Oi, meninas.

Estou meio atrasada na att, mas meu note pifou semana passada e só saiu da assistência hoje.

Em resposta a algumas meninas que me perguntaram em qual o livro essa fic é inspirada, digo que a história é original, não usei nenhum livro para me inspirar ou basear a história. Tudo o que acontecer com os personagens, é culpa minha! hehehehe

Espero que gostem desse cap. (;


Capítulo 3

Eu já imaginava que o dia de hoje seria um martírio, mas nem de longe estava preparada para o que realmente estava acontecendo. Quando eu o vi parado em minha porta, por um momento, perdi o fôlego e minhas pernas enfraqueceram. Ele estava lindíssimo com um smoking elegante, totalmente concentrado em sua irmã e mal notou minha presença.

Enquanto ele aconselhava Tinker a ser cuidadosa no volante, eu aproveitei para realmente olhá-lo. Seu rosto era bonito e selvagem, suas feições e sua boca eram esculturais e sua postura parecia até arrogante de tão confiante. De relance, notei o profundo azul de seus olhos e eu só queria mergulhar naquele oceano límpido e de lá nunca mais sair.

Eu fiquei imaginando como seria seu corpo e músculos por debaixo daquela roupa e me arrepiei quando ele colocou as mãos em sua cabeça, deixando seus músculos tensionados e mais evidentes.

Meu Deus! Esse homem não devia saber o poder que exercia sob as mulheres. Ele seria capaz de despertar em qualquer mulher um desejo animal de acasalar através de seu corpo poderoso. Entrelacei os dedos das mãos impacientemente, repreendendo meu desejo de tocar cada partezinha daquele homem e desenhar figuras imaginárias em seu abdômen, que com certeza, era definido e quente.

Respirei fundo, tentando sair de meu transe sexual inapropriado e me aproximei dele. Assim que parei ao seu lado, pude sentir um calor inexplicável exalando de seu corpo, além de um cheiro maravilhoso de almíscar misturado com um leve toque amadeirado. Poderia jurar que ele estava usando Dior e aquilo me desconcentrou ainda mais. Aquele homem de smoking, com aquele cheiro impecável e tentador era um tremendo afrodisíaco para mim e eu precisava me lembrar de que ele não estava ali por vontade própria.

Eu sabia que ele tinha reparado em minha proximidade, mas esperei que tomasse a iniciativa. Ele se virou para mim lentamente, quase que em câmera lenta, mas seu olhar se fixou em meus pés e por lá ficou por algum tempo. Comecei a ficar incomodada com a estranheza da situação, mas assim que seus olhos percorreram meu corpo dos pés à cabeça, praticando me despindo, tive que me apoiar no batente da porta para me equilibrar.

Puta que pariu! Nenhum homem tinha me olhado dessa maneira antes, mas eu decidi que aquele era o meu novo olhar favorito. Engoli seco e sabia que meus olhos estavam arregalados, assim como os dele. Dos meus lábios, um pequeno cumprimento involuntário saiu, mas eu sinceramente não sabia o que fazer em seguida.

Dei um passo para frente, sem saber exatamente os sinais que meu cérebro estava mandando ao meu corpo. Acho que iria estender a mão e cumprimenta-lo formalmente, assim como faço com meus clientes. Mas, antes que pudesse concluir qualquer ação, percebi que ele se afastou para trás instintivamente assim que eu me aproximei.

Foi só então que me lembrei de que ele era o Robin, o estranho irmão não-me-toque de minha amiga. Caramba! O cara não gostava de ser tocado e minha primeira reação foi justamente essa. Onde eu estava com a cabeça? Isso seria muito mais difícil do que eu imaginava, porque aquele homem tinha sido esculpido para ser tocado. Talvez eu devesse voltar para dentro de casa e procurar por alguma corda ou fita adesiva para amarrar minhas mãos e garantir que elas ficassem longe daquele cara enquanto eu estivesse próxima a ele.

Então, seus lábios se mexeram, sua mandíbula enrijeceu e juro que duas covinhas, uma de cada lado de seu rosto, apareceram. Puta que Pariu! Definitivamente, eu deveria amarrar minhas mãos antes que cometesse uma loucura.

Meu momento mágico ficou ainda mais real quando escutei sua voz. Seu timbre e sotaque eram peculiares e aquilo me deixou ainda mais excitada. Ele disse algo sobre o meu vestido estar rasgado e eu sorri genuinamente ao ver sua inocência. Ele não poderia ser mais fofo. Aquele homem era o sonho de toda mulher e talvez Tinker tivesse exagerado quando o descrevia.

