- Kuroko no Basket e seus personagens pertencem à Fujimaki Tadatoshi;
- Esta é uma fanfic BL, ou seja, envolve o relacionamento amoroso e/ou sexual entre homens. Se você não gosta ou sente-se ofendido com esse tipo de leitura sugiro que vá ser feliz lendo shoujo;
- Fanart da capa: alguém muito talentoso do pixiv.


Capítulo 1

"Every day we make decision that can go one of two ways: either very good, or very, very bad. The problem is, the epically great decisions and the epically bad ones look exactly the same when you're making them." — Grey's Anatomy S10E13.

"Todos os dias tomamos decisões que podem seguir dois caminhos: ou muito bom, ou um muito, muito ruim. O problema é que as épicas ótimas decisões e épicas ruins parecem exatamente iguais quando você está se decidindo." — Grey's Anatomy S10E13.

Ele sentia falta da América.

A cada rua cruzada, a cada refeição degustada em um restaurante familiar e a cada cumprimento dito ou recebido no elevador do prédio. Himuro estava saudoso de seu antigo bairro e os lanches rápidos em alguma rede de fast-food. Seus vizinhos nunca estavam em casa, então ele raramente precisava interagir com terceiros. Mas não aqui. Todo mundo é gentil e educado e...

Nessas horas ele esboçava o mais caloroso dos sorrisos, transbordando uma quase angelical educação. As senhoras o adoravam, os senhores o respeitavam e as moças cochichavam quando o viam pelos corredores. O moreno era o exemplo de educação e bom trato, mesmo que superficialmente.

Mesmo que, por dentro, ele estivesse gritando.

Himuro havia retornado ao Japão por opção.

Ninguém o havia forçado a voltar e sua família permanecera em solo americano, enquanto se aventurava em sua terra natal. Uma parte dele estava ali em busca de um fio de esperança que pudesse uni-lo, ou melhor, reuni-lo à única pessoa capaz de fazê-lo cruzar oceanos. No fundo, ele estava ali por Kagami Taiga.

O retorno foi mais simples do que o esperado era preciso reconhecer. No quesito educacional, seu conhecimento estava a par do ensinado no colégio e não houve sequer a necessidade para aulas de adaptação. O colégio Yousen foi o escolhido, não somente pela ótima reputação, mas por ter uma das melhores equipes de basquete. O único aspecto negativo de sua vida, escolar e como jogador, atendia pelo nome de Murasakibara Atsushi. Desde o primeiro contato, o gigantesco colega de time entrou para sua lista negra, por seu jeito preguiçoso e totalmente despreocupado. Ele é exatamente o tipo de pessoa que eu não suporto.

Murasakibara não parecia ter nenhuma preocupação na vida, assistindo a tudo por trás dos olhos violetas e sem vida. Nem o basquete era capaz de tirá-lo desse estupor natural, embora ele fosse extremamente habilidoso e facilmente o melhor jogador do time. A temida Geração dos Milagres... O único momento em o rapaz de cabelos roxos demonstrava alguma reação era quando estava envolvido com seus doces e petiscos. Ele havia se tornado o favorito das garotas da classe, que o mimavam diariamente com chocolates e pirulitos.

Pessoalmente o Lançador havia falado pouco com seu colega de time. Murasakibara não dava muita importância para a maioria dos assuntos compartilhados pelos demais, preferindo focar-se em seu próprio mundo. Todas as vezes que nos falamos ele respondeu sem emoção e com meias palavras. No começo achei que fosse apenas seu jeito, porém, percebi que Murasakibara é muito mais tolerante com as outras pessoas.

O moreno então passou a tentar agradá-lo, oferecendo doces e salgadinhos. A tática foi parcialmente um sucesso, já que o Pivô nunca recusava nada comestível. No entanto, a relação entre eles não avançava e Murasakibara mantinha certa distância, evitando-o quando possível e lidando com ele apenas quando era extremamente necessário. Eu não sei qual é o problema dele, mas estou cheio disso.

Em quadra eles eram perfeitos.

A sincronia entre os passes e as jogadas eram elogiadas até por Araki-san, a rígida treinadora do time, mas o relacionamento fora das quadras era caótico. Ele senta-se atrás de mim durante as reuniões com o time e mesmo assim não diz uma única palavra. As poucas vezes que tentei iniciar uma conversa aqueles olhos violetas me calaram imediatamente.

