Disclaimer: Harry Potter e seu universo não é meu, pertence à sua escritora J. K. Rowling. Pois se fosse meu, o Harry teria sido criativo com a sua varinha.

Sinopse: James Potter era um Comensal da Morte. Lily Evans estava apaixonada por ele. [UA | JAMES!SLY] Continuação de SERPENT.

Aqui estou eu, com a continuação de SERPENT. Depois daquele final, eu resolvi dar a explicação dele para vocês. Eu não esperava TANTA repercussão. Na votação para mpfawards, SERPENT ganhou nas categorias "MELHOR ONE-SHOT REALIDADE ALTERNATIVA" e "MELHOR ONE-SHOT DE DRAMA", vocês são fodas. Claro que eu tinha que postar LION o mais rápido possível.

Eu escrevi essa fic para um amigo secreto, onde eu tinha pego a Miller. Hoje vim postar a minha long-fic de continuação da fanfic como presente de aniversário (atrasado) para ela. Espero que goste, mozão.

É NECESSÁRIO ter lido SERPENT para entender essa fanfic. A fanfic se encontra no meu perfil.

Nessa fanfic o James Potter é SONSERINO. O que resto continua como o canon. A Lily, o Sirius e o Remus continuam sendo da Grifinória.

A fanfic é James/Lily, mas podem aparecer outros casais. Tem cenas de smut. Caso se sinta incomodado com temas +18, ou não goste que o James tenha se tornado um slytherin, não leia e evite aborrecimentos.

Será uma fanfic com vários capítulos, que com certeza irão explicar TUDO com o tempo. O motivo do James ser sonserino, e ter se envolvido no que ele envolveu.

"Como que pode, James Potter ser SONSERINO e COMENSAL DA MORTE? Isso é ridículo." Por isso se chama FANFIC e UNIVERSO ALTERNATIVO, onde eu crio o que eu quiser.

A fanfic foi betada por Carol Lair, obrigada sempre por corrigir meus erros e me animar pra continuar escrevendo.

Nessa fic, personagens como o Sirius, as amigas da Lily, Alecto, Mary e outros personagens que eu tirei da JK ganham mais importância.

Espero que gostem.


LION

Capítulo I - RABBIT
por ahlupin


James desceu as escadas com as mãos no bolso. A postura relaxada não condizia com seus pensamentos. Mas se existia alguma coisa que James havia aprendido com ele, era como esconder o que seus sentimentos. O que poderia ser muito bem camuflado por trás das vestes negras e a máscara, que impediam qualquer um de ver seus lábios estreitados.

O andar de baixo da casa não era um porão convencional. As paredes eram bem ornamentadas, junto com os tapetes que deveriam ter pertencido a um antigo bilionário bruxo. Era difícil identificar o cenário com a pouca iluminação, fazendo com que James precisasse estreitar os olhos para perceber um lustre apagado. O som era de algo se rastejando no chão, cheiro de molhado e sangue. Lembrava um pouco as masmorras de Hogwarts, só que infinitamente pior.

Ele passou por algumas poltronas e uma estante de livros, indo na direção da porta guardada por dois homens mascarados. Um deles estudou o garoto, o outro usou a ponta iluminada da varinha para enxergar a Marca Negra tatuada no braço que ele havia estendido.

— Potter. — Disse, desprovido de emoção.

— O Lorde das Trevas está a sua espera. — Um dos homens comentou por trás da máscara, que era característica dos Comensais da Morte.

— Eu sei. — James respondeu. Os comensais deram um passo para o lado e abriram a porta, deixando a passagem livre.

Ele entrou em uma sala muito parecida com a última, com exceção de uma pessoa que estava de costas. James não saberia dizer se "pessoa" era uma forma correta de denominá-lo. Voldemort não se virou para vê-lo, mas James sabia que ele tinha consciência da sua presença.

— Venha, James. — A voz do Lorde das Trevas era rouca e falha, como tivesse sido gasta demais. James atendeu ao chamado e andou até o bruxo, parado e olhando para uma superfície de vidro.

Os dedos de Voldemort seguraram o ombro de James, fazendo o garoto se sentir intimidado. Não pelo contato, mas por ver, de soslaio, o rosto do bruxo. Cada vez que o encontrava, ele parecia menos humano e mais semelhante a uma cobra. Os olhos vermelhos estavam interessados no conteúdo que observava e a face pálida, deformada. O nariz estava muito próximo de ser apenas duas fendas. Uma aparência adquirida em anos usando formas de potencializar as Artes das Trevas.

— Qual nome você daria à uma cobra? — Voldemort perguntou, ainda sem encara-lo. James se virou para mirar o que era seu alvo de atenção. O vidro protegia um ovo enorme. Deveria pertencer à algum réptil rastejante, considerando que não tinha uma casca tão rígida.

— Naga ou Nagini. — Respondeu, um pouco incomodado com toda a situação e o calor que o vidro irradiava. James tentou não pensar no Lorde das Trevas roubando furtivamente o ninho de uma mamãe-cobra. Ou chocando o ovo.

— Nagini. — Voldemort repetiu, experimentando a palavra. Pela primeira vez na noite, ele se virou para o mais novo. — Você sempre foi um menino criativo.

James agradeceu, sem parar de contar os batimentos cardíacos.

— Agora, que nome você daria àquele que traí o Lorde das Trevas por causa de uma paixão juvenil?

James vacilou um pouco, sentindo o lábio ficar seco à medida que o aperto em seu ombro endurecia. Subitamente, ele sentiu uma onde de medo o atingir. Ele não queria misturar seu namoro no meio daquela maldita organização purista. Voldemort estava testando-o, ele havia descoberto que James havia se envolvido com uma nascida-trouxa; seu mestre sabia que ele passara os últimos seis meses completamente apaixonado por Lily Evans.

Voldemort, porém, não esperou que James respondesse.

— Ele é chamado de tolo, James. — Ele se inclinou, falando como se estivesse dirigindo-se a uma criança de oito anos. Da mesma maneira que ele costumava falar com James, vários anos atrás. Era uma doçura que soava mais sombria do que qualquer ameaça.

