Título da Fic: A Sabedoria De Um Tolo

Autora: Flora Fairfield

E-mail: [email protected]

Categoria: Romance/Drama

Classificação: PG-13

Sinopse: Continuação de 'Amor da Vida Nossa': A Guerra toma conta do mundo mágico e Draco Malfoy acaba se encontrando onde nunca se imaginou: no meio da tempestade. Ele quer fazer a coisa certa, e está tentando fazer a coisa certa, mas... será que ele está preparado para isso? D/G Pós-Hogwarts

Disclaimer: Eles não são meus. São da J.K. Rowling e da Warner. Não tenho intenção de ganhar dinheiro algum com essa fic. Ela está aqui apenas para divertir os fãs e me ajudar a manter a minha sanidade mental, já que essas personagens não param de discutir na minha cabeça... Ah, antes que eu esqueça: a única coisa que eu pretendo conseguir com essa fic são as opiniões de vocês, portanto, mandem reviews ou mandem emails, como preferirem, mas mandem, ok?!!!!

N/A: Bom, finalmente aqui está o início da continuação de 'Amor da Vida Nossa'. Se você ainda não leu essa fic, eu recomendo que o faça antes de começar 'A Sabedoria de Um Tolo' porque as duas estão intimamente relacionadas. Se você já leu e está aqui é porque provavelmente gostou, então eu só posso agradecer e tentar escrever uma história tão boa quanto a primeira para que vocês continuem gostando! Como eu havia dito, essa história se passa durante a Guerra contra Voldemort e, por isso, provavelmente vai ter partes mais sombrias que 'Amor da Vida Nossa'. Mas não se preocupem que eu não pretendo escrever uma fic completamente depressiva. A minha beta e o senso de humor ácido do Draco não me permitem! Por falar em Draco, essa fanfic também é narrada do ponto de vista dele. Eu sou completamente louca pelo Draco e não conseguiria deixar passar uma chance como essa de mergulhar na sua mente. De novo. Por fim, essa fanfic provavelmente vai ser mais longa do que 'Amor da Vida Nossa'. Eu ainda não decidi quantos capítulos ela vai ter, mas vai ser maior.

Agradecimentos: Os meus mais sinceros agradecimentos vão para minha beta e parceira no crime, claro! Afinal de contas, se não fosse por ela eu ainda acharia que a Gina e o Harry eram um casal perfeito. Obrigada, Carlinha, por me mostrar o caminho da luz! :o))

Bom, eu vou calar a boca agora. Divirtam-se!

*   *   *

Prólogo: Canção da Despedida

Stodola ( Canção da Despedida )

Por que perder a esperança de nos tornar a ver?

Por que perder a esperança se há tanto querer?

Não é mais que um até logo,

não é mais que um breve adeus

Bem cedo junto ao fogo

Tornaremos a nos ver

Com nossas mãos entrelaçadas

Ao redor do calor

Formemos esta noite um círculo de amor

Não é mais que um até logo,

não é mais que um breve adeus

Bem cedo junto ao fogo

Tornaremos a nos ver

Pois o senhor que nos protege

E nos vai abençoar

Um dia, certamente,

Vai de novo nos juntar

Não é mais que um até logo,

não é mais que um breve adeus

Bem cedo junto ao fogo

Tornaremos a nos ver

18 de outubro

O céu estava escuro. Tão escuro que as estrelas pareciam brilhar ainda mais, incandescentes sobre o manto preto que as envolvia. Ali, deitado na grama ainda molhada da chuva que caíra durante a tarde e com apenas os barulhos da noite chegando aos seus ouvidos, Draco Malfoy se sentia longe do mundo. Ele sabia, contudo, que não estava realmente sozinho. Sabia que ao seu redor havia um bom número de homens e mulheres, todos esperando silenciosamente pela alvorada. De tempos em tempos, as fagulhas da fogueira subiam um pouco mais altas e seu brilho vermelho se misturava ao das estrelas, dando à noite uma aparência misteriosa. Não havia cidades por perto, nem aldeias, nem povoados. Nada para atrapalhar aquela visão absolutamente maravilhosa do céu. Ele poderia passar toda a eternidade ali, deitado, contando as estrelas sobre sua cabeça e ainda assim não encontraria o número exato. Infelizmente, entretanto, Draco Malfoy não tinha toda eternidade. Restavam-lhe umas poucas horas antes que a luz do sol, sempre implacável, começasse a surgir no leste, apagando todos os mistérios da noite com sua clareza que não aceita nem permite dúvidas ou medos. E então, antes que o dia estivesse completamente claro, naquela hora entre a madrugada e a manhã, quando o céu, relutante em deixar as estrelas irem embora, se tinge de tons azuis e vermelhos e o mundo se enche de sombras, eles atacariam. Depois disso, não havia mais certezas.