O dia em que ele decidiu colocar um ponto final naquela situação foi uma terça-feira de verão. A temperatura estava alta e o calor tornava os treinos ainda mais cansativos. Aquele, em especial, exigiu mais dos jogadores do que o esperado. Himuro sentia o suor escorrer por seu rosto, sendo enxugado por uma das munhequeiras presas em seus pulsos. O time havia se dispersado e seguido para o vestiário. O rapaz de cabelos roxos sentou-se no banco, bebendo uma garrafa inteira de água e aparentando exaustão.

"Você trabalhou duro, Atsushi."

"É..."

"Não quer conversar, hm?" Ele não se daria por vencido; não naquele dia, sentando-se ao lado do colega, abrindo uma garrafa de água e bebendo-a devagar. "O que me diz de treinarmos juntos amanhã? O time não se reunirá pelo restante da semana e pensei que poderíamos ter uma sessão particular."

"Por quê?" A pergunta soou no instante seguinte e sem pausas ou hesitações. "Por que eu perderia meu tempo com você?"

A veia em sua testa tremeu e o Lançador esforçou-se para manter o sorriso em seus lábios. Ele está me irritando... Todas as conversas sempre acabavam antes de começarem graças ao pouco incentivo por parte de seu interlocutor. Hoje não!

"Você é um ótimo jogador, mas pode ser ainda melhor. Nós poderíamos treinar nossos passes e jogadas. Será divertido, prometo!"

"Divertido?" Os olhos violetas pousaram sobre ele com um misto de raiva e genuína superioridade. "O que você considera divertido eu chamo de total perda de tempo. Se você quiser treinar o problema é seu, mas não me incluía nesses planos idiotas."

A motivação de Himuro desapareceu naquele instante e ele engoliu seco, sem saber como refutar aquela grosseria tão gratuita e desnecessária.

"Você não está ajudando, Murasakibara." A resposta veio após alguns segundos. "Eu estou tentando ser seu amigo."

"Eu não quero ser seu amigo," ele levantou-se, "você não precisa falar comigo quando não estivermos jogando. Não faço questão de suas palavras vazias e sorrisos dissimulados; guarde-os para aqueles que têm interesse em recebê-los. Eu não dou a mínima para você."

As largas costas se afastaram, deixando-o sozinho na grande quadra do colégio. O moreno conservou-se no mesmo local, imóvel e completamente estupefato. Seu sorriso desfez-se aos poucos, tornando-se uma fina e dura linha. O gosto do descaso era forte em sua boca e era difícil ignorar a maneira como o coração batia apertado em seu peito. Eu nunca fui tão humilhado na vida...

O sorriso retornou. Himuro era uma pessoa persuasiva.

x

Sua postura mudou a partir daquela tentativa falha de aproximação. A educação e gentileza continuaram imutáveis; ele convidava Murasakibara sempre que surgia a oportunidade, ainda que na maioria das vezes fosse rejeitado, além de presenteá-lo com as habituais guloseimas que eram aceitas sem cerimônias.

O rapaz de cabelos roxos, por sua vez, não pareceu disposto a dar o braço a torcer, mantendo sua promessa de ignorá-lo em todos os momentos que achasse apropriado. As únicas conversas reais aconteciam durante os treinos e, assim que Araki-san anunciava o final da partida, ele voltava a vestir o semblante desinteressado e sem vida. Eu nunca fiz nada a ele, porém, esse tratamento frio e distante é direcionado unicamente a mim.

O moreno, em uma tentativa parcialmente desesperada de entender o motivo de toda aquela antipatia, chegou a sondar com os demais colegas as raízes daquele problema. Todos pareceram surpresos ao serem questionados, afirmando que, aos seus olhos, Murasakibara tratava a todos de modo semelhante e que era somente sua personalidade.

Era difícil para ele aceitar aquela situação.

O Lançador sempre foi uma pessoa agradável e que sabia muito bem cativar os que estavam ao seu redor. Fazer amigos nunca foi um problema e, após tornar-se um pouco mais velho, ele passou a utilizar aquele carisma natural para outro tipo de amigos.

Quando a puberdade o atingiu, Himuro notou que gostava muito mais da companhia de outros rapazes do que garotas. Seu primeiro beijo fora com um amigo, na América, e sua primeira vez com outro. Ele tentou uma única vez ir mais longe com uma garota, mas desistiu ao perceber que simplesmente não conseguiria. Seu corpo e alma ansiavam o calor de outro homem e por um breve momento ele chegou a cogitar se Murasakibara não havia descoberto sua preferência sexual.