James sentiu um calafrio percorrer seu corpo.

— Ela é apenas uma distração, não significa nada para mim. — O garoto disse, fechando o punho e tentando descontar todas as emoções negativas fincando a unha na própria palma. Então, ele pensou novamente antes de falar. — Evans é uma bruxa inteligente, uma das melhores do meu ano. Seria uma interessante aliada. Eu poderia convertê-la para o nosso lado.

— Isso fica a seu encargo, menino. — Voldemort recolheu a mão para o próprio corpo, deixando apenas um rastro do seu aperto no ombro de James. — Você sabe o que acontecerá com sua distração caso ela venha a atrapalhar. — Se não o conhecesse, poderia dizer que seus olhos vermelhos brilhavam em malícia. — Você será o encarregado de eliminá-la. — O coração de James deu um pulo e sua mão trêmula por baixo das vestes travou. — Estamos entendido?

Por "eliminar", Voldemort se referia a torturar e matar.

Ele precisava controlar a respiração. James nunca poderia deixar Voldemort ler sua mente. Ele não tinha controle de suas ideias, mas poderia administrar o que o Lorde das Trevas poderia absorver dos seus pensamentos. Era a única vantagem que ele tinha, a qual desenvolvera desde o primeiro encontro dos dois.

— Eu fiz uma pergunta, James.

— Sim, milorde. — Respondeu, abaixando um pouco a cabeça em sinal de respeito ao mais temido bruxo dos últimos séculos.

James sabia que se tornar seguidora de Lord Voldemort nunca seria algo da índole de Lily, mas se existia outra coisa que ele havia aprendido com o mestre, essa era o poder de manipular pessoas. Voltou-se, então, para o vidro à frente, ainda com o ovo de cobra sobre uma almofada. O que Voldemort pretendia com aquilo?

— Eu não te chamei só para isso, menino. Sei que você ganhou uma medalha por seu desempenho no quadribol e sei que foi nomeado Monitor-Chefe. Tenho um presente para você. — O bruxo tirou das vestes um objeto que imediatamente captou atenção de James. — É uma relíquia que eu só daria a um servo devoto. É de extrema importância que você o proteja com a sua vida. Apenas um verdadeiro herdeiro da Sonserina poderia guardá-lo.

Ele aceitou o presente, com os olhos atentos ao medalhão que pesou em sua mão. A joia tinha uma serpente gravada, parecia um artefato antigo, mas bem conservado. Era uma responsabilidade imensa carregar consigo algo que provavelmente continha magia das trevas, assim como tudo que rondava o famigerado Lorde Voldemort.

— Obrigado, milorde.


Lily estava nervosa. Seus dedos tamborilavam na mesa e seus olhos desviavam a cada minuto da entrada. James Potter parecia estar achando graça em sua ansiedade. Sentiu a mão dele cair sobre a sua e dar um aperto seguro. Ela lhe lançou um sorriso agradecido.

— Obrigada por vir. Você não tem ideia de como isso é importante para mim.

Ele piscou compreensivo. Lily tinha que admitir que seu namorado estava excepcionalmente atraente no terno preto que lhe caía tão bem, parecia algum herdeiro rico, ou uma celebridade dos tapetes vermelhos. Menos o cabelo, que continuava sempre bagunçado e apontando para todos os lados. Lily levou a mão até os fios negros dele e começou a penteá-los, mas sem obter qualquer sucesso em deixá-los menos desgrenhados. Parecia que, quanto mais ela tentava arrumar, mais bagunçado o cabelo de James ficava.

— Desista, você nunca vai conseguir. O cabelo tem vida própria. — Ele comentou ao perceber o fracasso dela em ajeitar seus fios. Lily deu um suspiro e deslizou as mãos para o seu peito.

— Só estou tentando me ocupar com alguma coisa. Petunia não chega nunca.

Eles estavam esperando em um restaurante, sentados em uma mesa perto da janela. Desde o começo das férias, quando Lily levou o namorado para conhecer sua família, o Sr. e a Sra. Evans queriam promover o encontro entre James e o noivo de Petunia, Vernon Dursley, em uma forma de aproximar as irmãs.

Lily queria que James passasse uma boa impressão. Havia anos que ela não conversava direito com Petunia, aquela era a sua chance de voltar ao relacionamento com a mais velha. Quem sabe James e Vernon também não se tornariam bons amigos, e tudo voltaria a ser como era antes da magia separá-las. Desde que ela fora para Hogwarts, a irmã passou a tratá-la com indiferença. Como se não bastasse Lily já sentir o preconceito dentro da escola por ser nascida-trouxa, ela também precisava lidar com o preconceito de Petunia nas férias.

Lily estava pensando que a irmã deu um bolo neles, mas não demorou muito para ela chegar com o futuro esposo. Eles tomaram seus assentos e não se ocuparam muito tempo com cumprimentos.

Petunia estava sempre com o rosto levantado em superioridade. Lily jurou que a vira lançando um olhar interessado demais para James. Era fácil entender essa reação quando comparava os dois acompanhantes das Evans. Vernon era corpulento, com dedos tão grandes que pareciam salsichas brancas. Uma sombra de bigode não desenvolvido enfeitava o seu rosto. Não era nada charmoso ou másculo como James.

Logo no início do jantar, Vernon se gabava por ter conseguido um emprego fixo na empresa de ferramentas e brocas. Eles pretendiam se casar no final do outono, pois apenas quando nessa época a irmã de Vernon, Margie, poderia abandonar sua criação de bulldogs e comparecer ao casamento.

Dursley não deu tempo para deixar Lily se preocupar com o silêncio de James, pois logo disparou:

— E você, Petter? Trabalha com o quê?

— É Potter. — Ele respondeu, estreitando os olhos. — Não trabalho, ainda estou estudando.

