- Capítulo um –

- Engraçado encontrar você por aqui.

- Eu ia dizer o mesmo de você, Srta. Swan.

Emma desceu do capô de seu carro no momento em que avistou os faróis à distância. Em uma noite estrelada como aquela, a salvadora encontrou-se dirigindo até a barreira da cidade apenas para sentar-se em seu carro e fitar a linha laranja que demarcava o limite de Sotorybrooke. A natureza perigosa do acordo declarado a mais de um ano impossibilitava às pessoas de fora entrarem na cidade, mas ao mesmo tempo impedia quem já estava dentro de poder sair.

A princípio parecia um bom acordo: a velha proteção da maldição e a Rainha Má banida da cidade. Mas conforme as semanas passavam e a pequena cidade encontrava-se rodeada pela barreira de proteção, Emma começou a sentir-se confinada. Mais de uma vez ela cutucou a linha fina de proteção apenas para ter sua mão lançada para trás com o choque repentino que recebeu.

Então ela sentou-se e fitou o outro lado, imaginando se a barreira havia sido uma boa ideia, mantendo-a presa em um único lugar para o resto de sua vida. Ela tinha uma família lhe esperando em casa, os pais e seu filho, tudo o que ela sempre quis. Então porque ela sentia esse vazio inexplicável em seu coração? Talvez ela estivesse acostumada com isso. Talvez isso fosse algo que sempre esteve com ela, e a mera ideia de Emma Swan sentir-se completa era tão enervante que ela procurava por maneiras de sentir-se vazia.

Então quando ela avistou os faróis surgindo ao longe, faróis que não deveriam ter encontrado seu caminho para a remota cidade, Emma sentiu seu coração bater mais rápido em antecipação. Talvez o feitiço estivesse enfraquecendo. Talvez ela pudesse sair. Mas no momento em que o carro aproximou-se da fronteira encantada, ela reconheceu a Mercedes.

- Regina.

As duas moveram-se com cuidado, a linha fina as separando enquanto elas mantinham-se ao lado de seus respectivos carros a menos de três metros de distância da linha laranja.

- O que você está fazendo aqui? – Emma perguntou.

- Eu não fui informada de que a salvadora estaria de guarda para visitantes indesejados. – Regina respondeu notoriamente, puxando a barra de seu casado apertado sobre seu corpete.

- Eles não podem entrar. Nada pode.

- Estou sabendo.

Emma não conseguiu deixar de esconder o tom triste em sua voz, algo o qual Regina percebeu. O quão preso aquilo havia soado? Mas no final, a aspereza com a qual Regina falou, apenas espelhou o que a loira sentia.

- Então. O que você está fazendo aqui? – a xerife perguntou novamente.

Regina fitou a linha laranja antes de levantar o olhar para a mulher do outro lado.

- Nada. Boa noite, Srta. Swan.

Emma não a impediu quando Regina deu as costas e voltou para o seu carro, observando as luzes traseiras da Mercedes desapareceram à distância.


Após três noites, Regina retornou à barreira e permaneceu sentada dentro de sua Mercedes cada vez mais fria, a qual ela havia desligado o motor a meia hora atrás, apertando o freio com tanta força que ela teve certeza de ter derrapado os pneus contra a estrada.

No que isso havia se tornado? Ela queria isso. Ela queria um novo começo, e que outra maneira melhor de fazer isso do que se afastando das pessoas que haviam desejado sua cabeça em um espeto. Ela ainda possuía uma ligação aberta com Henry, telefonemas e e-mails eram trocados entre os dois regularmente durante o ano, mas não era a mesma coisa. Nunca havia sido a mesma coisa, desde o momento em que ela havia dirigido para o outro lado da linha.

Sua magia tinha sido lhe tirada, sua memória estava intacta, mas quando ela tinha avistado a cabeça de Henry surgindo do banco de trás do fusca de Emma, com os olhos arregalados, ela soube que não poderia deixa-lo, mesmo se isso fosse o melhor para ele. O feitiço que pairava sobre a cidade tinha dois propósitos: manter o local em segredo e manter a Rainha Má fora.

Às vezes Regina desejava que eles tivessem colocado sua cabeça em um espeto.

Ela havia parado de chorar meses atrás, quando a realidade de que nunca poria seus pés em Storybrooke novamente lhe atingiu. Ela não estava brava, não estava com medo. Tudo o que ela sentia era o vazio em seu coração crescer cada vez mais, consumindo-a no vazio ao qual ela havia sido banida.

