Sonhando com o pecado

Autora original: Kristin James

Sinopse:SUAS BOCAS SE ENCONTRAM NUM DUELO DE EXCITAÇÃO

Na beira da piscina, Bella é agarrada por Edward Cullen, as mãos e a boca desse mexicano másculo provocam sensações desconhecidas em seu corpo quase nu. Um corpo que nunca foi tocado como agora, com a sensualidade enlouquecedora do empregado da fazenda de seu pai...

Bella sente-se subjugada, precipitada no abismo escuro e sem fim do prazer! A linda e ingênua adolescente está sem defesa, nas garras da excitação! Edward quer torná-la mulher...

Nota: Essa história pertence à Kristin James, e os personagens pertencem a Stephenie Meyer.

CAPÍTULO I

Da estreita sacada, Isabella Swan contemplou as ondas que se quebravam na praia. Aqueles eram os momentos mais preciosos de seu dia, os poucos minutos que passava sozinha, tomando café e admirando o mar, depois de Anthony sair para a escola e antes de ser obrigada a enfrentar os inúmeros problemas que, como gerente do Hotel Brisas, tinha o dever de solucionar.

Deliciada com a carícia do ar quente e húmido, ela levantou o rosto para o sol. Por mais problemas e hóspedes queixosos que tivesse de encarar, valera a pena voltar para a ilha. