Gente, acabou '='

Esse é o último capítulo e o fim da aventura de Peeta e Cato. Foi uma longa jornada para mim tanto para escrever quanto para publicar, mas foi legal e eu pretendo escrever mais e continuar colocando essas coisas aqui. :)

Boa Leitura!


A manhã foi bem menos estranha do que Peeta imaginava que seria, considerando o fato de que acordou com o rosto contra o peito de Cato e com suas pernas entrelaçadas. Ele não tinha aberto os olhos ainda e não sabia se o loiro já estava acordado ou não, mas, de qualquer modo, para prolongar o contato, ele se manteve quieto, fingindo que ainda estava dormindo. Pelo menos até se lembrar da noite anterior e ficar involuntariamente tenso. Sentiu Cato apertar ainda mais o abraço que já estava dando e Peeta sentiu que desapareceria debaixo dele a qualquer momento.

Então, o outro lhe desejou um bom dia preguiçoso, depositou um beijo no topo de sua cabeça e se levantou, espreguiçando-se todo e exibindo seu tamanho e seus músculos para Peeta enquanto ia na direção do banheiro. E Peeta ficou deitado, desconfortável com a ausência, e consternado com a casualidade de tudo o que eles fizeram. Realmente, não foi nada estranho. Foi… natural. E mesmo isso deixava Peeta assustado com a velocidade com que a relação deles estava se estabelecendo.

De qualquer modo, eles passaram a primeira parte do dia tentando descobrir uma forma de voltar para casa. Os aeroportos ainda não estavam funcionando e não deram a eles nenhuma previsão de vôo para aquele dia. Eles, entretanto, não podiam se dar ao luxo de esperar mais e foram obrigados a apelar para viagens clandestinas, que estavam custando os olhos da cara e não eram nem um pouco seguras.

Mas os dois estavam desesperados o suficiente para encarar essa.

O avião, que era um bimotor, pequeno demais para sequer existir distinção de classes, decolaria ao meio dia e, nesse interir, ele arranjaram roupas novas e jogaram aquelas que lhe foram dadas na primeira lixeira que encontraram. E foi um alívio para Peeta se livrar daquele tecido sujo, grosso e pinicante. Estava se sentindo agora outra pessoa, novo em folha.

Ainda tiveram tempo de procurar nas farmácias o tipo de analgésico que ele costumava comprar, mas parecia que os farmacêuticos se recusavam a vender tramadol na Islândia e quando encontraram era necessário apresentar a receita médica, coisa que Peeta não tinha. E eles já estavam quase desistindo, quando esbarraram em um sujeitinho de moral meio duvidosa e conseguiram comprar o remédio pelo dobro do valor de mercado.

Peeta não pensou duas vezes antes de enfiar seus dois comprimidos diários na boca e engoli-los à seco mesmo.

Talvez as coisas estivessem se ajeitando aos poucos, no final das contas. Agora Peeta só precisava encontrar o momento certo para contar a Cato que a Life não estaria exatamente como ele se lembrava quando chegassem lá.

Mas então os dois estavam sentados naquele apertado, escutando a barulheira dos outros passageiros, que tinham tanta urgência quanto eles em sair do país, e Peeta começou a ficar nervoso, suas mãos suavam e ele se distraiu passando a bengala de um lado para o outro, encarando o lado de fora, uma vez que tinha sentado na janela.

— O que foi? – Cato acabou perguntando, um pouco depois de terem levantado vôo. Ele estava conferindo os itens da mochila e mexendo na câmera de novo, só para ter certeza de que tinha estragado para sempre.

— Hã? O quê? Nada. – respondeu rapidamente, se virando de novo para o outro lado.

— Fala logo. Qual é o problema?

Peeta achou que era melhor fazer isso de uma vez por todas, como puxar um band-aid da ferida.

— Ok. Eu liguei para a Katniss ontem, antes do Haymitch aparecer e, bem, segundo ela, eles já iniciaram a transição da revista. – ele disse, tentando soar como se aquilo não fosse grande coisa, mas não adiantou muito, porque Cato parou tudo o que estava fazendo e ficou congelado, olhos fixos nas mãos que há pouco estavam trabalhando.

— O que disse? – ele perguntou, devagar e com uma clara iminência de raiva reprimida. Peeta tinha que estar preparado para a explosão. Suspirou.

