"What am I supposed to do when the best part of me was always you?"

Os olhos castanhos de Marlene encaravam a fumaça que saía da xícara de café fumegante, fazendo delicados desenhos pelo ar. Estava em silêncio desde que concordara em tomar um café com Remus Lupin, o homem que, segundo ele, costumava ser seu melhor amigo, e de quem não se lembrava, nem com o maior esforço do mundo. Ela estava em uma espécie de transe, como se procurasse alguma lógica no que aquele homem dizia – ou pior, alguma razão para que tivesse concordado em ouví-lo, uma vez que não tinha motivo algum para tanto. Adhara, sentada à sua direita, olhava curiosamente para aquele sentado à frente das duas, examinando cada detalhe sobre ele: era definitivamente bruxo – as roupas não eram exatamente o tipo que se encaixaria nas ruas de Cannes, o olhar dele era cansado – ela se perguntava com que ele trabalhava... – e o sotaque era definitivamente britânico, ainda que ele tivesse se esforçado ao falar francês.

_Marlene... – ele começou, depois de respeitar o silêncio dela por alguns minutos.

_Me diz logo o que você quer? – a voz da mulher veio forte, como se ela tivesse sido acordada do transe pelo chamado – Porque eu sinceramente não tenho todo o tempo do mundo, e não faço idéia do porquê de ter concordado em escutar uma história tão absurda! – completou, e Adhara sorriu torto, vendo que sua mãe estava de volta. Marlene era uma mulher de gênio forte, que não aceitava ser contrariada. Lupin, ao invés de assustar-se com a reação dela, sorriu.

_Aí está você... – completou, com um tom saudoso. Seus olhos então pousaram em Adhara, e ele examinou o rosto da garota com curiosidade, franzindo o cenho – Quantos anos ela tem? – perguntou a Marlene, que revirou os olhos, exasperada.

_O que você tem com isso? Nós nem te conhecemos! – disse, irritada, segurando a mão de Adhara como numa tentativa de proteger a filha – Adhara, vamos... Isso está muito errado... – chamou, ameaçando se levantar.

_Mãe, espera. – Adhara pediu. Ainda havia mais naquela história para se descobrir – Não pode ser só uma coincidência, certo? Vamos... Vamos ver o que ele tem a dizer. – insistiu em ficar, puxando a mão da outra levemente para que ela se sentasse novamente – Nós já tivemos a prova de que nada é impossível quando recebemos minha carta da Beauxbatons, certo? – lançou seu último trunfo, e a mãe suspirou, derrotada. De fato, já não duvidava de mais nada no mundo. Adhara sorriu por ter conseguido convencê-la a ficar, e voltou-se então para Lupin, que as observava com curiosidade – Tenho 15.

_Quinze? – ele repetiu, surpreso. Não era possível, certo? Olhando melhor, contudo, não era difícil ver os traços inegáveis ali... Os cabelos muito escuros, o porte altivo... Oh, e o formato do queixo. Não havia como duvidar – Oh, isso é... Ele... Ele não fazia idéia... Nenhum de nós fazia idéia. – o homem falava consigo mesmo, a ansiedade em explicar-se transparecendo. Precisava, entretanto, fazer com que Marlene acreditasse nele, antes de qualquer coisa.

_Você pode, por favor, começar a se explicar. – Marlene pediu, tentando ser educada, quando seu gênio implorava por uma resposta mais dura.

_Sim, claro. – Lupin pareceu ser arrancado de seus pensamentos – Eu não acho que exista uma forma menos direta de dizer isso, mas espero que você tenha a paciência de me ouvir até o fim. – pediu, ao que a mulher apenas resmungou uma resposta contrariada. Ela não tinha, de fato, mudado nada – Você, Marlene Mckinnon, é uma bruxa. – ele disse, de uma só vez. Um breve silêncio pesou sobre o ambiente, antes que a voz de Adhara irrompesse.

_Moço, você tá errado... – ela disse, descrente – Eu sou bruxa. Minha mãe é trouxa.

_É claro que você é bruxa... – Lupin sorriu, como se ela dissesse o óbvio – Filha de pais bruxos, puros-sangue, seria muito difícil você não ter magia em suas veias... E com os pais que tem, me arrisco a dizer que é uma bruxa muito poderosa, Adhara. – completou, com um tom fraternal.

_Pais bruxos? – Marlene questionou, perguntando-se onde estava a sanidade daquele homem – Eu não sei onde o senhor está com a cabeça! Eu sou tão mágica quanto essa porta! – exclamou, irritada, apontando a porta do Café onde se encontravam, arrancando de Lupin uma risada anasalada – E o pai dela, não tinha absolutamente nada com essa coisa de magia... – completou. Não que o conhecesse tão bem assim...

