Capítulo 2

Acordei sozinho dessa vez. Sei que ela dormiu comigo, mas deve ter levantado mais cedo. Ou talvez tenha ficado aqui sem dormir a noite toda...nunca vou saber ao certo. Já estava um pouco atrasado, tomei um banho rápido e desci. Sentei-me à mesa do café da manhã e qual não foi a minha surpresa quando deparei-me com ela, a mulher que me faz sofrer, ocupada com uma torrada. Ela passava geléia de morango com a atenção que alguém dedicaria a desmontar uma bomba, tão entretida que ela estava. Quando me viu, deixou a faca escorregar de sua mão, rapidamente, agarrou-a no ar, sujando os dedos de geléia.

- Bom dia, gatinho. – ela disse com um sorriso. Um sorriso que me lembrava a sua ingenuidade antes do nossos mundos terem ficado de cabeça pra baixo. Antes de ela ter controlado os seus poderes e largado de mão todo o resto.

- Bonjour, chér.

Ao invés de pegar um guardanapo e limpar os dedos, ela começou a chupar cada um deles vagarosamente, aparentemente, não se dando conta dos olhares de abutre de Logan e Scott. Eu vou quebrar a cara desses dois na sala do perigo, ah se vou...

- Chér, toma aqui. Deixa eu limpar os seus dedos. – peguei a mão dela e limpei os dedos da discórdia. Ela não reclamou da minha attitude meio paterna, e me deu um sorriso bobo. Olhei pra cara dos dois marmanjos de cara feia, e eles logo se mancaram.

Jean também estava na mesa, o que torna aquela situação toda mais tensa. Se pensarmos bem todos aqui já se beijaram indiretamente... Eu beijo a vampira, que beijou o Logan e o Scott que beija a Jean.

Como foi que isso foi acontecer? Até uns meses atrás, antes de eles voltarem do Egito, nada era assim...E a conexão do beijo não é a única que existe entre nós que sentávamos naquela mesa. Não, senhor. Também tem a conexão do fingimento. Absurdamente, sendo ela uma telepata, a Jean finge que não sabe do Scott com a Vampira, que finge que não sabe que ela ficou com Wolverine, que finge que não sabe que eu amo a Vampira e que tudo isso me magoa e eu finjo que não sei de nenhum dos deslizes dela, desses e de outros...

Mais tarde na sala de perigo, ela não era mais a mulher que disse que me amava, não, agora ela se divertia em atiçar o Scott.

- Vampira, quer parar com isso? Você faz sem perceber ou é deliberado mesmo?

Você sabe que me tira do sério de qualquer jeito, por que se insinuar pra mim na frente da Jean e do Gambit?

E foi quando ele tomou uma carta minha encontrou com a fuça dele. Bem feito!

- Querido! O que foi isso? Como você foi perder a atenção desse jeito? – pior cego é aquele que não quer ver, já dizia a malandragem de Nova Orleans com quem eu andava na minha infância... A Vampira ria com deboche. Meu Deus! Como é que alguém pode mudar assim?

Com o Scott derrubado, acho que eu vou mesmo ser a marmitinha da tarde dela... o que eu, como bom idiota que sou, vou aceitar com o maior prazer.

E, confirmando meus pensamentos anteriores, enquanto tomava uma ducha depois do treino, lá vem ela toda fogosa e entra no chuveiro de roupa e tudo.

- Oi, amor. – ela diz, me abraçando por trás, suas mãos quentes apalpando todo o meu corpo, primeiro meus braços, depois meu tórax sarado, até que encontraram o lugar para que me faz gemer. E como ela era boa nisso... Todo o mal que ela me causa desaparece quando ela me trata daquele jeito. Pouco tempo depois, lá estava eu pressionando o corpo dela contra a parede do banheiro, segurando-a, ela aos gritos no meu ouvido enquanto eu dava o prazer que eu tenho

certeza que ninguém mais dá pra ela.

Ao ouvir os seus gemidos escandalosos, eu me lembrei da ternura com que ela se entregou pra mim da primeira vez. Primeira vez dela, não só a primeira vez comigo. Ela podia ter feito com qualquer um dos homens que estavam no Egito, onde ela percebeu que podia enfim controlar seus poderes, se ela estivesse assim tão desesperada para saber como era, mas ela esperou voltar pra casa. Voltou pra mim e me deu esse privilégio. Isso tem que significar alguma coisa, não é?

Por outro lado, quando eu vejo os olhares que ela troca com os homens na rua quando saímos juntos, fico com a certeza de que o que quer que ela sentia por mim, não sente mais. Antes quem

fazia isso era eu. Eu que era o safadão, o garanhão, que ganha qualquer mulher facilmente só num olhar. Sempre gostei de brincar com isso, com o poder de sedução que eu tenho. Faz bem pro ego ver a mulher mais gostosa da night escolher você, querer ficar com você.

Pra mim, isso não tinha nada a ver com meu coração ter dono ou não. O mal é que eu sempre ouvi dizer que as mulheres eram diferentes... Talvez todo esse tempo me amando, ela se tornou igual a mim assim que teve a oportunidade. Será que ela no fundo me odeia agora por ter feito aquelas coisas e quer me fazer sofrer? Será que ela sabe que eu saía com outras? Corrigindo, saía não, trepava, tchau e 'bença'. Opa, me beijando desse jeito nesse lugar, ela não pode estar querendo me castigar. Eu que devia ser mais forte e dar um basta nessa porra toda. Porém, o meu orgulho de macho ferido não parece ser maior que a minha cara de pau e o meu talento pra corno.

- Chère, onde você está indo? Mal terminamos e você já vai embora com pressa. Por que não saímos para almoçar juntos? – eu disse enquanto via ela vestir o uniforme molhado apressadamente.

- Ow gatinho, obrigada pelo convite, mas não vai dar.

- Por que não?

- Tenho que subir, tomar um banho e trocar de roupa ainda. Eu tenho aula de strip dance às duas horas.– notando que eu fiz cara de incrédulo, ela continuou... – É sério! Paguei uma nota por essas aulas.

- Vocêvai me agradar depois com o que aprender na aula? – quando relembro as coisas que falo pra ela, vejo como soa tudo tão ridículo... Ela vai agradar sim, eu e a torcida do Flamengo...

-Amorzinho, por que você acha que eu me inscrevi nessas aulas? Claro que você vai ser o primeiro a me ver dançar.

- Queria ter a certeza que serei o único. – Enfim, tomei coragem! Isso mesmo, homem!

Pronto, ela vem a me desarma logo. Fez cara de zangada e fechou o tempo. Eu sempre adorei irritá-la com as minhas cantandas furadas só pra ver ela ficar daquele jeito. Com um biquinho, ela disse:

- Remy, por que você faz isso? Eu não sou sua, não sou de ninguém. Pela primeira vez na minha vida, eu sou minha! Eu tenho total controle da minha vida, dos meus poderes, ninguém me manda mais. Nem você, nem a Mística, nem o professor, nem os X-men, nem essa sociedade hipócrita, nem esses filhos da puta desses Sentinelas que de vez em quando aparecem. Eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo me quer bem. E assim que eu quero que continue sendo, pelo

menos por agora.

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