Capítulo 10 — Final
Ele sabia que todo começo tinha um fim e que todo fim era um recomeço, mas eram raros os momentos em que Gokudera se dava ao trabalho de pensar sobre o futuro. Sua vida sempre foi uma consequência de dia após dia, da casa do pai até o tempo passado sob a tutela de Shamal; a grande mudança aconteceu quando Tsuna cruzou seu caminho e então um mundo de possibilidades se abriu diante de seus olhos, embora houvesse uma única constante: ele iria onde o Décimo fosse. Itália, Japão, ou o outro lado do universo. Ele estaria lá.
A mesma vida que o colocou no caminho de Tsuna o fez conhecer outras pessoas. O encontro com o Décimo foi definitivamente o estopim e os demais foram se aglomerando, aproximando-se e fazendo-se presentes. Eles formaram importantes ligações, como os Cavallone e a Varia; reviveram a antiga amizade com os Simon e criaram peculiares laços com alguns gatos de rua como Mukuro. Independente do grau de importância que tivessem, ele esteve sempre presente, observando sua vida mudar e surpreendendo-se por ver que o futuro, realmente, tinha muito mais a oferecer do que o seu passado.
Pessoalmente falando muito pouco mudou. Relacionamentos nunca foram seu objetivo de vida, e a posição que assumia na Família não lhe permitia perder tempo com certos assuntos. O rapaz de cabelos prateados sempre teve em mente a estranha sensação de não pertencimento herdada dos anos fugindo do pai e escondendo-se em lugares baratos. Por esse motivo, entre outros, era tão difícil imaginar-se em um relacionamento. Em seu coração, a outra parte estaria no prejuízo constante e haveria o risco de ser deixada da noite para o dia, sem aviso prévio, se Tsuna de repente precisasse abandonar tudo e deixar o país. A Família sempre viria em primeiro lugar.
Porém, e se sua companhia fizesse parte do mesmo mundo, conhecesse seus perigos, problemas e responsabilidades? O pensamento nunca cruzou sua mente até o dia em que Yamamoto se confessou no terraço do colégio. Todos os Guardiões dos Vongola eram homens, com exceção de Chrome. A jovem, no entanto, nunca teve olhos para ninguém além do psicótico Rokudo Mukuro e Gokudera não tinha interesse pelos outros desajustados. Se eu pensar a respeito, nunca me imaginei sequer namorando, pois implicaria somente dois caminhos: ela seria de fora da Família e isso significaria perigos constantes, ou faria parte do mundo mafioso e os problemas seriam em dobro.
Os sentimentos pelo moreno mudaram tudo.
A visão individualista ampliou-se e os pensamentos que por anos foram unicamente relacionados à sua pessoa transformaram-se em pensamentos conjuntos. As ideias e planos para o futuro, que um dia focaram-se na Família, agora visavam muito mais do que o seu bem-estar, mas também a vontade de ter aquela pessoa ao seu lado. Tsuna e os Vongola sempre seriam sua prioridade, contudo, seria possível compartilhar aquele objetivo? Haveria alguém nesse mundo capaz de entender seu amor e paixão pela Família a ponto de decidir caminhar ao seu lado? Sim, existia e o Guardião da Tempestade disse não.
Não. Não. Não.
O Braço Direito repetiu várias e várias vezes a negativa até sua língua tornar-se cansada e dormente. A palavra foi seguida por outras, rudes e maldosas, que se transformaram na primeira briga séria entre eles. Durante o tempo em que gritou e ralhou, mentalmente ele se surpreendia por sua ousadia e pelo modo como seus pensamentos sobre o assunto haviam mudado. Por anos Gokudera almejou que os demais Guardiões conseguissem enxergar a responsabilidade que significava ser parte dos Vongola. A Máfia não era uma brincadeira e era preciso um grande comprometimento para fazer parte daquele mundo. Entretanto, quando chegou a vez de Yamamoto tomar sua decisão, a escolha foi errada.
Ele declinou a todas com o mesmo meio sorriso seguido por uma polida reverência. Das cinco universidades, três delas ainda insistiram por algumas semanas, oferecendo não somente um curso integral e totalmente pago, mas uma quantia significante mensal e que poderia livrá-lo de todo o trabalho no restaurante, além de ser um excelente começo de vida. O moreno chegaria facilmente aos 22 anos com uma gorda poupança e jogando profissionalmente, como sempre fora seu sonho.
Mas, não. Não. Não. Não.
O rapaz de cabelos prateados estava sentado em sua poltrona, degustando uma latinha de refrigerante enquanto comia um prato cheio de takoyakis quando a notícia chegou aos seus ouvidos. O Guardião da Chuva não fez rodeios ou salpicou suas palavras com expressões bonitas e difíceis. Aquele não era ele, e Gokudera foi comunicado de sua decisão por um sério Yamamoto que não aparentou brincar em nenhum momento.
O posterior silêncio provavelmente foi esperado, pois o amante deixou a sala e avisou que tomaria um banho. Os dez minutos que ele passou sozinho foram suficientes para terminar os takoyakis e amassar a latinha como se ela houvesse se transfigurado no moreno. Há muito tempo seu sangue não fervia daquele jeito.
A discussão aconteceu quando Yamamoto deixou o banheiro. De ambos os lados houve erros e palavras duras e desnecessárias. O Braço Direito não aceitava que alguém pudesse jogar um futuro tão brilhante pela janela, optando por um trabalho mortalmente perigoso e que era encarado como um simples jogo; o Guardião da Chuva, por sua vez, contra-argumentava que sua opinião estava sendo julgada como leviana e que o amante não compreendia que havia muito mais por trás de sua escolha.
O auge da briga aconteceu quando Gokudera perguntou se ele era parte da decisão, e enfureceu-se quando a resposta foi um olhar desviado. Naquela noite Yamamoto dormiu na sala e, quando acordou na manhã seguinte, ele havia ido embora depois de dobrar os cobertores e fazer o café da manhã.
Por duas semanas não houve contato entre eles, no colégio ou fora dele.
Fevereiro mostrou-se um mês mais frio do que janeiro, e as últimas semanas como um aluno do ensino médio provavelmente seriam passadas entre casacos e cachecóis. A iminente formatura estava cada dia mais próxima e saber que tinha pouco mais de um mês no colégio Namimori trouxe uma onda de sentimentos conflitantes e que certamente não teriam surgido se o moreno não fizesse parte de sua vida.
Seu plano pessoal de seguir Tsuna e viver os dias como seu homem de confiança permanecia inalterado, todavia, quando fechava os olhos e imaginava o futuro, havia sempre alguém ao seu lado. Ele sabia que a situação com o amante não poderia continuar e um lembrete no calendário o fez pensar que o dia em que ambos sentariam e conversariam estava próximo.
