Prólogo

"Another morning another place

The only day off is far away

But every city has seen me in the end

And brings me to you again"

Always Somewhere – Scorpions

- Tem certeza que você está bem? – Jake perguntou pela milésima vez. Balancei a cabeça que sim, mas logo me senti idiota. Ele não podia me ver. – Bella? Eu vou abrir a porta. – disse e eu neguei, suspirando e coloquei meus dois pés para impedir que empurrasse. – Estou ficando assustado. Sério. Vou ligar para Alice. – murmurou e eu gemi. Alice não poderia fazer nada agora que me ajudaria.

- Me dá um tempo.

- Você está sentada aí há duas horas, desde que chegou na faculdade, por favor, estou nervoso.

Como se fosse simples dizer para o seu namorado que você está grávida de outra pessoa, puta merda!

Fechei meus olhos e tentei lembrar em qual momento naquela noite cometi o maior ato de estupidez que uma garota de dezoito anos, caloura, poderia cometer com um estranho misterioso, com uma tatuagem de escorpião no braço e cabelos selvagens, vindo de outra universidade, de outro estado. Eu não deveria ter ido a aquela festa, mas Ângela, minha amiga e minha cunhada Alice estavam animadas em participar da primeira festa da fraternidade que fomos aceitas, tudo por conta dos nossos anos de líderes de torcida e a influência da minha mãe, que sempre foi a nossa treinadora no ensino médio. Vencemos competições e saímos em capas de revista, fomos bem aceitas, mas ao contrário das minhas duas amigas, eu tinha um objetivo ao cursar Direito. E agora vou ser mãe ou preciso dar um jeito de cuidar disso... Sem que ninguém saiba. Principalmente meu namorado, por santo Deus. Eu não o traí, começamos a namorar dois dias depois daquele dia depois de meses só na conversa.

Edward não precisou mais que um sorriso torto e papo sujo sussurrado no meu ouvido para me arrastar para um dos quartos do hotel que estávamos. Lembro como se fosse ontem e não dois meses atrás o vestido preto curto que coloquei e a sandália nova que peguei no armário da minha mãe. Estava sexy, sem parecer tão nova, mas obviamente uma caloura. Ele era um dos caras que veio de Chicago, me deu uma cerveja, que recusei porque não iria beber nada que viesse no copo de outra pessoa. Dançamos juntos, no calor da pista, seu corpo moldou perfeitamente ao meu. Esqueci a existência de Jacob, do fato que estava considerando o seu pedido de namoro. Esqueci meu nome quando subi para um dos quartos. Foi uma noite de sexo que eu nunca vivenciei. Edward era experiente, bem ao contrário do meu primeiro namorado e o martírio que era transar. Aquele cara, com ar de perigo, sexo e cigarros me deixou louca.

E agora grávida.

Abri a porta do banheiro depois de enfiar o teste no bolso do meu jeans. Peguei meu material e saí da faculdade, andando sem rumo pelas ruas. Eu estava vagamente ciente que Jacob me seguia como um cachorrinho e eu tinha que fazê-lo parar e me deixar sozinha. Ele era um cara legal, mas, o nosso namoro era muito recente, não havia paixão ou sequer uma faísca, tanto que eu não parei em sua cama e sequer me importei em fazer qualquer tipo de sacanagem. Jacob era o cara que comprava meu lanche e segurava meu material, mas não alguém que me fazia morrer de tesão. Como vou contar a ele que dois dias antes de dizer sim ao seu pedido de namoro tive uma noite de sexo tórrido com um estudante de Direito da Universidade de Chicago, que eu não sabia nada além do primeiro nome, tinha um e-mail em um papel surrado.

- Preciso ficar sozinha. – disse a Jacob.

- O que está acontecendo?

- Nada. Só estou muito mal humorada e preciso ficar sozinha. – respondi tentando ser uma louca de TPM, porque sei que homens fogem disso. – Me dá um tempo e não fica no meu pé.

Ele deu um passo para trás.

- Ok... Me liga mais tarde, tá?

Grunhi e ele saiu, atravessando a rua, voltando na direção da faculdade.

Os arredores de Georgetown estava repleto de pessoas caminhando para o trabalho, outras mais jovens para universidade e uma série de advogados em uma das ruas mais badaladas seguindo para seus escritórios. Sentei em um banquinho na praça e me permiti chorar. Eu estava em pânico. E sem saber por onde começar a agir, pensar. Alice e Ângela estavam em aula, é provável que só deem minha falta quando saíssem para o almoço. E eu me senti totalmente perdida, desolada, com medo e profundamente desapontada comigo mesmo. Tenho a nítida lembrança que ele usou a camisinha. Lembro-me de vê-lo abrir os pacotes nas diversas rodadas... O que aconteceu? Um bebê. Não posso ter um bebê.