Draco pesquisou sua mente procurando o momento exato em que a alvorada se tornou a única coisa certa em sua vida. Ele costumava ter muitos planos, muitas coisas decididas, bem arquitetadas. Àquela altura, por exemplo, ele não deveria estar ali, numa noite de outono fria, deitado na grama úmida, pensando se ainda estaria vivo no dia seguinte. Não. Ele deveria estar deitado em uma cadeira de praia, tomando alguma bebida tropical em um lugar quente, de preferência com alguma mulher estonteante ao seu lado, gastando o dinheiro que ele roubara do pai, e rindo bastante de todos os loucos ingleses envolvidos naquela maldita Guerra. Draco fechou os olhos tentando fazer com que a imagem mental se desfizesse. Era difícil pensar no que ele estava perdendo. Principalmente quando ele não estava ganhando nada em troca.

Já fazia quase dois anos. Um ano, nove meses e vinte e seis dias para ser exato. Um ano, nove meses e vinte e seis dias que ele se deixou convencer por um beijo inocente e um sorriso maroto a não abandonar tudo. Ele deveria ter fugido como estava planejado. Deveria. Mas ela - sempre ela! - veio e estragou tudo. De alguma forma, ela o convenceu - mesmo sem dizer palavra alguma - de que se ele fosse embora, ele nunca se perdoaria; de que ele passaria o resto de sua vida imaginando o que poderia ter sido. E Draco foi estúpido o suficiente para acreditar. Agora, ele sabia 'o que poderia ter sido' e francamente desejava nunca ter descoberto. Afinal de contas, o que ele ganhara nesses dois anos? Algumas cicatrizes novas - nenhuma tão famosa quanto a do preciso Potter, contudo - e muitas memórias indesejadas. Ele vira pessoas morrendo, pessoas sofrendo, pessoas chorando, pessoas com medo... Ele próprio passava a maior parte do tempo se consumindo em medo... medo de morrer, medo de perder a Guerra, medo de coisas que Draco nem sequer imaginava... medo apenas, sem explicação e sem razão alguma. Mesmo ele, com toda a sua frieza e a sua atitude indiferente, não podia passar impune diante de tanta dor. Metade do seu tempo, Draco passava desejando ter como voltar atrás e escolher entrar naquela carruagem e ir para o mais longe possível daquele inferno. E a outra metade ele passava se desviando dos feitiços que eram lançados em sua direção. Não era uma vida feliz. Não eram tempos felizes.

Ah! E havia, é claro, os momentos em que ela resolvia aparecer - sempre ela! - para estragar até mesmo os seus pensamentos mais deprimentes. Ela fazia de propósito - ele tinha certeza - afinal de contas, por que outro motivo ela resolveria aparecer sempre quando ele tinha as suas maiores dúvidas, quando ele já estava convencido a largar tudo e desertar? Era de propósito para atormentá-lo, ele tinha certeza. Naquele momento mesmo, de onde estava, deitado na grama, Draco podia sentir que ela se aproximava. Ele levantou a cabeça apenas o suficiente para vê-la, com seu cabelo vermelho preso cuidadosamente em uma trança e suas vestes pretas de enfermeira meticulosamente limpas e arrumadas. Ela estava vindo para a fogueira. Óbvio. Que hora melhor ela encontraria para atormentá-lo do que os poucos e preciosos momentos que antecedem um ataque? Já imaginando o que o aguardava, Draco fechou os olhos como uma presa que admite derrota e deixou sua cabeça cair para trás pesadamente, batendo no chão com força. Ela já estava perto o suficiente para perceber.

- Tentando se matar para escapar da batalha ou só feliz por me ver, Malfoy? - ela perguntou em um tom insolente.

- Feliz por te ver, é óbvio, Weasley - ele respondeu no mesmo tom insolente, enquanto ela se sentava do outro lado da fogueira - Afinal de contas, a sua companhia adorável é sempre bem-vinda - ele terminou, enchendo sua sentença com sarcasmo.

- É bom mesmo que seja, ou você se esquece de que eu sou, provavelmente, a única pessoa nesse acampamento que é louca o bastante para chegar perto de você?

- E você se esquece de que, talvez, a minha razão para ser assim tão anti-social seja que eu realmente não quero que NINGUÉM CHEGUE PERTO DE MIM!!! - ele gritou, abrindo os olhos e se apoiando nos cotovelos para encará-la. O grito ecoou pelo acampamento, mas estranhamente ninguém saiu das barracas para ver o que estava acontecendo. Talvez estivessem todos ocupados demais nas suas últimas horas antes do amanhecer ou talvez simplesmente já estivessem acostumados com os humores de Draco Malfoy.