O Dia dos Namorados era, ao lado do Natal, o evento mais esperado em Namimori. O comércio se preparava massivamente para agradar aos milhares de casais que, ainda que não acreditassem na magia do 14 de fevereiro, não perderiam a chance de aproveitar aquele dia especial. Por dezessete anos a data passou despercebida, com exceção de meia dúzia de chocolates que recebia das garotas da classe. Porém, naquele ano seria diferente e a certeza veio quando ele pegou-se olhando vitrines pelo centro comercial em busca de algum presente que pudesse agradar um idiota viciado em baseball que havia decidido não jogar baseball!
Seria mais fácil se ele fosse uma garota. Eu compraria alguma bobagem na loja de pelúcias e o trabalho estaria feito. O pensamento foi seguido por um suspiro ao se deparar com uma caríssima loja de ternos. Os olhos verdes observaram os manequins que estavam na vitrine, imaginando se o Guardião da Chuva ficaria bem em algum dos modelos. A imaginação foi um pouco mais longe e ele precisou respirar fundo quando sua mente começou a projetar não somente imagens do moreno com a roupa, mas também sem ela.
Eu estou sexualmente frustrado. A realização não era novidade, mas tornou-se difícil nas duas últimas semanas. Eles ainda não haviam feito sexo, embora já houvessem feito um pouco de tudo desde que se tornaram oficialmente um casal. A mão direita tocou a maçaneta da porta e o Guardião da Tempestade respirou fundo antes de abri-la. Uma olhada não mataria ninguém e, mesmo que não comprasse nada, seria bom começar a pensar no que vestiria futuramente ao lado de Tsuna.
A porta foi aberta do lado de dentro e ele sentiu-se puxado, batendo o rosto contra o peito de quem quer que estivesse saindo. Alguém tocou-lhe o ombro, desculpando-se e perguntando se ele estava bem. Os olhos verdes se ergueram e por um momento Gokudera teve um terrível déjà vu envolvendo escadas, chicotes e um longo e passional beijo.
"Ah! Gokudera!" O sorriso de Dino era tão largo e brilhante que o rapaz de cabelos prateados apertou os olhos, tentado a cobri-los com as mãos.
"Olá," a resposta saiu bem menos animada. Atrás de sua nova companhia vinha Romário e mais dois homens da Família Cavallone.
"Mas que coincidência vê-lo por aqui. Fazendo compras para o Dia dos Namorados?"
A pergunta foi feita sem malícia, no entanto, a reação de Gokudera denunciava seu intuito. O louro riu baixo, desculpando-se por sua curiosidade e convidando-o para uma xícara de café. Ele tinha a negativa na ponta da língua, mas sua resposta foi um menear de ombros. Dino não era de longe sua pessoa favorita e ele precisaria reconhecer que o tolerava unicamente por ser o irmão mais velho de Tsuna. A personalidade brilhante o irritava, visto que o lembrava de certo idiota cujo sorriso era tão cativante que o fazia sentir borboletas no estômago.
Os dois membros da Família foram dispensados, contudo, Romário permaneceu o tempo todo próximo de seu Chefe.
O local escolhido ficava há duas ruas da loja de ternos e o caminho até lá foi extremamente penoso para Gokudera, que sentiu os olhares a cada passo dado. Ele é realmente popular. Vez ou outra seus olhos erguiam-se para encarar sua companhia e ele tinha certeza de que aquela pessoa não percebia o alarde que causava. Hibari deve ter sua cota de sofrimento. Eu nunca achei que fosse simpatizar com aquele maníaco. A vida é uma piada de mau gosto.
Algumas garotas chegavam a virar o pescoço ao vê-lo passar, ignorando totalmente seus respectivos namorados. Em sua mão direita havia uma sacola de tamanho mediano que acendeu sua curiosidade em perguntar se aquele era o presente de Hibari. A dúvida o corroeu até o momento em que eles sentaram-se na mesa escolhida.
"Seu presente," a voz soou baixa, "é de Dia dos Namorados?"
O Chefe dos Cavallone havia erguido o braço para chamar o atendente e foi interessante vê-lo perder-se nas palavras, enquanto mantinha o braço levantado. Seu rosto tornou-se corado e entre os "n-não" e "t-talvez" o Guardião da Tempestade suspirou, arrependo-se de não ter deixado o assunto de lado. Mas eu nunca achei que fosse ver Dino Cavallone agir feito um adolescente idiota.
"Eu não sabia que Hibari usava roupas sociais." O comentário foi propositalmente claro para não deixar margem para dúvidas.
"Ele está aprendendo a gostar." O comportamento do louro mudou completamente. A timidez inesperada deu lugar a uma sólida confiança e até mesmo seus olhos tornaram-se diferentes, brilhantes e seguros. "Kyouya prefere kimonos."
Os pedidos foram feitos e os dois conservaram-se em silêncio até que as xícaras fossem pousadas. Gokudera pediu um expresso sem açúcar, seu favorito; Dino optou por um cappuccino e ambos dividiriam algumas bolachinhas de manteiga, ainda que ele não fosse inclinado a degustar nada com seu café.
"Foi aquela noite, não? Na escadaria do colégio?" Dino levou a xícara aos lábios e ponderou por um instante.
"Sim, me traumatizou por semanas."
"Mas você não está mais traumatizado, certo?"
A pergunta poderia soar inocente e até mesmo despretensiosa se não fosse seguida por um longo olhar. O Braço Direito era uma pessoa observadora e mesmo que não passasse de um obtuso seria impossível ignorar a entrelinha contida naquela sentença. O café desceu quente por sua garganta, aquecendo-o por inteiro e afastando um pouco o frio sentido durante sua caminhada. Ele sabe. A certeza estava estampada nos olhos cor de mel e resposta nenhuma seria capaz de revertê-la, principalmente por causa do silêncio de sua parte.
"Ele te disse? É uma idiota mesmo."
"Ele estava um pouco preocupado e eu apareci em uma boa hora. Eu diria que foi um encontro predestinado."
"E quando foi isso? Semana passada?"
"Oh, não," O louro mordiscou uma bolachinha, "há uns dois ou três anos, eu acho."
A xícara parou na metade do caminho, mantendo-se suspensa no ar. Seus olhos se ergueram e nenhuma aula de linguagem corporal teria sido suficiente para não fazê-lo reagir instintivamente àquele comentário. Ele sabia sobre os sentimentos de Yamamoto e que eles não eram novos, entretanto, ouvir da boca de outra pessoa o fez sentir-se mal ao recordar-se da discussão que tiveram em seu apartamento e em como as palavras do amante o faziam sentir-se egoísta.
"Não se preocupe, eu não planejo me estender na conversa, pois tenho um compromisso." O Chefe dos Cavallone terminou seu cappuccino e retirou uma nota da carteira, colocando-a embaixo do pires das bolachinhas. "Mas eu não posso mentir; estou feliz por saber que a espera de Yamamoto foi recompensada."
"Foi isso o que ele te disse?" Gokudera encarou a própria xícara.