A dúvida, contudo, foi afastada quando, em um final de aula, o moreno ouviu um grupo de garotas conversando sobre um ídolo que havia anunciado seu namoro com outro rapaz. Elas se dividiam entre aquelas que apoiavam e as que eram contra. O rapaz de cabelos roxos, que estava ao lado por mero acidente, tornou-se o objeto de estudo das colegas de classe que perguntaram sua opinião sobre o assunto. Ele continuou a ajeitar a alça da mochila, sem esboçar nenhuma atenção especial.

"Eu não me importo com essas coisas," a voz soou arrastada e seus olhos concentraram-se na tarefa de desenrolar a alça, "se eles se gostam, ninguém deveria se intrometer."

O Lançador sentiu-se sorrir, apesar de que aquela negativa apenas colocava mais pontos de interrogações em sua situação. Se o Pivô não tinha preconceitos contra homossexuais isso significava que o assunto era mais profundo do que ele imaginava. Uma parte temia que, no final, não houvesse nada além da personalidade e que o rapaz de olhos violetas simplesmente não se importava com ele.

Os dias passaram e Himuro viu sua perseverança tornar-se cada vez menos firme. Suas tentativas sempre terminavam em recusas e em determinado dia ele surpreendeu-se ao notar que não falara com Murasakibara durante toda a semana. Nós estamos tão próximos... mas tão longe. A realização o fez suspirar, pegando a mochila e saindo de sua sala sem emoção. Acho que aprendi minha lição. Não podemos agradar a todos. O único olho azul, entretanto, ergueu-se ao notar quem vinha do ouro lado do corredor. Ele sentiu a garganta engolir seco e um estranho arrepio desceu por sua nuca. Atsushi é tão alto...

Murasakibara abaixou os olhos, encarando-o e virando o rosto. A atitude o surpreendeu, pois não havia nenhum motivo para isso. Ele afastou-se em silêncio e Himuro suspirou, sem entender o que aquilo significava. Não, eu sei o que está acontecendo. Já faz algum tempo que eu me envolvi com alguém e, infelizmente, Atsushi é exatamente o meu tipo.

Aquele novo problema poderia ser resolvido rapidamente, ele sabia.

Com exceção do rapaz de cabelos roxos, suas tentativas de aproximação nunca haviam falhado e ele era muito bom em sentir o interesse das pessoas. Há algum tempo notara que um garoto da escola vizinha sempre o fitava quando pegavam o mesmo trem. O moreno não deu a devida atenção por sentir-se desafiado pela frieza e gratuita antissociabilidade por parte do colega de time, todavia, ao perceber que jamais conseguiria sequer tornar-se amigo, ele decidiu que era hora de seguir com sua vida.

O primeiro diálogo aconteceu uma semana depois de a decisão ter sido tomada. O rapaz corou absurdamente ao ser dirigido a palavra, e naquele instante Himuro soube que sua conquista daria frutos. A conversa foi breve, uma vez que o garoto descia na próxima estação, porém, a primeira impressão foi suficiente para transformar dois estranhos em conhecidos e ele ganhou companhia diária para voltar para casa. Os dois se encontravam duas quadras do colégio e seguiam juntos até a estação de trem.

O dia em que ele soube que era hora de dar mais um passo naquela relação foi uma chuvosa quarta-feira. Havia completado três semanas que eles haviam se conhecido e o primeiro beijo aconteceu no sábado, no final do encontro. Ele me levou para almoçar em um restaurante familiar e me acompanhou em casa. O beijo foi gentil e contido, mas eu senti que ele se controlou.

Himuro não era o tipo de pessoa que tomava caminhos incertos quando o assunto era conquista. Ele não apreciava relacionamentos, por serem trabalhosos e rotineiros; o que realmente lhe apetecia eram encontros furtivos e noites quentes e aleatórias. Nos Estados Unidos eu tinha uma companhia certa para as noites solitárias. Talvez aquele rapaz se torne o que eu realmente preciso.

O plano, no entanto, não funcionou. Na verdade, ele sequer chegou a acontecer.

