Eram três da manhã e Lily só queria estar dormindo. Ao invés disso, estava há meia hora batendo no teto do apartamento. Quando alugou aquele lugar uma das qualidades apresentadas pelo corretor era "boa vizinhança". Onde estava essa tal boa vizinhança; afinal?
— Desliguem essa porcaria! — gritou a ruiva pela milésima vez, já estava ficando rouca.
Que saudade ela sentia da antiga vizinha, que não organizava festas no final de semana…
Bateu mais uma vez com a vassoura e sentiu alguém responder do outro lado, pedaços de reboco começando a voar na cabeça da menina.
— Argh!
A campainha tocou e Lily abriu a porta para um senhor Filch, o zelador do prédio, com uma cara muito sonolenta.
— O que a senhora quer as… — o velho fez uma pausa para consultar o relógio no pulso. — 3 horas da manhã?
— Eu não consigo dormir! — Lily levantou a voz diante do barulho.
— Já tentou, sei lá, deitar, fechar os olhos, tomar seu calmante?
Lily encarou o homem com raiva, sentindo suas bochechas queimarem.
— Não consigo dormir por causa desse barulho infernal! — gritou a ruiva, não inteiramente pelo barulho. — Essa porcaria está assim há horas! Horas!
— Isso se chama festa, senhorita Evans! — exclamou o zelador, dando as costas. — Devia tentar alguma ao invés de estar em casa no sábado a noite.
A garota olhou o zelador se afastando, totalmente indignada.
— Você não vai fazer nada? — saiu pelo corredor, ignorando o fato de estar apenas de camisola e pantufas de leão. — Isso passou dos limites! Tenho certeza que os outros vizinhos…
— Estão todos aproveitando a festa, senhorita — resmungou o velho. — Siga o meu conselho e faça o mesmo.
Lily cruzou os braços, tremendo de raiva. Aquilo era tão absurdo! Ela não podia deixar barato…
Sem parar para pensar, nem dar tempo de trocar de roupa, a ruiva foi em direção as escadas, disposta a tirar satisfação com quem quer que fosse que havia se mudado para o apartamento.
Do lado de fora do apartamento o som era ainda pior. Ela não conseguia identificar que música era, apenas as batidas insuportáveis. A porta tinha os escritos "Entre, você está em casa." Lily bateu na porta com as mãos espalmadas até que elas ficassem doloridas. Estava na dúvida se devia entrar de uma vez quando um rapaz da idade dela, provavelmente, abriu a porta com duas mulheres penduradas no pescoço.
— Ei! Docinho! — exclamou o moreno, exalando tanto álcool quanto possível. — A gente pediu estriper?
Lily abriu a boca para xingá-lo da pior forma que conhecia quando se deu conta que vestia uma micro camisola. Cruzou os braços em frente ao corpo e o encarou séria.
— Eu sou a vizinha de baixo! — gritou, mantendo a expressão.
O moreno riu por alguns minutos entrando no apartamento logo em seguida, gritando algo como:
— James, a vizinha gostosa está aqui!
Lily foi poupada em responder alguma coisa porque logo em seguida o cara que aparentemente era James apareceu.
Lily perdeu a respiração por um segundo. O tal James era muito bonito! Tipo, bonito mesmo. Cabelo bonito, sorriso bonito, corpo bonito, olhos bonitos…
Você veio brigar com ele! Ouviu seu subconsciente gritar.
— Você é o dono do apartamento? — gritou por cima da música, recobrando a compostura.
— O quê? — o moreno se aproximou e Lily recuou um passo, meio encabulada. Ele se aproximou para te ouvir, boba! O garoto franzia um pouco a testa, mas mantinha o sorriso.
Lily repetiu a pergunta e dessa vez ele compreendeu e assentiu.
— Eu sou James! — gritou ele.
James fechou a expressão por ter que conversar aos gritos. Fechou a porta atrás de si e com uma mão no braço de Lily, conduziu-os para um lugar mais afastado no corredor.
Um arrepio percorreu o corpo de Lily, desde o ponto que ele tocava e desceu pela coluna. Ela perdeu a respiração mais uma vez.
— Como eu dizia, sou James Potter — apresentou-se ele em um tom de voz mais normal, estendendo a mão para ela.
— Lily Evans, a vizinha de baixo — respondeu ela, tirando rapidamente sua mão da dele. O que havia dado nela?
— É um enorme prazer, Lily — o garoto sorriu de lado, e Lily engoliu em seco, sentindo seus batimentos acelerarem e um rubor colorir suas bochechas. O sorriso do cara era completamente indecente. Como se os olhos castanhos por trás da lente despissem Lily. Ela se remexeu, se afastando um pouco.
— Então, senhor Potter… A música… — começou ela, sem toda aquela raiva do início.
— Está incomodando, não é? Eu sinto muito, muito, muito mesmo — desculpou-se James, passando a mão no cabelo de forma nervosa. — Era só uma festinha de boas vindas, aí Sirius saiu convidando o mundo e as pessoas foram chegando e Peter não para de aumentar o som…
Lily suspirou e percebeu que tinha perdido a batalha. Tinha ido ali com a intenção de chamar a polícia se preciso, mas não iria fazer aquilo.
— Okay, tudo bem então… Só não… — ela passou a mão pelo rosto, e o sorriso de James começou a voltar. — Faça mais isso. Eu trabalho em um hospital e eu realmente preciso dormir e…
— Não vou dar mais festas aqui, prometo — e não havia porque desconfiar da sinceridade no olhar do rapaz. — Trabalha amanhã, Lily?
— Não — Lily sentiu um calor subir pelo seu estômago, e parar em suas bochechas, a fazendo se sentir levemente culpada pela cena toda. — É que eu passei essa tarde toda em plantão, e…
— Sem problemas, Lily, não precisa se explicar, entendo que você deve estar irritada, e com razão. Mas, já que você não trabalha amanhã, não gostaria de se juntar a nós?
Inicialmente, Lily estava quase abrindo a boca para dizer sim, mas então algo estalou dentro dela. James Potter estava produzindo um efeito estranho e anormal nela, algo completamente fora de controle.
— Eu adoraria — ela engoliu em seco antes de continuar. —, mas estou cansada demais para festas no momento. Quem sabe outro dia?
James deu um leve sorriso, e acenou com a cabeça, antes de voltar para seu apartamento. Lily suspirou, ela tinha mesmo prometido ir a uma festa com o seu novo — e desconhecido — vizinho? Pensando bem, talvez não fosse de todo mal, quem sabe Lily não precisasse ficar em casa no próximo sábado a noite. E um encontro com o tal James Potter era uma coisa que realmente parecia valer a pena. Desceu as escadas para o apartamento, colocou fones nos ouvidos e dormiu, bem mais leve do que esteve a semana inteira.