— Ah sim, estudando. Petunia me contou, essa "escola para especiais". — Dursley disse, com deboche. Ele começou a narrar um dos momentos de mais orgulho da sua vida, quando atendeu à Academia Smeltings, de grande prestígio. Nem Lily, nem James e, às vezes, nem Petunia sabiam do que ele estava falando.

Se Lily bem conhecia a irmã, tinha certeza de que ela havia dito que eles estudavam em uma escola para pessoas com distúrbios mentais. Ela viu nos olhos de Petunia a mágoa e a raiva, e qualquer sentimento negativo que conseguia ser expresso em sua cara de cavala.

— James está estudando para ser auror, é uma profissão muito importante.

— Auror? Que profissão bizarra é essa?

— Ele salva vidas. — Lily se adiantou e sorriu orgulhosa. — O teste para se tornar um é muito difícil, mas James é um dos melhores da turma.

O jantar continuou. Com algumas alfinetadas e uma competição para ver quem era melhor. James não se importava muito, ele tentava cortar o assunto ou deixar de responder, mas Dursley era insistente em mostrar que tinha muito mais notoriedade.

Quando Petunia se levantou para ir ao banheiro, Lily foi junto, apesar do protesto silencioso da irmã. Na entrada do toilette feminino, ela perguntou, ansiosa:

— Você gostou do James?

Petunia jogou o cabelo loiro para o lado e olhou para a ruiva com desprezo.

— Tão abominável quanto você.

Na mesa, Vernon perguntou, pretensioso, qual era o modelo do carro de James, e foi surpreendido quando o garoto perguntou o que era "carro".

— Você não sabe o que é um carro? — Ele riu maldoso, convencido de que James tinha mesmo uma doença mental. — É um meio de transporte.

— Certo. A minha é uma Milles 2000.

— Nunca ouvi falar dessa marca. — As sobrancelhas se Dursley sumiram por trás da boina, então ele franziu a testa.

— O modelo é novo. Com cabo maciço, cerdas leves. Ótima vassoura para fazer desvios.

— Você está descrevendo uma vassoura! — Ele piscou algumas vezes, a cada palavra anunciada, uma careta diferente se formava em seu rosto. — É algum tipo de piada? Está testando a minha inteligência, rapaz?

James revirou os olhos.

— Não acho que exista em você alguma inteligência para ser testada.

— Não fale assim comigo! — Vernon se irritou e bateu o dedo indicador perto do rosto de James.

— Aponte-me o dedo e eu aponto-lhe a varinha. — Ele recitou uma antiga fala bruxa, com uma voz fria e cortante. Uma das suas mãos deslizou para dentro do bolso, alerto.

— Varinha! Isso é ridículo! — Dursley começou a ficar vermelho, pensando que varinha era metáfora para outra coisa. — Petunia bem que avisou que a irmã dela era uma aberração—

Antes que ele pudesse terminar a fala, James se levantou de supetão. Ele pegou o colarinho do homem e falou em uma voz intimidante.

— Uma palavra sobre a Lily e eu farei você sair daqui gritando igual mandrágora.

Quando eles olharam para o lado, metade do restaurante estava com a atenção cravada neles. Inclusive Petunia e Lily, que já haviam voltado do banheiro. A loira sufocou uma exclamação de horror e foi na direção do noivo, que levantava-se para ir embora.

— Você é louco! Precisa ser internado! Eu nunca mais quero encontrar sua irmã e esse show de bizarrice, Petunia! — Vernon falava, assustado e estupefato. Debateu-se até chegar à saída. A noiva o seguiu e tentou acalmá-lo, preocupada com o que as pessoas pensariam.

James ficou com a cara fechada vendo ele e a mulher saíram do restaurante. Na porta, porém, Vernon bateu de cara com uma superfície invisível e tropeçou para trás até escorregar no chão com os pés presos.

Lily andou até a mesa e viu James fazendo feitiços com a varinha para que o noivo da sua irmã caísse de pernas para o alto e sua calça furasse, enquanto alguns garçons tentavam ajudá-lo e Petunia ficava roxa de vergonha.

Sentia-se tão frustrada, magoada, que apenas tomou assento e escondeu o rosto entre as mãos para esconder as lágrimas. Um aborto da natureza, era assim que Petunia considerava-a. Não importava o quanto ela se esforçasse.

Quando James percebeu que Lily estava chorando, ele largou tudo e tentou, da sua própria maneira, consolá-la.

— Lily, eu...

— Foi um fracasso, James, um fracasso. Minha irmã me odeia. — Ela desabafou, com a voz embargada. — Eu nunca irei me aproximar dela. Ela odeia o fato de eu ser uma bruxa, e meu namorado ser um bruxo. Essa era a minha última esperança de ser sua amiga novamente.

James pressionou os lábios, levantando o rosto dela e limpando a maquiagem borrada.

— Não é culpa sua, Lils. Ela nunca entenderá, porque ela é trouxa. — Ele falou, com uma voz profunda e um carinho que seguia das suas costas até os ombros. Era reconfortante. — Eles, os trouxas, nunca farão parte do nosso mundo. Sua irmã não seria a primeira a nos repudiar. Vivemos escondidos por séculos, fugindo de fogueiras... — Seu tom era baixo, quando ele se aproximou e sussurrou. — ...quando, na verdade, são eles quem deveriam nos temer.

Lily piscou algumas vezes e encarou o namorado por um longo momento. Era um pouco irônico que, alguns meses atrás, ele estivesse a chamando de "irritante", e agora ele se inclinava para beijá-la. Ela não conseguia pensar direito, as palavras da irmã iam e vinham várias vezes.

Aberração, aberração, aberração.

E não é que James tinha sua parcela de razão? Não havia motivos para se sentir intimidada por ser uma bruxa. Ela podia criar coisas incríveis, coisas que Petunia nunca sonharia.

Incrível, mágica, poderosa.


James afrouxou a gravata e jogou o paletó nos ombros. Entrava sorrateiramente em sua casa, esperando não fazer nenhum barulho e acordar alguém. Pensando melhor, ele duvidava que iria incomodar alguém dentro de casa. Seu pai nunca estava presente e sua mãe sempre o esperava na sala. Por isso, não ficou surpreso quando viu a Sra. Potter sentada em uma das poltronas que enfeitavam o cômodo.