"Na verdade, ele não disse nada. Nós nos encontramos no sábado na casa de Tsuna, mas não tivemos a chance de conversar." Dino ficou em pé e Romário, que estivera sentado em uma mesa próxima, fez o mesmo. "Mas certas coisas não mudam, independente do tempo que tenha passado. O Yamamoto que veio a mim há alguns anos é o mesmo rapaz que no sábado foi jurar lealdade ao Décimo Vongola, prometendo servi-lo pelo resto da vida. As coisas que ele quer proteger continuam as mesmas."
Dino desejou uma polida boa tarde, retirando-se do Café ao lado de sua sombra.
O rapaz de cabelos prateados terminou sua bebida, oferecendo o dinheiro ao atendente e afirmando que ele poderia ficar com o troco. A brisa gelada que o recebeu na saída o fez esconder-se dentro do cachecol branco, desejando que seu apartamento não fosse tão longe. Os planos para o presente de Dia dos Namorados precisariam ser deixados para outra oportunidade, já que ele tinha assuntos mais importantes a tratar. Então ele realmente decidiu ficar na Família e aparentemente o Juudaime o aceitou.
Aquela notícia mudava totalmente a situação e mais do que nunca a tão esperada conversa mostrou-se necessária. A mão achou o telefone celular em um de seus bolsos e o nome de Yamamoto foi encontrado facilmente na lista de contatos. A espera durou, como de costume, dois toques e a voz que o respondeu soou hesitante. A ligação durou menos de um minuto e então o telefone foi guardado novamente. As mãos enfiaram-se dentro do bolso da jaqueta e ele pôs-se a andar na direção de seu apartamento, sabendo que aquela seria uma das conversas capazes de mudar o rumo de uma vida.
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Yamamoto chegou pontualmente às 19h.
Gokudera havia acabado de sair do banho, indo atender a porta com a toalha molhada no pescoço. A pessoa do outro lado vestia um conjunto esportivo de inverno vermelho e trazia um cachecol xadrez no pescoço, que era responsável por esconder metade de seu rosto. As pontas do nariz e das orelhas estavam vermelhas devido ao frio e as mãos enfiadas dentro dos bolsos da jaqueta. O moreno pediu licença para entrar, retirando os tênis com os pés e seguindo o anfitrião. O Guardião da Tempestade ofereceu uma xícara de café e avisou que era a única coisa que tinha, uma vez que o chá havia acabado. A resposta foi positiva e o amante esperou sentado no sofá, a expressão séria e pesada e visivelmente desconfortável por estar ali.
"Obrigado," a caneca preta foi segurada com firmeza e o primeiro gole desceu quase imediatamente. Ele deve estar com frio...
O Braço Direito fez menção em sentar-se na poltrona, porém, não completou a ação. Se ele permanecesse naquele lugar seria como reviver a conversa de duas semanas atrás e parte dele temia que uma nova discussão surgisse, embora o intuito daquele convite fosse realmente uma conversa pacífica.
"Você sabe por que eu te chamei aqui hoje, então vamos pular a enrolação." Gokudera sentou-se no braço da poltrona, segurando sua caneca de café. "Eu soube que você foi falar com o Juudaime no final de semana."
"Eu fui," Yamamoto não negou. Sua caneca foi pousada na mesinha de centro e os olhos castanhos se ergueram. "Eu tinha que ir."
"Você realmente rejeitou todos aqueles convites? Nenhuma daquelas universidades era boa o suficiente?"
"Não, na verdade, elas são ótimas."
O Guardião da Chuva parecia irredutível e a expressão séria em seu rosto apenas fez transformar em certeza algumas observações que habitavam sua mente nas últimas semanas. Ele passou a prestar mais atenção em Yamamoto e notou alguns hábitos e características que passariam despercebidos se eles não fossem tão íntimos. Quando o assunto era importante, o moreno desfazia o sorriso e até mesmo o ar ao seu redor mudava. O sempre animado, gentil e prestativo Yamamoto Takeshi possuía facetas que a maioria das pessoas ignorava, mas que para ele haviam se tornado claras como o céu de verão.
"Apenas não são para mim."
"Então, você vai fazer parta da Família de verdade?"
"Eu achei que já fizesse parte." A resposta soou pesada e direta.
"Isso não é um jogo, Yamamoto. Os Vongola não são um bando de crianças correndo e lutando com espadas de madeira e —"
"Eu nunca disse isso, Gokudera, você que está colocando palavras na minha boca." O Guardião da Chuva suspirou e ficou em pé, parando à sua frente e fazendo-o erguer os olhos. O que é isso? Ele parece ainda mais alto. "Se você me chamou aqui para termos uma nova briga eu vou embora. Eu fiquei muito feliz ao receber sua ligação, porque senti saudades, mas não quero discutir novamente. Se você não está pronto para aceitar minha decisão, não há nada para conversarmos."
O rapaz de cabelos prateados apertou a alça da caneca e engoliu seco. Ele não tinha interesse em começar uma nova briga, no entanto, era muito complicado simplesmente aceitar que o amante estava jogando a melhor oportunidade de sua vida pela janela. Ele tem uma escolha...
"Eu estou tentando aceitar, mas é difícil ver alguém desperdiçando uma oportunidade de ouro. Estou tentando te fazer reconsiderar uma escolha cuja consequência pode te assombrar pelo resto da vida."
"Eu não irei me arrepender. Se o seu medo é que eu acorde um dia e deixe a Família, eu asseguro que não irá acontecer. E não é uma escolha. Eu sempre soube que esse dia chegaria e me preparei por bastante tempo para isso."
"Claro que você tem uma escolha, idiota!" Gokudera levantou-se e sentiu a veia em sua testa tremer. "Você tem a porcaria do baseball. Eu não entendo nada, mas sei que você é um bom jogador. Mais de cinco universidades estão dispostas a pagar caro por você e no final você decide por um caminho sem volta, difícil e cheio de buracos. Alguns não têm essa chance, sabia? Para algumas pessoas, o caminho mais duro é o único caminho!"
"Se você está falando sobre si mesmo, eu discordo. Você também teve escolhas. Estar com Tsuna e os demais foi escolha sua," Yamamoto fez uma pausa, "você me escolheu, Gokudera, quando poderia ter simplesmente me dado as costas e ignorado meus sentimentos."
Não, idiota, você me escolheu!
O Guardião da Tempestade mordeu o lábio inferior ao perceber que aquela conversa estava andando em círculos. Não era aquilo que ele tinha em mente quando fez a ligação. Aquele assunto precisaria ser resolvido naquele dia, mas se nenhum deles estava disposto a dar o braço a torcer não haveria meios de chegarem a um consenso.
"Apenas para deixar uma coisa clara, você não fez essa escolha por mim, correto? Você não está jogando fora um futuro promissor por minha causa?"
"É essa a sua preocupação?" O moreno soou machucado. "E se eu falar que sim? Que você foi um fator decisivo na minha escolha, o que irá acontecer?"
