Disclaimer: Os personagens (exceto Anthony, Cyrus, Miranda Russo e Andrew Foster) pertencem à Stephenie Meyer. A mim pertence apenas a história. Proibida cópia, reprodução ou compartilhamento total ou parcial do material sem autorização da autora.


CAPÍTULO UM

Com o tablet em mãos, Isabella Swan verificou os últimos detalhes para a cerimônia de casamento daquela noite. Duas mesas sem as placas de identificação, as flores meio murchas do arranjo na mesa do bufê, as luzinhas falhadas na pérgula. Com a eficiência de uma promotora de eventos que estava no ramo de casamentos há três anos, Bella deslizou pelo salão enquanto registrava os problemas e já tentava providenciar os ajustes necessários. Discou alguns números no celular, deu uma ordem por sobre o ombro.

Quinze minutos depois, as placas estavam em seu devido lugar, a florista providenciara um novo arranjo, mais fresco e mais belo, e as luzinhas foram substituídas por delicadas e elegantes lanternas de papel.

Tudo estava indo bem.

Ela deixou o salão, onde ocorreria a recepção após a cerimônia de casamento, e foi para o jardim. O simples altar de vidro e seda estava impecável, bem como as cadeiras tinham sido arrumadas com os delicados laços dourados, conforme a noiva desejava.

Satisfeita, Bella voltou para dentro e foi esperar pela hora do casamento.

O evento daquela noite era o maior casamento que fizera até agora. O casamento Hale-McCarty tinha levado cinco meses de preparação, intermináveis reuniões com a noiva, horas de insônia pensando em ideias e outros pequenos ajustes. A noiva era exigente, embora tivesse se aberto e aceito suas propostas e sugestões, e o tempo tinha sido relativamente curto, mas Bella se sentia satisfeita com o que conseguira fazer.

Sabia que uma de suas chefes na Pretty in White, a agência de festas de casamento na qual Bella trabalhava há três anos, havia lhe entregue aquele evento com a secreta esperança de que ela fracassasse. Não sabia exatamente porque sua chefe nutria tanta antipatia por ela, mas o fato é que Tanya Denali a detestava desde a primeira vez que a vira. Mas, como Tanya tinha uma sócia — uma que não detestava Bella —, não era como se ela pudesse simplesmente demiti-la. Por isso, Bella se sentia satisfeita e triunfante. Era tão prazeroso fazer um trabalho bem feito quando alguém desejava que ela fracassasse. Se pudesse, entraria no escritório de Tanya e dançaria a macarena na frente da chefe, para esfregar na cara dela seu sucesso. Mas, como isso não seria possível, ficaria satisfeita em devolver o ar superior de Tanya quando a encontrasse na segunda-feira.

Bella avistou os primeiros convidados se aproximando pelo caminho de pedras. Deixando os pensamentos sobre a chefe de lado, foi para a entrada a fim de se certificar de que tudo corresse bem. Quando a noiva chegou, cada convidado estava bem acomodado. De seu canto no fundo, Bella assistiu a troca de votos entre os noivos e, quando a cerimônia chegava ao fim, esgueirou-se para o salão. Dez minutos depois, quando os convidados seguiram para o salão, tudo correu bem, como o planejado.

Com exceção de um momento, quando Bella foi chamada na recepção para resolver um problema com o bufê. Ela logo resolveu a questão, conversando com o cheff responsável pela comida.

Foi enquanto cuidava desse problema que avistou o menininho de olhar perdido transitando pelo hall de entrada da casa de festas.

— Obrigada, Javier. — disse ela ao cheff, afastando-se dele e observou o menino olhar de um lado a outro no corredor. Javier se afastou e ela foi em direção ao menino, imitando-o e olhando ao redor para ver se havia algum adulto por perto. — Olá.

O menino se virou e a fitou com os olhos arregalados. Ele tinha olhos verdes, como a grama saudável da primavera, e, no momento, eles estavam assustados e brilhantes de lágrimas.

— Você está bem?

O menino não respondeu.

— Onde estão sua mãe e seu pai? — Ela se abaixou até ficar no nível do menino e, quando ele deu um passo para trás, alarmado, permaneceu onde estava e esboçou um sorriso tranquilizador.

