Depois que Regina, Henry e Emma almoçaram juntos, o menino foi para sua aula de piano. As duas mulheres decidiram passar na delegacia antes de irem à Prefeitura aonde iria trabalhar juntas por fim. A prefeita aconselhou a salvadora a perdoar o pirata e fez um acordo com ela de pagar a fiança em troca dela ajudá-la na prefeitura. Na verdade, essa era uma forma das duas se conhecerem e de Emma "baixar a guarda". Mills estacionou o carro e a loira saiu com pressa do automóvel, precisava ver se o senhor dos mares estava em melhores condições e sua ansiedade por vê-lo era tão grande quanto a vontade de matá-lo.
—Gra... Killian? –Começou a pronunciar o nome do xerife, mas então viu o corpo de Killian cerca da mesinha de escritório. Espantada correu até o homem de cerca de 300 anos (No Bosque Encantado) e se agachou para ver se estava ferido ou apenas inconsciente. Há alguns metros mais à frente se encontrava o corpo de Graham estendido e ensangüentado no chão. A mulher sentiu como toda a comida que havia digerido uma hora atrás queria subir pela sua garganta. Killian? Por favor, fala comigo?! –Gritou sacolejando o corpo estático do pirata, só então percebeu que ele também sangrava.
—Devia mudar a... –E Mills não terminou a oração. Parecia que um furacão havia passado naquele recinto policial. Arregalou os olhos surpresa e correu até Emma e Killian. Mas o que aconteceu aqui? –Perguntou abismada e em um ato-reflexo, embora soubesse que a loura tampouco sabia.
—A emergência... –Balbuciou uma nervosa e amedrontada Emma. Regina tirou o celular do bolso e discou o 911 enquanto se dirigia ao corpo do xerife.
Emma estava que não se aguentava de culpa e insegurança. Pela primeira vez na vida se sentia escrava do seu coração. Reprovou mentalmente o Pirata. Ele prometeu que se cuidaria e o que fez foi se meter em uma confusão que talvez lhe custe a vida. Ele desvestiu a sua alma e a fez mudar de opinião quando não acreditava mais em amor. Ele foi quem lhe deu todas as respostas, colocou todos os pingos nos "is" e lhe dedicou um "Te amo" e agora ela queria dizer a ele "eu te perdôo!". Emma Swan estava com medo que os olhos azuis a abandonassem sem nem lhe dizer adeus. Ele não podia ir embora, tinha que ficar com ela e com aquela criança que era fruto do seu amor. Ele havia provado várias vezes que antes dele estava ela... Que jamais havia se arrependido de abrir mão de tudo pela princesa perdida do Bosque Encantado. Ele a elegeu assim como agora ela havia elegido para dividir a vida. Uma lágrima resvalou em seus olhos pela desolação que invadia seu espírito... Seu corpo. Queria sentir o abraço dele. Queria aquele olhar sacana e às vezes inocente. Queria que ele a tocasse e então sentir-se plena como sempre se sentia quando estava ao lado dele.
—Está morto. –Afirmou a morena ao sentir o pulso do jovem e constatar que não havia batimentos.
Era de se esperar, havia levado um tiro certeiro na parte frontal da cabeça e outro no peito, algo que Mills só viu depois de estudar algum possível ferimento fatal no homem. Os olhos da cor da relva fixaram-se na rainha, estavam assustados e havia revolta neles. Sede de vingança talvez. Não ouve nenhuma palavra. Emma sustentou em seus braços o corpo do namorado, ele ainda respirava e talvez isso a estava mantendo equilibrada. Seus olhos suplicantes e marejados anelavam por um movimento, um balbucio, um gesto que fosse daquele capitão atrevido e desapiedado. Mas nenhum sinal veio. No ópio do desespero chegou uma equipe de socorro médica...
—Mais um pouco e teríamos dois funerais ao invés de um. –Ressoprou Regina indignada com a demora. Mas eles haviam demorado apenas cinco minutos, era a percepção das mulheres que estava abalada e as fizera sentir como se tivesse se tratado de uma eternidade.
Enquanto o maqueiro e a enfermeira colocavam Hook na ambulância, August chegara e ajudara Regina a conter uma Swan devastada pelo medo de perder. Não queria se separar do homem que abrira mão de tudo por ela, mas sentia o agarre de sua mãe e de August a retendo.
—Eu vou com ele! –Exclamou antes que fechassem as portas da ambulância.
—Não pode senhorita Swan. –Advertiu a enfermeira. Naquele momento precisavam dar atenção e caso necessário reanimar o paciente, a mulher também precisava se recompor e podia atrapalhar qualquer procedimento emergencial futuro.
—Ok. Nós iremos no meu carro para o hospital. –Respondeu educadamente Regina. August ficou para tomar conta de todo o procedimento burocrático com o corpo de Graham que iria para o IML.
A Ambulância iniciou sua corrida contra o tempo e atrás dela seguia a Mercedes de Regina. Swan jogava com os dedos entrelaçados e tinha a visão compenetrada no automóvel que levava Gancho. Já haviam se passado alguns minutos e o silêncio começava a incomodar...
—Esse pirata é duro na queda, tenho certeza que amanhã ele vai esbanjar sua modéstia e pedir um gole de rum. –Ponderou Regina para apaziguar a preocupação eminente da loira. A jovem apenas esboçou um sorriso de canto de boca, mas tinha no olhar agora um brilho de gratidão.