"Eu vou te chamar de idiota, mas não poderei te impedir."
Gokudera lembrou-se das palavras de Dino e que foram responsáveis pela ligação ao deixar o Café. Após ouvir que Yamamoto o havia consultado há alguns anos, foi impossível não se colocar em seu lugar, imaginando o que aconteceria se a história fosse contada ao contrário; se ele houvesse passado anos apaixonado, guardando aqueles sentimentos em um lugar especial de seu coração e se conformado em viver um amor que ele acreditava jamais ser recíproco. A resposta foi imediata, e naquele momento a escolha do moreno fez um pouco mais de sentido, ainda que continuasse a ser errada.
"Entrar no mundo da máfia por minha causa é um erro. Você pode facilmente jogar baseball profissionalmente e manter o que temos. Nada precisa mudar."
"Eu nunca tive interesse em jogar profissionalmente," Yamamoto cerrou a mãos enquanto elas pendiam ao lado de seu corpo, "eu amo baseball, o sol sobre minha cabeça, o cheiro da grama e o modo como o taco se encaixa perfeitamente entre meus dedos, mas é isso. Em minha mente eu sempre soube que quando o momento chegasse eu seguiria um caminho completamente diferente."
"Por que você nunca me disso isso? É a primeira vez que escuto tal coisa."
O Guardião da Chuva entreabriu os lábios, mas calou-se. Os olhos castanhos fitaram-no, como se procurassem por alguma coisa que ele não compreendia.
"Eu vou te fazer uma pergunta e peço que não me leve a mal." A incerteza por trás daquelas palavras o deixou impaciente. "Se eu tivesse comunicado minha decisão há um ano, você teria reagido da mesma forma? A opinião que você tem agora é a do Gokudera Hayato, Braço Direito do futuro Décimo Vongola, ou pertence ao Gokudera Hayato, a pessoa que se tornou meu amante e que eu acredito que me ame da mesma forma que eu o amo?"
O ar tornou-se pesado ao redor de seu corpo.
A questão soou várias vezes em seus ouvidos, ecoando por sua mente e sendo processada devagar por seu cérebro. A verdade que aquelas palavras continham mudou completamente o rumo daquela conversa e Gokudera tinha certeza de que se o idiota não houvesse apontado seu erro, uma nova discussão estava fadada a acontecer, visto que cada um tinha seu próprio ponto de vista e não estava disposto a ceder. Todavia, aquela simples pergunta mudou tudo.
As palavras de Dino finalmente fizeram sentido e o Braço Direito deu um passo para trás e sentiu a parede em seu calcanhar. Seu corpo deslizou devagar, até que ele se sentasse ao chão. A caneca vazia de café foi colocada sobre o piso e a mão livre cobriu seus olhos, como se o gesto fosse também capaz de omitir sua vergonha. Eu não acredito que, no final, o idiota foi capaz de ser mais maduro do que eu. Em que mundo vivemos? A pessoa à sua frente deu mais um passo, abaixando-se e colocando as mãos sobre seus joelhos. Os olhos verdes se ergueram e a expressão no rosto de Yamamoto era uma mistura de alívio e tristeza.
"Por isso você foi falar diretamente com o Juudaime, não é?" A verdade tinha um amargo gosto de café sem açúcar.
"Ele é o futuro Chefe da Família. Eu devia isso a ele."
"O Juudaime ficou com vergonha, hm? Aposto que gaguejou o tempo todo." Ele riu ao imaginar a cena. "Maldito, fazendo o Juudaime ficar sem graça!"
"Hahahaha ele se desculpou várias vezes e falou as mesmas coisas que você havia dito quando discutimos. Nós conversamos por um bocado de tempo."
Ele sentia como se suas forças houvessem deixado seu corpo. De repente, toda a pressão e tensão que o acompanhou durante aquelas semanas pareceram finalmente atingi-lo. O moreno estava certo. Aquele que havia falado na discussão há algumas semanas não fora o Braço Direito do Décimo Vongola, mas o amante que se recusava a assumir que estava preocupado com o fim que seu namorado pudesse ter ao pisar naquele mundo cruel.
O verdadeiro Guardião da Tempestade jamais negaria que sua presença era uma adição essencial à Família e que era parte de sua obrigação assegurar-se de que ele fizesse parte dos Vongola. Eu sinto como se houvesse duas pessoas dentro de mim: aquele que sabe o quão importante o idiota é para a Família, e aquele que teme que tal importância algum dia custe sua vida. É incrível imaginar que em um ano essa pessoa se tornou tão importante que me faz sofrer antecipadamente a sua perda.
Gokudera abraçou os joelhos, escondendo o rosto e tentando omitir as bochechas vermelhas. Ele queria poder refutar aquelas verdades, utilizando seu tom arrogante e destilando superioridade enquanto o humilharia sem pensar nas consequências. Contudo, Yamamoto já havia visto através de suas mentiras, portanto, o que restaria fazer?
Ele sentiu a aproximação e lutou o máximo possível para não deixar-se ver, embora soubesse que era uma tarefa impossível. O Guardião da Chuva inclinou-se e colocou-se entre suas pernas, parando somente para encará-lo. A conversa havia terminado, fazendo-o sentir-se tolo por tê-la prolongado por duas longas semanas. Se sua teimosia não fosse tão crônica, aquele tempo poderia ter sido mais bem aproveitado.
Os lábios procuraram os seus e os olhos verdes se fecharam muito antes do beijo começar. A tensão que o acompanhou durante aqueles dias de ausência pareciam dissipar conforme a carícia se intensificava e o Braço Direito não se surpreendeu ao sentir a própria mão puxar a jaqueta de Yamamoto, sugerindo mais contato e menos distância. Nós estamos juntos oficialmente há mais de um mês, mas antes disso tivemos as duas semanas teste e isso sem contar o beijo na casa do Juudaime. Eu já esperei o bastante.
A pausa para ar seria o momento que Gokudera teria para deixar claro quais eram suas intenções. Ele poderia simplesmente levantar-se e perguntar se Yamamoto já havia jantado e se prontificado a preparar alguma coisa. A noite seria passada no sofá, abraçados e enrolados em um edredom enquanto assistiam seriados. O amante iria embora no final da noite depois de algumas preliminares e ele precisaria se tocar duas ou três vezes até conseguir pegar no sono. Mas não hoje!
O moreno exibiu um meio sorriso e pendeu para frente disposto a continuar o beijo, entretanto, parando ao sentir os pálidos e delgados dedos sobre seus lábios.
"Nós jamais falamos sobre sexo, mas eu acho que se não tocar no assunto nunca iremos, de fato, conversar sobre isso." O rapaz de cabelos prateados sabia quais as palavras certas a dizer, mas, por Deus, como eram embaraçosas! "E-Eu nunca fiz nada. Você foi meu primeiro beijo, então é fácil deduzir que sou v-vir..."