Regina levantou a cabeça quando o som abafado de um carro à distância preencheu o silêncio da noite, e duas luzes circulares apareceram ao longe. Uma mais brilhante do que a outra, e menos torta também. Ela suspirou pesadamente e saiu do carro quando notou quem havia chegado.

- De novo, Srta. Swan?

- Eu ia dizer o mesmo para você. – Emma bateu a porta do carro com força, suspirando quando ele protestou com um rangido enferrujado. – Planejando maneiras de invadir?

Regina abriu um sorriso zombeteiro e levantou as mãos em defesa.

- Como você deve ter percebido, minha magia foi tirada de mim, e para acrescentar, eu não sou de voltar atrás em meus acordos. O que a trás aqui novamente, xerife?

Emma enfiou as mãos no bolso da jaqueta e foi chutando pedra enquanto afastava-se de seu carro, mantendo uma distância segura da barreira.

- Coisas.

- Eu estou interrompendo um ponto de troca de drogas ou um encontro romântico?

Emma revirou os olhos e parou de andar.

- Nenhum dos dois. – ela olhou como se houvesse mais para dizer, mas por fim tirou a mão do bolso e acenou. – Boa noite, Regina.

Assim que Emma virou-se para sair Regina afastou-se um pouco de seu carro, minimamente levantando a mão como que para trazer Emma de volta.

- Espere.

A xerife parou e virou-se devagar, sua expressão suavizada em interrogação.

A morena limpou a garganta e passou a mão pelos cabelos, colocando algumas mechas atrás da orelha.

- Como está o Henry?

Emma balançou a cabeça em concordância.

- Ele está bem. Você não tem falado com ele?

- É claro, mas eu só sei o que ele me conta. – disse a mulher mais velha.

- David tem ensinado a ele como empunhar uma espada.

A expressão de Regina tomou um ar preocupado, algo o qual Emma percebeu.

- Ele está bem, contudo. Sem mãos fatiadas. Ele é um pouco desajeitado, acho que herdou isso de mim.

A afirmação pairou no ar entre as duas mulheres. O silêncio alongou-se, fazendo Emma sentir-se desconfortável enquanto caminhava de costas lentamente, passo por passo. Por fim ela apontou para o fusca às suas costas.

- É melhor eu ir.

- Certo. – Regina concordou, virando-se em direção ao seu próprio carro.


As noites começaram a esquentar com a chegada da primavera, mas isso não impediu que chovesse ocasionalmente em Storybrooke, Maine. Também não impediu a cidade de parecer menor e menor a cada minuto, e com certeza não impediu Emma de acordar de outra noite mal dormida e entrar em seu carro para dirigir até a fronteira.

Essa vez ela não se surpreendeu em ver a Mercedes de Regina do outro lado da linha. Contudo, o que a surpreendeu foi perceber que a morena estava sentada no capô do carro, em meio à noite fria, fitando as estrelas no céu escuro acima delas. Regina não se moveu quando Emma estacionou o carro e desceu. A loira pegou um cobertor do banco de trás, envolveu-se nele, sentou-se sobre o capô e mirou as estrelas, assim como Regina.

Nenhuma palavra foi trocada. Nenhum "oi", "o que você está fazendo aqui?", ou acusações foram ditas. Elas apenas permaneceram sentadas na noite fria, cada uma no capô de seu carro, envoltas pela escuridão, olhando as estrelas perderem ao pouco seu brilho conforme os primeiros raios da manhã surgiam no horizonte.


- Srta. Swan. – Regina cumprimentou educadamente enquanto dirigia-se à linha da cidade. Enrugando as sobrancelhas, em seguida, ao notar a xerife deitada por comprido ao longo da linha laranja, suas mãos descansando sobre seu estomago enquanto ela fitava o céu acima. – Mas o que é que você está fazendo?

- O que parece? – Emma perguntou em um sussurro.

- Me perdoe.

Após meses alternando entre o assento de seu carro e o capô, Regina finalmente havia tido o bom senso de trazer uma cadeira dobrável, a qual ela abriu a um metro e meio de distância da loira.

- O mundo lá fora. O que está acontecendo? – Emma estava deitada tão perto da linha que um único movimento em falso a mandaria voando de volta.

