Esta fanfic é uma adaptação do livro A poção do amor, da autora Cheryl Holt.

Nenhum dos personagens e nem o texto me pertencem.


Londres, Inglaterra, 1813.

— Uma poção do amor? — Sakura Haruno caçoou da prima. — Você só pode estar brincando!

— Eu estou falando sério.

— Para que, afinal, você compraria uma poção do amor?

— O que você acha? — Karin Uzumaki estreitou os olhos em desafio. — Eu pretendo fazer com que lorde Uchiha se apaixone por mim.

Sakura apertou os lábios para não rir da tola pretensão.

— Onde você conseguiu essa poção milagrosa?

— Em uma botica. O vendedor garantiu a eficácia. Ele me recomendou, aliás, extrema cautela na dosagem, porque as conseqüências podem ser imprevisíveis.

— A que tipo de conseqüências ele estaria se referindo?

Karin encolheu os ombros.

— Talvez duas pessoas completamente incompatíveis possam ter seus caminhos cruzados. Você há de convir que o resultado seria desastroso.

Sakura suspirou de impaciência.

— Acredita realmente nisso?

— Sim. Por que é tão difícil para você acreditar?

— Porque não existe nada com o poder de obrigar alguém a se apaixonar por outro alguém!

— Lógico que existe! Pela exorbitância que paguei pela poção, ela tem de ser autêntica.

Sakura ergueu o frasco contra a luz. O líquido apresentava uma coloração vermelha-escura. Apostaria seu último centavo que a tal poção era feita, na verdade, de vinho tinto.

— O que você quer que eu faça com isto? — Acabou concordando, após falharem todas as suas tentativas de persuasão.

— Você deverá se aproximar no momento exato que eu for encontrá-lo, e derramar a poção na bebida ou na sopa que lorde Uchiha estiver tomando. Sem que ele perceba, não é preciso dizer.

— Sim, é claro.

— Amanhã à noite seremos oficialmente apresentados. Precisa estar preparada. Eu o quero louco por mim desde o primeiro instante.

Sakura revirou os olhos. Como dama de companhia de Karin, ela aprendera a relevar as criancices e teimosias da prima.

Que Sasuke Uchiha, o conde de Uchiha, era um libertino, ninguém precisaria dizer. O fato era notório. Como Karin podia sonhar que um homem frio e dissoluto, de trinta anos, fosse se interessar por uma donzela de dezesseis? Apesar de sua inexperiência no amor, a prima certamente conhecia as regras e as imposições de um casamento aristocrático.

Kushina, a mãe de Karin, não se furtara a explicar, em tediosos detalhes, os limites de uma união nesses termos. Karin precisava ter em mente que no caso de lorde Uchiha a escolher como sua noiva, os motivos seriam os convencionais: dinheiro, prestígio e alianças familiares.

— O tempo urge! — Karin exclamou. — Você precisa se informar sobre a hora certa que o jantar será servido amanhã.

Aquilo era demais.

Sakura segurou a prima pelos braços.

— Esse plano não pode dar certo. Eu não vou fazer o que você está querendo.

— Você vai!

— Uchiha é um homem esperto, astuto e inteligente, Karin. E se ele me pegar em flagrante? Como eu explicaria a posse do frasco?

— Francamente, Sakura, você não tem imaginação? — protestou a moça. — Invente uma história. Assim, caso algo saia erra do, você terá uma desculpa qualquer para dar.

Sakura suspirou.

— Se você continuar insistindo, falarei com sua mãe!

À menção de Kushina Uzumaki, condessa de Doncaster, a jovem se zangou.

— Atreva-se a contar, e eu farei com que se arrependa pelo resto de sua vida!

— Fale baixo, antes que acorde a casa inteira — Sakura reclamou, irritada. — É muito tarde e teremos um dia atribulado amanhã.

— Leve a poção com você.

— Eu já disse que não!

Karin apanhou o frasco e fez menção de atirá-lo em Sakura.

— Se não fizer o que estou mandando, eu juro que...

— Pelos Céus! Dê-me isso de uma vez! — Sakura pegou o vidro das mãos da outra, recusando-se a olhar para seu sorriso de triunfo antes de deixar o aposento.

Com os dentes cerrados, marchou pelo corredor mergulha do na penumbra. Lady Mei, a glamourosa madrasta de Uchiha, nunca permitia que as velas fossem totalmente consumidas, mesmo durante a noite. A luminosidade que se derramava por baixo de sua porta era suficiente para guiar Sakura em seu caminho.