O rapaz enviou uma mensagem no final da última aula, avisando que iria para casa mais cedo devido à chuva. O moreno soltou um longo suspiro, deixando o colégio sem nenhum motivo real para chegar cedo em casa. Sem treinos e sem companhia... A chuva havia molhado seus sapatos, o trem estava cheio e ele foi basicamente empurrado, torcendo para que as estações passassem rápido.

Um toque. Um simples toque o fez juntar as sobrancelhas e apertar o cabo do guarda-chuva. Mas o que... O trem estava lotado e não era possível virar-se para ver quem era a pessoa que havia apalpado seu quadril. Isso não está acontecendo... Os dedos se tornaram mais ousados, apertando-o em lugares que somente seus amantes o haviam tocado. Não acredito que estou sendo assediado, justo hoje! Quando a pessoa fez menção de utilizar a outra mão para tocar seu baixo ventre, contudo, Himuro sentiu-se puxado. A força empregada no gesto foi forte o bastante para fazê-lo mover-se sem um segundo pensamento.

Do meio do trem ele foi parar próximo à porta. Não havia mais bolinadores ou mãos tentando tocá-lo em lugares íntimos. O Lançador havia se virado e à sua frente estava um peitoral largo e alto, vestindo o mesmo uniforme. O único olho azul ergueu-se devagar e seria impossível descrever a maneira como seu coração bateu forte ao encarar quem estava à sua frente. Por acaso ele me salvou...?

"Obrigado..."

Himuro abaixou o olho, envergonhado demais para encará-lo diretamente.

Murasakibara nada disse, mantendo o pirulito dentro da boca e as mãos ao seu redor, protegendo-o como uma mãe protege seu filhote. As três estações de trem passaram rapidamente e, ao chegar sua vez de descer, ele despediu-se com a voz baixa, precisando somente dar um passo para fora. Não... ele não desce aqui...

O moreno virou-se no exato momento em que a porta se fechou. O rapaz de cabelos roxos, dessa vez, o encarava diretamente e aquele mero segundo significou muito mais do que todos os meses de tentativas infrutíferas de construir uma amizade. Ele desce uma estação antes de mim... por que... por que Atsushi se deu ao trabalho de me acompanhar?

O trem voltou a se mover e algo em Himuro moveu-se com ele.

x

O prospecto de companhia acabou muito antes de começar. Três dias depois do incidente no trem, o rapaz do colégio vizinho disse abertamente que gostaria de ser mais do que um colega. A rejeição, entretanto, surpreendeu até mesmo Himuro, que nunca havia dito não para alguém que poderia se tornar um excelente parceiro sexual. Eu nem ao menos consegui me imaginar ao lado dele, quem diria em cima de uma cama. O rapaz recebeu a resposta com um sorriso, todavia, depois daquele fim de tarde eles não voltaram a se falar.

O Lançador não compreendia porque seu interesse havia morrido ou por qual motivo, de repente, ter alguém ao seu lado parecia tão desnecessário. Sim, ele se sentia um pouco frustrado sexualmente falando, principalmente quando precisava se aliviar sozinho. Eu poderia estar com qualquer pessoa. Conquistas nunca foram problemas para mim, mas por que agora tudo parece diferente? O responsável por aquela mudança, claro, não fazia ideia do que havia causado no coração e mente de seu colega de time.

Murasakibara não mudou sua postura.

Os olhos parados e sem vida e a total falta de interesse e iniciativa para diálogos conservavam-se os mesmos. O que mudou foi o modo como Himuro recebia todas essas coisas. Inicialmente aquilo me irritou por ferir meu orgulho. Eu nunca fui tão longe por alguém e nunca fui rejeitado tão friamente. Agora, as reações — ou falta delas — atingiam algo mais profundo e o orgulho ferido deu lugar a uma estranha mágoa que o impossibilitava de tentar uma reaproximação. Como eu conseguia me impor? Se Atsushi me falasse hoje o que disse naquele dia depois do treino eu provavelmente jamais falaria com ele novamente.

Arrogância não era uma característica do Pivô e nesse quesito o moreno poderia considerar-se afortunado. O silêncio e os poucos olhares eram tudo o que ele oferecida, porém, quando era necessário, Murasakibara falava e dava a sua opinião. Obviamente essas ocasiões só envolviam basquete e os horários de treino transformaram-se em seus momentos favoritos. Eles nos chamam de "a dupla perfeita". Eu gostaria de saber o que Atsushi pensa sobre isso.