Um homem sentou do meu lado e eu funguei, secando meu rosto, tentando controlar a onda de soluços que me invadia. No meu campo de visão, ele ofereceu um lenço. Seu sorriso era gentil e até meio preocupado. Aceitei e sequei meu rosto, porém, chorando ainda mais. Ele não disse nada, mas só de não estar sozinha enquanto chorava copiosamente pela minha gravidez precoce e muito indesejada. Me senti mais acolhida. Ele também não sabia para me julgar.

- Oi. Sou Aro Volturi.

- Bella Swan. – murmurei meio sem graça. – Está tudo bem.

- Não parece muito. Quer que eu ligue para os seus pais? – perguntou e eu pensei bem, o conforto dos braços da minha mãe era tudo que eu precisava agora. Fiz que não e procurei meu celular, para perceber que ele estava sem bateria. – Ou um táxi?

Tenho meu motorista, que também é meu guarda-costas, ele é um cara do serviço secreto porque meu pai trabalha para o governo. Ele é diretor da CIA, mas ninguém sabe. Nem mesmo Jacob. Minhas amigas sabem que ele trabalha na Casa Branca e nada mais. Olhei para frente e vi que Jared estava estacionando o carro bem na minha direção. Com toda certeza ele me seguiu até aqui... Como vou contar aos meus pais? Uma nova onda de lágrimas inundou meus olhos.

- Não precisa chorar. – Aro disse suavemente. Ele devia ter por volta dos vinte e poucos.

- Sinto muito. Descobri hoje que... – murmurei e pensei. Ele era um estranho, não me conhecia e eu nunca mais o veria. – Estou grávida. Tenho só dezoito anos. Estou triste. Muito triste.

- Entendo. Também estaria na sua situação, mas...

- Acabei de entrar para universidade. Estou cursando direito e amando... Eu nunca planejei isso. Foi realmente sem querer.

- Se você escolheu cursar direito é porque sabe que sempre existe uma alternativa, mesmo quando tudo parece não ter saída. Acredite em mim, eu sou advogado. – disse e tirou um cartão do bolso. – Não é o fim do mundo. Acabei de me formar. – disse e eu vi que o escritório tinha o nome dele, provavelmente herança do seu pai. – Sou um garoto que cresceu pobre na Toscana, com a minha mãe vendendo pães e bolo para juntar dinheiro, me trazer a América e conhecer meu pai. Aqui eu fiz a universidade, tenho um bom emprego e uma linda namorada. Tudo tem uma saída.

Sequei meu rosto mais uma vez.

- Como um católico de coração, acredito que recebeu uma benção. Não teria acontecido se você não fosse destinada por Deus a receber esse bebê. – disse e ele soou muito como meu pai. Não posso dizer que sou uma pessoa religiosa, mas, meus pais são católicos fervorosos. Uma mulher aproximou-se dele e Aro sorriu. – Por favor, não desista desse bebê. – piscou e levantou. – Me liga se precisar. – disse e deu a mão à mulher, que me ofereceu um sorriso gentil antes de seguir ao lado dele. Devia ser a sua namorada.

Segurei seu cartão e seu lenço, tirei o teste do meu bolso e suspirei. O que vou fazer? Peguei minha mochila e segui para o carro. Jared saltou e abriu a porta da frente, me olhando preocupado. Pedi que seguisse para casa. Abri a minha mochila e dentro tinha a minha agenda. Na página da noite que fiquei com Edward, coloquei dobrado o guardanapo do hotel que ele escreveu o seu número e um e-mail. Disquei o número... Uma pizzaria atendeu. Deus. Que embaraçoso. Escrevi um e-mail do meu celular mesmo e pedi que entrasse em contato comigo, mas dois minutos depois recebi o e-mail de volta. Conferi e estava exatamente do mesmo jeito. O canalha me deu contatos falsos! Eu nunca tive a intenção de ligar para ele, na verdade, encarei aquilo como uma única noite e segui a minha vida. Ele morava em Chicago, por tudo que é mais sagrado.

Jared acionou os portões da minha casa. Eu sou a única a não ter um apartamento só meu desde que comecei a faculdade meses atrás, mas, meus pais eram meio preocupados em me deixar sozinha e teriam que liberar uma série de funcionários só para que eu tenha meu próprio espaço enquanto ainda sou menor de idade. A ironia que eles me acham uma criança para morar sozinha não passou despercebida agora que estou gerando uma criança. Desci do carro rezando que eles estivessem na rua, mas o azar estava pendurado nas minhas costas, não só estavam em casa, como estavam juntos na sala. Meu pai lia algo, provavelmente seu discurso da reunião dessa tarde, ele vem falando disso há dias. Hum... Talvez eu peça ao meu pai rastrear o pai do bebê. Não é uma boa ideia. Como faremos? Ele mandará assistência financeira que não preciso?