Novamente, o menino ficou em silêncio. Ele a fitou, avaliando-a. Gostava do modo como ela sorria. Não parecia ser o sorriso de uma pessoa má. E ela tinha olhos gentis. Ela não o olhava como se não o quisesse ali.

— Minha mãe está no céu e o meu pai… — Ele franziu os lábios, os olhos enchendo-se de mais lágrimas. — Eu não sei onde o meu pai está. — confessou e lutou bravamente para não chorar. Tinha quase seis anos, afinal.

Bella assentiu suavemente, o sorriso ainda em seus lábios.

— Tudo bem. Eu posso ajudá-lo a encontrar seu pai. — Ela disse num tom confortador. — A propósito, eu sou Bella. Qual o seu nome?

— Anthony. — murmurou ele e fungou. — Você sabe onde o meu pai está?

— Ainda não, mas vou descobrir. — Ela se levantou para buscar o walkie-talkie, que usava para se comunicar com sua equipe. — Seth, tenho uma criança perdida comigo. Alguém esteve procurando por um menino de mais ou menos cinco anos?

— Não comigo, Bella, mas vou verificar com os outros rapazes. — A voz de Seth, o chefe da segurança, soou no hall através do aparelho. — Qual o nome da criança?

— O nome dele é Anthony. — Ela se virou para o menino. — Como é o nome do seu pai, Anthony? — perguntou ao menino, lembrando que ele dissera que a mãe "estava no céu".

— Meu pai se chama Edward.

— E o sobrenome dele, você sabe?

— O que é sobrenome?

Bella riu do tom curioso.

— É o segundo nome que uma pessoa tem. Por exemplo, eu me chamo Isabella Swan. Swan é meu sobrenome.

— Você disse que o seu nome era Bella.

Ela sorriu, apreciando a esperteza da criança.

— Bella é o meu apelido. Você tem um apelido?

Ele meneou a cabeça, e ficou pensativo.

— Eles chamam meu pai de Edward Cullen. — disse Anthnoy e franziu o nariz. — Ele também não tem apelido.

— Obrigada, Anthony. — disse ela e voltou sua atenção à conversa com Seth.

— Eu ouvi. — Seth disse, com uma risada, quando ela o chamou. — Vou verificar onde o senhor Cullen está e aviso a ele que você está com a criança.

— Vou ficar esperando no hall. — informou-o Bella e encerrou a conversa, voltando sua atenção para o garotinho.

Ele vestia um mini-smoking, cujos botões do terno estavam nas casas erradas. Os cabelos formavam uma confusão cor de bronze que lhe dava um ar adorável. Os olhos verdes eram brilhantes, mas meio sérios, pensou ela, para uma criança. O resquício das lágrimas não derramadas ainda estava lá.

— Nós vamos encontrar seu pai logo, ok? — disse ela, ajoelhando-se diante do menino para arrumar-lhe o terno.

Anthony assentiu e permitiu que ela cuidasse de sua roupa. Gostava mesmo do modo como ela sorria. E ela tinha um cheiro bom, também. Não era igual ao de algumas mulheres daquela festa, que o faziam espirrar ou prender a respiração sempre que estava perto delas.

— A Jessica vai brigar comigo. — confessou Anthony, e lembrou-se que a babá, também, estava fedida naquela noite. — Ela fica brava quando eu faço coisas assim, mas eu não queria ficar na sala de brincar. Tinha um monstro lá.

— E você tentou espantá-lo?

Anthony franziu o nariz, confuso com a pergunta.

— Não.

— Ah, bem, você devia. Às vezes, se a gente tenta, eles vão embora.

— Sério?

— Sério. — Bella assentiu, solenemente. — Venha. Vamos sentar e esperar seu pai.

Anthony fitou a mão estendida por um instante. Por fim, aceitou-a e seguiu com Bella até o balcão da recepção. Não se importou quando ela lhe disse para sentar num dos baquinhos altos. Ela não era mandona, como Jessica, decidiu ele, e também não era mau humorada. Ela sorria muito, tinha olhos gentis e não falava com ele como se estivesse cansada de ouvir sua voz.

Bella tentou pensar em algo para distrair o menino e, quando viu uma pilha de folhas brancas sobre o balcão, puxou-as para perto.