Mas, então, meu momento mágico se acabou assim que percebi seu olhar reprovador. O que tinha de errado com o meu vestido para ele fechar a cara daquele jeito? Um cara normal teria elogiado, mas não ele, que continuava a me fitar e balançar a cabeça em negação. Essa foi sua única reação e mais nem uma palavra saiu de sua boca. Fiquei parada por alguns instantes, esperando que ele fosse fazer ou falar algo, mas diante de sua apatia, virei minhas costas e comecei a caminhar em direção ao seu carro antes que eu falasse alguma merda e piorasse ainda mais a situação entre nós.

Quando não escutei seus passos me seguindo, olhei para trás e praticamente gritei algumas palavras sobre meu ombro ao ver seus olhos arregalados encarando minhas costas. Que cara esquisito!

Depois de mais um tempo imóvel, ele saiu cambaleando pelo jardim e eu fiquei esperando que pelo menos um gesto de gentiliza partisse de sua parte. Ao perceber que ele passou por mim como um trovão e se sentou no banco do motorista, me deixando do lado de fora, percebi que gentiliza não era uma palavra que fazia parte de seu vocabulário.

Agora eu estava bufando de raiva. Que grosseirão! Minha vontade era dizer poucas e boas assim que me sentei no banco do passageiro, mas parecia que ele estava totalmente alheio à situação, batucando alguma música imaginária no volante, e é claro, evitando totalmente qualquer contato visual comigo.

"Então é assim que vai ser?" Eu praticamente o fuzilei com o olhar, mas ele simplesmente acelerou o carro e não me dirigiu a palavra novamente.


Que situação desconfortável, meu Deus!

Apenas os barulhos do vento lá fora e do motor do carro rompiam o silêncio constrangedor que pairava entre nós. Tentar conversar com o grosseirão não iria adiantar, pois até o momento ele mal tinha aberto sua boca. Eu não iria aguentar ficar mais um minuto calada ou sem me mexer. Não sabia exatamente qual a distância que ainda tínhamos que percorrer até a fazenda do tio do cowboy, mas há trinta minutos ninguém havia dito uma só palavra. Eu precisava fazer algo, senão iria explodir.

E como sou a pessoa mais sortuda do universo, estava apertadíssima. Precisava fazer xixi urgentemente, pois minha bexiga estava explodindo. Pensei em pedir para ele parar seu carro imbecil para eu descer e me aliviar ali mesmo na estrada, mas o que ele pensaria de mim?

Olhei à frente na estrada à procura de civilização. Estávamos no meio do nada, em uma estrada de terra batida e não consegui avistar nem um mísero posto de gasolina durante o percurso. Precisava desviar minha atenção para qualquer outra coisa que não fosse minha bexiga latejante e foi então que vi o moderno aparelho de som instalado no carro. Pelo menos uma música poderia deixar o ambiente menos dramático e distrair minha urgente necessidade fisiológica.

Curiosa em saber qual o tipo de música que aquele troglodita escutava, liguei o som e selecionei a função usb. Instantaneamente, meus ouvidos foram invadidos por um potente som eletrônico e eu quase pulei de meu assento ao sentir a potência do som alto. Quase não acreditei que algo além de country ou sertanejo universitário pudesse tocar naquele carro.

Uau! Parecia que eu estava em uma boate, só faltavam as luzes coloridas piscando no teto do carro e o gelo seco saindo das frestas. O som poderoso de David Guetta ecoou alto e potente em meus ouvidos. Se não fosse por minha urgência em fazer xixi, estaria me remexendo como uma doida agora. Dane-se o que ele iria pensar de mim, já que não tinha virado seu rosto em minha direção desde que sentara atrás daquele volante, dirigindo e achando que era o poderoso deus do automobilismo.

Ao me virar para o lado, reparei que ele estava dizendo alguma coisa, mas eu não consegui entender uma só palavra. Talvez o som estivesse muito alto, mas além de eu não encontrar o botão de volume daquela coisa hiper mega moderna, estava começando a achar novamente que irritá-lo seria minha melhor saída para não explodir. Afinal, ele não estava fazendo nenhuma questão em ser pelo menos agradável.

Decidi que aquele era o momento de colocar o plano A em movimento e deixá-lo tão irritado quanto eu estava. Era arriscado, porque o cara era mais estranho do que eu imaginava. De longe e de boca fechada, ele era maravilhoso, o homem dos sonhos de qualquer mulher. Mas, assim que abriu a boca e agiu – ainda estava agindo – daquela forma, aquela figura perfeita que imaginei dele em poucos minutos parado na porta, se desfez tão rapidamente quanto a criei em minha mente.

