela onda de prazer. O único problema era que aquilo foi somente um aperitivo e depois de anos recebendo o amor daquela pessoa seria impossível se contentar somente com um orgasmo.

A verdade era que Himuro já não se sentia totalmente satisfeito se não fosse penetrado. Ele poderia receber dezenas de carícias em diferentes lugares, mas no final o amante precisaria terminar a noite dentro dele ou a insatisfação o incomodaria até o próximo encontro. A exclusividade, porém, era toda de Murasakibara, visto que Himuro não obtinha aquele nível de prazer sozinho, fosse utilizando os dedos ou com algum dos brinquedos escondidos dentro das gavetas.

O toque dos lábios em sua pele o trouxe de volta à realidade, acordando-o de seu estupor e arrepiando seu corpo inteiro graças às mãos que o tocavam nos lugares mais sensíveis. Ele é tão perfeito... Himuro sorriu, agradecendo mentalmente a consideração de Murasakibara em esperar que ele se recuperasse para continuar. O moreno virou-se, ficando frente a frente com aquele capaz de despertar seu lado mais erótico e sensual, sendo recebido por um belo par de olhos violetas.

Os cabelos de mesma coloração estavam totalmente molhados e jogados para trás. Murasakibara havia deixado os fios crescerem no último ano e passavam um pouco dos ombros, tornando a visão ainda mais perigosa. Suas mãos subiram pelo molhado peitoral, envolvendo-o pelo pescoço e o puxando para um beijo. Os corpos se encontraram e foi impossível ignorar a ereção que tocava seu abdômen. Uma das mãos abaixou-se, tocando-a e a masturbando com vigor, obtendo um baixo gemido entre o beijo.

O moreno sorriu, contornando os lábios de sua companhia com a ponta dos dedos antes de se abaixar. A água do chuveiro afastava um pouco a graça daquela brincadeira, tornando tudo muito úmido. Suas mãos seguraram o sexo enquanto a língua circulava a ponta. Murasakibara mantinha a expressão séria, no entanto, seus olhos estavam focados e não perdiam nenhum movimento. Uma de suas mãos tocou os cabelos negros e colocou a franja para trás. Ele gosta de assistir.

Himuro sorriu e ofereceu uma charmosa piscadela antes de levar o membro à boca, entrando parcialmente e tocando o fundo de sua garganta apenas para mostrar que aquele era seu limite. Os movimentos começaram devagar, mas assim que sentiu o gosto do pré-orgasmo foi impossível não dar o melhor de si. Ele amava o cheiro e o gosto do amante, e não existia nada que o excitasse mais do que aquela perfeita combinação. O som do chuveiro rivalizava com o barulho do ato, apesar de Murasakibara permanecer quase impassível. Seus gemidos eram baixos, os suspiros discretos, contudo, seu rosto e pescoço estavam vermelhos e era fácil perceber que ele lutava para não ceder.

O moreno sabia que era bom naquele tipo de carícia, uma vez que nem sempre era possível ir até o fim, principalmente durante os campeonatos. Sendo um dos titulares do time, era necessário estar sempre em ótima condição física, o que não acontecia quando eles faziam sexo. Por mais prazeroso e espetacular que fosse se perder nos braços daquela pessoa, o pós-sexo era exaustivo e o fazia passar o dia inteiro cansado. Amanhã provavelmente mal sairei da cama. O pensamento o fez rir, mas sua atenção logo retornou à realidade. Murasakibara moveu um pouco o quadril e Himuro sentiu o exato momento em que o orgasmo desceu por sua garganta. Seus olhos se fecharam e ele se permitiu literalmente saborear aquele instante.

O perfeito instante foi interrompido quando ele foi puxado para cima e virado sem muita gentileza. Um largo sorriso cortou seus lábios denunciando que o gesto não lhe desagradou, pelo contrário. Suas pernas foram deliberadamente afastadas e ele mal viu o rápido movimento que Murasakibara fez para pegar a terceira embalagem que ficava sobre a prateleira fixa à parede. O tubo médio e de embalagem branca só deixava aquele local quando Taiga vinha visitar. Nos demais dias, o lubrificante à prova d'água precisava ficar em um local de fácil acesso para eventualidades como a daquela noite.

A temperatura do lubrificante estava morna, mas Himuro não teve tempo para se preocupar com detalhes. Os dois dedos o invadiram fundo, tocando seu interior e o avisando de que a hora tão esperada havia finalmente chegado. O moreno estava tão acostumado àqueles toques que seu corpo não precisava de muito para relaxar, então desde o começo os movimentos de Murasakibara eram intensos. E ele é... grande. Se eu não relaxar Atsushi não conseguirá sequer entrar, quem dirá se mover. Os dentes morderam o lábio inferior ao recordar das proporções daquela pessoa.