Regina sorriu divertidamente.

- O aquecimento global ainda é um problema, nós agora temos comida em cápsulas e os zumbis estão erguendo-se um por vez.

Emma deu um riso abafado.

- Estou falando sério. O que passa no noticiário?

- Você gostaria de informações sobre os últimos acontecimentos, Srta. Swan?

- É sufocante, entende? Saber que existem seis bilhões de pessoas no mundo, e eu posso apenas interagir com cerca de mil delas. – Emma descansou a mão ao lado do corpo para enxergar Regina.

- Eu não sabia que você fazia o tipo de quem curte o estilo de vida em sociedade. – Regina destacou secamente.

- Bem, eu não me escrevi para viver na Twilight Zone, tão pouco. – Emma argumentou.

- Mas princesa. – Regina pronunciou seu título. – Na verdade você se escreveu.

- Não desse jeito. Eu não sabia que seria assim. – a loira voltou a olhar as estrelas. – Você ficou com a melhor parte do acordo, sabia?

Regina riu alto, gargalhando fortemente. Emma pensou que ela estivesse ficando louca, e levantou-se sobre os cotovelos, estremecendo e se afastando quando seu braço roçou a borda encantada.

- Eu me tornei a vitoriosa agora? – Regina pressionou uma mão contra o estomago conforme a risada perdia o efeito. – Meu filho está do outro lado desta linha e eu não posso vê-lo, não posso abraçá-lo, não posso lhe dar um beijo de boa noite. Tudo o que eu realizei, tudo pelo que eu trabalhei, foi em busca de minha felicidade. E eu pensei que a houvesse encontrado através dele.

Ela balançou a cabeça, uma expressão de dor surgiu em sua face.

- Mas não. Mais uma vez a Rainha Má recebeu sua punição. E a única coisa com a qual eu me importo, a única coisa que eu amo, está a uma linha de distância de mim.

Com os olhos arregalados, Emma fitou a expressão da mulher. Apressando-se em levantar quando Regina desceu da cadeira e começou a dobrá-la. Sem pensar no que estava fazendo, Emma deu um passo à frente na intenção de acompanhar a mulher, de impedi-la de ir embora, mas o feitiço não deixou que ela o fizesse, ao contrário, Emma acabou sendo arremessada a quatro metros de distância da linha. A última coisa que ela conseguiu visualizar ao levantar a cabeça, ainda um pouco tonta, foi a marca deixada pelos pneus do carro de Regina enquanto ela dirigia de volta para Boston.


Emma não se surpreendeu ao notar que Regina não voltou na noite seguinte, ou na noite após esta. Em contra partida, Emma ainda dirigia até a fronteira, não necessariamente esperando ouvir o ronco da Mercedes de Regina, mas percebendo que ela não seria contra em ter uma companhia.

Ela escutou o carro novamente após uma semana, desceu do capô de seu carro, caminhou em direção à linha e esperou a morena sair da Mercedes.

- Oi. – Emma disse timidamente.

- Srta. Swan. – Regina cumprimentou.

- Sobre a outra noite...

- Não precisa se desculpar. – a morena cortou, enquanto trazia sua cadeira para perto da borda da cidade. O mais perto ao qual ela já havia estado de testar os efeitos da maldição. Ela sentou-se com um ruído abafado e fitou o vazio ao longe.

Emma permaneceu olhando para ela por mais alguns instantes, antes de afastar-se em direção ao porta-malas e puxar de lá sua própria cadeira e cobertor, sentando-se ao lado da ex-prefeita.

- Você não está com frio? – perguntou.

- Não. – Regina respondeu. – Eu morei no Maine por mais tempo que você.

Elas se permitiram um momento de silêncio, que foi quebrado, em seguida, por Emma.

- Henry está tendo aulas de equitação agora.

O comentário prendeu a atenção da morena, e ela levantou os olhos sinalizando para que Emma continuasse.

- Meu pai, eu e Henry fomos cavalgar a alguns dias atrás. Eu não consegui nem ao menos subir no negócio, mas o garoto mostrou ter um dom natural. O cavalo o desequilibrou algumas vezes, mas ele não desistiu.

- Ele é persistente. – Regina sorriu com orgulho.

- Ele não herdou essa característica de mim. – Emma soltou um riso abafado. – Graças a Deus, que você ensinou isso a ele.