"Eu sei," Yamamoto sorriu e voltou à posição inicial, ajoelhando-se entre suas pernas, "e eu também nunca dormi com ninguém. Nós estamos na mesma situação, por isso não é preciso ter pressa. Nós podemos esp—"
"Não podemos!" Gokudera sentiu o coração bater mais rápido. Em qualquer outro dia ele se sentiria lisonjeado por saber que sua companhia o respeitava a ponto de esperar por sua decisão, porém, aquela era uma grande perda de tempo. Ela já fora tomada há muito tempo. "Eu estou pronto! Mais do que pronto. Se não fossem essas semanas nós provavelmente já teríamos..."
A expressão no rosto de Yamamoto foi responsável por calá-lo. As sobrancelhas estavam levantadas e havia um sorriso em seus lábios, que logo se transformou em uma gostosa gargalhada. O Guardião da Chuva jogou o corpo para trás, sentando-se e rindo como se houvesse escutado a piada mais engraçada do mundo. A atitude enervou o Braço Direito, que se sentiu humilhado por ter gastado tanto tempo pensando naquele assunto.
A verdade era que ele estava cansado das preliminares que não chegavam a lugar nenhum. A cena na casa de Yamamoto passou a se repetir diariamente, e dos toques para outras intimidades foi uma questão de tempo. Gokudera nunca se esqueceria do dia em que, ali, naquela mesma sala, ele ajoelhou-se entre as pernas de Yamamoto e o recebeu em sua boca. Eu assisti àquele vídeo tantas vezes que estava ansioso para fazer o mesmo. A realidade foi diferente do esperado, mas não lhe desapontou. As reações do amante foram sem dúvidas a melhor parte, especialmente os gemidos baixos e as bochechas coradas após o orgasmo.
"Se você for rir, então vá embora! E eu aqui falando um assunto sério..."
"Hahahaha desculpe, Gokudera, mas eu nunca achei que fosse ouvir você falando sobre isso." O moreno ficou em pé, segurando-o pela mão antes que se afastasse. "Eu achei que fosse o único a ter esses pensamentos, mas não disse nada porque fiquei com medo de parecer apressado."
"Somos dois garotos, claro que esse tipo de coisa passaria pela minha cabeça." Ele tentou puxar a mão, no entanto, acabou trazendo a pessoa inteira. Yamamoto o abraçou por trás, e imediatamente seu corpo se arrepiou. O idiota estava excitado.
"Vê? Eu penso nisso o tempo todo e você vem e me fala essas coisas adoráveis, Gokudera?" A voz entrava por seu ouvido direito, excitando-o. "Se você está pronto eu não tenho objeções, mas não trouxe nada. Se me der cinco minutos eu posso ir à farmácia."
"Não é preciso," O Guardião da Tempestade sentiu seu o coração bater rápido, "eu tenho tudo o que precisaremos."
O moreno riu baixo, adiantando-se e puxando-o pelo corredor. O apartamento não era grande e da sala até o quarto eram necessários pouco mais de dez passos. Ao pisar no cômodo, a primeira coisa que ele fez foi abrir a jaqueta, retirando-a e jogando-a na direção da poltrona. A camiseta branca teve o mesmo fim e naquele instante Gokudera teve certeza de que seus dias inexperientes haviam terminado.
"Não tem graça se eu for o único sem roupa." Yamamoto aproximou-se, mas Gokudera esticou os braços, parando-o e garantindo que conseguiria se despir sozinho.
"P-Podemos pelo menos apagar as luzes?"
"Eh~," ele soou como uma criança, "mas eu não poderei te ver!"
Essa é a ideia, idiota! O pedido foi negado e o Guardião da Chuva manteve-se parado, esperando-o começar a se despir. Os olhos atentos o deixavam envergonhado, contudo, ele sabia que precisaria suportar o desconforto se quisesse saber o que vinha depois dos beijos e das carícias. Eu quero sentir exatamente o que aquele garoto do filme sentiu. As costas arqueadas, os gemidos, o clímax... Em seus momentos íntimos o rapaz de cabelos prateados havia encontrado o ponto especial capaz de fazê-lo perder o controle, entretanto, ele e Yamamoto nunca chegaram tão longe. A camiseta preta foi retirada em um único movimento e deslizou até o chão. O amante sentou-se na beirada da cama, chamando-o com a mão.
Gokudera aproximou-se devagar, ficando entre as pernas do moreno. Uma das grandes mãos desfez o laço que prendia a calça de moletom, abaixando-a até os pés. Naquela noite ele vestia uma roupa de baixo colada e azul-clara, que dava forma às suas poucas curvas, além de ser extremamente confortável. Yamamoto subiu as mãos por suas coxas, provocando-o com os polegares, mas ignorando o principal. A atenção então foi para sua própria calça, que foi retirada daquela mesma posição, expondo a roupa de baixo negra que ele vestia.
O rapaz de cabelos prateados inclinou-se à frente, sendo guiado para o meio da cama. Os corpos se juntaram ao entrarem em contato com o colchão e as posições se inverteram. O sorriso do Guardião da Chuva se desfez e os olhos castanhos possuíam outro brilho, menos ingênuo e mais perigoso. A mão tocou-lhe o rosto, descendo pelo peitoral e criando um rastro quente por onde passava. A pele se arrepiava e Gokudera virou o rosto para o outro lado, procurando omitir aquelas reações tão honestas. O gesto criou a oportunidade para que o amante tocasse o pescoço com seus lábios, lambendo-o e sugando-o até deixar uma visível marca. O primeiro gemido deixou seus lábios e ele claramente não seria o último.
A cada toque e a cada beijo o Braço Direito sentia que se perdia mais e mais em Yamamoto. Seus toques eram gentis, mas também possessivos, procurando prová-lo por inteiro. Os beijos desceram por seu peitoral e ali ele soube que começaria sua tortura, já que foi com o moreno que ele descobriu o quão sensível seu corpo conseguia ser. A língua circulou seu mamilo esquerdo e os dentes o morderam de leve, levando uma onda de eletricidade por todo o seu ser. As costas de suas mãos foram até os lábios em uma vã tentativa de abafar os gemidos. O outro mamilo recebeu a mesma atenção, todavia, as sensações intensificaram-se quando Yamamoto passou a masturbá-lo por cima da roupa de baixo azul-clara, fazendo-o ansiar pelos toques mais ousados e diretos.
A espera do Guardião da Tempestade seria recompensada. Após a breve sessão de tortura, o amante ergueu um pouco o rosto e perguntou docemente onde poderia encontrar o tubo de lubrificante. Gokudera precisou de um tempo para lembrar-se onde havia colocado, e o máximo que conseguiu foi esticar o braço esquerdo e apontar para a cômoda do outro lado da cama. O Guardião da Chuva sorriu em agradecimento, inclinando-se e encontrando o que procurava. O rapaz de cabelos prateados, nesse meio tempo, retirou a última peça de roupa que o incomodava, chutando-a para o chão. Se ele não estivesse tão absorto no momento teria se lembrado de que aquele não era o tubo correto. Havia um novo dentro do guarda-roupa, reservado unicamente para aquela ocasião.