O verão daquele ano estava quente o suficiente para fazê-lo ligar o ar condicionado todas as noites. Himuro chegava em casa, tomava banho e ia preparar o jantar. A refeição era degustada na sala, em frente à tv e assistindo algum programa de variedades ou séries. Depois do jantar, ele dedicava algum tempo aos estudos e deitava-se pouco depois das 22h.

Naquela noite sua rotina mudou. Os preciosos minutos geralmente dedicados a si mesmo durante o banho precisaram ser reservados para outro momento. O Lançador havia chegado faminto e o banho durou exatos cinco minutos. De barriga forrada e sem absolutamente nada que o atrapalhasse, ele sabia que teria pelo menos algum tempo para aliviar-se.

Himuro gostava da sensação de liberdade que a ausência de roupas poderia lhe proporcionar. Suas mãos apreciavam correr livres por seu corpo, sem peças ou qualquer coisa que pudesse barrar sua busca por prazer. O ar condicionado foi colocado na temperatura média e a camiseta regata jogada do outro lado do quarto junto com a bermuda xadrez. A única vestimenta restante foi a colada roupa de baixo negra, que já denunciava o formato da ereção que tentava ver-se livre da peça.

Ele adorava fantasiar com rapazes de seu passado e suas lembranças tinham mais efeito do que um filme pornográfico. O amigo americano era normalmente quem habitava sua mente nesses momentos e naquele fim de noite não seria diferente. Os olhos azuis se fecharam quando as mãos entraram na roupa de baixo, tocando o membro. O quarto então se tornou menos solitário e uma mão grande e pesada subiu pelo interior de sua coxa, apalpando a pele e marcando-a com seus dedos. Não tem rosto. Dessa vez ele não tem rosto.

O amigo americano era um belo rapaz louro, cabelos levemente jogados e profundos olhos verdes. De todas as experiências que o moreno havia tido ele fora definitivamente a melhor. No entanto, a pessoa que tocava seu corpo inicialmente não possuía fisionomia, mas pouco a pouco as características se transformaram: o peitoral tornou-se mais largo e a pessoa cresceu alguns bons centímetros; o cabelo louro desceu pelo pescoço, tocando os ombros e ganhando uma coloração avermelhada, que logo se transformou em rosa e finalmente roxo. Não... isso não está acontecendo. Himuro apertou os olhos e balançou a cabeça, tentando ao máximo afastar aquela estranha fantasia que se tornava cada vez mais real.

A força de vontade não foi suficiente para desfazer a imagem de Murasakibara. Ele desistiu assim que a nuca inclinou-se para trás e suas mãos começaram a masturbar a ereção. Mentalmente, contudo, a visão era outra e o rapaz de cabelos roxos abocanhava o membro, devorando-o como se fosse um de seus doces. Os movimentos eram lentos, mas intensos, e os gemidos soavam baixos e transbordando uma luxúria e sensualidade que só apareciam naquelas ocasiões. Imaginar o colega de time cuidando de seu baixo ventre era um pensamento tão absurdo quanto erótico. O calor da língua, a profundidade da boca... os mínimos detalhes pareciam tornar o momento ainda mais prazeroso. O ápice, entretanto, estava longe de ser obtido.

O tudo de lubrificante ficava sempre embaixo do travesseiro. Ele foi aberto por uma mão apressada e trêmula, que deixou que uma quantidade escorresse pela ereção, tocando a entrada e atingindo uma parte da colcha. Os movimentos tornaram-se mais fáceis ao redor do membro, todavia, o que o Lançador realmente queria era o duplo estímulo capaz de fazê-lo até mesmo chorar de prazer. Desde o começo Himuro sabia que sexo convencional não funcionaria para ele e o simples pensamento de ter alguma coisa invadindo-o era suficiente para excitá-lo.

O primeiro dedo entrou fundo e sem resguardo. Ele geralmente gostava de se masturbar com calma, tocando-se devagar e descobrindo novas sensações. Porém, havia fome em seus movimentos e o segundo dedo pediu passagem, fazendo companhia ao primeiro. Murasakibara havia afastado suas pernas e preparava-se para penetrá-lo; seu peito erguia-se e abaixava-se, antecipando o que estava por vir.