No meio da escada, contudo, antes de alcançar o segundo andar da mansão onde se localizavam os aposentos que lhe foram indicados, ela se sentou no degrau, com os cotovelos apoiados nos joelhos e o rosto entre as mãos. Estava cansada da viagem para Londres e farta dos caprichos de Karin e de Kushina.

Acima de tudo, sentia-se solitária. Não tinha pressa de voltar para o silêncio de seu quarto isolado no fim do corredor, limpo e confortável, embora quase espartano em sua simplicidade.

Não que ela tivesse motivos para se queixar. Não fora obrigada a dividir seu pequeno espaço com a criadagem, no sótão. Desde que ficara órfã, aos oito anos, sofrera muitas humilhações. Dessa, ao menos, ela fora poupada. O marido de Kushina, apesar de sua obscuridade e modesta posição social, herdara o título do pai de Sakura, o antigo conde de Doncaster, por ocasião da morte deste último. Após tantos anos, ela, Sakura, mal conseguia se lembrar do período de opulência e privilégios em que nascera. Sua mãe teria sido realmente a mulher mais linda da Inglaterra? Ela mesma teria sido tratada como uma princesa quando criança? Ou essas lembranças não eram mais do que um sonho recorrente?...

Sua mãe se casara muito jovem e havia se decepcionado com a nova vida. Fugira para a Itália com um amante, sem se importar em abandonar a filha pequena. O conde, por sua vez, coberto de vergonha e tristeza, tinha cometido suicídio. E também deixara a filha à mercê da caridade alheia; sem título, sem dote, sem bens, sem nomear nem mesmo um tutor para orientá-la e educá-la.

A indômita Kushina, cujo nome era o seguinte na linha de sucessão, instalou-se rapidamente em Doncaster e assumiu o controle da propriedade. O título, na verdade, caberia ao seu marido. Entretanto, este se encontrava doente e, convenientemente para ela, acabou morrendo. Como o filho deles, Naruto, ainda era menor, Kushina acabou por investir-se de toda a autoridade.

Kushina nunca permitiu que Sakura se esquecesse de que era um fardo, o qual seus pais egoístas não se deram o trabalho de carregar, mas entregaram ao destino para que este se encarregasse dela. Por crueldade ou pérfida diversão, vivia sugerindo que nada de bom poderia advir de alguém que tinha nas veias o sangue fraco dos Doncaster.

Tantas foram as acusações nesse sentido, que Sakura preferia não mencionar a ninguém sua ascendência, e raramente revelava seu sobrenome.

Vencida pelo cansaço, ela percorreu o corredor com passos lentos, mas determinados. Deteve-se ao captar seu reflexo em um espelho no hall de distribuição. Parecia mais jovem do que seus vinte e cinco anos. Os cabelos rosados eram sedosos e brilhantes, mas não a marca de um temperamento voluntarioso, como Kushina proclamava. Segundo a mulher, as bruxas apresentavam aquela cor de cabelos, e justamente essa característica causara a ruína de sua progenitora. Por esse motivo, Kushina a obrigava a ocultá-los pelo uso permanente de toucas ou de chapéus.

Seus olhos verdes eram expressivos, apesar da penumbra, e os traços do rosto, bonitos e atraentes. Embora fosse magra, Sakura apresentava curvas bem definidas e femininas. Definitivamente, não era a criatura patética que Kushina e Karin insistiam em apontar.

— Poção do amor... Só me faltava isso.

Suspirou. Aprendera, desde muito cedo, que o excesso de zelo e paixão resultava em problemas e tragédias. Não faria o que a prima ordenara. Despejaria o conteúdo do vidro em um vaso ou em algum canteiro do jardim. Talvez devesse aproveitar que não havia ninguém por perto para jogá-lo fora imediatamente nas folhagens que adornavam o saguão.

Ao retirar a rolha, contudo, um súbito e estranho impulso fez com que levasse o frasco aos lábios.

O líquido não era vinho, apesar da cor. Era um néctar mais doce e aromático. Lembrava flores e menta. Deliciada, sorveu-o até a última gota, desejando que tivesse mais.

Um troar em seus ouvidos fez com que cambaleasse. Ondas pareciam estar quebrando nas pedras em meio a uma tempestade e um forte calor lhe subiu pelo corpo.