— James. — Ela disse, atenta a sua movimentação. Levantou-se e foi na direção do garoto. — Onde estava? Fiquei preocupada.

James havia passado as últimas horas na presença da sua namorada e da família dela. Ele preferia não recordar o jantar desastroso com Petunia Evans e Vernon Dursley. Não adiantava o quanto ele se esforçasse, nunca entenderia metade das coisas às qual eles se referiam.

Trouxas, ele pensava e resistia à vontade de revirar os olhos na frente de Lily.

— Saí com alguns amigos. — Respondeu, passando reto por sua mãe para ir na direção das escadas.

— Mas, querido, você não tem amigos. — Não havia maldade no seu tom, apenas uma genuína preocupação materna.

James se virou e encarou a mãe. Euphemia Potter tinha uma aparência impecável, dos cabelos bem-arrumados aos sapatos ilustrados. Ela era a mulher mais limpa com um metro e quarenta e oito que você iria encontrar em qualquer lugar. Os olhos eram grandes e arregalados, destacando-se na sua pequena estatura. Em outra época, Euphemia parecera com uma boneca de porcelana, mas a idade havia chegado e a deixado mais parecida com uma duende anciã.

Como não obteve resposta do filho, ela continuou.

— Eu andei encontrando algumas coisas no seu quarto...

— A senhora andou mexendo no meu quarto?! — James falou um pouco irritado.

— Eu só estava limpando, não queria te aborrecer. — Euphemia se encolheu, não porque estava intimidada, mas para apanhar algo do bolso. — Nós deveríamos falar sobre isso...

O batimento cardíaco de James acelerou. Se sua mãe houvesse descoberto seus mapas, ou as cartas que ele trocava, ou qualquer indício de sua ligação com o Lorde das Trevas, ele seria obrigado a fazê-la esquecer. Ela não poderia saber que ele era um Comensal da Morte.

Sua surpresa, porém, não foi um medalhão que ela tirou das vestes, ou seu livro sobre Artes das Trevas. Foi um preservativo.

— Você não me contou que tinha uma namorada. — James olhou para o pacote na mão de Euphemia com uma expressão de absoluta confusão. — É a ruiva das fotografias?

Houvera pouquíssimas vezes que James Potter havia sentido constrangimento, mas aquele momento com certeza foi vergonhoso o suficiente para um rubor atingir suas bochechas. Era sua mãe questionando a sua vida sexual. Ela ainda havia visto as fotos que ele tinha tirado com Lily um pouco antes das férias.

— Não é para mexer nas minhas coisas, mãe! — Ele falou, nervoso, e pegou o preservativo com o resto de coragem e marchou até as escadas. — Quer acabar internada novamente? Por Salazar Slytherin!

— Eu só quero que você me conte as coisas. Merlim, eu tive de adivinhar que você anda se encontrando com uma menina. — A sra. Potter murmurou, vendo o filho subir em passos duros e bagunçar o cabelo espetado. — Queria que você voltasse a conversar comigo... igual quando era meu menino...

Apesar da última fala soar baixa, James escutou. Ele parou no meio dos degraus e olhou para a mãe — a mesma que havia ensinado-o como não cair da vassoura e a detestar chapéus pontudos. Mas também outras memórias a respeito de Euphemia o atingiram e ele voltou a andar irritado para o seu quarto.

O quarto estava extremamente organizado, assim como o resto da casa. Sua mãe havia feito metade do trabalho em arrumar sua mala para o próximo semestre letivo. Todos os livros do sétimo ano estavam bem colocados, assim como as novas penas. Euphemia cuidava sempre de tudo. James nunca precisou mover uma palha dentro de casa. Quando era mais novo, achava a disposição para limpeza e proteção da sua mãe normal, mas anos depois foi descobrir que alguns chamavam isso de doença.


Lily foi muito bem recebida pelas amigas na estação 9 3/4. Emmeline pulou em cima dela e Dorcas a acompanhou em um abraço em grupo. Marlene foi a contragosto, mas todas sabiam que intimamente ela também estava feliz em revê-las. Era finalmente o sétimo e último ano em Hogwarts.

No trem a caminho da escola, os assuntos fluíam como sempre. Cada uma aproveitou suas férias da própria maneira. Marlene acompanhou o irmão dela em uma viagem para a América Latina. Dorcas fez estágio manejando pesquisas sobre Dragões na Romênia. Emmeline teve um romance de verão com um bruxo norte-americano. E Lily passou tempo com o seu namorado, sua família e sua mais nova gata: Joana.

Elas fizeram a comemoração por Lily ter sido nomeada Monitora-Chefe com sapos de chocolate e penas de açúcar. Mas a maior surpresa de todas foi quando elas viram quem iria acompanhá-la no cargo, quando ele apareceu na porta da cabine e espiou dentro.

— Oi, meninas. — James disse, com as mãos no bolso e o broche de Monitor-Chefe brilhando em seu peito.

— Por que diabos o Potter aceitaria ser monitor? — Marlene disse, vendo Lily ajeitar a saia e lançar o seu melhor sorriso de namorada apaixonada ao sonserino.

— Só para usar o banheiro dos monitores, é claro. — Ele respondeu, com um sorriso sarcástico.

— Eu me pergunto o que os professores viram em James para achar que ele seria um bom Monitor-Chefe.

— A mesma coisa que a Lily viu para achar que ele seria um bom namorado, bobinha. — Emmeline respondeu a Dorcas, deu uma piscada divertida a Lily enquanto ela entrelaçava o braço no de James.

A ruiva riu das amigas e se despediu com um aceno. Ela deixou sua gata na responsabilidade de Dorcas e começou a andar pelo corredor do vagão na companhia do namorado. Àquela altura do campeonato, todos já sabiam que eles eram um casal, que ninguém se impressionava mais com aquela visão. Lily olhou para James, captando a tentativa de parecer sério e intimidador na frente das outras pessoas. Mas apenas ela, como ninguém, percebia que aquela expressão desinteressada era apenas fachada. James reservava-a seu sorriso carinhoso quando ninguém estava olhando.