Claro que ele reprovaria meu comportamento com aquele olhar sexy...Não! Julgador, olhar julgador, que com certeza tinha reprovado meu vestido, meu corpo, minha maquiagem e minha mera existência. Ele era um idiota! Mesmo quando eu estava me esforçando para ser amigável e simpática, ele continuava agindo como se eu não existisse ou fosse uma criatura de outro planeta que portasse alguma doença contagiosa, e que só de me olhar ou falar comigo, adquiriria um vírus mortal.

"Hã?" Coloquei uma das mãos no ouvido e me inclinei um pouco em sua direção, tentando escutar o que ele estava dizendo.

"Não mexa nas minhas coisas!" Ele gritou e eu escutei, mas fingi que não tinha entendido e continuei a provoca-lo.

"O quê? Não estou te ouvindo!" Gritei ainda mais alto, tentando segurar minha risada de satisfação ao ver a cara de irritação que ele estava fazendo.

"Já disse que não gosto que mexam nas minhas coisas!" Ele disse e desligou o som do carro imediatamente.

"Até aonde eu saiba, você não gosta que mexam em você..." Eu apontei meu dedo indicador em direção a ele.

"Não nas suas coisas." Me inclinei para frente e liguei o som novamente. Aquilo seria divertido. Eu também poderia ser teimosa e irritante quando queria, talvez até mais que qualquer outra pessoa.

"O que serve para mim, serve também para minhas coisas." O matuto novamente desligou o som com um gesto mais bruto, dessa vez bufando.

"Então agora você compreende minha língua?" Ele dirigiu por mais de meia hora e nem sequer deu um pio. Agora ele estava disposto a conversar, aliás, discutir comigo e me repreender por ser tão rebelde?

"Que merda você quer dizer?" Ele disse olhando para mim com um olhar indagador. Eu não consegui evitar um sorriso ao perceber que ele genuinamente não tinha noção de seu comportamento inadequado e de como isso poderia afetar as pessoas.

"Achei que você tivesse problemas para se comunicar também." Finalmente eu comecei a rir, a rir de verdade, fazendo minha bexiga arder ainda mais.

"Quanto menos conversa, melhor." Ele desviou o olhar e se concentrou na estrada a nossa frente novamente, e eu pude perceber que seus dedos estavam segurando o volante com mais força do que o necessário.

"Você é muito esquisito." Bufei e encostei-me ao assento do carro.

"Você não é a primeira e nem a última pessoa a me dizer isso." Ele disse e pude jurar que vi um sorriso cínico no canto de seus lábios. Então ele estava achando engraçado me provocar também? Tudo bem, nós dois poderíamos jogar esse jogo.

"Quais outras bandas você gosta?" Abri o porta-luvas do carro e comecei a revirar seu porta CDs.

"Nada de Billy Nelson?" Coloquei o porta CDs no meu colo e fui investigando seu gosto musical. Fiquei surpresa e intrigada ao encontrar vários CDs de rock e até mesmo alguns de MPB e lounge.

Pude ver de relance ele tirar sua mão direita do volante e esticar em minha direção. Por um momento, eu gelei. Será que ele iria tocar em mim? Mas, quando percebi sua verdadeira intenção, virei um pouco meu corpo de lado no assento e escondi o porta CDs no meio das minhas pernas. Duvido que ele teria coragem de colocar a mão lá.

Continuei minha empreitada a procura de mais CDs que denunciassem seu gosto musical. Por um lado, eu estava extremamente curiosa em saber um pouco mais sobre esse cara, e por outro, precisava distrair meu xixi iminente.

"Achei!" Exclamei quando enfiei uma de minhas mãos no vão entre a porta e o banco do passageiro. O cara gostava mesmo de música, já que tinha porta CDs escondidos por todo o carro.

"Veremos se estou certa." Abri o porta CDs recém-descoberto e meu queixo praticamente caiu quando me deparei com a seleção musical que dentro dele se escondia.

"Já te disse pra parar com isso." Ele me repreendeu novamente, ainda sem olhar em meus olhos. Puta merda! O que mais eu precisaria fazer para esse cara me encarar? Eu queria conhecê-lo, por mais estranho que isso soe. Dos caras com quem eu tinha saído até agora – e não eram muitos, já que eu podia contar nos dedos de uma mão e ainda sobravam alguns dedos – nunca havia sentido o estranho desejo por algo mais. Sempre tinha sido aquela coisa automática: enquanto alguns homens foram legais e mantiveram conversas agradáveis, outros só queriam me levar para cama e me comer. Mas, com esse cara era diferente. Primeiramente porque não era um encontro, ele claramente não gostava de mim e muito menos queria me levar para cama. Depois, ele tinha o tal problema de relacionamento e preferia se isolar da sociedade a ter que conversar com quem quer que fosse.