Encalorada, ela desatou o nó do penhoar e afastou as lapelas, mas não adiantou. Seu sangue parecia estar fervendo. Desabotoou a camisola, então, e agitou o corpete de modo que o ar pudesse penetrar por baixo do tecido e refrescar sua pele.

A noite estava agradável, embora já estivessem quase no verão. A temperatura, contudo, não justificava aquele louco anseio de se despir e correr nua para seu quarto. Também não justificava aquela incontrolável vontade de rir, como se ela tivesse se excedido na bebida.

O calor continuou se espalhando por seu corpo e rosto. Não apenas a roupa a incomodava, mas principalmente a touca. Puxou-a com arrebatamento, e seus cabelos se soltaram como uma cascata. Sentia o peito crescer com uma sensação de euforia, prazer e liberdade.

Sakura mirou-se no espelho com estranho fascínio. Nunca se sentira tão bonita e atraente. Os cabelos, espalhados pelos ombros e pelas costas, chegavam à cintura e, à tênue luminosidade, brilhavam como uma aura. Os olhos que a fitavam eram da cor das esmeraldas e sugeriam um profundo mistério. Suas faces estavam coradas, como se ela tivesse feito algo errado ou pretendesse fazer.

Quando deu por si, Sakura olhou ao redor e se surpreendeu por não estar mais diante do espelho, mas ante um longo corredor, com uma infinidade de portas de ambos os lados. Suas vistas estavam embaçadas, porém seus outros sentidos continuavam perfeitos embora, talvez, um pouco mais aguçados.

Conseguia distinguir o cheiro da cera no assoalho, das partículas de pó sobre os móveis. Sabia que estava na mansão de lady Mei, mas não reconhecia a ala onde se encontrava. As portas pareciam iguais. Atrás de qual delas estaria sua dona?

Entorpecida, Sakura quis se deitar. Seus braços e pernas pesavam como chumbo. Queria pedir ajuda, mas não havia ninguém. Obrigou-se a caminhar, porém seus pés pareciam deslizar sob águas, até que, finalmente, conseguiu se apoiar em uma maçaneta.

Girou-a e espiou pela fresta da porta. Estava em uma ampla e luxuosa suíte, mas não era seu quarto. Cortinas marrons, tapetes bege-escuro e móveis em mogno sugeriam um ambiente essencialmente masculino.

O fato de ninguém estar ocupando o cômodo permitiu que Sakura o explorasse à vontade. Curiosa, ela entrou e fechou a porta.

Com os pés afundando deliciosamente nos espessos tapetes, atravessou a sala em direção a outra porta, no fundo. Para seu deleite, o quarto anexo era ainda mais espaçoso e, embora estivessem em junho, as chamas crepitavam em uma extravagante lareira de mármore.

O leito sobre um pedestal ocupava o centro do quarto. Era imenso, com a cabeceira entalhada e quatro colunas sustentando um dossel ricamente bordado. O tipo de cama onde reis e príncipes deveriam dormir...

E um homem e uma mulher estavam se abraçando, pecaminosamente nus, sobre as colchas.

Sakura cogitou voltar atrás e sair antes que eles dessem por sua presença, mas continuou onde estava, hipnotizada. O homem estava deitado de costas e a mulher, ajoelhada na altura dos quadris dele. Ela era ruiva e seus cabelos tombavam sobre os ombros. Os seios voluptuosos se moviam conforme as ondulações de seus quadris. Ela o montava como em um cavalo, com graça e fluidez.

Apesar de estar escuro, Sakura tentou reconhecer a mulher. Embora não tivesse certeza, notou uma semelhança com lady Mei.

Ou não. Um instante depois, ao estreitar os olhos, viu seu próprio rosto no lugar onde a mulher deveria estar.

Seria ela quem estava deitada naquela cama magnífica?... Sua mente estava tão confusa! Ou algo acontecera e ela ficara invisível? Tinha a impressão de estar flutuando no ar como um fantasma.

Leve como uma pluma, Sakura recuou para as sombras e se concentrou no homem.

Com seus cabelos pretos e olhos de uma cor indefinida, era o homem mais bonito que ela já vira: esguio, forte, musculoso. Devia se exercitar todos os dias para se apresentar naquela forma física. Talvez praticasse esgrima ou pugilismo.