Então, a ideia dos professores verem no sonserino a mesma coisa que ela havia visto para aceitar ser sua namorada a assustou um pouco. O professor Slughorn com certeza não tinha ideia do que James podia oferecer por baixo das vestes ou o que sabia fazer com a língua em quatro paredes (ou em um lugar sem paredes, a céu aberto, escorados em uma janela ou no corredor).

— Você parece perturbada. — Ele comentou. Lily soltou uma risada nervosa.

— Pensando em como as meninas podem estar cuidando de Joana.

— Elvendork ficará bem. — James fez questão de enfatizar o nome, o qual ele sabia que Lily detestava. Ele tentou por muito tempo fazer com que Lily batizasse o animal com o nome que ele tinha inventado, mas ela preferia homenagear Joana D'Arc.

— Já disse para não chamar Joana de Elvendork.

— Por que não? É unissex.

Eles teriam continuado com as provocações, mas uma menina que vinha do lado contrário esbarrou neles. Lily viu Mary MacDonald segurando a gaiola da sua coruja.

— Desculpa, eu não vi por onde andava! — Ela falou, para depois assoprar a franja para longe dos olhos.

Mary era da Grifinória, um ano mais nova que Lily. Ela tinha cabelos longos e espessos que sempre caiam sobre a sua face. Era uma menina esforçada e parecia sempre estar atrasada. A ruiva tinha uma especial afeição pela garota, pois havia dois anos em que ela fora vítima de uma brincadeira envolvendo magia negra, tendo Mulciber e seus amigos como autores dela. Inclusive Severus Snape estava envolvido, o acontecimento foi crucial para o desandamento da amizade entre os dois.

— Tudo bem, Mary. — Lily sorriu, e então olhou para onde a garota havia saído. Uma cabine com alguns rostos conhecidos de sonserinos. — Você está tendo algum problema?

— Não, só um pessoal que me expulsou da cabine, mas eles só fazem isso para me chatear. — Ela disse, desistindo de tirar o cabelo da frente do rosto. Mary então pareceu notar a presença de James. — Nossa, vocês são Monitores-Chefes, parabéns.

— Obrigada.

Os sonserinos encararam a monitora de volta. Era um pouco previsível como eles pareciam fúnebres e macabros. Uma loira, com pernas compridas e um sorriso malicioso acenou na direção de James. Lily fingiu não ter visto e nem se permitiu ter ciúmes.

— Eu já vou indo, até mais. — Mary se despediu e abriu caminho entre os dois, alheia a qualquer outra coisa.

Quando Lily se virou para James, surpreendeu-se ao ver o olhar dele cravado onde Mary estava há poucos segundos, e não na sonserina dentro da cabine. Ele estava com os ombros tensos e uma lábios retos.

— O que foi? Você parece perturbado. — Perguntou, colocando a mão sobre seu peito.

— Não estou. — Ele respondeu austero, voltando a andar na direção do vagão onde ocorreria a reunião dos monitores e sem dar muita brecha para conversar.

O problema de namorar James Potter era que quase nunca era possível adivinhar o que se passava em sua cabeça.


Os dias foram se passando, e logo eles nem se lembravam mais como era estar fora das paredes de Hogwarts. As casas ainda tinham suas rivalidades, os primeiranistas sempre pareciam meio perdidos, os fantasmas ainda rondavam os corredores sem rumo, os quadros ainda fofocavam e o zelador ainda praguejava contra os alunos, enquanto esses fugiam de uma detenção.

Eles criaram suas próprias rotinas. James tinha suas obrigações de capitão do time de quadribol da Sonserina e, quando não estava nos treinos, precisava exercer a função de monitor. Além de frequentar todas as aulas e conciliar tudo isso com os estudos. Deveria ser esgotante, mas ele sempre aparentava disposto no final da tarde para dar atenção a Lily. Quando eles não tinham tempo para se encontrarem, alguns bilhetes furtivos eram trocados e beijos roubados.

O melhor aspecto de toda essa agitação diária eram os dormitórios dos Monitores-Chefes. A ala masculina era no segundo andar, e a ala feminina era no final do corredor. Eles tinham o próprio salão comunal e quarto onde poderiam deixar suas coisas. Não era permitida a entrada masculina no dormitório da Monitora-Chefe, mas nada impedia Lily de fazer umas visitas a James quando anoitecia.

Eles nunca passavam a noite inteira juntos, mas ainda valia os momentos em que ela podia admirar a sensação de ter James abraçando-a em uma cama, mesmo sem jamais tê-lo visto dormir em sua presença.

Outra amada vantagem era poder entrar no banheiro dos Monitores. E era aquilo mesmo que ela fazia, dando passos leves e trancando a porta atrás de si com um feitiço.

O vapor já embaçava a visão, mas ela conseguia enxergar muito bem o seu namorado na banheira, com a água quente até os seus ombros e a as bochechas coradas por causa do calor.

— Oi. — Ela disse, tirando os sapatos e deixando-os de lado, para sentir a umidade nos seus pés descalços.

— Você se atrasou. — James disse, com o olhar atento quando ela começou a tirar o casaco e desabotoar a blusa.

— Estava resolvendo assuntos. — Lily se despiu da blusa e fez o sutiã seguir o mesmo caminho, fitando-o por baixo dos cílios e com o verde das suas íris se intensificarem em libido.— Meu namorado não pode saber que eu estou aqui.

— Ah, é? Ele tem ciúmes? — Mesmo sem os óculos de grau, ela ainda sentia o olhar de James queimando a sua pele.

— Sim. Você não imagina o que ele faria se me visse tirando a roupa da frente de outro. — Suas mãos deslizaram até a saia e ela a deslizou para baixo, ficando apenas com a sua roupa íntima. Andou até a beirada da banheira, mas quando foi tirar a calcinha, acabou escorregando. Felizmente, Lily se equilibrou antes de tombar com tudo no chão. Quando ela olhou para James, encontrou-o rindo sem a menor intenção de esconder isso.