É certo que não vou tirar a criança. Eu não consigo pensar dessa forma em relação ao aborto. Tenho condições financeiras – a não ser que meus pais me expulsem de casa e cortem meu dinheiro, uma casa e talvez não tenha condições psicológicas, mas isso é discutível. Não sei o que fazer, mas a ideia de fazer um aborto porque fui irresponsável me parece um ato de egoísmo. Sou a favor do aborto em muitas situações, exceto na minha própria. Caí no conto da minha própria língua. Minha mãe olhou para o relógio quando me viu e franziu o cenho, observando minha aparência. Ela ficou de pé em um salto e me abraçou apertado.

- Seja o que for, vai ficar tudo bem, bebê. – disse me sufocando em um abraço apertado.

- O que aconteceu? Aquele merdinha fez alguma coisa com você? – meu pai perguntou, alterado como sempre. Charlie é uma bomba. Renée é o seu relógio.

Minha mãe me conduziu para o sofá e sentei, começando a chorar novamente. Eu não tinha muito que falar, então, tirei o teste do meu bolso e entreguei a minha mãe.

- Aquele garoto te engravidou? – Charlie gritou e minha mãe estava congelada, olhando para o teste.

- Bella? Amor? – Renée estava perdida.

- Não é do Jacob. – sussurrei e meu pai parou, olhando-me profundamente. Abaixei meus olhos, deixando as lágrimas caírem.

- Bella, filha, por favor, explica para o papai o que... Como isso... – Charlie sentou na minha frente e eu o conhecia o suficiente para saber que estava contendo a sua cólera. – Não em detalhes técnicos, por favor.

Contei a história, ocultando os detalhes sórdidos por um longo tempo, explicando como desconfiei, os sintomas horríveis pela manhã e a minha coragem ao fazer o teste hoje, acreditando ser apenas alguma virose ou o estresse recente com as mudanças de rotina com a faculdade. Eles ficaram em silêncio até que a minha mãe começou a chorar tanto quanto eu estava chorando. Eu estava tonta, me sentindo a beira da ruptura completa.

- Eu juro que não quero isso... – sussurrei segurando as mãos do meu pai. – Pai, eu juro que nós usamos camisinha.

Charlie suspirou.

- Agora é tarde, filha. Você está grávida.

- E não ouse me dizer tirar essa criança, isso é um pecado! – Renée disse mesmo desolada. A decepção estava gravada no rosto dos meus pais. – Nós vamos cuidar de você.

- Claro que vamos. – Charlie concordou e senti alívio. Eu estava com medo. – Nós nunca te deixaríamos, filha. Foi um erro... Eu ainda estou processando todas essas informações, mas nunca pense que te amo menos. Estou um pouco... Desapontado. Não era o que esperava...

- Sinto muito, papai. Sinto muito, mãe. Por favor, não me deixem, estou com medo e muito assustada.

Minha mãe abraçou apertado e nós conversamos por horas. Meu pai disse que me daria tempo para decidir sobre procurar o pai do bebê, mas eu estava certa que não queria passar por um relacionamento parental complicado. Se Edward quisesse ser encontrado, ele teria deixado seus contatos verdadeiros. Não serei aquela garota a procurar alguém e dizer que estava grávida. Não tenho o mínimo interesse em pedir pensão e muito menos de dividir um bebê no meio. Ele não poderá estar aqui para as piores partes e nem sofrerá a dor do parto em meu lugar. Deixei que meu pai soubesse de todas as minhas opiniões, porém, quando meu irmão chegou da faculdade, ele está cursando ciências políticas com o pleno interesse em se tornar um político ou assessor em algum momento futuro.

Jasper era dois anos e meio mais velho que eu e ficou lívido ao saber das notícias. Sua primeira reação foi querer matar Jacob, mas quando soube que o filho não era do meu, até então, namorado, ele queria torcer o meu pescoço. Alice e Ângela chegaram mais tarde e me encheram de perguntas. No fim do dia, eu estava tonta, cansada, sentindo muita culpa pelo clima estranho na minha casa. Minha mãe estava refugiada em seu quarto, chorando na cama e meu pai estava no escritório, bebendo seu uísque de dias difíceis. Meu irmão estava socando o saco de areia na academia do andar de cima e minhas amigas oferecendo suas formas de conforto quando tudo que eu sabia fazer era chorar na minha cama, desejando ficar sozinha porque elas estavam me irritando, mas não querendo ficar sozinha por nada no mundo.