Ela não fazia ideia de quem era e, no entanto, ele lhe parecia familiar. Como alguém querido com quem não se encontrava havia longos anos, e a quem ansiava por abraçar.

Viu quando ele se apoderou dos seios da mulher e os massageou, arrancando dela suspiros e gemidos, e sentiu um arre pio percorrê-la dos pés à cabeça. Precisou cruzar os braços. Era como se o homem estivesse acariciando os seios dela!, pensou, chocada. Seu ventre se contorceu de repente, e uma sensação de calor atingiu a área secreta entre suas pernas. Sentiu-se vibrar com uma nova e desconhecida energia: seu corpo parecia estar desabrochando e irradiando vigor em uma explosão libidinosa que a despertou para as necessidades mais primitivas.

O casal executava uma dança sensual e elegante, como artistas a desempenhar seu papel. Seus corpos se alongavam e se contorciam, ondulavam e enrijeciam, enquanto seus membros os acompanhavam em movimentos coordenados. Apesar de sua inocência, algo no íntimo de Sakura dizia que eles estavam fazendo amor. Por algum mistério incompreensível, ela estava partilhando dos segredos de um leito marital. Jamais poderia imaginar que o ato do amor fosse tão lindo, tão excitante. Poderia permanecer envolta pela penumbra, nos recônditos daquele quarto, infinitamente.

Você poderia estar nos braços dele. Poderia amar esse homem e ser correspondida. Não foi o que sempre sonhou? Amar e ser amada?...

A voz soou firme, persuasiva, concreta, e Sakura sentiu-se como parte daquele ritual. As sensações que a inundavam a faziam acreditar que poderia ser ela a mulher sobre a cama.

Não entendia como podia ser. Por mais que soubesse estar errada, que não devia estar ali, não conseguia se mover.

Em certo momento, o homem a surpreendeu e sorriu. Seus olhos não eram castanhos nem cinzentos como pensara, mas de um azul-escuro. E a fitaram com tanta intensidade, que foi co mo se a tocassem.

Venha para mim, o estranho parecia dizer. Deixe-me ser esse homem com quem sonha.

As carícias prosseguiram. Sakura o viu deslizar as mãos pelos seios e pelo ventre da mulher, até se deter no centro de sua feminilidade.

De repente, ela não conseguiu respirar. Era como se o calor daquela mão estivesse penetrando em seu corpo, despertando pontos sensíveis que ela não supunha possuir. Era inexplicável, mas de alguma forma, eles estavam unidos desde o âmago de suas almas.

Uma pressão se formou dentro do corpo de Sakura e começou a crescer. Era tão potente, que ela fechou os olhos e se deixou arrastar por ela até explodir de prazer.

Quando abriu os olhos, o homem estava à sua frente, sem que soubesse explicar como. Era alto, viril e envolvente. Com seu físico magnífico, fez com que ela recuasse até que suas costas encontrassem a solidez de uma parede.

Eles pareciam ter sido feitos especialmente um para o outro. Seus corpos se encaixavam e se completavam com perfeição.

— Eu te amo — ela sussurrou.

— Sempre foi assim — ele respondeu, e ergueu a mão para exibir um anel de safira, da exata cor de seus olhos, rodeado de diamantes. — Esta jóia agora é sua — disse. — Guarde-a para que se lembre deste momento.

Por alguma razão, ela teve um lampejo de consciência nesse instante.

— Não posso!...

Era uma pessoa insignificante demais para receber um presente de tanto valor e importância. Como explicaria sua posse? Recusou-o, mas o homem o colocou em seu dedo.

— Faça isto por mim.

Por mais que Sakura quisesse negar, foi impossível. Ele parecia sincero.

E seu rosto estava cada vez mais próximo.

Fechou os olhos à espera de um beijo. Sentiu, no entanto, o roçar do tecido conforme ele afastava a camisola para se apoderar de seus seios com as mãos em concha, e de seus mamilos com lábios exigentes.

Sua reação se estendeu a uma parte localizada no mais pro fundo de seu ser.

Ansiosa por prolongar o momento mais compartilhado de toda a sua existência, Sakura o trouxe ainda mais para junto do peito, como se quisesse se fundir nele.

As carícias se tornaram mais intensas. Um gemido se fez ouvir, e seus mamilos doeram com a volúpia dos beijos do estranho.