Os gemidos tornaram-se altos, misturando-se aos sons do ato. Seu ponto especial era tocado com insistência pelos três dedos e cada segundo o aproximava do clímax. O rapaz em suas fantasias o devorava com força e necessidade. As estocadas eram fundas e ele até mesmo conseguia ouvir os gemidos e suspiros baixos que deixavam seus lábios. Uma gota de suor escorria por seu peitoral, descendo pelo abdômen e perdendo-se entre o lubrificante e o pré-orgasmo.

O Lançador arqueou as costas do colchão e então tudo se tornou negro.

x

Aquele foi sem dúvidas o fim de semana mais peculiar que ele já tivera em sua vida. Sua atenção esteve focada em relógios, fosse o da cozinha, o de seu pulso esquerdo ou o do notebook. A aproximação da segunda-feira levava um estranho arrepio por sua espinha e uma parte de Himuro gostaria de ser capaz de parar o tempo, assim não precisaria ir para o colégio.

Encarar o Pivô transformou-se em um de seus maiores medos.

Não aconteceu uma única vez.

O incidente da sexta-feira repetiu-se mais cinco vezes durante o final de semana e ele sentiu-se novamente com 13 anos, o auge de suas descobertas sexuais, em que tudo o excitava e o menor pensamento em um colega de classe era o bastante para fazê-lo tomar banhos que duravam duas horas.

Murasakibara brotou em suas fantasias com uma teimosa insistência. As visitas aconteceram não somente no quarto, mas durante os banhos e até mesmo na sala, enquanto assistia tv. Por muito tempo o moreno não se sentia tão satisfeito durante os momentos íntimos. Certos prazeres só poderiam ser obtidos na companhia de outra pessoa, no entanto, quando pensava nos belos olhos violetas ele conseguia até mesmo perder a consciência, tamanho o nível de seu estímulo.

A segunda-feira, contudo, aconteceu. Como o nascer e o pôr do sol, um daqueles eventos inevitáveis que transcendem as necessidades pessoais. O Lançador ainda teve a opção de não ir para o colégio, mas aquilo significaria fugir e Himuro Tatsuya não fugia... independente se o seu desafio possuísse mais de dois metros de altura e parecesse intimidante quando o olhava por cima.

Ele tomou um longo banho gelado, degustou um delicioso café da manhã e cantarolou baixo enquanto vestia o uniforme do colégio. O trem não estava tão cheio e o caminho foi feito entre várias tentativas de focar-se em outra coisa que não fosse o futuro encontro com Murasakibara e a vergonha antecipada em revê-lo. Eu não faço ideia de como encará-lo. Não consigo sequer imaginar minha própria reação depois de usá-lo para aquilo.

Himuro estava em sua cadeira, o penúltimo assento próximo à janela, quando o Pivô passou pela janela do corredor. A maneira como a mochila estava pendurada desleixada em seu ombro, os cabelos levemente bagunçados e um doce em seus lábios fê-lo até mesmo suspirar. Eu estou extremamente consciente de sua presença. É a primeira vez que sinto Atsushi chegar antes de vê-lo realmente. As batidas de seu coração, contudo, foi a parte que realmente chamou sua atenção, levando-o a recordar-se de que na noite anterior ele havia se masturbado para uma foto de Murasakibara que encontrou na internet, na época de Teikou. Ele tinha o que? Catorze anos? Quinze? Eu sou patético!

O sofrimento, entretanto, tornou-se pior no decorrer do dia. As aulas passaram arrastadas e era preciso somente um instante de distração para que sua mente começasse a lhe pregar peças. De seu lugar ele imaginava Murasakibara em sua própria sala de aula, os longos e pálidos dedos tocando a lapiseira, os mesmos dedos que acariciaram seu corpo durante o final de semana. Isso não é saudável... eu preciso sair daqui.

O final das aulas foi sua salvação. Eles teriam treino naquele fim de tarde e o moreno sabia que poderia afastar um pouco o colega de sua mente, mesmo que estivessem juntos em quadra. Quando segurava uma bola de basquete, todas as suas preocupações desapareciam e não havia nada além daquele momento.

Ou era o que ele gostaria de acreditar...

O time foi dividido em dois grupos como sempre acontecia, todavia, ao contrário das outras vezes, eles ficaram em times opostos. Esse dia está se transformando em um pesadelo. O rapaz de cabelos roxos ficou incumbido de defender a cesta e Himuro, claro, como Lançador, tinha um único objetivo: fazer com que a bola entrasse no aro pendurado na extremidade esquerda da quadra.