"Gokudera..." A voz soou rouca e o fez abaixar os olhos ao vê-lo entre suas pernas. "Você usou o lubrificante?"
O tubo de rótulo azul foi agitado e lentamente todas as lembranças retornaram. Seu rosto ganhou uma coloração rosada e foi impossível não recordar-se das dezenas de vezes que ele tocou-se, naquela mesma cama, chamando pelo nome do amante. A resposta tremeu em seus lábios, mas seria impossível responder. Yamamoto ofereceu um largo sorriso e fechou os olhos, abaixando o rosto e deixando que sua língua subisse por toda a extensão do membro. Gokudera tremeu, puxando a roupa de cama enquanto tentava fechar as pernas por puro instinto. Não era a primeira vez que eles faziam aquilo, mas o moreno era habilidoso e conhecia seus pontos fracos.
Os gemidos começaram quando Yamamoto recebeu a ereção em sua boca, masturbando a base com as pontas dos dedos. O Braço Direito arqueava o pescoço para trás, sentindo a pele arrepiada e a incrível sensação vinda de seu baixo ventre. Aquelas duas semanas de abstinência afetaram seu humor e nem os momentos de intimidade privada pareciam deixá-lo menos frustrado. Depois que seu corpo conheceu o calor daqueles toques seria impossível retornar ao tempo em que sua mão direita conseguia satisfazê-lo. A pior parte era saber que, após aquela noite, aquela pessoa se tornaria ainda mais indispensável.
Gokudera não tinha fantasias românticas com relação a sexo e sabia que o ato nada mais era do que uma forma de seu corpo extravazar aquelas sensações. Porém, aquela teoria contrastava totalmente com o que ele vivia desde que passou a se relacionar com Yamamoto, pois, se o contato físico fosse apenas consequência, por que ele tinha certeza de que jamais conseguiria se entregar daquela forma a outro ou outra? Essa relação seria completamente diferente se não tivéssemos nenhum contato físico. No entanto, por termos, é como se tudo ganhasse outras proporções.
A pessoa que ele ralhava no colégio não era simplesmente o idiota viciado em baseball ou o Guardião da Chuva dos Vongola, era Yamamoto, seu amante, aquele que o acompanhava todos os dias até seu apartamento unicamente para beijá-lo na soleira; a pessoa com que ele passava horas no telefone quando não podiam se ver no final de semana e cujo sorriso era capaz de apaziguar sua ira. Droga, por que eu sinto que ele está me domando?!
A primeira vez que ele testou o lubrificante foi exatos dois dias depois da embaraçosa sessão de cinema em seu laptop. Para sua surpresa, as pessoas pareciam muito mais propensas a ignorarem um tubo de lubrificante sendo comprado por um adolescente do que um maço de cigarros. Gokudera fez uma minuciosa pesquisa na internet antes de ir para a parte prática. Ele havia compreendido (e muito bem!) a dinâmica do ato, contudo, era preciso mais fontes para não tornar aquela empreitada traumatizante. Estranho seria a melhor definição para sua primeira tentativa. Durante o tempo todo ele esteve consciente do que fazia e pudor o impediu de realmente entregar-se ao momento.
A nova tentativa aconteceu nos dias iniciais às duas semanas testes, quando haviam decidido que tentariam ficar juntos. Dessa vez tudo foi diferente e o vídeo não foi necessário e ele precisou somente lembrar-se do beijo que trocaram na sala de aula, após a limpeza, para que todos os seus hormônios começassem a borbulhar. Ele nunca imaginou que um momento para si mesmo pudesse ser tão prazeroso e educativo.
Depois daquela tentativa, tornou-se constante que seus momentos particulares recebessem novo incentivo. Logo, quando Yamamoto levou um dos dedos até sua entrada, o gemido que deixou sua garganta não foi de surpresa ou dor. Havia o natural desconforto, entretanto, ele estava excitado demais para se importar com detalhes. Em sua mente só havia a nova sensação de tê-lo tocando-o em um lugar tão íntimo e que nunca havia sido tocado por ninguém.
E ele adorou.
Dono de uma potente memória seletiva, o Guardião da Tempestade raramente dava importância a qualquer coisa que não envolvesse Tsuna e a Família. Pessoas, cenários, locais ou conversas... dificilmente ele manteria em mente o que não considerasse imprescindível para os Vongola. Todavia, aquela noite entraria facilmente para a lista de exceções e, mesmo que não soubesse disso naquela ocasião, certos momentos estariam cravados por dias em suas lembranças como, por exemplo, os breves minutos que o amante passou preparando-o.
Gokudera teve dificuldades em manter-se focado, uma vez que a cena era embaraçosa por si, mas a curiosidade falou mais alto. O modo como Yamamoto movia sua língua e lábios em torno da ereção, os olhos castanhos bem abertos e fiscalizantes, observando as reações como um cachorro a seu dono; a mão direita movendo-se um pouco mais embaixo e os dois dedos o penetrando com insistência, atingindo-o fundo e preparando-o para algo maior. Como ele consegue fazer essas coisas sem sentir vergonha? Seu membro sumiu novamente dentro da boca do Guardião da Chuva, bem, eu também nunca achei que fosse deixar outro garoto fazer essas coisas comigo.
"Gokudera..." A voz soou baixa e foi acompanhado por um olhar significativo. O moreno parou o que fazia, ajoelhando-se e pegando um dos preservativos que estavam junto com o tubo de lubrificante. "Eu vou tentar agora. Se você se sentir... estranho, me avise."
"Idiota..." Foi a única coisa que ele conseguiu dizer.
Não havia nada de sensual no ato de colocar um preservativo, mas os olhos verdes permaneceram o tempo todo em Yamamoto. Eles eram dois homens, como o mesmo corpo, porém, por que o idiota parecia tão diferente? A mão morena tocou sua coxa, apertando-a e fazendo-o notar a diferença entre os tons de pele. Aquele gesto serviu para distraí-lo e o rapaz de cabelos prateados sentiu o coração bater mais rápido ao vê-lo se posicionar entre suas pernas. A mão esquerda guiou a ereção e ele apertou novamente a roupa de cama.
Tudo então aconteceu devagar, como em perfeita sincronia: o pescoço pendeu para trás e suas costas arquearam-se um pouco da cama; o gemido soou mais alto do que os anteriores e ele teve a impressão de que seu corpo era transpassado por uma forte descarga elétrica, dos pés à cabeça. Yamamoto soltou um contido gemido ao penetrá-lo totalmente e Gokudera sentiu uma lágrima escorrer pelo canto direito de seu olho tamanha a excitação, ignorante de que havia chegado ao clímax somente por ser penetrado.