— Começaram as demissões e a desmontar as instalações… Crane não…

— Ah, e isso não é importante!? – o loiro o interrompeu, virando-se para Peeta com o corpo inteiro, o rosto começando a adquirir uma coloração avermelhada. — Você ficou puto da vida porque eu deixei de te contar algo que nem era relevante pra porcaria de nada e você simplesmente decide que eu devo saber da ruína da minha empresa no último minuto. Muito obrigado pela hipocrisia, Peeta.

Ele disse em um fôlego só e quando terminou curvou-se sobre os joelhos e fechou os olhos sob as mãos, respirando fundo. Peeta não sabia como reagir e ficou parado, com a boca entreaberta, se sentindo um completo idiota.

— Eu sei que devia ter contado isso antes, mas… eu não sei, não tive a oportunidade. – tentou se explicar, mesmo que não tivesse uma justifica real.

— Não. Fale. Comigo. – Cato se limitou a dizer, pausadamente, e, ainda sem abrir os olhos, se reclinou na poltrona e se manteve quieto, no visível esforço de controlar a respiração e os impulsos que, provavelmente, lhe diziam para matar Peeta.

Ele revirou os olhos para si mesmo e tentou se convencer de que o céu estava tão bonito que não poderia parar de olhar pra ele. Não tinha graça cometer o mesmo erro pelo qual havia tomado satisfação de alguém antes. Argh.

— Mas isso muda alguma coisa? – Peeta ainda perguntou, inclinado para frente, onde Cato não poderia ver o seu rosto caso abrisse os olhos. — Ter sabido disso antes ou agora muda alguma coisa?

— Não. – ele respondeu, a contra-gosto.

— Ótimo. – Peeta sentiu a perna se contrair e doer como o inferno. Aquele remédio era uma droga e só dois não eram mais o suficiente, então ele engoliu mais dois e se recostou também, virado para o lado, para não encostar os ombros nos de Cato. Era imaturo e ele sabia disso, mas não tinha ânimo para fazer melhor. — Nós perdemos e ponto.

— Perdemos. É claro que perdemos. – ele se mexeu desconfortavelmente. — Nunca tivemos a menor chance. Você estava certo, nós fomos trapaceados de um jeito… mas de um jeito… que me dá vontade de arrancar a cara daquele filho da puta com as minhas unhas.

Peeta ficou ligeiramente confuso por perceber que toda aquela raiva de Cato não estava diretamente direcionada para ele e virou-se para encará-lo, incentivando-o a continuar o que estava dizendo.

— Você ouviu o que ele disse, Haymitch enviou a droga do negativo pra casa do meu pai. Não pro escritório, não pro meu apartamento, ele tinha que mandar justamente pro grande e poderoso Snow. Ele e Crane são sócios, é óbvio que ele sabia disso desde o começo.

De repente Peeta se sentiu doente, fatigado. Tudo aquilo se tornou um grande absurdo em sua mente e só o que ele queria era dormir e dar um basta para o cansado, para a dor e para o mal-estar. A pressão e a instabilidade do avião também não estavam ajudando. Suas pálpebras pesaram e ele tentou lutar contra aquela vontade arrebatadora de tirar uma soneca. Mas ele também não tinha a menor chance, logo, sentiu a cabeça tombar para o lado e a inconsciência dominá-lo.

xxx

Acordou sentindo tapas na bochecha. Entreabriu os olhos e encontrou os de Cato, muito perto, preocupados. Peeta nunca o tinha visto tão sério antes.

— Peeta! Está me ouvindo? O que está acontecendo? – e ele sentiu-se ser sacudido mais uma vez. O que estava acontecendo também era algo que ele gostaria de saber, mas, por mais que tentasse, não conseguia falar nada. Sua língua estava pesando como chumbo dentro da boca.

— Não, não se atreva! – Cato ordenou, se referindo ao fato de que Peeta estava quase ficando inconsciente de novo. — Será que dá pra alguém aqui chamar uma ambulância!?

"Mas é claro que não, seu idiota, nós estamos há vários quilômetros acima do solo, o que quer eles façam?", pensou, mas notou que o som abafado dos motores do avião não estavam mais presentes e que eles haviam pousado. O que significava que ele tinha ficado várias horas apagado.