— Você sabe fazer origami? — perguntou ela, o tom entusiasmado. Sabia como lidar com crianças. Seus dias de animadora de festa infantil ainda serviam para alguma coisa.

— O que é orgami?

— Origami. É a arte de dobrar papel. — explicou ela, dividindo as folhas em duas pilhas e colocando uma em frente ao menino.

Anthony franziu o nariz.

— Eu não sabia que dobrar papel tinha nome.

Bella riu. Ele tinha o hábito de franzir o nariz sempre que ficava intrigado, percebeu.

— Não é só dobrar papel. É dobrá-lo para transformá-lo em alguma coisa. Veja só. — Ela começou a manusear uma das folhas, habilmente dobrando o papel até transformá-lo no que parecia um pássaro. — Viu?

Os olhos arregalados, Anthony aceitou o animal de papel e fitou-o por todos os lados, analisando-o com uma genuína curiosidade infantil.

— Que demais! — exclamou ele, todo o seu receio e cautela sendo esquecidos. — Pode me ensinar a fazer? Por favor? — acrescentou, lembrando-se de ser educado.

Bella sorriu, apreciando as boas maneiras, e observou os olhos verdes cheios de expectativa. Sentia-se exausta por causa do trabalho — isso sem falar que esse mesmo trabalho ainda não tinha acabado —, mas não se importou com isso naquele momento. Às vezes, uma pausa suave como aquela acontecia para acalmar, não para estressar ainda mais.

— É claro, Anthony, posso ensiná-lo.

— ~ —

Edward Cullen subiu os degraus que levavam ao hall da recepção, os passos apressados, mas decididos. Em seu rosto, esboçava uma expressão carrancuda. Passara os últimos quinzes minutos procurando o filho — que a relapsa babá havia perdido de vista — e só agora o segurança tinha conseguido avisar que Anthony fora encontrado e estava na recepção, com a promotora daquela festa. Embora se sentisse aliviado por saber a localização do filho, isso não mudava o fato de que havia envelhecido cinco anos desde o instante em que soube do desaparecimento de Anthony até a descoberta de seu paradeiro.

Quando se era um homem conhecido e poderoso como ele, qualquer ausência de dois minutos era motivo de preocupação.

Ele atravessou o corredor de chão de mármore, ouvindo vozes ao longe. Um de seus seguranças estava ao seu lado — os de Anthony haviam sido demitidos, junto com a babá, quinze minutos atrás.

Edward dobrou uma esquina no corredor e entrou no hall.

Quando encontrou o filho, Anthony estava sentado num dos banquinhos da recepção, o olhar concentrado, enquanto dobrava uma folha de papel. Ao seu lado, uma moça o observava enquanto ele tentava unir duas pontas do papel para formar o que pareceu a Edward uma asa.

Edward parou no meio do corredor, seu segurança quase esbarrando nele, e ficou observando a cena entre o filho e a moça que, ele supôs, era a promotora da festa.

Anthony prendeu a língua entre os lábios, a expressão determinada e concentrada, e tentou dobrar a outra asa. Quando terminou, ergueu os olhos para a moça e sorriu para ela.

— Eu consegui! — exclamou ele.

A moça assentiu, o sorriso encorajador.

— E de primeira, colega. — disse ela e ergueu a palma da mão para ele.

Anthony tocou a mão dela num gesto cúmplice, um sorriso orgulhoso no rosto, e continou a sorrir quando avistou Edward.

— Papai! — exclamou ele, saltando do banquinho de um jeito que fez tanto Edward quanto Bella arfarem. Mas nada aconteceu e ele correu na direção do pai, o braço estendido para lhe mostrar o pássaro de origami. — Olha o que a Senhorita Bella me ensinou a fazer! É um pássaro. Ele se chama tusu… tissi…

— Tsuru. — disseram Bella e Edward ao mesmo tempo.

— Isso mesmo. — Anthony assentiu e entregou o pássaro para o pai inspecionar. — Legal, né?

Porque era o esperado, Edward analisou a ave de papel de todos os ângulos, murmurando "hmms" e "ahns" aqui e ali. Por fim, fitou o filho.

— Muito legal. — sentenciou ele e ficou surpreso com o brilhante sorriso do filho. Ele devolveu o origami a Anthony.

— A Senhorita Bella disse que dá para fazer um monte de coisas dobrando papel. Não só animais.