Os olhos de Regina cintilaram em direção a loira que continuou a rir.

- E então David pisou em uma pilha gigante de esterco de cavalo. Foi repugnante.

Os lábios da morena inclinaram-se em um sorriso, falhando na tentativa de esconder seu desdém.

- Mary Margaret se recusou a deixar ele entrar em casa, então eu precisei levá-lo até a delegacia e dar um banho de mangueira nele.

- Penso que o tratador de ovelhas esteja acostumado a cheirar como um animal. – Regina brincou.

As duas riram juntas na quietude da noite, até que aos poucos suas risadas foram se perdendo.

- A cidade não tem graça sem você. – Emma admitiu.

- Eu reconheço que deve ter havido uma diminuição no número de pessoas carregando tochas e forcados pela cidade. – Regina replicou.

- É verdade. – Emma sorriu. – Era legal provocar você. Branca de Neve é muito séria.

- Provocar? – Regina virou-se para encarar a loira. – Você era um mosquito irritante que se recusava a morrer.

- Literalmente. – Emma destacou, ignorando a revirada de olhos de Regina. – Pelo menos quebrava a rotina monótona em que eu me encontro agora.

- É para isso que essas excursões noturnas servem? – Regina perguntou. – Uma tentativa de escapar da vida que era tudo o que você sempre quis?

- Eu parei de ansiar pela minha família há muito tempo, Regina. – Emma disse calmamente, olhando de relance para as estrelas. – Quer dizer... Eu costumava desejar não estar sozinha. Encontrar meus pais? Henry me encontrar? Eu desisti de acreditar nisso antes mesmo de me formar no colegial.

- Claramente, você não está sozinha agora. – a mulher mais velha lembrou suavemente.

A mão de Emma escorregou para mais perto de Regina. Poderia ter sido a loira simplesmente ajustando sua posição, mas aconteceu no momento em que seus olhos encontrar os da morena a qual ela havia concordado em banir.

- Sim, eu não estou sozinha.


- Você está atrasada.

- Congestionamento.

Emma puxou seu cobertor e o estendeu ao longo da linha laranja, sentando com as pernas cruzadas e inclinando o corpo para trás, apoiando-se na palma das mãos.

- Isso é algo que não sinto falta em relação à Boston.

- Senti uma vontade imensa de comer um dos bolinhos da vovó essa manhã. Os da padaria ao lado do meu apartamento não se igualam aos dela. – Regina admitiu enquanto abria sua cadeira. – Porque você está em cima de um cobertor?

- É legal. Deite-se comigo. – Emma bateu no chão ao lado com a mão.

- Acontece que há o pequeno problema de uma barreira invisível de eletricidade separando-me do seu lado da rua. – Regina lembrou a xerife.

- Sente do seu lado. – Emma disse em um tom óbvio.

- No chão? – Regina engasgou com a audácia de tal ideia, agarrando as costas de sua cadeira firmemente.

- Ninguém em quilômetros verá o traseiro definido da ex-prefeita apoiado na estrada. – a loira brincou.

- Ninguém em quilômetros para me ouvir gritar, também? – Regina perguntou com aspereza.

Emma sorriu, sentando-se ereta com um sorriso bobo no rosto.

- Porque você gritaria, Regina?

As bochechas da morena coraram com a implicação de Emma no assunto, a loira obviamente tinha interpretado mal a sua pergunta.

- Como você disse. – Emma apontou para a linha. – Barreira invisível de eletricidade.

Revirando os olhos, Regina sentou-se sobre sua cadeira com um olhar penetrante de irritação em direção à loira.

- Então. – Emma deitou-se sobre o cobertor. – Me conte sobre Boston.


- Eu te trouxe uma coisa.

A noite seguinte encontrou Emma no mesmo lugar enquanto ela enfiava a mão dentro de uma mochila ao lado do cobertor, e tirava de lá uma garrafa térmica, enchendo a tampa com chocolate quente.

- Me desculpe? – Regina questionou, olhando para a garrafa. – Eu não gosto de canela.

- É para mim. – Emma engoliu a bebida e depois guardou a garrafa de volta na mochila.

Os olhos de Regina se estreitaram ao repararem no logo familiar do restaurante da vovó estampado na sacola que Emma estava retirando da mochila.

- Eu te trouxe um bolinho. – a loira mostrou o doce. – Está meio frio agora, mas estava bom essa manhã.