Ela quis se afastar, incapaz de continuar suportando aquela doce tortura. Ao empurrá-lo, contudo, sentiu as mãos tocarem o vazio.

Sakura abriu os olhos e levou uma das mãos à boca para calar um grito. Estava em seu próprio quarto, em sua própria cama. Os lençóis amarfanhados e os travesseiros caídos no chão davam ampla evidência de seus sentidos alterados.

Algo havia acontecido. Um sonho ou um pesadelo?

Ao tentar se levantar, caiu para trás e precisou fechar os olhos novamente. Sua cabeça doía e seu coração batia tão forte, que ela era capaz de sentir o sangue forçando sua passagem pelas veias. Tinha o corpo coberto de suor. E, entre as pernas, uma estranha umidade.

Olhou para baixo e estremeceu ao descobrir que o corpete estava solto e que seus seios estavam expostos. Cobriu-os com de dos trêmulos.

Ao olhar ao redor, sentiu um calafrio. O luar derramava for mas escuras e fantasmagóricas sobre a penteadeira, e um frasco se destacava nas sombras, com um reflexo brilhante.

Uma pontada na cabeça a fez se recostar outra vez no travesseiro. Tocou a testa com o dorso da mão, sentindo-se febril, e algo arranhou sua pele: um anel com uma pedra enorme e várias outras ao redor. O que estaria fazendo em seu dedo?

Exausta, fechou os olhos. Precisava desesperadamente dormir. Talvez, quando acordasse, o pesadelo já tivesse passado.


— Quem é a adorável rosada, hóspede da família Uzumaki?

— Rosada?

— Sim — Sasuke afirmou. — Ela é pequena e esguia. Muito bonita.

— Não sei de quem você está falando — respondeu Mei. — Que eu me lembre, a jovem donzela é ruiva.

Parcialmente escondido pelas cortinas, Sasuke espiou por trás da balaustrada para o salão de baile, no andar de baixo. Cem pessoas deviam estar reunidas para um jantar íntimo, pelos padrões de sua madrasta. O tipo de evento que ele abominava.

Aos primeiros acordes da orquestra, os pares se deslocaram para a pista e começaram a dançar. Sasuke continuou atento aos convidados, à procura da desconhecida.

— Tem certeza de que a comitiva dos Uzumaki não inclui ninguém que corresponda a essa descrição?

— Absoluta. Lady Kushina se apresentou apenas com a filha, Karin, e com o filho Naruto.

— O futuro conde?

— Sim — Mei respondeu com um sorriso. — Um rapaz encantador.

Sasuke estreitou os olhos. Aos trinta anos, a mesma ida de que ele, Mei era uma linda mulher. Naquela noite, seus cabelos ruivos estavam presos no alto da cabeça em um coque sofisticado, contrastando com o vestido azul-escuro. Ela sempre se vestia com esmero, e dinheiro era sua grande paixão.

Sasuke sorriu sem vontade. Pelos comentários sobre o herdeiro do condado de Doncaster, já adivinhara sua intenção.

— Quantos anos ele tem? Dezoito?

— Por aí.

— Não acha que é criança demais para você?

— Eu não disse que estava interessada nele!

— Nem era preciso.

Balançou a cabeça com um suspiro. Conhecia Mei desde criança. Na adolescência, acreditara-se apaixonado por ela, até descobrir que era atrás de seu pai, viúvo, que Mei estava.

Tinha sido um grande choque para um jovem cheio de ilusões, mas que acabara lhe ensinando como o mundo funcionava. Desde o episódio, nunca mais havia confiado em ninguém o se fechara para as emoções.

— Eu apenas o acho bonito e agradável — Mei prosseguiu, indiferente.

— E rico.

— Claro.

Sasuke resolveu encerrar a conversa. Mei comeria o pobre rapaz vivo, se pudesse. Na primeira oportunidade, ele daria um jeito de alertá-lo.

Por mais que detestasse a ideia de fornecer à madrasta uma indicação de seu franco interesse pela jovem misteriosa que tinha visto, resolveu insistir:

— Tem certeza de que não há nenhuma rosada com os Lewis? A desconhecida não lhe saía da cabeça, desde que irrompera em seu quarto na noite anterior. Estranho, mas ela parecia estar drogada. Ou talvez fosse sonâmbula e estivesse caminhando durante o sono.

Não conseguia entender como ela penetrara em seus domínios. Nas raras vezes em que pernoitava na mansão, ele costumava trancar a porta da suíte.