— Aposto que sim. — Edward fitou a moça, que vira com o filho, enquanto ela se aproximava.

Bella parou ao lado de Anthnoy e esboçou um sorriso educado, embora o olhar dele estivesse lhe causando uma agitação no estômago. Anthony tinha herdado os olhos verdes do pai, mas, nem de longe, os olhos dele tinham um brilho tão incisivo e profundo quanto os de Edward Cullen. Quando encontrou o olhar dele, as palavras frio e perigoso vieram à mente de Bella, mas sua pulsação não acelerou por causa disso. Ele retribuiu seu sorriso com um breve curvar de lábios, como um homem ciente do efeito que causava.

— Senhor Cullen. — Ela estendeu a mão, obrigando-se a ser séria e profissional. — Eu sou Isabella Swan. Devo dizer, o senhor tem um filho adorável.

Edward estava habituado a ouvir aquilo de vários de seus funcionários, associados ou relacionamentos profissionais. e de mulheres interessadas nele, também. Mas não estava habituado a pessoas que diziam aquilo com sinceridade.

— Obrigado, senhorita Swan. — Ele aceitou a mão dela, surpreendendo-se com o aperto firme que ela lhe devolveu. — E obrigado também por cuidar de Anthony.

— Estou aqui para isso. — Bella recolheu a mão, que formigava.

— O segurança disse que você é a responsável por esse evento. Devo parabenizá-la. A festa está maravilhosa.

— Obrigada, senhor Cullen. Minha equipe e eu agradecemos.

Dividindo o crédito, pensou Edward e a fitou uma segunda vez. Admirava isso numa pessoa de negócios. Ele assentiu para ela e voltou sua atenção para Anthony.

— Prometi à sua avó que não faria nada hoje. Mas nós vamos conversar sobre sua fuga amanhã.

A expressão radiante de Anthony murchou um pouco e ele baixou os olhos, fitando os próprios pés.

— Sim, pai.

Edward assentiu rigidamente.

— Agora, agradeça à senhorita Swan por ficar com você. Depois nós vamos voltar para a festa.

Anthony ergueu os olhos para Bella, a expressão infeliz.

— Obrigado, Senhorita Bella. — disse ele e fitou-a quando ela se abaixou para ficar à sua altura.

— De nada, Anthony. — Ela sorriu, mesmo quando os olhos tristes dele causaram-lhe um aperto no peito. Não tinha lhe passado despercebido que, quando pai e filho se reencontraram, não houve abraços ou um gesto de carinho mais cálido. Havia alívio, pensou, mas tão formal e rígido… — Não se esqueça de praticar. Quanto mais origami você faz, melhor eles vão ficando.

— Mas eu só sei fazer o pássaro!

— Eu sei. E isso é bom. Você pode dar a ele uma esposa e um filhote. Que tal? Assim ele não vai ser solitário.

Anthony pensou sobre aquilo por um instante. Por fim, assentiu vigorosamente.

— Vou fazer dois filhotes. Se fizer um só, ele não vai ter com quem brincar.

Novamente, ela sentiu aquele aperto. O menino era solitário. Não precisava de muito para perceber isso. Ela lançou um olhar na direção de Edward Cullen. Ele, também, parecia solitário. Sombrio e solitário, pensou.

Ela se levantou e, distraidamente, bagunçou os cabelos de Anthony.

— Ótima ideia. — disse e o menino lhe devolveu um sorriso tímido.

Bella o observou caminhar até o pai, parando ao lado dele, mas não fez nenhum movimento para segurar sua mão. Nem Edward Cullen a estendeu.

O relacionamento deles não é da sua conta, pensou Bella.

Quando fitou Edward Cullen uma última vez, percebeu que ele a observava, a expressão intrigada, os olhos verdes brilhando como se ele soubesse um segredo muito instigante sobre ela. Novamente, ele sorriu como um homem consciente do próprio poder.

Bella tentou retribuir o gesto com um olhar sério e profissional.

— Senhor Cullen.

— Senhorita Swan. — replicou ele, com um aceno de cabeça educado, embora o tom de voz fosse divertido. Ele se virou e, com o filho e o segurança aos seus dois lados, desapareceu pelo corredor.

Que dupla, pensou Bella e soltou o ar, que nem percebera estar prendendo.


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