Seu momento, no entanto, não durou muito e a realidade puxou seu tapete, fazendo-o gemer mais uma vez. O som de sua própria voz foi responsável por acordá-lo daquele transe e fê-lo dar-se conta do que acontecia em seu baixo ventre. A cama rangia a cada estocada e a sensibilidade causada pelo orgasmo o fazia sentir os movimentos com o dobro de intensidade. Seu rosto ergueu-se um pouco, o suficiente para poder enxergar o próprio sêmen que pintava seu abdômen. Uma grande sombra formou-se sobre ele, fazendo-o deitar-se mais uma vez.
As bochechas tornaram-se coradas e o Guardião da Chuva esboçou um rápido meio sorriso antes de retornar à expressão concentrada. Seus cotovelos foram pousados entre a cabeça prateada, sustentando o corpo e tornando as investidas mais profundas. O Guardião da Tempestade tocou as costas nuas, apertando a pele e trazendo-o para mais perto. O contato direto levou uma nova onda de arrepios, que se intensificou quando o amante afundou o rosto em seu pescoço. A respiração alta misturava-se aos gemidos e aos sons da estocada, lembrando-o do que realmente acontecia naquele quarto.
Em suas fantasias, Gokudera perdia a virgindade com uma garota bonita, que chamaria seu nome durante todo o tempo. A realidade não se mostrou tão insustentável, apenas diferente. Seu parceiro era um dos rapazes mais belos do colégio, que chamava seu nome com mais frequência do que ele gostaria de ouvir.
Yamamoto ergueu-se após alguns minutos, voltando a ajoelhar-se na cama e afastando um pouco mais as delgadas e pálidas pernas. O ritmo tornou-se mais exigente e as estocadas o atingiam fundo e em seu ponto especial. A ereção retornara enquanto eles trocavam um longo e erótico beijo e parecia implorar um pouco de atenção. Eu estou começando a me sentir diferente. Como se houvesse alguma coisa queimando dentro de mim.
A sensação se intensificava todas as vezes que seu ponto especial era tocado. O moreno o segurou pela cintura, avisando sobre seu clímax. O Braço Direito desceu a mão até a própria ereção, passando a masturbá-la no mesmo ritmo com que era invadido. A cena pareceu encher os olhos de Yamamoto, que soltou um baixo "tsk" antes de voltar a se inclinar sobre ele, penetrando-o com mais força. Os gemidos soavam como um sensual dueto, que durou apenas o tempo suficiente para que ele se movesse uma última vez. Gokudera precisou de alguns segundos e então a deliciosa sensação de pura satisfação o invadiu novamente.
Palavras não seriam necessárias, portanto, nenhum deles disse nada.
O Guardião da Chuva vacilou por um instante, deixando-se cair lentamente sobre o amante. O rapaz de cabelos prateados abriu os olhos devagar, sentindo as batidas do coração sobre seu peito e não se surpreendendo por isso fazê-lo feliz. As mãos voltaram a subir pelas costas, que estavam úmidas de suor. Yamamoto retribuiu o gesto e ambos conservaram-se abraçados por alguns segundos, como toda primeira vez deveria acontecer... não?
"Gokudera... v-você..."
"Ignore isso..." As palavras saíram baixas e suas bochechas tornaram-se vermelhas.
"É um pouco difícil..." Ele riu baixo. "Está me cutucando..."
O moreno ergueu o rosto e ofereceu um reconfortante meio sorriso, que tornou a situação ainda pior. Gokudera virou o rosto para o lado, envergonhado demais para encará-lo diferente. Aquilo não poderia acontecer, não naquela situação. Eu já deveria estar satisfeito. Quando estou sozinho, duas vezes já é o bastante para me fazer sentir cansaço e sono, e muitas vezes acordo apenas no dia seguinte. O que está acontecendo? Ele sentiu que havia alguma coisa diferente assim que o amante deitou-se sobre ele e o abraçou. A sensação de satisfação desapareceu e a ereção que deveria ter sumido com o orgasmo continuava onde estava. Ele vai me achar um pervertido!
"Eu sempre sonhei em fazer amor com você do jeito que fizemos," os lábios tocaram sua orelha esquerda e sopraram as palavras, "eu veria seu rosto e suas reações e chegaríamos juntos ao clímax. Mas é sua vez agora... você pode escolher como quer, Hayato."
Se o pedido já não fosse suficiente para deixá-lo envergonhado, ouvir-se chamado pelo primeiro nome, pela primeira vez, foi o bastante para corá-lo totalmente. Os olhos se encontraram e o Guardião da Tempestade gaguejou uma retaliação que não se concretizou. Yamamoto ergueu-se e retirou-se de dentro dele devagar, fazendo-o gemer com a nova sensação. O preservativo foi retirado e lacrado e naquele instante ele se deu conta de que sua companhia estava novamente excitada.
A pergunta ecoou por sua mente, fazendo-o morder o lábio inferior. Havia uma infinidade de posições que ele gostaria de experimentar, mas somente uma ficou cravada em sua mente desde que assistira àquele vídeo. Seu corpo virou-se na cama e o rosto afundou-se no travesseiro por um instante. O corpo ergueu-se o suficiente para que fosse sustentado por seus joelhos e cotovelos.
"Você tem certeza, Gokudera?" A voz soou rouca e séria e a mão que tocou seu quadril estava trêmula.
"Você não quer?"
"N-Não, não, eu quero! E-Eu realmente quero, mas... mas..."
"Então não me faça perder tempo... E vamos fazer sem dessa vez..." Ele virou o rosto e apontou para os preservativos. "Nós éramos dois virgens, não? E eu quero saber qual a diferença."
A expressão do Guardião da Chuva era de genuína felicidade. Os olhos castanhos brilharam e ele abraçou-o por trás, chamando-o pelo nome e rindo. O Braço Direito precisou quase virar-se para ameaçá-lo e a brincadeira só terminou quando o desejo falou mais alto. Yamamoto o beijou de leve, passando a língua sobre seus lábios e umedecendo-os antes de retornar à posição anterior. Gokudera voltou a afundar o rosto no travesseiro, gemendo ao sentir-se penetrado. É diferente. Dessa vez é como se eu pudesse realmente senti-lo.
Não houve o desconforto de outrora e a posição tornava o ato ainda mais sensual. O moreno o segurou firme pelo quadril, começando a se mover com movimentos lentos e cuidadosos. O rapaz de cabelos prateados tentava conter suas reações e imaginava como aquela relação mudaria a partir daquela noite, certo de que não seria mais necessário procurar vídeos eróticos pela internet, visto que, desde que viu Yamamoto completamente nu, a expressão séria e concentrada, devorando-o totalmente, ele teve certeza de que não havia visão mais erótica e excitante.
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Ele acordou por puro hábito, abrindo os olhos e pensando que era hora de levantar e correr.
A corrida matinal acontecia quando o dia ainda não havia nascido e o ar estava fresco. Não havia pessoas pelo caminho ou carros barulhentos e Yamamoto sentia como se pudesse simplesmente perder-se no exercício, esquecendo seus problemas e focando-se unicamente em dar um passo de cada vez.