Mas, eu sentia uma necessidade inexplicável de me aproximar, como um grande imã me atraindo para o campo magnético dele. Quanto mais o imã me atraia, mais eu sabia que isso seria completamente inadequado. Minha mente voou para um momento onde eu estava completamente apaixonada por ele, mas ele seria inalcançável para mim. Eu iria me machucar muito. Nunca tinha sofrido por amor, mas se me envolvesse com ele, certamente sofreria, e muito.

Bufei de irritação. Eu não deveria estar pensando nessa loucura. Eu mal o conhecia, ele me irritara até agora e não tinha demonstrado nem um pingo de afeto ou interesse. Deus! Eu deveria estar muito carente para pensar em uma merda dessas!

Por mais que tentasse desviar meus pensamentos para algo mais racional, algo dentro de mim queria saber quem era o Robin por trás daquilo tudo. Eu não era uma mulher muito experiente e talvez por esse motivo eu estivesse sendo ingênua. Mas, pela primeira vez na vida, eu queria conhecer um homem e não somente sair com ele para aliviar meu tesão. Porém, essa tarefa seria extremamente difícil, já que ele mal desviava a atenção para mim. Senti-me uma idiota, incompetente e quis pular do carro no mesmo momento em que meu cérebro registrou todos esses pensamentos malucos.

"Mas o que? Roxette?" Perguntei ao encontrar um CD de uma de minhas bandas favoritas e também na intenção de esquecer todas as merdas que estavam pairando em meu cérebro alucinado. Caralho! Eu nem poderia culpar a bebida desta vez!

"Então você é grosseiro, mas é romântico?"

"Eu não sou romântico." Ele enfatizou.

"Mas, é grosseiro." Continuei minha provocação, na intenção de receber mais informações em troca, nem que fossem mais grosserias.

"Essa parte eu não neguei."

"Tenho certeza que você tem um CD do Luan Santana escondido em algum lugar desse carro." Comecei a passar a mão no carpet embaixo do meu banco e depois me ajoelhei no mesmo, inclinando meu corpo para a parte traseira do carro e procurando por algum segredo indiscreto no banco de trás.

"Dá pra sentar e sossegar esse facho?" O cowboy advertiu e eu senti um pouco de preocupação em sua voz. O carro ainda estava em movimento e eu estava me inclinando por entre os bancos para alcançar uma mochila no banco traseiro. Será que se ele freasse repentinamente por conta de uma vaca que cruzasse a estrada e eu voasse de costas pelo para-brisa, ele sentiria algum remorso? Um frio percorreu minha espinha após esse pensamento, enquanto alguns flashes do acidente que sofri no passado invadiam minha mente.

Eu não era uma pessoa impulsiva, mas meu comportamento de hoje estava refletindo justamente o contrário. Talvez aquele homem despertasse isso em mim. Às vezes eu invejava a espontaneidade de minha melhor amiga e sua despreocupação em deixar a vida a levar. Sempre quis ser mais despojada, mas minha situação nunca permitiu. Eu sempre fui a CDF que estudava e lia livros enquanto os outros se divertiam em boates. Não me arrependo, mas às vezes gostaria de sentir um pequeno gostinho do que a vida poderia me proporcionar se eu simplesmente me deixasse levar por ela e vivesse intensamente e sem preocupações. Além disso, naquele momento eu estava sentindo um forte desejo de desafiar o homem gostoso e grosseiro de smoking tentador.

"Você tem livros aqui atrás?" Ao passo que eu estava tendo pensamentos loucos sobre como viver minha vida, abri sua mochila, encontrando para minha surpresa, vários livros lá dentro.

"Já te disse pra não mexer nas minhas coisas." Ele tentou pegar o livro assim como tentou pegar os CDs, mas como anteriormente, eu me esquivei com sucesso.

"Eu mexo nas coisas." Tenho certeza que disse essas palavras portando um semblante de criança travessa no rosto. Quanto mais ele não quisesse que eu o conhecesse, mais vontade eu tinha de conhecer aquele cara por trás da máscara que eu sabia que ele carregava consigo.

"Então mexa nas suas coisas, não nas minhas!" Ele esbravejou, mas eu estava tão confiante em minha missão, que mais uma vez ignorei seus protestos. Ele tinha algo dentro de si que eu precisava ver, que precisava conhecer. Eu necessitava ver além daquela figura assustadora que ele portava para todas as outras pessoas. Senti que ele não era assim, ele era muito mais. Porém, tinha receio de se revelar às pessoas e ser julgado por elas. Mas, afinal, quem não tem? Todos nós temos medos, receios e manias que tentamos a todo custo esconder da sociedade, pois sabemos que o julgamento por nossos pensamentos e erros seria cruel e não estaríamos dispostos a suportar.

