EPÍLOGO: ETÉREO

Sentada de forma displicente a relva da T'oca, Ginny observou Harry e Hermione caminharem distraídos. Ela tinha os cabelos volumosos passando da cintura e ele os mesmos fios arrepiados de sempre. De certa forma, a figura dos dois fazia com que Ginny sentisse alguma nostalgia. Ambos eram um retrato perfeito do outrora. Eles sentaram em uma das mesas nos jardins e Hermione disse algo que parecia importante porque tocou o braço de Harry pra enfatizar sua fala. Harry e Hermione eram a própria Hogwarts, eram a juventude em tempos de velhice porque ao passo que tinham as marcas do tempo em seus corpos pareciam os mesmos jovens que um dia foram. Com o olhar dele sobre ela, com as mãos mornas dela sobre ele.

Ginny tentou invejá-los mas não conseguiu. Eles não mereciam e não tinham culpa. Harry tocou o cabelo de Hermione e Ginny percebeu o quanto era fácil eles se amarem daquela forma tão explicita.

Talvez, observá-los fosse um hábito que Ginny adquiriu ao longo dos anos que jamais conseguiu deixar. Talvez eles fossem sua obsessão secreta.

Hermione sorriu ao toque de Harry em seus cabelos, e o beijou timidamente nos lábios. Ele sorriu também e ela levantou uma de suas sobrancelhas. Ele tomou o rosto dela com as mãos e o anelar esquerdo jamais fora tão visível.

Quando duas pessoas pertenciam à outra daquela forma, os anos passariam impetuosos, os empecilhos se ergueriam robustamente, mas nada conseguiria evitar que ficassem juntos. Observando a cena, Ginny ponderou que aquele não era um amor impossível, era um amor óbvio demais. Tão óbvio que todo o resto torna-se figurante. Eles dois eram o que permanecia e acima de tudo, o que restaria. Porque assim deveria ser.

Porque ele era dela e ela era dele antes mesmo de Ginny poder sonhar com qualquer futuro diferente. Era uma questão de ordem, de comando.

Eles pertenciam um ao outro e deveriam estar juntos.

E finalmente estavam, Ginny pensou.

A luz daquele fim de tarde era dourada e tímida. Um pouco sombria, mas vívida. Pertencer é ser de.

Talvez a pertença limite. Talvez a pertença imponha forma, obrigatoriedade.

Os lábios de Harry encontraram os de Hermione mais uma vez.

Mas aquilo, a luz, os lábios de Hermione, os olhos tão verdes e atentos de Harry foram voluntários. Era escolhido. Ele a escolheu e ela o escolheu. E isso mudava as coisas de certa maneira, porque deixava tudo mais etério, menos finito, menos imanente.

"Eu vos declaro ligados pela vida" - Ginny lembrou daquelas palavras de uma tarde que parecia pertencer a vida de outra pessoa.

Era algo muito maior que Ginny, que os Weasley. Eles eram a luz dourada e tímida daquele entardecer. Preenchendo cada espaço da T'oca. Impossível de reter com as mãos, ou impedir. Parecia inútil qualquer tentativa de limitação ou imposição. A luz existia e estava sobre todos. Sendo muito maior, mas ao mesmo tempo sem forma, sem matéria. Transcendente.

Ginny desistiu de observá-los e seguiu rumo a cozinha da T'oca.

Harry e Hermione permaneceram conversando com suas palavras fáceis e seus sorrisos etéreos.

A luz os tomava, e de longe, a luz os cobriu de tal forma, que se confundia com a silhueta de ambos.

Eles pertenciam a luz dourada e pertenciam um ao outro. Faziam parte um do outro.

Ginny pensou em toda a paz que os dois sentiam, toda calmaria após anos de separação- de caos.

A ruiva se ergueu e entrou pra T'oca, e percebeu que nunca os vira tão felizes na vida. O amor, no fim das contas, era aquilo. O sentimento de paz sem fim junto do riso fácil e seguro.

Eles eram perfeitos juntos.


N/A: Ela que iniciou tudo, acho justo terminar com o ponto de vista dela: Gina Weasley, pessoal.

primeira fic meio long que oficialmente termino e é estranho. Primeiro porque eu acho que talvez mudaria algumas coisas, segundo porque appartenir foi uma das experiências mais incríveis enquanto ser humano que tenta escrever. O capítulo que eles se beijam a primeira vez foi muito bom de escrever e esse final também. Ele foi escrito faz um tempinho e acho que é um adeus para essa fic.

Obrigada a todas que se importaram, que escreveram e aqueles também que só leram e nunca falaram nada. É isso, apenas gratidão!

FIMMM

ps. Victória Regina, essa fic é tua e eu te falo isso desde o início. Obrigada pelo incentivo, pelas conversas e por amar esse ship tanto quanto eu. 3