Mais alguns poucos minutos e estavam correndo atrás da equipe médica e era Whale quem estava à espera do caso. O médico se aproximou para verificar os sinais da vítima e as duas mulheres foram impedidas de se aproximar.
—Não! Hook?! –Bradou Emma ansiosa.
—Vocês têm que aguardar na sala de espera, por favor?! –Ordenou a Úrsula (A enfermeira). Emma revirou os olhos em sinal de impaciência e Regina a puxou pelo antebraço de forma sutil. Naquele mesmo instante, a equipe médica assim como Hook desapareceu no estreito e longo corredor do Hospital Geral de Storybrooke.
NO GRANNY'S
—Nossa, quanto tempo que não vejo você bebendo, David?! –Falou Snow White esmiuçando a situação do homem. Seus olhos eram luxuriosos e sua alma corrompida pela vingança desejava tê-lo de volta.
—E o que isso te interessa? –Retrucou com mau humor.
—Não precisa ser grosso, só queria saber qual o problema e se podia ajudá-lo. –Contestou ofendida.
—Pensando bem, você pode ajudar sim. –Disse se levantando do banco e se colocando de frente para ele. Os braços cruzados e uma feição séria. Fechada.
—Ah é? Como? O que quer que eu faça? –Indagou animada. Aquela era a sua chance de atraí-lo e recuperar a confiança do homem. Não queria terminar sozinha, aquele não era o final feliz que a Disney mostrava e era preciso buscar uma maneira de viver o que fora escrito.
—Faz um bem a todos os habitantes da terra e pára de respirar! –Esbravejou antes de sair do bar. Branca arregalou os olhos diante daquele tom e das palavras sádicas do homem. Ruby tapou a boca com a mão e segurou a vontade de gargalhar. Granny arqueou uma sobrancelha e viu como a "mocinha" se sentiu bagunçada... Desnorteada. Mas ela merecia isso por descarregar a inveja em Regina e por desapropriar a jovem do amor que lhe faria ser feliz.
HOSPITAL GERAL
Emma passeava de um lado para o outro, estava deixando Regina tonta. A prefeita passou a observar alguns gestos da moça: o olhar, os trejeitos que fazia com a boca, como franzia as sobrancelhas e quando colocava a mão na testa ou olhava de lado. Aquilo era tão bobo e simples, mas se assemelhavam às reações da Regina pura e inocente (Antes de ser corrompida por Rumpelstiltskin e Cora). Quando Úrsula surgiu na recepção foi ligeiramente surpreendida pela Salvadora.
—Como ele está? Quando posso vê-lo? Ele vai sobreviver, não? Me diz alguma coisa! –Inquiriu cuspindo as últimas palavras.
—Tem que aguardar o Dr. Whale, senhorita. –Informou totalmente profissional. Não se sentia comovida e nem abalada quando tinha que lidar com pacientes ou familiares, era só um trabalho e não tinha obrigação de sentir compaixão ou ser simpática. Notou o olhar reprovador da prefeita e ainda assim apenas sorriu.
—Mas você estava com eles lá dentro, como não pode me dar uma informação? –Protestou a loira indignada.
—Não tenho permissão. –Retrucou de forma educada.
—Acaba de ser autorizada pela prefeita desta cidade, querida. –Declarou Mills num tom autoritário.
—Em termos médicos a senhora não tem autoridade alguma, senhora prefeita. Com licença?! –Diz de forma cínica, e Regina sente que se tivesse visão de calor podia incinerá-la naquele instante. Maldita petulante.
Mas ela estava lidando com Emma Swan, uma mulher independente e determinada. Quando viu que não teria informação alguma e depois de meia hora admirando o chão e as paredes azuis do hospital, a jovem aproveitou um momento de distração do pessoal do hospital e correu pelo corredor que levava até a ala cirúrgica e as salas de repouso. Regina foi esperta e impediu que alguém a detivesse. Mas Whale apareceu na porta...
—Senhorita Swan?! –Sussurrou o nome dela.
—O que aconteceu? Se não me disser como o Killian está eu vou entrar por essa porta e descobrir! –Ameaçou. Sua respiração era acelerada, dava pra se notar pelo subir e descer do busto feminino.
—Você precisa se acalmar... –Dito isso, ela não esperou mais e empurrou o doutor para o lado, e adentrou na sala de emergência. Quando entrou viu algo coberto por um pano fino de algodão. Um corpo? Suas mãos tremeram e suas pernas vacilaram. Abafou o grito com a mão e lágrimas descenderam pelo seu rosto pálido. Não pode ser! –Dizia ela para si mesma. Não tinha coragem de vê-lo. Não queria. Não podia. Não se atrevia. Seu coração doía. Sua respiração era dificultosa.
Justo quando ela havia encontrado alguém que era capaz de amar os seus defeitos e que desnudava sua alma. Não. Não ia terminar assim. Não podia. O lugar de Killian Jones era ao seu lado e ele era tudo o que ela pedia... Era ele quem a completava... A inundava de esperança. Era a bagunça e a sua metade criança. O riso frouxo e o choro alegre. Ele era o amor da sua vida. Mas na terra... Na vida real os finais não eram tão lindos como num romance literário e agora a sua alma chorava desconsolada... Perguntava o "por que"... Seu coração estava silenciado... Embrulhado... Embaralhado... Dolorido... Quebrantado, e não queria nada mais além de um abrigo... Do seu abrigo no coração do Pirata que ali jazia falecido.