O treino iniciou-se igual aos anteriores. Ele deu o seu melhor, tentando arremessar cestas de três pontos e com isso evitar aproximar-se do garrafão, área esta pertencente ao Pivô. Suas tentativas nem sempre se mostravam otimistas e mais da metade de suas jogadas foram interceptadas. Eu preciso me aproximar. Não é justo com o restante do time.

Himuro engoliu seco, recebendo a bola e correndo pela quadra. Murasakibara o esperava, a mesma expressão séria e decidida que aparecia somente quando estava em quadra. A cesta, porém, não aconteceu e ele pegou a bola muito antes de ela aproximar-se do objetivo final. Shit!

O contra-ataque mostrou-se mais forte e o time adversário cresceu em pontos. O moreno desculpou-se com o próprio time, negando que algo estivesse errado quando foi questionado sobre o baixo desempenho. Uma nova chance surgiu na jogada seguinte e naquele momento ele estava confiante. Se basquete era o único diálogo que tinham, o que aconteceria se de repente aquela conversa deixasse de existir? O que ele faria se seu basquete não fosse bom o suficiente para mantê-lo ao lado de Murasakibara?

O Lançador nunca viu de onde veio a bola até senti-la próxima, perigosamente próxima. Seu único olho visível fechou-se, preparando-o para o iminente impacto. Ele já havia recebido boladas no rosto e se elas não quebrassem nada o deixariam pelo menos desorientado por um tempo. Eu me distraí. Dammit, Tatsuya, get it together!

O barulho oco que a bola fez ao atingir a pele soou alto pela quadra e coincidiu com o som do apito. Himuro, no entanto, não havia ido ao chão. O olho abriu-se devagar, enxergando a forte luz que iluminava o lugar. O brilho deu lugar a um rosto, que estava mais próximo do que seria necessário e saudável. Ele é tão bonito... Os lábios moveram-se, chamando-o pelo nome e perguntando se ele estava bem. A resposta foi um mero menear de cabeça suficiente para clarear sua mente e fazê-lo ver sua real situação. M-Mas o quê...

Seu corpo estava sendo segurado pelo braço esquerdo de Murasakibara. A mão em sua cintura era grande e forte, e automaticamente o fez lembrar-se de certas coisas. A realização o fez corar, empurrando-o e tentando afastar-se apenas para perceber que não conseguiria desvencilhar-se. A bola... eu deveria ter sido derrubado pela bola... O olho azul pousou automaticamente na mão direita do Pivô e naquele instante tudo ficou claro.

"Eu estou bem, obrigado." Ele endireitou-se. "Obrigado por me proteger."

O rapaz de cabelos roxos permaneceu à sua frente, encarando-o com uma expressão séria até dar as costas e retornar à sua posição.

"Himuro, banco!" Disse Araki-san de onde estava.

O moreno acatou a ordem sem retrucar, sentando-se e apoiando os cotovelos sobre suas pernas. O que eu estou fazendo? Distrair-se no meio de um jogo? O que há de errado comigo? Um jogador reserva assumiu seu posto e o restante do treino passou como um filme em preto e branco e sem som. Seus olhos estiveram o tempo todo encarando a quadra, mas ele nada via. Por dentro o Lançador tentava entender o que estava acontecendo e porque Murasakibara havia deixado sua posição para protegê-lo da bola. Ele nem ao menos gosta de mim...

O apito soou alto e anunciou o fim do treino. Ele ficou em pé, agradecendo o trabalho da equipe e prontificando-se a arrumar as bolas e o que fosse necessário. O trabalho de quadra geralmente era feito por revezamento, contudo, Himuro sentia-se na obrigação de ser útil.

O silêncio do ginásio era tudo o que ele precisava para poder colocar seus pensamentos em ordem. As bolas foram arrumadas, a quadra enxugada e as garrafas de água vazias jogadas no lixo. Os jogadores iam embora aos poucos, alguns passavam para despedir-se dele, mas certo colega em especial nunca apareceu. Ele nunca se despede de ninguém.

Himuro espreguiçou-se antes de entrar no vestiário, tentando animar-se a tomar um banho antes de seguir para casa. Está quente hoje; talvez eu compre qualquer coisa na loja de conveniência. Não sinto vontade de fazer nada além de dormir. A jaqueta do uniforme foi retirada e colocada sobre o ombro e ele caminhava pelos apertados corredores sem muito entusiasmo.