Dois se tornaram três, e os dedos esbarravam insistentemente em seu lugar mais sensível, arrancando gemidos sórdidos. Himuro apoiou a testa nas mãos, encarando o chão e sua nova ereção. Todas as vezes que seu amante o tocava naquele ponto o pré-orgasmo escorria por seu sexo, e o tentava a masturbar-se. O pensamento, claro, era afastado, já que ele não tinha a menor intenção de chegar ao orgasmo por qualquer outro método além de tê-lo dentro dele.

Não demorou a que seus gemidos começassem a ser ouvidos com mais frequência. Murasakibara havia aumentado a velocidade de seus movimentos, e os dedos dançavam dentro do moreno, obtendo as mais variadas reações. Himuro, por sua vez, lutava para manter-se em pé. Ele sabia que um movimento em falso colocaria tudo a perder, logo, só haveria uma solução.

"Atsushi..." A voz soou rouca e baixa e seu rosto virou-se o suficiente para poder encará-lo. "E... Eu estou pronto."

O amante o olhou por trás de uma mecha de cabelo, que foi rapidamente colocada para trás. Os olhos violetas estavam semicerrados e opacos, fazendo-o pensar que não era o único a exercitar a paciência. Daquele ângulo foi fácil ver o modo como Murasakibara espalhou um pouco de lubrificante sobre o próprio sexo. O som do ato soou como música aos seus ouvidos e ele voltou a encarar a parede, sentindo a ereção ser posicionada em sua entrada e sorrindo com o prospecto de finalmente ter o que tanto desejava. A mão em sua cintura era pesada o bastante para manter seu corpo imóvel enquanto o membro deslizava por sua apertada entrada.

Os lábios se entreabriram, os olhos negros se fecharam e o pescoço foi jogado para trás.

Himuro nunca conseguia descrever o que significava ter um orgasmo, mas compreendia seus efeitos. A excitação que ele acumulou enquanto estava sendo preparado pareceu fluir por seus poros quando Murasakibara o penetrou completamente. O clímax atingiu o azulejo, escorrendo até tocar o chão. Os gemidos saíam sem que ele tivesse controle e por um momento que pareceu durar para sempre Himuro esqueceu-se onde estava: tudo o que importava era aquela sensação quase extracorpórea.

Entretanto, a realidade não tardou a puxá-lo de volta, ou melhor, o desejo de seu amante foi responsável por lembrá-lo de que ainda era cedo demais para perder-se em sensações fora desse mundo. Himuro abriu os olhos, percebendo que seu corpo movia-se sem sua vontade. Todas as vezes que Murasakibara o penetrava ele ficava na ponta dos pés. Seu sexo tocava o frio azulejo e o choque de temperaturas era excitante. A razão retornou e ele focou-se em aproveitar cada segundo daquele momento. O rapaz de cabelos roxos gemia alto e sua voz rouca entrava por seus ouvidos, excitando-o ao imaginar que era ele o causador daquelas reações em alguém geralmente tão inexpressivo.

O box do banheiro se tornou pequeno para tanta fome. Murasakibara não poupava em seus movimentos, segurando-o pela cintura e o devorando com estocadas profundas. A água do chuveiro misturava-se ao suor, escorrendo pelos corpos, mas sem conseguir apaziguar a atração que um sentia pelo outro. As vozes aumentaram de volume, os movimentos se tornaram mais intensos e o moreno precisou apoiar as mãos na parede ou teria caído ao atingir o terceiro orgasmo daquela noite. Murasakibara deu um passo à frente, prensando-o contra o azulejo e movendo-se uma última vez antes de preenchê-lo. Os sons cessaram e, com exceção do barulho do chuveiro, nenhum deles ousou dizer nada. Palavras eram desnecessárias.

A mão que havia subido até seu peitoral tocou seus dedos, que se entrelaçaram em um gentil gesto comparado ao que acabaram de fazer. Himuro sabia que havia chegado ao seu limite e assim que o amante se retirasse seu corpo acabaria escorregando até o chão. Suas desconfianças se mostraram verdadeiras, porém, Murasakibara estava a postos para segurá-lo, envolvendo-o com uma única mão e o virando com cuidado. Os dois se encararam, lábios perigosamente próximos e olhares que se admiravam sem piscar. Himuro esticou uma das mãos segurando aquele belo rosto e sentindo-se sorrir ao ver-se refletido nos olhos violetas.

"Sabe, eu quero passar o resto da minha vida com você. Não somente hoje ou amanhã, mas sempre. Anos a partir de hoje eu quero estar ao seu lado." A voz soava baixa e sua garganta arranhava a cada palavra. "Com você, cada dia igual é diferente. Obrigado por me fazer tão feliz, Atsushi."