Ele tinha seus segredos, medos e talvez traumas, mas eu também tinha meus medos e receios. Talvez somente a forma que manifestávamos externamente esses sentimentos era diferente: eu me continha, enquanto ele explodia. Então, decidi não desistir do cowboy esquisito e continuei remexendo em seus pertences.

"Meu Deus! Eu não acredito!" O primeiro livro que encontrei em sua mochila estava intitulado de "O Morro dos Ventos Uivantes" e eu fiquei boquiaberta. Peguei o livro entre meus dedos e me sentei adequadamente em meu banco. Esse cara estava me intrigando mais do que eu imaginava.

"Devolva isso."

"Meu amor por Heathcliff é como uma rocha eterna." Eu recitei esse verso, suspirando de propósito, sem nem ao menos abrir o livro, pois era um dos poucos que eu conhecia dessa história.

"Sabe, se você fosse um pouco romântico poderia ser Heathcliff." Eu sugeri, pois estava curiosíssima para saber sobre seu conhecimento literário. Tinker me disse que tinha pegado o gosto pela leitura e cursado Literatura por influência de sua família, mas eu nunca poderia imaginar que seu irmão grosseirão gostava tanto de ler. A julgar por sua reação, apesar da cara fechada que ele estava tentando manter, suas linhas de expressão tinham suavizado quando eu recitei o trecho do livro.

"Não, eu não poderia." Ele disse vigorosamente eu não consegui controlar um "pufff" saindo de meus lábios.

"O cara mora numa fazenda, não é nem um pouco cavalheiro e dispensa o amor de sua vida porque é muito covarde para admitir seus sentimentos por ela."

"Essa é a sua perspectiva sobre o livro." Ele ergueu a sobrancelha esquerda e continuou dirigindo, sem desviar seu olhar da estrada. Apesar de uma minúscula mudança de humor, ele ainda continuava me ignorando. O mais aceitável seria eu desistir de pressioná-lo a se socializar comigo, mas algo dentro de mim gritava exatamente o oposto.

"Então se você estivesse no lugar de Heathcliff deixaria Catherine se casar com Edgar só por achar que seria o melhor para ela?" Eu perguntei, na tentativa de prolongar um pouco mais a única conversa meio amigável que estávamos tendo desde que eu me sentei no banco de seu carro.

"Já disse que não foi bem assim que aconteceu." Ele, mais uma vez, foi curto e grosso. Quando pensei que o assunto tinha se encerrado, ele, para minha surpresa, complementou seu ponto de vista.

"Ela escolheu Edgar porque Heathcliff estragaria sua reputação e status na sociedade. Tenho certeza que ela achava Heathcliff muito estranho e complicado, por isso escolheu o mais conveniente."

"Eu nunca faria isso!" Respondi prontamente. O que ele estava pensando de mim? Eu não era uma interesseira atrás de dinheiro ou um marido bem de vida que me proporcionasse os luxos que eu nunca quis. Ele realmente não me conhecia e eu estava prestes a dizer umas boas verdades na cara dele. Eu era pobre, sempre fui, mas nunca pensei em subir na vida às custas de um milionário arrogante que me controlasse. Eu nunca deixaria que tal situação me dominasse. Preferia morrer pobre, mas com dignidade.

"Você não é Catherine." Ele disse, respirando fundo. Percebi que seu tom de voz mudou. Talvez porque ele tivesse percebido minha indignação perante à conversa, mas ele não tinha obrigação nenhuma de me conhecer, já que era a primeira vez que estávamos conversando sobre algo além de cumprimentos forçados.

"E você não é Heathcliff!" Eu tinha feito mil imagens a respeito desse cara, mas na maioria delas, ele era completamente ignorante em relação à tudo. Nunca imaginei que ele tivesse gosto por literatura e MPB. Mas, reparando na forma como falava, apesar das poucas frases que tinha pronunciado até agora, ele parecia ser um cara culto. Será que ele tinha cursado alguma faculdade? Precisava investigar Tinker sobre isso.

"Você disse agora a pouco que eu era."

"Eu disse que você poderia ser." Retruquei.

"Tudo bem." Ele, mais uma vez, tentou encerrar o assunto.

"É impossível conversar com você! Puta merda!" Exclamei, indignada.

Eu sabia que pessoas construíam muros ao redor de si mesmos, assim como eu. Isso não era apenas para manter outras pessoas fora de nossas vidas, mas para ter certeza de quem realmente se importava o bastante para destruí-los. Estaria eu disposta a destruir os muros que ele construiu tão solidamente ao redor de si? Não sei se era apta a tal feito e nem se estava disposta a tentar, mas aquela ideia fez meu coração acelerar por alguma razão que eu não sabia.