_Marlene, por favor, deixe-me explicar... – ele pediu, erguendo uma mão – Adhara, você está a par do que está havendo, certo? Sabe sobre a Primeira Guerra Bruxa, e como Voldemort deseja hoje retomar seu antigo exército? – perguntou à garota, que observava-o atentamente. Agora era indiscutível: ele era definitivamente bruxo, trouxa algum teria conhecimento sobre aquilo.

_Sim... – a menina respondeu – Não é tão forte na França, mas temos ciência do que está acontecendo. – completou.

_Pois então... – Lupin retomou a palavra – Durante a Primeira Guerra, um dos mais fortes núcleos de resistência que se formaram foi a Ordem da Fênix. – ele explicou.

_Hey, eu já ouvi falar sobre isso! – Adhara disse, animando-se com o conteúdo da conversa – Albus Dumbledore, certo? – perguntou. Dumbledore era mundialmente reconhecido como o maior bruxo de sua era, e Adhara, obviamente, conhecia bem a história do diretor de Hogwarts.

_Correto. – Lupin deu um sorriso brando – Dumbledore reuniu alguns dos bruxos mais proeminentes da época, além daqueles, ainda jovens, que desejavam juntar-se às fileiras de combate à Voldemort – ele explicou, e Adhara já estava completamente envolvida com a história, enquanto Marlene se conservava ainda desconfiada – Dente eles, estavam os Potter, que você provavelmente conhece...

_Potter do tipo... Harry Potter? – ela perguntou. Não sabia tanto sobre a história, mas Harry Potter era um nome universalmente conhecido entre os bruxos.

_Ok, e o que eu tenho a ver com essa história toda? – Marlene interrompeu a conversa, sem entender nada sobre o que era dito. Lupin ergueu uma mão, como se indicasse que estava prestes a chegar naquele ponto da história.

_ Harry é o filho de James e Lilian. Os dois foram grandes bruxos, membros da Ordem da Fênix. Voldemort os assassinou quando tentava chegar a Harry, e ele foi...

_O menino que sobreviveu. – Adhara completou, os olhos brilhando com aquele conhecimento novo que estava recebendo – É, eu me lembro disso... Mas, Sr. Lupin, – disse, já simpatizando com o homem – o que é que a minha mãe tem a ver com a história de Harry Potter? – questionou, curiosa.

_Oh, Adhara... Tudo. – ele sorriu, olhando para Marlene, e então para Adhara, tão parecida com a mãe naquela idade – James e Lily foram alguns de meus melhores amigos... E dos seus melhores amigos, Lene. – ele completou, os olhos cor de mel se tornando mais brilhantes pelas lágrimas que ali se formaram. Marlene sentiu, por um segundo, como se seu coração se aquecesse com aquele apelido. Ninguém a chamava assim, mas de alguma forma ela reconhecia o chamado como algo muito remoto em seu passado... Uma memória antiga, quase apagada.

Lupin se aproveitou do silêncio da mulher, para então continuar sua explanação.

_Há quinze anos, Lily e James foram assassinados. – ele começou – Foi terrível, um baque enorme para todos nós... Poucos meses depois, mais uma tragédia: a mansão dos Mckinnon foi invadida por Comensais da Morte – continuou, e Marlene olhou para a filha como se pedisse uma explicação, ao que a menina apenas sussurrou "são os capangas do mal, mãe" – e todos foram mortos. E a sua perda foi mais do que pudemos suportar, Lene... – disse, emocionado – Você sempre foi a mais alegre de nós, a mais viva... Não havia quem consolasse Sir... – ele se deteve, respirando fundo – Bem, isso é assunto para outro momento. O fato é que morreu também uma parte de nós, quando pensamos tê-la perdido. – Lupin terminou, em tom sério – Ao menos, era o que todos acreditávamos até hoje. De alguma forma, Lene, você saiu daquela casa... Você sobreviveu.

_Isso é... – Marlene procurava absorver todas as informações que recebia, enquanto buscava uma palavra – insanidade!

_Mãe... Mãe, espera, pode ser verdade. – Adhara disse, tentando assimilar tudo que lhe fora dito.

_Adhara, por Deus! Eu não conheço esse homem! – ela apontou para Lupin, nervosa por não acreditarem no que dizia – Não conheço essas pessoas de quem ele...

_Você tem uma tatuagem no lado direito das costelas. – Lupin disse, e Marlene estacou, surpresa. Esse era o tipo de informação que ele não poderia ter, de forma alguma – Você odeia baunilha, e morre de medo de altura. – ele continuou, e as duas ficavam cada vez mais surpresas com as informações corretas que ele desepejava sobre Marlene – Se não tiver tido aulas desde então, você é uma péssima dançarina... – completou, e Adhara riu. Aquele era um fato incontestável – apesar de adorar dançar. - disse, e sorriu brandamente, como se lembrasse de um passado longínquo.