Regina fitou Emma por um longo tempo, semicerrando os olhos em frente ao gesto da loira.

- Barreira invisível, Srta. Swan.

- Eu sei. – Emma retrucou de forma óbvia. – Eu ia dar uma de malvada e comer na sua frente.

- O que eu tenho certeza que você faria.

A xerife guardou o bolinho de volta na sacola.

- Você pode comê-lo espiritualmente.

Regina estreitou os olhos e esfregou o estômago em um gesto zombeteiro.

- Mm, delicioso.

- Eu sabia que você ia gostar.

Ela guardou a sacola de volta na mochila e tomou outro gole do chocolate quente antes de lamber os lábios.

- Então, o que você faz? Você conseguiu um trabalho ou algo do tipo?

A morena sacudiu a cabeça.

- Eu ainda tenho parte das minhas economias, resultantes da maldição.

- Então você só fica sentada em casa sem fazer nada o dia todo?

- Eu não chamaria aquilo de casa. – Regina sussurrou, rodando o anel em seu dedo.

Emma observou os movimentos da morena, fascinada pela honestidade daquela simples afirmação.

- Eu sei como você se sente.

Deixando de lado o comentário de Emma, Regina retirou o cobertor de sobre seus ombros e o colocou com delicadeza sobre seu colo.

- Então, o que a poderosa salvadora tem feito para se manter ocupada? Mais algum dragão para enfrentar?

Emma bufou.

- Só o Leroy, como de costume. Nada a relatar.

- Que excitante.

- Sério. – Emma disse, sentando-se ereta. – Escute o meu dia: acordar, servir o café da manhã ao Henry, se nós estivermos nos sentindo estimulados passamos na Vovó. Ele vai para aula, eu vou trabalhar. Nada de mais acontece! Eu o busco, Mary Margareth nós chama para jantar, eu assisto TV e, por fim, eu venho para cá.

- Ninguém lhe obriga a vir até aqui. – Regina disse na defensiva.

- Eu sei. - Emma falou. – É a única coisa que eu faço por mim.

Regina olhou atentamente para a loira, imaginando qual seria o seu motivo.

- Então você tenta fugir todas as noites só para ser barrada?

Ela gesticulou para a linha entre elas.

Emma balançou a cabeça.

- Não. Não mais, pelo menos.

- O que você quer dizer?

A xerife deu de ombros.

- Você percebeu que faz um bom tempo que viemos nos encontrando aqui e ainda não brigamos?

Uma expressão de surpresa tomou conta da face de Regina ao pensar no assunto.

A loira sorriu antes de esticar-se sobre o cobertor.

- Não se surpreenda.

- Mas eu estou. – Regina inclinou a cabeça alguns milímetros. – Vamos atribuir isso ao fato de que existe uma barreira entre nós.

- Você está dizendo que preferia que não houvesse? – Emma perguntou em um tom divertido, movendo a cabeça em indagação.

- Se não houvesse uma barreira e nós acabássemos por brigar, eu tenderia a causar outro hematoma nesse seu rostinho bonito.

- Você acha o meu rosto bonito?

Regina revirou os olhos e bufou.

- É uma expressão, Srta. Swan.

- Sei... É um elogio. Como está o clima em Boston?

- Eu não quero saber. – Regina resmungou.

Emma sorriu, trazendo os joelhos para cima e descansando os cotovelos neles. Antes que ela pudesse dizer algo mais, o telefone tocou. Lançando um olhar de desculpas em direção á Regina, Emma apressou-se em atender.

- Xerife. – ela disse com um suspiro. – Eu já estou indo.

- Dragão? – Regina perguntou.

- E um dos mais bêbados.

Emma guardou o celular e estacou onde estava. Ela olhou para o seu lugar no chão e para mulher aninhada confortavelmente na cadeira do outro lado da linha. Por fim dirigiu um olhar cansado para a morena antes de sacudir a mão e começar a ajuntar seus pertences. Carregando a sacola um tanto amassada nas mãos, Emma acenou com a cabeça.

- Vejo você daqui a pouco?

Regina ofereceu um sorriso fraco, mas que não deixava de ser um sorriso afinal, e acenou em resposta.

Emma retornou duas horas depois esperando que Regina ainda estivesse lá. Ela não conseguiu entender o porquê sentiu-se tão desapontada ao perceber que ela não estava.