Ele sentiu uma teimosa lágrima escorrer por seu olho esquerdo. Normalmente, Himuro não era dado a confissões, ainda mais na hora do sexo, mas aquele momento pareceu perfeito. O medo de perder aquela pessoa foi tão real que ele temeu voltar aos velhos dias, aqueles antes de conhecê-lo. A pessoa vazia e indiferente que ele costumava ser desapareceu completamente e, ao contrário de seus antigos amantes, esquecer Murasakibara e apagá-lo de sua vida estava fora de cogitação. Todos os momentos, fossem bons ou ruins, estavam cravados em sua memória e em sua pele. Esse tipo de amor se carregava para toda a vida.

"Tsk."

Murasakibara lançou um sério olhar, arrastando a porta de vidro do box em um único movimento. Himuro arregalou os olhos e assistiu a tudo sem poder fazer nada, já que suas pernas haviam perdido parte da força. O amante o segurou no colo após fechar o chuveiro, como a princesa, e saiu do banheiro com passos largos e pesados. O moreno sentiu-se colocado sobre a cama e a expressão de surpresa ainda estampava sua face, observando Murasakibara apoiar um dos joelhos sobre o colchão e inclinar-se sobre ele.

"A-Atsushi, a cama..."

"Quem se importa com a cama? Nós limpamos tudo depois." As gotas d'água escorriam pelos largos ombros, tão tentadoras... "Você é impossível, Muro-chin."

"O que eu fiz?" Himuro juntou as sobrancelhas. Será que ele não gostou do que eu disse?

"Eu estava planejando parar e deixar que você descansasse porque a viagem foi longa, mas você vai e decide falar aquelas coisas."

"Você odiou o que eu disse?" Ele engoliu seco.

O rapaz de cabelos roxos arregalou os olhos e se abaixou, rostos quase colados.

"Você está fazendo de novo, Muro-chin, e eu juro que não vou responder por mim. É muito difícil para eu me controlar quando você me seduz dessa forma."

"S-Seduz? Eu não estou te seduzindo, Atsushi, juro!" Himuro riu. Ele era experiente na arte da sedução e tinha certeza absoluta de que não estava fazendo nada para excitá-lo.

"Claro que está! Dizendo aquelas coisas... o que espera que eu faça? Quando a pessoa que eu amo diz que quer passar o resto da vida comigo... eu não sei o que fazer..."

Os olhos negros se arregalaram e o moreno corou. Os lábios sorriram e seus braços se esticaram, envolvendo-o pelo pescoço e o puxado para um abraço. A risada que ecoou pelo quarto foi alta e gostosa e afastou qualquer dúvida que ainda habitasse seu coração. Eu realmente amo essa pessoa...

"Você não precisa fazer nada, Atsushi. Apenas permaneça ao meu lado, todos os dias."

"Isso eu posso fazer."

O amante o encarou e desviou os olhos. A luz estava apagada e, ainda que a janela estivesse aberta e recebesse a pouca claridade da rua e da noite, Himuro achou ter visto as bochechas de Murasakibara tornarem-se vermelhas. O futuro reservava momentos não tão alegres e a inevitável distância que se colocaria entre eles se aproximava a cada movimento do relógio. Entretanto, ele não se deixaria abalar. A relação que tinham não foi um presente, mas sim construída com bases sólidas e grandes doses de paciência e comprometimento. O amanhã chegaria, eventualmente, mas o hoje, o agora, só se vive uma vez e não aproveitar o amor que aquela pessoa oferecia diariamente seria imperdoável.

- FIM.


Notas da autora:

Nada como uma MuraHimu para alegrar a vida!

De tempos em tempos eu preciso postar alguma coisa deles, é como D18 para mim: não consigo ficar muito tempo longe. Eu tinha escrito a fanfic há alguns meses e deixei guardada para postar no meio do hiatus, porque, bem, eu sabia que acabaria ficando um tempo sem postar .-.

Esse casal me permite escrever slice of life, que é algo que adoro. Parte de mim aprecia demais passar dias elaborando plots mirabolantes, mas o que eu gosto mesmo é de sentar e escrever as coisas simples da vida, como um prato de curry em um dia frio e reconciliações que terminam em lemon! Aliás, eu realmente gostei de escrever o lemon desta fanfic! 3

As participações especiais de KagaKuro me fez desejar escrever uma continuação focada nesse casal. Quem sabe...

Bem, eu não tenho mais nenhuma carta na manga então até o meu retorno com a longfic especial com a primeira geração dos Cavallone entrarei em hiatus de novo. Como mencionei, ela será postada ainda este ano, mas a data exata não posso afirmar, visto que ainda estou escrevendo.

Obrigada por darem mais uma chance a um projeto meu!

Nos vemos em alguns meses o/