Decidi terminar com Jacob sem contar a ele sobre a gravidez. E fui covarde o suficiente para terminar por mensagem, eu não queria olhar em seus olhos, na verdade, não queria encontra-lo de tamanha a minha vergonha.

Deitei na minha cama e não saí dela por dias. Eu vi o dia nascer e morrer todos os dias, na mesma posição, olhando para janela, sem conseguir me importar em sair dela. Todos os meus planos e sonhos passavam pela minha cabeça, como se fossem amassados e jogados no lixo. Me vi rodeada de fraldas, crianças pequenas, sozinha, perdida na criação de outro ser humano, observando com inveja as mulheres que tinham uma carreira e um nome no mercado.

- Eu te deixei chorar todos esses dias. – meu pai abriu a porta do meu quarto. – Ninguém está morrendo... Pelo contrário, está nascendo. A vida adulta é assim, nem sempre podemos nos dar o luxo de chorar quando algo dá errado ou não sai conforme o planejado. Levante, vá se arrumar, sua mãe já agendou um médico, mas antes você vai a faculdade, continuar seus estudos, quando o bebê nascer nós pensaremos a seguir. Estou te esperando, não se atrase. – fechou a porta.

Semanas se passaram nessa alternativa de levar um dia de cada vez. O clima na minha casa ainda não era bom, mas ninguém deixou de falar comigo ou estava me tratando mal, pelo contrário, eu estava sendo mimada pelo meu irmão, muito bem alimentada pela nossa cozinheira, tendo a minha mãe como minha maior ouvinte e recebendo os conselhos do meu pai para aguentar o próximo dia. Ninguém além das minhas amigas sabiam da gravidez, mas eu sabia que era uma questão de tempo. Logo que meu primeiro trimestre acabou, os rumores começaram, eu estava com seios imensos, um nariz mais gordinho e a minha bunda definitivamente desenvolveu de forma que pulou toda para fora. Eu ouvia cantada por todos os lados. Deixei de ter meu corpo magrelo e adolescente muito rápido e obvio que levantou todas as suspeitas possíveis.

A ultrassom me permitiu ver e ouvir o bebê, ainda não dava para ver o sexo, mas eu meio que tinha esperanças que isso pudesse acontecer logo. Era difícil chama-lo de bebê o tempo todo.

- É verdade? – Jacob parou do meu lado, na semana seguinte que completei três meses. – Você está grávida?

- Sim. – sussurrei ainda com vergonha de admitir.

- Você estava com outra pessoa quando estávamos juntos?

- Não. Foi antes. – admiti e ele balançou a cabeça.

- Na festa? Um dos meus amigos viu você ficando com alguém...

- Ah... – minhas bochechas estavam pegando fogo.

- Ele vai assumir? – perguntou e eu neguei. – Puxa vida, Bella. Você poderia ter me contado e não simplesmente me chutado fora como se eu não me importasse. Como se eu não fosse importante. A gente estudou junto, eu te conheço, sei que nunca faria algo deliberadamente para me machucar ou me trair...

Abracei-o apertado, sem conter minhas lágrimas, era muito importante ouvir.

- Sei que agora você não deve querer ninguém, mas... Podemos ser amigos? É sério. Não quero que se sinta sozinho, não vou dizer que estou feliz, gosto de você, gosto mesmo, mas sei que não me traiu, sei que não fez de proposito, por isso que não quero te perder também.

- Nós podemos ser amigos. – respondi e o abracei de novo. – Obrigada.

Jacob saiu de perto e caminhou para perto dos seus amigos, que pareciam não partilhar da mesma opinião que ele, mas não me importei. Jared parou o carro e eu entrei, satisfeita que estivesse bem com alguém que nunca quis machucar. Minha vida estava de cabeça para baixo, não precisava adicionar o drama de ter muitas pessoas jogando pedra em mim. Passamos pela avenida e eu vi Aro Volturi sentado no mesmo banco que nos conhecemos, semanas atrás. Pedi para Jared encostar e desci. Caminhei lentamente na sua direção e sentei ao seu lado. Ele desviou o olhar do jornal e abriu um sorriso quando me reconheceu.

- Parece que está tudo bem agora. – disse dobrando seu jornal.

- Está tudo bem agora. Quer tomar um chocolate quente comigo?

- Eu adoraria. – respondeu e ofereceu seu braço.

Caminhando para confeitaria mais próxima eu soube que ali estava nascendo uma nova amizade.