— Haha, tudo bem, pode rir, eu nunca mais tentarei ser sensual mesmo. — O rubor que atingiu sua face espalhou-se para seu peito. Não havia lugar para ela se esconder, por isso afundou-se na água quente da banheira e fingiu que nada havia acontecido.

— Você deveria ter visto a sua cara, ruiva. — James falou, divertido pela cena. Não deveria ser todo dia que ele tinha a oportunidade de ver Lily escorregando e ficando tímida por causa disso.

— Você não viu nada, míope. — Lily jogou um pouco de água na direção dele e mergulhou o corpo até apenas os seus olhos ficarem à mostra.

James continuou com um sorriso bobo, até ela se render e acabar indo na sua direção. Entrelaçou os braços no pescoço dele e mordeu seu ombro.

— Eu achei sua escorregada extremamente sexy. Estou excitado.

O comentário dele a fez rir um pouco.

— Não é grande mérito, você fica excitado com tudo.

— Só quando envolve você.

Não havia como ficar chateada com ele. Ela achava que a seriedade de James, o sorriso debochado e a testa franzida eram excepcionais charmes do namorado. Ele arqueava a sobrancelha em desafio e parecia pronto para soltar alguma frase que acabaria machucando os sentimentos de alguém. Mas não tinha como competir quando James parecia verdadeiramente feliz, com um sorriso que rasgava o seu rosto e fazia aparecer duas covinhas quase imperceptíveis. Não havia como ele parecer ameaçador naquele cenário.

E à medida que o conhecia, Lily se encantava cada vez mais. Não apenas por ele ser diabolicamente atraente, mas por ter sempre boas intenções. Escondia tudo atrás de uma personalidade detestável e era difícil não perder a paciência com sua falta de tato com as pessoas. Só que tudo parecia tão certo quando James decidia bancar o bom samaritano. A função de Monitor-Chefe contribuiu para que mais momentos como estes surgissem.

— Ah não. — Lily falou de repente.

— O que foi? — James pareceu realmente preocupado, procurando alguma resposta em seu rosto. Ela deu um suspiro dramático.

— Acho que eu te amo.

James piscou surpreso pela declaração, mas não ficou incomodado. Era a primeira vez que o verbo "amar" surgia entre os dois. "Eu te amo"s eram raros, preciosos, que eles concordaram em expor quando realmente fossem preenchidos pelo sentimento. Era o calor que surgia entre os dois, o coração que batia mais forte e os pensamentos tomados por seus momentos juntos.

Lily amava James, já estava fora do seu controle.

— Eu também. — O sonserino a puxou pela cintura e disse, sincero. Ela prendeu a respiração. — Eu também acho que você me ama. Quer dizer, olha pra mim, é difícil não amar.

Lily tentou desvencilhar do seu abraço e fez uma cara feia, decepcionada.

— Porém, — James continuou, não permitindo que ela se afastasse. — Eu tenho certeza de que te amo, ruiva. Para falar a verdade, eu nunca imaginei que fosse gostar tanto de alguém como eu gosto de você. Não achei que fosse possível querer ficar ao lado de uma pessoa, e pensar nela o tempo inteiro.

Ela levantou o queixo para lançar um olhar diferente para o sonserino. Ela também não estava esperando por aquela declaração, mas seu coração se encheu de alegria em vê-lo falar sobre seus sentimentos de uma forma verdadeira. Mesmo que fosse necessário alguma dose de veneno para tomar coragem para isso.

Lily aproximou seu rosto do dele e extinguiu a distância entre seus lábios, beijando-o por um longo momento.

— Fala de novo que você me ama. — Ela disse em voz baixa, após eles se afastarem minimamente.

— Eu te amo. — James sussurrou.

— De novo.

— Eu te amo, ruiva.

— De novo.

— Apesar de odiar repetir as coisas, eu continuo te amando.

Eles voltaram aos amassos, com os corpos molhados cada vez mais ansiosos para serem tocados. James a levantava, e Lily segurava-se com força ao corpo dele, seus peitos desnudos se tocando. Ela sentiu a extremidade da banheira e uma das torneiras tocando seu ombro à medida que o beijo ficava mais ardoroso, e o calor se fazia presente. Ele desceu uma das mãos para acariciar sua coxa, então voltando a subir até encontrar sua...

— James, espera...

O sonserino, relutante, parou de movimentar a mão e olhou para ela.

— Agora? Sério?

Lily encolheu o ombro e olhou em volta, alerta.

— Eu estou com a impressão de estar sendo observada, você não está? — Ela tentou procurar por alguma movimentação suspeita, mas tinha certeza de que havia trancado a porta.

— É só um fantasma do banheiro. Vamos dar um real motivo para a Murta-Que-Geme carregar esse nome.

A ruiva jogou a cabeça para trás e gargalhou.

É, ela amava mesmo James Potter.


James passou o dedo pelo cabelo úmido do banho recém tomado no banheiro dos monitores. Sentia-se relaxado, com um sorriso puxando os cantos da sua boca. Ele tinha mesmo se declarado. Falado que a amava profundamente. E o sentimento era verdadeiro.

Se, alguns meses atrás, alguém dissesse que James olharia para o seu próprio reflexo no espelho do Dormitório do Monitor Chefe e pensaria a respeito de uma certa ruiva da Grifinória, ele provavelmente iria soltar alguma azaração.

Tentou se lembrar de como era sua vida antes de Lily Evans. Ele era sozinho, maldoso, muito mais arrogante. Ele separava as pessoas entre as que eram dignas ou não de sua atenção. Tratava sua antiga namorada como se estivesse fazendo um favor em estar
com ela. Agora, ele se tornara um maldito apaixonado que tentava não demostrar o seu pior lado o tempo inteiro.

Nem sempre James Potter foi um garoto manipulador e egocêntrico. Ele costumava ser uma criança bem solitária.