"Olha o vocabulário..." Ele me repreendeu e eu achei a coisa mais irritante – porém mais fofa – do mundo.

"Você é insuportável." Eu não menti, porque ele era realmente insuportável. Por outro lado, aquele homem machão e grosseirão estava despertando coisas em mim que eu não gostaria de admitir. Ao mesmo tempo em que estava odiando seu comportamento, queria descobrir mais sobre ele. Misericórdia! Eu não poderia estar mais confusa!

"Só não venha discutir clássicos da literatura comigo sem embasamentos suficientes." Disse Robin Locksley, o caipira nada sociável que não ligava para o que os outros pensavam, inclusive para o que eu pensava.

"Eu li a sinopse, tá legal? Nunca tive tempo ou dinheiro para comprar ou ler clássicos da literatura." Eu sempre tive vontade de ler romances, mas nunca pude me dar tal luxo. Sempre ocupei todo meu tempo com leituras acadêmicas, revirando e anotando páginas e páginas de códigos de direito. Além disso, o pouco dinheiro que ganhava com minha bolsa era destinado ao meu estudo. Os poucos romances que li, foram emprestados de alguma amiga ou de alguma biblioteca pública.

"Então no seu tempo livre você escuta Roxette e chora enquanto lê e faz poesias para sua amada?" Conseguia imaginar a figura dele, sentado solitário em uma varanda, desprezando totalmente a sociedade e mergulhado no mundo literário. Essa talvez fosse uma saída que ele encontrava para superar a falta de interação com outras pessoas e não se sentir tão sozinho, se é que ele se importava com a solidão.

"Eu não tenho nenhuma amada." Ele respondeu e involuntariamente eu suspirei aliviada. Não que eu quisesse algo romântico com ele, nunca me interessaria dessa forma por um homem com sua personalidade. Eu só queria provoca-lo e talvez conhecer um pouco mais desse cara esquisito, nada mais.

"Mas, você já teve uma Catherine?" Provoquei novamente e mais uma vez torci para que a resposta fosse negativa. Não conseguia entender meus pensamentos, eu não deveria estar pensando essas coisas. Mas, eu já estava repreendendo mentalmente qualquer mulher pela qual ele já estivera apaixonado, se esse fosse o caso. Não queria que ele tivesse uma amada. Mas, por que? Preferi não tentar responder a essa pergunta.

"Nunca tive e não pretendo ter." Sua resposta me deixou involuntariamente satisfeita. Não estava acreditando que desejava que esse homem nunca tivesse amado. Seria crueldade e egoísmo de minha parte, mas a ideia de ele nunca ter experimentado o amor, assim como eu, me deixou aliviada.

"Admita, você carrega esses livros no carro para ganhar as mulheres. Tenho certeza que você tem em sua mesinha de cabeceira a coleção completa de 50 Tons e Crossfire." Depois que insinuei, senti minhas bochechas corarem. Comecei a roer um pouco minhas unhas enquanto esperava impacientemente por sua resposta. Conseguia imaginar perfeitamente ele por cima de mim, apenas com sua camisa branca, com poucos botões desabotoados, a calça arreada até o joelho e metendo forte dentro de mim, enquanto eu atingia o orgasmo mais forte de minha vida.

Puta merda! Não deveria ter mencionado esse tipo de leitura. Um fogo inexplicável se instalou do meu ventre até o meio de minhas pernas e preferi pensar que estava sendo causado por meu xixi reprimido.

Por minha sorte, ele não respondeu. Olhei rapidamente seu perfil e não consegui decifrar o que ele estaria pensando neste momento. Seria o mesmo que eu? Por favor, alguém tira essas ideias da minha cabeça! Ele era o irmão esquisito de minha melhor amiga. Depois de hoje, não nos veríamos mais e fim de papo. Além do mais, ele definitivamente não era meu estilo de homem, eu nem tinha um estilo, na verdade.

"E então? As mulheres caem aos seus pés quando você começa com esse papinho de romances impossíveis e contos literários?" Depois de afastar um pouco os pensamentos eróticos de minha cabeça, decidi que continuar a provocação era o melhor que podia fazer.

"Eu não saio com mulheres." Ele respondeu e eu arregalei os olhos. Eu sabia que ele era gay!

"Com homens?"

"Eu não sou gay."

"Ahhhh!" Eu exclamei. Então ele era virgem, mas não era gay. Quase agradeci aos céus, pois seria um desperdício um homem desses não gostar de mulheres.

"Vai demorar muito?" Ajeitei-me da melhor maneira possível em meu assento, mas não estava mais conseguindo segurar minha urgência de urinar.

"Nós já estamos chegando."