O encontro fora dos mais estranhos. Ele olhava para Mei, mas era o rosto da rosada que via em seus braços. Mais tarde, em sonho, fizera amor com a visitante das sombras. Agora, mesmo depois de acordado, as cenas eróticas continuaram a assombrá-lo. E tudo lhe parecera tão real...

A fantasia deixara um sabor inesquecível em sua boca, e por todo o seu corpo. Nenhuma outra mulher lhe proporcionara tanta satisfação... Nem tanta paz. Depois de levá-lo ao ápice do prazer, ela o inundara de uma serenidade absoluta.

Não descansaria enquanto não tornasse a vê-la. Precisava se certificar de que ela era real e não apenas fruto de uma fantasia bizarra.

Não falaria com ninguém a respeito. Mei não a vira no quarto, ocupada demais em mostrar a ele o quanto era bonita e experiente na arte da sedução.

Soprou o ar, aborrecido. Não resistira às suas insistentes investidas. Era homem e isso bastava para ela, que era a maior colecionadora de amantes de que ele tinha notícia.

— Por que esse súbito interesse por rosadas?

Mestre em fingir indiferença, Sasuke impediu que a madrasta tentasse decifrar suas intenções.

— Você viu meu anel de sinete?

— Por quê?

— Ele não estava na mesinha de cabeceira quando me levantei esta manhã.

— Suspeita que a tal rosada o tenha roubado?

— Para ser franco, suspeitei de você.

Indignada, Mei soltou uma exclamação.

— Como ousa?! Não sei por que o deixo entrar nesta casa!

— Porque ela é minha? — ele retrucou, impassível.

Por direito, estaria vivendo na mansão, mas passara a detestá-la desde que seu pai se casara com Mei.

— Você é cruel — a madrasta lamentou com lágrimas nos olhos.

Sasuke se arrependeria de suas palavras se acreditasse na sinceridade do Mei. No entanto, tudo para ela era um jogo onde o objetivo consistia em tirar vantagens a qualquer custo.

— Recebe-me em sua cama e depois me repudia! — acusou, com ares de ofendida.

— Não me culpe. É você que sempre se atira sobre mim.

— Livre-se de mim agora, então — ela rebateu, amarga. — De qualquer modo, faltam apenas quatro meses para você perder todos os bens que seu pai lhe deixou com a condição de que se casasse até completar seu trigésimo primeiro aniversário.

Sasuke comprimiu os lábios. Os termos do testamento eram irrevogáveis. Mei teria de desocupar a casa e ele, abrir mão das propriedades e do título em favor de um primo distante chamado Sai.

Mas não se importava. Guardara algumas economias e possuía o suficiente para embarcar em um navio para as Índias ou para a Jamaica. Não tinha medo de trabalhar, de recomeçar do zero. A vida de depravações que seu pai sempre levara não lhe servia. Não era algo de que tivesse orgulho.

Como dependente dele, Sasuke, pois seu falecido marido não lhe garantira uma pensão, sua jovem madrasta se tomara in cansável na caça a uma esposa que conviesse ao enteado. Agora ele não podia sequer olhar para uma donzela e Mei já via na moça uma noiva em potencial.

Quanto maior o empenho de Mei para que ele se casasse, contudo, maior era sua aversão pela idéia. Era difícil acreditar que um dia ele tivesse sofrido por ela tê-lo trocado pelo pai.

— Não me livrarei de você tão cedo — respondeu à sugestão, por fim. — Você me diverte.

— Pois pode me esquecer, queridinho. Nunca mais dormirei com você. Aliás, assim que o apresentar a Karin Uzumaki, espero não tornar a colocar os olhos em sua adorável pessoa!

— E se eu decidir não descer?

— Noivas não crescem em árvores e você não é muito bem quisto em nossa sociedade. Karin é sua última esperança. Ela, a mãe e o irmão são os únicos que ignoram sua fama.

Sasuke torceu o nariz. A questão era que os Uzumaki eram sua única pista para encontrar a rosada que entrara em seu quarto na noite anterior. Precisava fazer um pequeno sacrifício.

— Está bem. Eu me submeterei a mais essa tortura.

Ao alcançar o último degrau, Mei se virou para trás.

— A propósito, acabo de me lembrar: há mesmo uma rosada com os Uzumaki. Parece que é dama de companhia de Karin. Não sei ao certo. Suspeita que tenha sido ela quem roubou seu anel?