Saber disso, entretanto, não o ajudava a se manter acordado. Não demorou muito para tudo ficar negro novamente.

xxx

A próxima vez que abriu os olhos foi por causa da queimação dos infernos que estava sentindo em sua garganta. Sentou-se de uma vez e começou a massagear o peito, na tentativa de amenizar aquela sensação terrível, parecia que ele tinha engolido areia e cortado tudo o que tinha por dentro a caminho do estômago. A segunda coisa que percebeu foi que estava deitado sobre aqueles papéis descartáveis de cama de hospital.

Bom, ele estava em um hospital.

Olhou para os lados, confuso, ainda meio grogue e viu a irmã sentada na cadeira dos acompanhantes, deixando de lado a revista que estava lendo e se aproximando dele. Ele quis dizer alguma coisa, mas Lindsay foi mais rápida e deu-lhe um soco no ombro antes.

— Você é burro!? – ela perguntou, mal-humorada. — Como é que você consegue ter uma overdose de tramadol? No meio do nada, dentro da merda de um avião clandestino? Que tipo de cocô você andou comendo nessa viagem?

Overdose de tramadol?

— Oh. – sim, agora ele se lembrava, tinha tomado quatro comprimidos seguidos ao invés de dois por dia, como lhe tido prescrito. O fato de que ele havia passado algum tempo tomando apenas um também devia ter contribuido para uma reação mais agressiva. — Doía.

Disse, simplesmente, e só essa palavra causou em seu sistema uma dor que não compensava o exagero do analgésico. Ele ficou pensando no tipo de lavagem que fizeram em seu corpo para desintoxicá-lo.

— Doía? Doía? Peeta, você podia ter morrido… consegue entender a gravidade disso?

Já mais lúcido, Peeta se lembrou.

— Cato… O quê…?

— Cato está preso. – ela respondeu, com cara de quem tinha acabado de falar algo como "o Hitler está vivo" ou algo assim. O que era um péssimo sinal. Tudo era um péssimo sinal, para falar a verdade.

— Como!? – então ele desmaiou e foi parar em uma realidade alternativa em que nada fazia sentido?

— Ele é tão estúpido quanto você ou pior. Eu não entendo… – ela suspirou cansada, trouxe a cadeira para mais perto da cama e se sentou. — Eu achei que ele estava tendo um treco quando me ligou pra me avisar que você tinha sido hospitalizado e ele estava… louco da vida. Não sei o que aconteceu naquele buraco em que vocês se enfiaram, só o que eu sei é que ele estava muito puto. E quando soube que sua situação tinha se estabilizado, ele foi até a Life e armou o maior barraco lá.

Peeta estava horrorizado.

— Quer dizer, não foi um barraco, barraco, ele só chegou, subiu até o andar que sobrou como um furacão e socou a cara do Seneca Crane até ter sangue espalhado pelas paredes. E eu posso dizer isso com certeza, porque eu vi isso. O cara ficou destruído. Então a polícia chegou e levou ele.

Peeta tentou imaginar aquela cena e não conseguiu. Mas não duvidava de que ele tinha feito realmente aquilo. Cato já estava com muita raiva do Crane e do Snow e, provavelmente, descontou tudo de uma vez só. E ele devia ter descontado nele a sua preocupação em relação à saúde de Peeta também.

Mas, sinceramente, Peeta achou que ele estava merecendo, depois de tudo que os fez passar por conta de nada.

Peeta tomou uma jarra quase toda de água e sentiu o líquido frio aliviar a sensibilidade na garganta. Ele pirragueou e achou que conseguiria falar alguma coisa.

— Faz quanto tempo? – perguntou,

— Um dia. Você ficou desacordado por um dia inteiro. – ela disse e lançou-lhe um olhar ressentido. Peeta controlou a vontade de revirar os olhos.

— E o Cato preso?

— Sim, mas acho que ele vai sair logo. Nunca vi ninguém rico ficar muito tempo na cadeia.

Ele quase riu da ironia. Cato não era mais "rico", ele havia acabado de perder sua parte da empresa e Peeta não se supreenderia se ele tivesse que pagar um braço como indenização pelo estrago que causou. Ha ha.

— E sobre mim… Quando vou poder sair? – quis saber, deitando-se de novo e esticando os membros, que pareciam ter esquecido como funcionavam.

— Se não fizer mais nada idiota, amanhã. Mas só depois de mais uma bateria de exames.