James passou os dedos pelo cabelo novamente e ajeitou os óculos tortos antes de andar pelo quarto e puxar sua mala de debaixo da cama. Suas roupas já não ocupavam espaço, apenas alguns artefatos que ele preferia deixar na segurança da bolsa. Algumas fotos e anotações se misturavam a penas, cartas, galeões. Abriu o fundo falso e de lá tirou o medalhão.

Deitou-se na confortável cama que o Dormitório do Monitor proporcionava. Os olhos de James ainda estavam fixos no medalhão, a joia esverdeada que parecia brilhar maliciosamente para ele.

Ainda não conseguia entender a intenção de Voldemort com tudo isso. Mesmo ele se relacionando com uma sangue-ruim, o Lorde ainda o confiara um objeto de tamanha significância. Deveria haver algo por trás, algum plano que James desconhecia. A cada ano que se passava, Voldemort parecia mais sádico, como se estivesse brincando e esperando que James correspondesse o jogo.

Colocou o medalhão embaixo do travesseiro, ponderando qual seria sua cartada para o Lorde das Trevas. Não percebeu quando caiu do sono, ou quando seus pensamentos se misturaram com um sonho.


As mãos de James subiam pelo corpo de Lily, apertando em lugares estratégicos. Ela parecia se derreter, puxando-o pelos ombros e sussurrando palavras incompreensíveis. Eles se beijaram profundamente, tocando-se, afastando suas bocas apenas para respirar.

Era delicioso no momento, porém, uma dor de cabeça estranha começou a incomodar o garoto.

O sonserino olhou para cima, onde estava um enorme espelho entre o teto e a cama em que estavam deitados. Apesar do reflexo embaçado que ele proporcionava, James não conseguia desviar o olhar da imagem refletida. Era como assistir a si mesmo, mas ao mesmo tempo estar muito longe daquela realidade. Ficou tonto, sentou na cama e começou a reclamar da dor na cabeça.

— James, olha para mim. — A voz melodiosa de Lily o chamou, ele sentiu os braços dela o rodearem.

— Eu não sei... é confuso. — Ele disse, colocando as mãos no cabelo e puxando com força.

Onde diabos estavam seus óculos?

Quando ele virou para o espelho novamente, assustou-se ao ver seus olhos. Diferente do castanho-esverdeado de sempre, suas íris estavam vermelhas.

— Lily, por que meus olhos estão assim? Por que isso está acontecendo? — James perguntou, desesperado, piscando várias vezes.

— Nada está acontecendo. — Ela disse, colocando as mãos em seu rosto e obrigando-o a encará-la de frente, enquanto sorria.

Ela estava enganada, ele não era assim. Ficou com um pouco de raiva por Lily não entender, então afastou as mãos dela de si com força.

A vermelhidão nos seus olhos, a dor de cabeça, o medo, a raiva, o desespero, a confusão que fazia com que ele ficasse com vontade de chorar. Era como sentir vários sentimentos negativos. Por debaixo da camisa do uniforme, a tatuagem queimava. Ele começou a suar, e sentiu um desejo muito forte de isolar de tudo aquilo que o fazia mal.

Deitou-se no colchão, contorcendo o corpo na tentativa de aliviar toda aquela aflição e combustão de sentidos.

Quando abriu os olhos, não estava mais na cama, Lily não estava presente, muito menos o espelho cabuloso. Ele estava preso em algum tipo de cúpula, com um vidro espesso que o impedia de sair. O ar estava sufocante e sua visão começou a ficar desfocada. De alguma forma, ele não conseguia enxergar direito, mas sabia que estava preso.

James começou a bater na superfície a sua frente, mas a escuridão aos poucos se fez irreversível. Não importava o quanto de força ele usasse, não conseguia sair de lá.

Pois estava sozinho.

James abriu os olhos de supetão, recuperando o fôlego em uma ofegada. Piscou algumas vezes e focalizou o quarto do Monitor-Chefe. Um enorme alívio o preencheu por perceber que as situações anteriores foram apenas sonhos confusos e estranhos. Cobriu os olhos com o braço e tentou regularizar sua respiração.

Depois de alguns minutos, ele tentou relaxar, esquecer os sonhos e levantar-se para começar mais um dia. James pulou da cama e começou a se arrumar para o treino daquela manhã.

Se existia algo sagrado para James Potter, isso era o quadribol. Era muito mais do que um esporte qualquer. Por anos, quadribol era a única coisa que fazia James Potter sentir alguma coisa, talvez o sentimento muito próximo da felicidade. Ele se arrumou e desceu até o campo onde o treino aconteceria. Meia hora depois, o time inteiro da Sonserina estava reunido.

Era seu terceiro ano como capitão. Ele nunca pegava leve com o time, sempre exigindo excelência e postura de jogador profissional. James sabia como fazer boas estratégias e liderar aquilo que gostava. O time era invicto havia anos, tudo isso pelo esforço do sonserino em manter o os jogadores em forma.

Quadribol não era apenas voar atrás de algumas bolas. Era necessário manter o corpo fisicamente preparado para ganhar mais força na hora de se equilibrar em uma vassoura. Manter a mente limpa de qualquer preocupação e se focar unicamente no esporte. Prestar muita atenção no ambiente, aprender a fazer novas estratégias e usar todos os meios como uma forma de atingir a vitória.

O importante era participar? Eles deixavam isso para os perdedores. A Sonserina jogava para ganhar. James Potter jogava para ser o melhor de todos.

Passou a manhã inteira concentrado nas novas posições. O apanhador, Regulus Black, era muito ágil e esperto. Os artilheiros faziam um bom trabalho em equipe. O goleiro estava com sangue nos olhos para derrotar as outras casas. O incomodo estava nos batedores, especificamente Amycus Carrow, que parecia empenhado em arremessar os balanços na direção de James. O capitão não poderia se deixar levar pela pirraça do garoto, e sua incapacidade de deixar os problemas pessoais fora do campo, então ignorou e usou isso como artifício para treinar suas desviadas sobre o cabo de vassoura.