— Não. Você continua sendo minha maior suspeita.

Mei corou de raiva, mas um minuto depois estava com a mão apoiada na curva do braço dele, sorrindo para os convidados. Em público, sempre se empenhava para que passassem uma imagem de perfeita harmonia.

Sasuke não teve dificuldade em localizar a jovem candidata a se tornar a nova condessa de Uchiha. Ela e sua família olhavam para os pares que dançavam uma valsa, mesmerizadas. Suas roupas estavam fora de moda. Qualquer um que os visse adivinharia sua procedência modesta.

— Não acha que devia ter providenciado uma modista para a menina antes de atirá-la às víboras da alta sociedade londrina?

— Não sou a mãe dela.

À referência da mulher, Sasuke percebeu de imediato que era fria e calculista.

Quanto a Karin, ela ainda devia ter esperado mais um ou dois anos para debutar. Era uma criança. Bonita, porém roliça, parecia saída de um conto infantil com seus cachinhos ruivos, grandes olhos azuis e bochechas cor-de-rosa.

O único elemento da família que pareceu simpático a Sasuke foi o jovem Naruto. Alto e loiro, tinha olhos azuis como os da irmã, porém sagazes e amistosos, coisa que devia ter puxado dos antepassados do lado paterno.

Sasuke segurou o ar ao notar, atrás do grupo, a rosada que invadira seu quarto e depois povoara seu estranho sonho. Como uma subalterna, tinha seus fabulosos cabelos ocultos por uma touca infame e o corpo esguio coberto por um vestido cinzento e largo, abotoado até o queixo e os punhos.

Apesar da horrível indumentária, brilhava como uma estrela, o que fez o coração dele bater mais rápido. Ela se lembraria do que tinha acontecido?

Estava ansioso por descobrir.

Mal se aproximaram do grupo, Mei se desdobrou em sorrisos e desculpas:

— Oh, eu não os estava localizando com toda essa movimentação pelo salão. Peço licença para lhes apresentar o filho de meu falecido marido, Sasuke Uchiha, lorde Uchiha.

A rosada ergueu os olhos. Uma expressão de choque se revelou na súbita palidez de sua pele e nos olhos dilatados.

Ele deu um passo em sua direção e, como se temesse sua aproximação, a moça se afastou.

Kushina, que se levantara para as apresentações, não pôde disfarçar sua perplexidade ao vê-lo cruzar sua frente sem se deter.

— Lady Karin — Sasuke se curvou para a rosada em uma mesura —, permita meu atrevimento em enaltecer sua beleza, que é maior do que me levaram a crer. Obrigado por ter vindo a minha casa. Sinto-me honrado com sua presença.

Era a primeira vez que Sasuke se comportava com galantaria em um encontro engendrado por Mei.

A rosada se encolheu. Lady Kushina se mostrou francamente indignada com a situação, e Naruto não conteve um pequeno riso. Os convidados, ao redor, interromperam suas conversas. A verdadeira Karin começou a se abanar como se o ar lhe faltasse.

— Sasuke, sempre tão distraído! — Mei tentou consertar o equívoco de maneira leve e cordial. — Esta moça é a dama de companhia de Karin. Queira desculpar meu enteado, senhorita. Como é seu nome?

— Sakura. Sakura Haruno.

— Alguma relação com os Doncaster Haruno? — Sasuke inquiriu.

— Não, milorde.

Ele estreitou o olhar. A moça pareceu horrorizada à menção do antigo conde. Por quê? Guardaria algum segredo?

— Perdoe-me, srta. Haruno. Eu juraria que estava diante de uma lady.

Mais uma vez a rosada o surpreendeu com a sinceridade de seu olhar. Desta vez, foi como se quisesse fulminá-lo.

— Esta é lady Karin! — Mei puxou o enteado discretamente pelo cotovelo.

Sasuke se manteve entre o grupo pelo tempo necessário para amenizar o desconforto. Concordou em participar de um jantar na noite seguinte, e combinou uma cavalgada com Naruto.

De esguelha, percebeu o momento em que Sakura se retirou para a varanda.

Assim que surgiu uma chance, ele se desculpou. Precisava cumprimentar os demais convidados.

Uma mentira conveniente. O que ele realmente queria era ir ao encontro da srta. Haruno.