O teto que se apresentou acima, contudo, não era o de seu quarto. Ao seu lado direito não existia a janela e o guarda-roupa era maior e colocado em outra posição. Não havia tacos de baseball atrás da porta, ou revistas esportivas sobre a cômoda. A cama onde se encontrava também não lhe pertencia; esta tinha um colchão macio e vários travesseiros, além de comportar duas pessoas.
Aquele em seus braços moveu-se, gemendo baixo e escondendo-se um pouco mais dentro do cobertor. O senso de realidade retornou aos poucos e as lembranças da noite anterior foram responsáveis pelo largo sorriso que se formou em seus lábios. Não haveria corridas naquela manhã, aliás, ele sequer sairia da cama tão cedo. O Guardião da Chuva virou-se, ficando de frente para sua companhia e retirando gentilmente uma mecha prateada da face que ele jamais se cansaria de admirar. Gokudera dormia profundamente, enrolado no cobertor e parecendo tão inocente e inofensivo como um gato. Eu não acredito que nós... finalmente.
A noite anterior foi responsável por fechar um ciclo. O sexo fora maravilhoso, infinitamente melhor do que ele imaginou em suas fantasias, mas não o foco. A conversa que tiveram antes de seguirem para o quarto foi tudo o que Yamamoto precisava para ter certeza de que aquilo não era um sonho e que eles realmente estavam juntos.
As duas semanas que seguiram a briga o fizeram temer que seu conto de fadas não tivesse um final feliz. A discussão serviu para fazê-lo ver que a outra parte também estava pensando seriamente sobre a relação e que uma decisão precisaria ser tomada. Quando conversei com Tsuna eu senti como se a resposta estivesse o tempo todo comigo. Eu amo baseball, mas não é a vida que eu quero para mim.
Deixar o jogo de máfia nunca foi uma opção. Desde que aceitou o anel da Chuva ele sabia que aquele era seu caminho. A presença do Guardião da Tempestade, claro, tinha grande influência em sua decisão, entretanto, ele preferia encará-la mais como um bônus do que um motivo. Imaginar-se vivendo lado a lado com seu amante era definitivamente o melhor tipo de vida, ainda que Gokudera se mostrasse arisco à ideia. Eu sei que não será fácil e que provavelmente brigaremos sobre o assunto várias vezes, mas eu já tomei minha decisão.
Os dedos desceram pela face, contornando o maxilar e acariciando o queixo. Foi impossível não recordar que aquele fora o mesmo caminho que sua língua traçou na noite anterior e ele suspirou completamente apaixonado. Gokudera provavelmente vai dormir até o almoço. Eu prometi a mim mesmo que seria cuidadoso, mas acho que passamos do limite.
O moreno lembrava-se vivamente do que havia acontecido duas vezes na cama e que terminou no banheiro. Já era madrugada quando eles decidiram dividir o chuveiro e o que começou com um tímido banho tornou-se uma reprise do quarto, com o Braço Direito gemendo e ficando nas pontas dos pés todas as vezes que era invadido. A cena demoraria a deixar sua mente e ele não precisava sequer fechar os olhos para reviver aqueles doces e intensos momentos.
Yamamoto não sabia se precisaria ter alguma coisa romântica e ensaiada para dizer quando o amante acordasse e não fazia a mínima ideia de como agiriam quando estivessem fora da cama. Aquela era a primeira vez que ele se via naquele tipo de situação e seu coração começava a bater rápido ao antecipar aquele momento.
"Do que você está rindo... idiota?"
A voz soou rouca e sonolenta e somente naquele instante ele se deu conta de que estava sendo observado. Gokudera piscou longamente, mas permaneceu no mesmo lugar.
"Que horas são?"
"Cinco horas."
"Você tem que ir?"
"N-Não..." A resposta soou baixa e a ansiedade deixou seu coração, e ele voltou a sorrir. "Eu não vou a lugar nenhum, Hayato."
O rapaz de cabelos prateados olhou-o e aproximou-se um pouco, puxando o cobertor e enrolando-se ainda mais. Os braços envolveram-no em um forte abraço e seus olhos voltaram a se fechar.
Há um ano ele havia decidido confessar seus sentimentos, oferecendo ao acaso a esperança de que houvesse a mínima chance de eles serem recíprocos.
Há um ano aquele tipo de cena não passava de fantasia para dormir, como um bom sonho.
Há um ano, e como nos anos anteriores e nos seguintes, Gokudera era, e seria, o único amor de sua vida.
E, como uma das muitas inevitabilidades da vida, em breve o inverno chegaria ao fim... porém, dessa vez não haveria rejeições ou corações partidos. A partir daquele dia a vida lhe reservaria mais sorrisos do que lágrimas; mais abraços do que batalhas, embora a quantidade de suspiros fosse quase proporcional a de discussões. Ele mudou, Gokudera mudou e muito em breve as estações mudariam.
A primavera de sua vida estava apenas começando.
- FIM.
Notas da autora:
Depois de algum tempo eu finalmente termino outro projeto 8059!
A ideia para esta fanfic surgiu ano passado, depois que me dei conta de que há tempos não escrevia nada sobre esses dois. Na verdade, após Vendetta eu passei um tempo longe do fandom de KHR, porque senti que talvez nunca mais conseguisse oferecer uma história melhor para os leitores. Sabe aquela sensação de "Será que um dia conseguirei escrever algo melhor do que isso?" Por esse motivo me dediquei a outros personagens e fandoms.
Porém, senti falta de KHR, e o modo como certos plots só funcionam com esses personagens. Winter foi a única fanfic 8059 sobre começo de relacionamento, e achei que seria uma boa experiência retornar o tema com algo novo. O processo de criação foi um pouco perturbado, pois na época eu ainda estava tendo aula e precisei dividir meu tempo. Alguns leitores mais antigos notaram as mudanças na história, que está mais madura do que meus trabalhos anteriores. Essa mudança foi proposital, visto que eu queria abordar o assunto do homossexualismo com um pouco mais de realismo. Digo, eu adoro aquele clima de "todo mundo aceita todo mundo \o/", mas decidi seguir outro caminho e o resultado me agradou bastante.
Bem, como não poderia deixar de dizer, agradeço por terem dado mais uma oportunidade para mim e minhas histórias. Esta história termina aqui, mas estou trabalhando em um spinoff D18, que pretendo postar em 05/05 — aniversário do Hibari. Porém, não será meu único projeto do ano sobre KHR. Tenho alguns plots rascunhados, esperando apenas tempo para desenvolvê-los, o que inclui a continuação de Between you and me e The Romance of Sadness, e uma longfic D18.
Sem enrolar ainda mais do que já me enrolei, obrigada mais uma vez aos leitores e amigos que me motivam a continuar a postar!
Vejo vocês em breve~