- Realmente, Malfoy, não é algo muito gentil gritar desse jeito. Nem mesmo muito inteligente visto que nossa posição aqui deve ser secreta.

- Você sabe tão bem quanto eu que o acampamento é protegido por feitiços, entre eles, um feitiço de silêncio. E eu não sou um homem gentil - ele completou carrancudo.

- Não, não é - Gina concordou, trazendo os joelhos para perto do peito e envolvendo-os com seus braços. Foi quando a luz da fogueira refletiu no anel em sua mão e Draco percebeu o brilho. Ela sempre usava aquele anel. Draco percebera há algum tempo atrás. Era um anel de noivado, com certeza, mas ele nunca fizera nenhuma pergunta. Nem ouvira qualquer outra pessoa fazer. Ninguém falava sobre o futuro naquela Guerra, porque ninguém sabia se haveria algum. E um noivado? Era impensável. Pela quantidade de tempo que a pequena Weasley passava com o precioso Potter, contudo, Draco só podia imaginar que ele tinha dado o anel a ela, como algum tipo de promessa para quando o inferno passasse. Se o inferno passasse. Enfim, esse tipo de coisa estúpida que uma pessoa apaixonada é capaz de fazer. Não que Draco entendesse. Não, de jeito nenhum. Afinal, ele nunca estivera apaixonado e nem nunca estaria - Como você acha que as coisas vão sair amanhã? - ela perguntou por fim, interrompendo os seus pensamentos.

- Eu vou morrer - ele respondeu secamente, deixando-se cair de novo na grama e fitando o céu.

- Não, não vai não - ela protestou de imediato.

- E como você sabe, Weasley? - ele perguntou com um ar divertido.

- Como você sabe, Malfoy? - ela devolveu a pergunta.

- Eu não sei. Apenas é um pensamento reconfortante antes da batalha. Assim, se eu não espero sobreviver, eu não vou ficar tão desapontado.

- Essa é a sua idéia de um pensamento reconfortante?

- Você tem uma idéia melhor?

- Bom - ela respondeu um pouco desconcertada  - não exatamente, mas isso não significa que eu ache o seu pensamento reconfortante. Pelo contrário. É extremamente triste - ela completou.

- Qual é o seu problema, garota? - ele se sentou, subitamente com raiva - Você quer que eu te diga o quê? Que eu acho que nós vamos vencer amanhã e que tudo vai ficar bem? Bom, caso você não tenha notado, nós estamos no meio de uma GUERRA! E nós não estamos sequer ganhando! Mesmo que a gente vença amanhã, a Guerra não termina aqui! Ela continua, assim como continuam as nossas vidas miseráveis! E você espera que eu sente ao redor de uma fogueira e lhe diga todas as minhas esperanças para o futuro como se nós estivéssemos num maldito acampamento escolar??? Bom, deixa eu te contar um segredinho, Weasley: NÃO VAI HAVER FUTURO! Não vai haver amanhã, nem vai haver um maldito casamento - ele completou apontando para o anel no dedo de Gina - A nossa causa está perdida, assim como as nossas vidas e se eu tiver sorte suficiente, então, talvez,  quem sabe?, eu morra amanhã! - ele terminou finalmente, deitando de novo no chão, com os braços cruzados, encarando as estrelas com uma expressão enraivecida.

- É isso que você quer, Draco? Realmente? - ela perguntou e ele sabia, mesmo sem vê-la, que ela tinha lágrimas nos olhos. Havia tanta doçura naquela pergunta que ele não conseguiu simplesmente descartá-la.

- O que eu quero é desaparecer, Weasley - ele respondeu cansado, com um suspiro - eu quero ir embora e esquecer toda essa loucura.

Ela não respondeu imediatamente. Por um instante, Draco acreditou que ela desistiria de tentar conversar com ele naquela noite e voltaria para a sua barraca. Ele não sabia se esse era um pensamento triste ou alegre. Gritar com ela era melhor do que ser deixado sozinho com os fantasmas, por mais que lhe custasse admitir. Um instante depois, contudo, ela cortou o silêncio com sua voz melodiosa.

- Você acha que isso é possível? - ela perguntou tranqüilamente - Não ir embora, quero dizer. Isso eu sei que é possível. Mas esquecer? Você acha mesmo que seria possível esquecer toda essa loucura?