Perto do horário de almoço, o treino foi finalizado com o típico discurso motivacionais de James Potter:

— Em algumas semanas será o nosso jogo contra a Corvinal. Ou não sejam idiotas de subestimar o outro time. Não façam nenhuma merda que possa os deixar fora do campeonato. Vocês estão "ok", mas "ok" não é o suficiente, por isso, é melhor na próxima semana vocês começarem a mostrar resultados mais significativos, se não teremos treinos na madrugada de domingo também. E se vocês me odeiam, como nosso colega Amycus Carrow, transfiram esse sentimento para o time adversário e massacrem eles como os gigantes fizeram com os duendes no milênio passado. Dispensados.

Os jogadores começaram a rir e reclamar, dirigindo-se ao vestiário. Antes de sair, James parou o seu batedor.

— Guarde os equipamentos, Carrow. — Disse, deixando o garoto vermelho. Ele precisava saber o seu lugar, e James ainda estava aprendendo essa didática de punição pedagógica.


James se demorou no chuveiro. A água quente batia contra as suas costas, queimando sua pele. Ele não conseguia parar de pensar a respeito do sonho daquela noite. Não se lembrava tudo com maestria, mas sabia que parecera tão real é perturbador. Sua mente, então, voltava-se para Lily. Depois viajava até o Lorde das Trevas e a Marca Negra no seu braço.

Não soube dizer quanto tempo ficou no banho, mas houve um momento onde percebeu que todos já haviam saído do vestiário. As conversas cessadas apenas deram brecha para que outras reflexões incomodassem o sonserino. James apoiou a testa no azulejo.

Ele pensou em Mary MacDonald. Nada desataria o nó de culpa que James sentia, ele precisava fazer algo para compensar a menina.

Quando saiu do chuveiro, prendeu a toalha na cintura e foi na direção dos armários. Sua surpresa foi ao ver que ele tinha companhia. Estava sem os óculos, mas era impossível não reconhecer aquele borrão.

— Carrow. — James disse, estreitando os olhos.

— Potter.

Alecto Carrow era a garota que havia o encarado no trem a caminho de Hogwarts, e também aquela que um dia James costumava chamar de "namorada". Ela estava brincando com os óculos dele, encarando-o com uma expressão de segundas, até terceiras, intenções.

— Seu irmão já saiu.

— Eu sei. Ele está meio puto com você, não que você se importe. Mas não estou aqui por causa dele.

— Por que está aqui? — Ele perguntou, ficando cada vez mais desconfiado. Cruzou os braços e tentou não parecer tão idiota com a falta do óculos.

— Eu vim fazer uma reclamação. Fiquei um pouco decepcionada porque você não tirou a camisa depois do treino, como costumava fazer. — Ele havia acabado com esse costume exibicionista desde que começara a sair com Lily. — Mas, uau, essa visão me surpreendeu. — Ela apontou para James, e ele imaginou que ela estava falando de tudo o que a toalha não cobria.

— Já viu o que precisava ver? Então vaza. Não é permitida a entrada de pessoas que não são os jogadores no vestiário.

— Até parece. — Alecto sorriu e jogou seu cabelo loiro brilhante para o lado. Levantou-se do banco e se aproximou do James. Colocou os óculos em seu rosto com cuidado, fazendo com que ele percebesse que na verdade ela carregava uma expressão de falsa provocação.

— Alecto, o que você quer?

— Não, James, o que você quer? Sabe, no começo eu não me incomodava com você saindo com uma nascida-trouxa. Mas já passaram meses, e você ainda está nesse clima. Até parece apaixonado. E se você continuar nisso, vai acabar fodendo tudo. — Ela disse, com uma convicção que sempre foi típica dela. — Mesmo você não se importando com nada, eu me importo. Eu me importo se você acabar morrendo por causa desses seus jogos, ou suas dúvidas em escolher o que você quer.

— Eu não—

— Cala a boca, eu não terminei de falar. — Alecto interrompeu-o. — Eu não só uma menina fútil, como você pensa. Mesmo que você diga "eu não preciso do seu conselho", eu sei que você precisa. — Ela deu um passo para frente e cutucou o seu peito com o indicador. — Defina. Suas. Prioridades.

James olhou para a garota um pouco surpreso. Era a primeira vez que o deixavam sem uma resposta em muito tempo.

— Terminou?

Ela arrumou o cabelo, espiou o abdome dele e confirmou com a cabeça.

— Sim.

Ele foi para o armário e começou a tirar suas coisas para se trocar, enquanto Alecto permanecia no lugar de antes. O som de um dos chuveiros pingando era a única coisa que se ouviu durante algum tempo, até Alecto desabafar:

— O irmão mais velho da Lucy Talkalot foi acusado de trair o Lorde das Trevas. Foi encontrado morto na quinta. — James olhou para ela novamente, finalmente compreendendo seu discurso.

Alecto não queria que James fosse o próximo a morrer por traição.

— Me desculpe, eu... — Ele parou de falar ao ver lágrimas nos olhos verdes da sonserina.

— Eu achava que James Potter nunca pedisse desculpas. — Ela falou com a voz embargada, antes de se virar e sair do vestiário.

Ele ficou sozinho, escutando apenas a água pingando e o choro baixo de Alecto desaparecendo a medida que ela se afastava de lá. Era tanta informação para absorver. Sentiu todos os seus escudos desabarem, seu coração bater mais rápido e a mão tremer um pouco. Era tanto para sentir, que sua mente ficou em total branco por um tempo. Ele sentou no banco e bagunçou o cabelo molhado.

— Eu também achava.


E ai? Gostaram? Lembrando que é uma longfic, e o próximo capítulo sairá Deus sabe quando slfjgknsdfkjghfsd Me falem aí o que vocês acharam por favor. Comentários são incentivos e tal. Ou suas teorias, porque eu também me interesso por elas.

Não vou estabelecer uma meta para essa fanfic, vamos deixar a meta em aberto. Mas quando atingirmos a meta, vamos dobrar a meta.