Marlene não podia acreditar no que ouvia, mas aqueles eram fatos sobre ela que ninguém, à exceção da filha, conhecia. Então, ou ela estava em frente ao stalker mais profissional do mundo, ou era, de fato, uma bruxa sem memória alguma de seu passado. E ela não saberia dizer qual opção lhe parecia mais assustadora...

_Sr. Lupin... – Adhara tomou a palavra – Se isso tudo for verdade, - disse, apenas para agradar a mãe. Ela mesma já estava plenamente convencida de tudo aquilo – há alguma forma de recuperar a memória dela?

_Nós podemos tentar. – os olhos dele pousaram em Marlene. Ele não podia nem imaginar pelo que ela estava passando... Devia ser mesmo muito difícil acreditar em toda a intrincada história que a envolvia, especialmente porque ninguém fazia idéia de como sua memória se fora – Mas é um feitiço muito antigo, e aparentemente muito forte... – ele disse, e Adhara assentiu. De fato, um feitiço de memória que permanecia por quinze anos, deveria ser extremamente poderoso... Merlin, ela tinha tantas perguntas!

_Mãe... Eu acho que ele está dizendo a verdade... – ela sussurrou, olhando no fundo dos olhos castanhos, tão parecidos com os seus – Por favor, vamos dar uma chance... E se a nossa vida inteira for baseada numa mentira, você não gostaria de deixar tudo certo novamente? – perguntou, e Marlene viu ali seu maior medo: o que pensar de uma vida inteira baseada numa farsa?

_Eu... – ela murmurou, massageando as têmporas – Eu sinto muito – dirigiu-se a Lupin – mas preciso de algo mais do que apenas essa história, por mais convincente que ela seja.

_Eu imagino que sim... – Lupin concordou. Talvez agora ela estivesse pronta – Deixe-me mostrar algo... – pediu, e demorou-se um segundo ao pegar a carteira no bolso do sobretudo surrado que usava. O homem mexeu na carteira por alguns momentos, ates de tirar de lá um papel amarelado, que encarou com nostalgia antes de entregar a Marlene. Era uma fotografia – Esta, Marlene Mckinnon, é você. – ele apontou para a garota morena sentada no chão, à frente de um sofá com quatro outras pessoas. Ela sorria, e o sorriso era aberto, franco, como continuava a ser hoje em dia. Os olhos de Marlene percorriam cada centímetro da foto, e da figura tão familiar que via todo santo dia no espelho: não havia dúvidas, era ela, em carne, osso, e quase vinte anos a menos. O que prendeu mais sua atenção, contudo, não foi a sua figura, e sim a que estava ao seu lado na foto.

Ele tinha os cabelos negros, e a fotografia, mesmo em preto-e-branco, deixava que se vissem seus olhos claros. A postura elegantemente despretensiosa lhe era bastante familiar, e seu sorriso de canto era avassalador. Marlene, então, estremeceu com uma arrepio na espinha ao constatar que aquele era ninguém menos que o homem com quem sonhava há anos, sem nunca ter conhecido. Ao menos, era o que imaginava.

_Qu-quem é esse? – sua voz falhou, e a mão tremia levemente com a ansiedade. Remus hesitou por um segundo, olhando de Adhara para Marlene, incerto sobre aquele ser o momento certo para responder – Você precisa me dizer! – ela pediu, desesperada – Eu sonho com esse homem quase todas as noites, há anos... – revelou, e Remus arregalou os olhos, surpreso. Talvez algumas memórias fossem muito profundas para serem completamente apagadas pelo feitiço, por mais forte que fosse. Ele acenou uma vez com a cabeça, antes de finalmente se pronunciar.

_Esse é Sirius Black. – ele deu uma pausa, antes de continuar – E se não estou completamente enganado, é o seu pai, Adhara.


Nota da Autora:

Hola, que tal?
Como vocês estão, queridas? Curtiram o capítulo anterior?
Bem, eu tinha colocado pra mim mesma uma meta de 5 comentários antes de postar o segundo capítulo mas, como eu sou extremamente ansiosa e recebi os comentários mais fofos do mundo, fiquei empolgada e resolvi postar logo!
Então, às meninas que comentaram o capítulo anterior, este foi dedicado a vocês! Muito obrigada mesmo pelos comentários lindos! Vocês fizeram o meu dia, e eu mal posso esperar pra saber o que acharam desse...
Esse capítulo deu um trabalhinho, porque eu queria que parecesse crível, que a Marlene não saísse confiando de cara num lunático que dissesse que a conhecia... Espero que objetivo tenha sido atingido!
O Sirius só seria mencionado mais pra frente, maaas... quem disse que eu aguento? hahaha
Até mais! E lembrem-se: quanto mais comentários, mais rápido o capítulo 3 vem aí! hahaha

Beijinhos, e até mais!