"Quanto tempo mais?" Perguntei desconfortável, não conseguindo encontrar uma posição para me acomodar melhor.

"Já disse que estamos chegando." Ele respondeu secamente. A estrada não era de asfalto e os solavancos que o carro dava por conta do terreno irregular não estavam colaborando para minha situação.

"Quantos quilômetros teremos que ficar dentro desse carro?" Levei uma das mãos até a testa, tentando me concentrar em minha respiração.

"Até chegarmos à fazenda." Ele disse o óbvio e a cada resposta, a urgência e a irritação aumentavam.

"E isso demora quanto?" Eu estava muito irritada. Ele não tinha culpa, não sabia que eu estava quase mijando em meu vestido de festa. Mas, custava ser um pouco mais gentil em um momento de dificuldade?

"Pelo amor de Deus! Dá pra você parar de falar pelo menos por um segundo?" Ele explodiu, mas eu não estava em condições de dar a ele uma resposta à altura. Eu só precisava me aliviar o mais rápido possível.

"Então responda à minha pergunta." Eu exigi, percebendo a paciência dele se esgotar a cada pergunta que eu fazia e algum palavrão indecifrável sair de sua boca.

"A fazenda do meu tio é logo ali. É só atravessarmos outra fazenda e já estaremos lá." O tom calmo de sua voz fez minha inquietação piorar ainda mais.

"Outra fazenda de 50 quilômetros quadrados?" Não conseguia esconder minha frustração e quase gritei as últimas palavras.

"Por aí..." Ele disse e eu quase chorei de desgosto.

Eu não sabia o quanto mais teríamos que andar nesse fim de mundo até chegar a fazenda do tio dele e quanto mais eu pensava nisso, mais apertada eu ficava. Foda-se! Eu precisava fazer xixi e não seria por causa de um caipira esquisito que adquiriria algum tipo de doença renal.

"Para o carro!" Eu não aguentei mais e comecei a desafivelar o cinto de segurança. Ele foi diminuindo a velocidade do carro, mas não percebi nenhum sinal de que ele pararia o automóvel.

"Hã?" Ele me olhou com a testa franzida.

"Eu estou pedindo pra você parar o carro!" Disse entre os dentes e com as duas mãos ao redor de minha barriga, na tentativa idiota de que com isso, conseguisse segurar meu xixi.

"Por que?" Ele balançava a cabeça negativamente, totalmente alheio à minha urgência e irritação, enquanto continuava dirigindo.

"Não vou parar meu carro no meio desse fim de mundo." Enquanto ele falava, eu bufava de raiva. Que ódio desse cowboy!

"Pare esse maldito carro!" Disse nervosamente, quase gritando.

"Já está quase na hora da droga do casamento! Pelo amor de Deus!" Ele não deu a mínima impressão de que pararia o carro. Continuava dirigindo calmamente enquanto eu não conseguia mais ficar parada e apurada dentro do carro.

"Eu juro que se você não parar, eu abro essa porta e me jogo por ela." Tentei abrir a maçaneta da porta, mas infelizmente estava travada.

"Você está louca, menina?" Resmungando, ele me chamou pelo pior apelido que uma mulher poderia receber, ainda mais em uma hora dessas. Então era assim que ele me via: como uma menina.

"Eu não sou menina!" Enfurecida, eu respondi quase gritando e tentei novamente abrir a porta do carro.

"E se você não parar essa máquina agora mesmo, eu vou pular! Eu ameacei e quando olhei para o lado, me deparei com seu olhar assustado.

"Eu juro que vou pular!" Enfatizei, irritada demais para me importar no que ele deveria estar pensando a meu respeito.

"To parando, to parando!" Ele começou a diminuir a velocidade, obviamente estranhando meu comportamento.

Quando o carro foi estacionado aonde devia ser o acostamento da estrada, eu praticamente pulei para fora e bati a porta com mais força que pretendia. Agachei-me e olhei rapidamente para frente e para trás da estrada. Não notei ninguém, então subi um pouco a saia do meu vestido e finalmente comecei a me aliviar. Meu Deus! Era a sensação mais maravilhosa do mundo e eu suspirava enquanto o líquido quente esvaziava-se de minha bexiga.

"Que diabos você está fazendo?" Meu momento foi interrompido pelo forte sotaque britânico que vinha de dentro do carro. Por um momento, me esqueci de que ele poderia esquivar seu corpo por cima do banco, olhar pela janela do passageiro e me flagrar naquela posição constrangedora.