- Eu poderia passar a minha vida inteira tentando - ele respondeu, como se a resposta já estivesse ensaiada, mas ele sabia, sabia no seu coração recém-descoberto que estava mentindo. Ou antes, ele sabia, sem tentar, que nunca conseguiria esquecer esses anos loucos. 'Ela conseguiu de novo' ele pensou. 'Conseguiu me lembrar de por que eu não posso ir embora. Porque eu estou tão preso aqui quanto ela, ou o seu irmão estúpido, ou precioso Potter'... - Que droga! - ele falou em voz alta - Por que você sempre tem que vir falar comigo? Não dava pra você ir atazanar a paciência do seu amado Potter, não, Weasley? - ela riu pela primeira vez naquela noite diante da pergunta.

- Não - respondeu, depois de fingir pensar por um segundo - é mais divertido atazanar você. E além do mais, Harry tem os seus próprios demônios com os quais lutar numa noite como essa.

- Ah, e eu não? - Draco respondeu indignado - Se ele tem demônios, eu tenho o quê, então? Com certeza, monstros bíblicos com quatro cabeças que cospem fogo e não têm misericórdia alguma!

- Malfoy! - ela respondeu sem conseguir conter o riso - você acha que Harry também não tem dúvidas?

- Claro que não! Ele é o precioso e perfeito Potter! Tudo é fácil e perfeitamente claro pra ele.

- Deus! Como você está enganado! Harry não tem menos dúvidas do que nós, Draco. Você realmente não o conhece para dizer algo assim.

- Não conheço e nem vou conhecer - ele respondeu secamente, mantendo os olhos nas estrelas, mas sem realmente vê-las - E quer saber de uma coisa, Weasley? Eu retiro o que eu disse. Eu não tenho monstros bíblicos com quatro cabeças que cospem fogo e não têm misericórdia alguma. Eu tenho só um demônio. Só um. E ele tem cabelos vermelhos! - Draco completou, olhando para ela acusadoramente.

- Muito bem, então, Sr. Malfoy, já que você faz tanta questão, esse demônio em particular vai te deixar em paz pelo resto da noite - ela respondeu, se levantando - Divirta-se com os outros - E Virgínia começou a se afastar, mas ele a interrompeu, apontando para o céu.

- Veja, Weasley, uma estrela cadente. Faça um pedido. Pode ser o último da sua vida - Draco completou com amargura na voz.

- Bom, neste caso, eu não teria tempo suficiente para vê-lo realizado, não é mesmo? - ela respondeu.

- Depende do que você desejar - Draco disse, por sua vez, com a voz carregada de significados, e encarando-a nos olhos que brilhavam à luz do fogo. Nada na noite se movia.

- Bom, neste caso, - ela respondeu, por fim, sem desviar o olhar - eu desejo encontrá-lo mais uma vez, Malfoy, ao redor de uma fogueira - e, com isso, Virgínia finalmente se virou e começou a se afastar.

- Você não deveria ter me contado o desejo, Weasley - Draco murmurou para o vazio quando ela estava longe o suficiente para não ouvir - Agora, não vai mais se realizar.

E ele virou os olhos para o céu de novo, tentando se lembrar da praia paradisíaca onde ele deveria estar naquele momento, com o sol inclemente batendo no seu rosto enquanto o barulho das ondas na areia o mantinha acordado para tomar a sua bebida tropical e esperar a mulher estonteante que o amava. 'Amava?' ele pensou surpreso. Não, isso não estava no plano antes. Desejava, talvez. Amava não. Nunca. Ele nunca seria capaz de despertar amor em ninguém. Ele sabia disso. De qualquer forma, contudo, por mais que ele lutasse contra si mesmo, não conseguia tirar essa nova palavra do plano. E sempre que ele tentava imaginar a mulher estonteante, ela acabava tendo cabelos vermelhos. 'Que droga!' ele pensou indignado, se levantando, 'Até esses planos ela conseguiu estragar! Mas isso não importa agora' ele completou, enquanto jogava terra na fogueira para apagá-la.

- Por que eu vou morrer amanhã - Draco disse em voz alta, com confiança, para o nada. Depois, ele também se virou e seguiu o caminho que Gina seguira antes, procurando sua barraca para tentar dormir e deixando o fogo morrer aos poucos às suas costas.

N/A 2 – A missão: Se algum de vocês for escoteiro, pode ignorar essa minha nota porque já deve saber muito bem o que é um Fogo de Conselho e o que é a Canção da Despedida. Para quem não sabe, Fogo de Conselho é uma reunião tradicionalmente feita ao redor da fogueira na última noite de um acampamento escoteiro, onde nós conversamos, contamos histórias de terror, encenamos esquetes e cantamos. A Canção da Despedida é uma música que deve ser cantada no final de um Fogo de Conselho, para encerrá-lo.

N/A 3: E então, o que vocês acharam? Espero realmente que tenham gostado. Como eu estou de férias, não devo demorar muito para colocar o próximo capítulo no ar. Logo, logo, ele já vai estar disponível!