Os passos pararam assim que atingiram o meio do vestiário. Havia uma fila de armários próxima à entrada, então era preciso dar a volta para atingir a área reservada para os chuveiros. Havia alguém sentado no meio do corredor, ainda vestindo o uniforme do treino, e aparentemente alheio ao passar do tempo. Ou não...

"Ainda aqui, Atsushi?" Chamá-lo pelo primeiro nome fez as palavras ficarem presas em sua garganta. Antes parecia tão fácil...

O Pivô ergueu o rosto devagar, oferecendo nada além dos mesmos olhos baixos. Havia um cabo branco de pirulito entre seus lábios, que tornava a cena ainda mais preguiçosa.

"Nee, até quando você pretende nos atrasar?" Um suspiro cansado seguiu o comentário impertinente. "Você realmente sabe jogar basquete?"

Ele entreabriu a boca para responder, entretanto, optou pelo silêncio. Os passos o levaram até seu armário, que foi aberto sem pressa. A toalha azul foi colocada em seu ombro esquerdo e Himuro encarou o fundo da pequenina caixa de metal antes de fechá-la. Eu cheguei ao meu limite.

"Desculpe por hoje. Isso não voltará a acontecer." Ele virou-se devagar, esboçando um sorriso tão falso que fez Murasakibara quebrar o pirulito dentro de sua boca em uma única mordida. "Mas é estranho ouvir isso vindo logo de você, Atsushi. Por acaso o basquete finalmente conseguiu um espaço nesse seu coração tão duro? Talvez você ame basquete e esteja insatisfeito com meu baixo desempenho, visto que não consigo ser tão bom quanto um antigo jogador da Geração dos Milagres. Desculpe, desculpe, mas eu não sou um dos gênios de Teikou."

O brilho que emanava dos pequeninos olhos violetas era quase forte o bastante para perfurá-lo. Eu espero que você esteja me odiando por dentro...

"Eu gostaria de destruí-lo neste momento..."

"Uma pena que você não possa fazer isso." O moreno deu um passo à frente e inclinou-se de leve. "Frustrante, não? Saber que, embora me deteste, precisa lidar com o fato de estarmos no mesmo time e que, ainda que eu não seja tão bom quanto você, nós somos uma dupla e teremos de trabalhar j-u-n-t-o-s-!"

A mão esticou-se, segurando-o forte pelo pulso. Naquele instante ele viu a surra passar diante de seus olhos e certamente precisaria de algum tempo em um hospital. O Lançador já havia participado de brigas, principalmente ao lado de Taiga. Todavia, tendo o amigo ao seu lado, nenhuma rixa parecia impossível de ser vencida.

Eu estou sozinho agora. Taiga está longe, muito longe... O arrependimento por ter provocado a pessoa errada o atingiu assim que seu corpo foi puxado para baixo e seus joelhos tocaram o chão. Eu mereço. Ele vai me dar uma surra e eu merecerei cada soco.

"Cale a boca. Apenas cale a boca, Muro-chin!"

As mãos puxaram seu corpo para baixo e Himuro teve tempo somente de ver o cabo do pirulito ser jogado para longe, batendo em um dos armários. Tudo o que aconteceu depois pareceu ter saído de uma de suas fantasias absurdas, aquelas que o faziam corar ao recordar-se e que certamente jamais aconteceriam na vida real. Por que, sendo realista, quais as chances de sua surra ter sido substituída por um... beijo?

A língua invadiu sua boca de maneira furtiva, embora direta. O arrepio pareceu acordar todos os músculos que haviam relaxado na espera dos socos que ele tinha certeza de que receberia. Suas mãos ergueram-se com pressa, segurando o rosto do rapaz de cabelos roxos e retribuindo a carícia com a mesma vontade.

Apenas naquele momento Himuro se deu conta de que estava sentado sobre o colo do Pivô, em uma posição totalmente comprometedora. As grandes mãos o empurravam ainda mais para baixo, fazendo-o sentir o membro embaixo do seu.

"Mais..." ele murmurou quando afastou os lábios para tomar ar, "eu quero mais, Atsushi."

Seu pedido foi acatado no mesmo instante.

As línguas voltaram a se encontrar e tudo o que o moreno conseguia pensar era que, ainda que não conseguisse nomear aquele estranho sentimento que o possuía ao pensar em Murasakibara, ele tinha certeza de que, a partir daquele dia, pirulitos de morangos se tornariam seus favoritos.

Continua...