"Espere ai." Endireitei um pouco meu tronco e estiquei minha mão na altura da janela, sinalizando para ele não espiar. Bom, ele deveria ser muitas coisas, mas não acreditava que fosse tarado, nem um maníaco sexual, muito pelo contrário. O que eu temia era que ele tirasse sarro de mim pelo resto da vida se me visse agachada no meio do nada, segurando meu vestido de festa e fazendo xixi na beira da estrada. Suspirei aliviada assim que terminei, mas então me lembrei que tinha deixado minha bolsinha dentro do carro, e precisava de lenços para me secar.

"Jogue minha bolsa por cima da janela, mas não olhe aqui." Tomei coragem e pedi esse favor a ele.

"Por que?" Ele pareceu confuso, mas menos apreensivo do que instantes atrás.

"Só preciso de um lenço que está na minha bolsa." Fui curta e grossa e percebi um pedaço de sua mão pairando sob a janela do carro, segurando minha bolsa. Rapidamente alcancei-a, peguei alguns lencinhos de dentro dela e me limpei.

"O que você está fazendo, porra?" Ele perguntou assim que me ajeitei novamente no assento do carro, corada dos pés a cabeça de vergonha.

"Olha o vocabulário..." Usei a mesmo tom e frase provocatória que ele tinha proferido a mim há pouco e fechei a porta do carro.

"O que você fez?" Enchi meu pulmão de ar assim que o ouvi novamente perguntar sobre o ocorrido. Ele não iria desistir.

"Nada." Foi tudo o que consegui dizer.

"Como assim, nada?" Notei alguma coisa estranha em seu tom de voz. Será que ele sabia o que tinha acontecido e estava sendo irônico ou tentando me embaraçar?

"Você quase se jogou do carro em movimento no meio da estrada e de repente se agachou do lado de sua porta e ficou lá gemendo!" Fui obrigada a escutar seu comentário irônico. Será que eu realmente fiquei gemendo? Caramba! Provavelmente eu tinha feito isso por causa da sensação maravilhosa que senti ao meu aliviar.

"Continue dirigindo, tá legal?" Resmunguei, tentando ignorá-lo.

"Você tá passando mal?" Sua pergunta veio acompanhada de sarcasmo. Eu sabia que estava vermelha de vergonha, raiva, ou coisa do tipo, então preferi não responder.

"Não tem hospital lá...já vou avisando." Ele brincou e sentia que ele me olhava pelo canto dos olhos a todo momento. Filho da mãe! Ele sabia, mas continuava esperando que eu dissesse que tinha acontecido.

"Xixi!" Exclamei em alto e bom som, já que era isso que o cowboy sarcástico queria que eu admitisse.

"Xixi, tá bom? Eu precisava urgentemente, terrivelmente, fazer xixi."

"Tudo isso por causa de um xixi?"

"Cala a boca." Estava irritada demais para encará-lo, então me concentrei em achar algo que não estava procurando dentro de minha bolsa de mão.

"Heathcliff nunca tomaria coragem de declarar seu amor por uma mulher que não fosse capaz de dizer que queria fazer um simples xixi." Ele disparou e eu ergui meus olhos em sua direção.

Meu objetivo era fuzilá-lo com o olhar ou devolver suas palavras sarcásticas, mas assim que nossos olhos se encontraram, ele riu. Ele riu genuinamente, daquelas risadas que fazem a barriga se contrair. Eu deveria ficar ainda mais irritada, mas escutar o som de sua risada pela primeira vez e ver a expressão leve em seu rosto, me desarmou completamente.

"Sabe de uma coisa?" Apesar de um pouco satisfeita com o rumo de que nossa amizade – ou qualquer coisa que aquilo fosse – estava tomando, eu não daria o braço a torcer. Parte disso também porque tinha percebido que ele só funcionava quando era provocado ou levado ao limite. E claro, ele também funcionava muito bem quando o assunto era me deixar embaraçada.

"Eu preferia muito mais quando você me ignorava." Menti.

"É isso que eu sempre digo pras pessoas." Ele enfatizou o que sua personalidade exalava externamente: que não gostava de manter nenhum tipo de contato com outras pessoas. Mas, apesar disso, eu estava conseguindo enxergar um pouquinho além daquela fachada de homem chato e anti social e estava ansiosa por mais.

Mas, aquilo não era da minha conta, eu não deveria estar tendo essas expectativas. A voz da responsabilidade dentro da minha cabeça tentou falar mais alto, lembrando-me de que aquilo era uma péssima ideia.

"Foi isso que eu te disse...Catherine mijona." Ele me provocou novamente, dessa vez utilizando a referência do livro que eu tinha encontrado há pouco em sua mochila.

Ele olhou de relance em minha direção, com um sorriso sedutor e sincero em seus lábios e se eu não tivesse feito xixi há alguns minutos, com certeza passaria vergonha agora mesmo.


No próximo cap veremos como o cowboy se comporta no casamento. hehehehehe

Até! 3