Familiarizado com os arredores, logo a entreviu sob uma árvore, perto da cerca dos fundos. A moça observava a porta de serviço da mansão, provavelmente na expectativa de entrar sem ser notada.

Sasuke permaneceu oculto pelas sombras. No instante em que Sakura apoiou a mão na maçaneta, ele a cobriu com a sua.

— Olá, srta. Haruno.

Ela recuou, assustada.

— Você!

— Isso é maneira de tratar um conde?

— Eu o trataria com o devido respeito se o senhor se comportasse como um cavalheiro! Tem alguma noção do estrago que causou?

— Não. Por que não me conta?

— Seu... seu convencido insuportável! Sabia perfeitamente que eu não era lady Karin. Não precisaria tê-las constrangido nem a mim. Comportou-se como uma criança mal-educada.

— Não sou criança, como bem deve estar lembrada. Conheceu-me como um homem em sua aventura de ontem à noite.

Enquanto falava, Sasuke deu passos suficientes para obrigar Sakura a se afastar até suas costas baterem na balaustrada. Ela tentou escapar, porém ele se inclinou como se fosse beijá-la.

Ao contato de seus corpos, faíscas pareceram surgir. Tinham uma afinidade física de que poucos amantes desfrutavam.

Sakura sentiria o mesmo?, Sasuke se perguntou, perturbado. Ou ainda era inocente em assuntos de sexo?

Calculava que ela tivesse uns vinte e cinco anos. E seria possível que nenhum homem ainda a tivesse tocado?

— Por que estava me espionando?

— C-Como?

— Eu a vi em meu quarto na noite passada.

As pernas de Sakura ameaçaram ceder sob seu peso, mas ela não demonstrou como se sentia.

— Não faço ideia do que está falando. Cheguei ontem, de Londres, e não o vi até alguns minutos atrás. Nem sequer sei onde fica seu quarto.

Sakura Haruno era uma péssima mentirosa. Era evidente que se recordava do episódio.

Sem soltá-la, e pressionando ainda mais seu corpo contra o dela, Sasuke deslizou o indicador pelos lábios de rubi. Encontrou-os quentes e convidativos e quis beijá-los. Sakura era diferente das outras moças, sempre prontas a se atirarem aos seus pés. Seria ótimo mudar esse padrão e se relacionar com alguém cuja companhia lhe desse real prazer

— Quero que seja minha amante.

Ela tentou responder, porém sua voz demorou alguns instantes para sair.

— Eu mudei de idéia... Você não é um convencido, mas um maluco!

Desvencilhou-se finalmente. Antes de deixá-la ir, contudo, Sasuke a segurou pelo pulso.

— Encontre-me em minha suíte à meia-noite.

— Que suíte? Você nem mora aqui. Esta é a casa de lady Mei.

— Está equivocada. Esta mansão me pertence. Ocupo a suíte master, na ala sul, no fim do corredor do quarto andar, sempre que venho visitá-la. Use a escada de serviço.

— Definitivamente não! Sou uma mulher de respeito e dama de companhia de Karin Uzumaki. Como se atreve a me pedir isso?

— Não estou pedindo.

— Está me obrigando?

Sasuke jamais forçara uma mulher a ceder a seus desejos. Embora sua reputação não fosse impoluta nos círculos de Londres, costumava seguir alguns padrões de moral.

No caso de Sakura Haruno, contudo, resolvera esquecê-los.

— Se não for ao meu encontro, eu a acusarei de roubar meu anel.

Sakura não soube o que responder e sua hesitação confirmou as suspeitas de Sasuke.

— Q-Que anel?

— Não posso afirmar quando, como, ou por que você o pegou. Sua aparência não é de uma ladra. Sua atitude me intriga.

— Você é um bruto!

— Não nego.

Lágrimas de medo ou raiva marejaram os olhos verdes.

— Não faça isso comigo. Por favor!

— Eu preciso fazer isso.

Após um gemido, misto de frustração e desespero, Sakura abriu a porta e entrou correndo na mansão.


Depois de taaaaaaanto tempo - e põe tanto nisso - cá estou eu, dessa vez com uma adaptação pra mostrar a vocês. Eu gostei bastante desse livro e espero que vocês gostem também!

Mandem reviews pra que eu tenha um feedback de vocês. Agradeceria muuuuitão! 3

Beijos,

Uchiha Lily.