— Ótimo. – resmungou, pensando em Cato e nas coisas que tinham feito juntos e em como tudo isso terminou tragicamente. Ambos saíram perdendo. O loiro não tinha o negativo nem a revista, que era a maneira que ele tinha encontrado para manter a memória da mãe; caiu no braço com um homem-urso, quase foi comido por um tubarão, perdeu sua câmera favorita, foi preso. E Peeta acabou com uma overdose inusitada de analgésicos, apaixonado e com uma possibilidade incrivelmente grande de nunca mais ver Cato de novo. Quer dizer, ele não era mais seu assistente. Não tinha porque Cato querer estar perto dele depois de tudo.

Ele suspirou e fechou os olhos, fingindo que iria descansar para que Lindsay o deixasse sozinho. Peeta não estava no humor para dormir, ele nem sabia em que tipo de humor estava. Demoraria pelo menos uma semana pra que ele deixasse de ficar confuso com o que tinha acontecido.

Ou menos que isso, porque o telefone de seu quarto tocou.

— Erm… Alô?

— Alô? Peeta? – era Cato, com certeza era ele.

— Como? Como é que você está me ligando? Não tinha sido preso? – perguntou, com um sorriso no rosto por estar ouvindo-o, mesmo que de um modo tão improvável.

— Sua voz fica engraçada pelo telefone. – ele disse, e, mesmo sem estar vendo, Peeta sabia que ele estava sorrindo também. — E, é, eu ainda estou aqui. Mas eu tenho direito a uma ligação e eu precisava saber como você estava.

— Mas você não devia estar gastando essa chamada com um advogado ou algo assim?

— Nah, ele sabe, já está cuidando de tudo. – respondeu, despreocupado. Deu uma pequena pausa antes de continuar. — Eu devia te bater pelo que você fez, você sabe não é?

— Eu juro que não foi a minha intenção, eu estava chateado e com dor e… sei lá. – falou, dando de ombros. O que estava feito estava feito, no final das contas. — Agora, me diz, o que pretende fazer daqui pra frente.

— Não faço a menor ideia. Arranjar um emprego, talvez?

— Seria bom, um trabalho para pagar o apartamento de luxo em que mora. – Peeta ironizou, sabendo que o novo estilo de vida que esperava por Cato jamais permitiria a mesma mordomia que ele tinha antes.

— Será que dá pra ser um pouco menos pessimista, Peeta? – ele fingiu brigar.

— Mas, você sabe que eu meio que estou desempregado também, não sabe? – Peeta achou que não custava nada entrar na onda e arriscar um pouquinho. — Nós podíamos dividir despesas. Eu tenho pensado seriamente em me aperfeiçoar na carreira gastronômica, principalmente depois daquele bolo azul que nós comemos. Talvez abrir uma padaria.

Cato não respondeu de imediato, provavelmente digerindo o fato de que Peeta tinha lhe convidado para morar junto de forma indireta. Ou bem direta.

— Essa ideia não é de todo ruim. – ele acabou dizendo e Peeta se sentiu aliviado pela leveza em sua voz, o que demonstrava que ele não tinha sido avesso a proposta quanto ele imaginava que o loiro ficaria. — Eu posso montar um estúdio de fotografia, dar uma de freelancer, algo assim.

— Ou poderia dar aulas. Você leva jeito pra ensinar.

— Eu não acredito que a gente está planejando o futuro pelo orelhão da cadeia.

— E pelo telefone de um hospital.

— Eu te amo.

E essa declaração repentina emudeceu Peeta.

— Hm, hora ruim? – Cato acrescentou, depois de um tempo sem resposta.

— Não, é só que… você tem certeza disso?

— Eu não diria se não tivesse certeza. – ele disse, rindo, o babaca achando graça da situação.

— Okay. – Peeta respondeu, simplesmente, incapaz de se fazer parar de sorrir. Aquela sensação morna no peito nunca tinha sido tão intensa e ele finalmente pôde se livrar das dúvidas e do medo. Ele estava cansado de fugir de seus sentimentos e Cato estava certo quando disse que ele precisava parar de pensar tanto.

— Okay?

— É. Eu posso conviver com isso.


Notas finais: Não sei como se termina históriaaaaas. kkkkk Não sei como essa magia de finalizar as coisas funciona. Eu espero que não tenha decepcionado :v

Obrigada para quem acompanhou.

Flw, vlw.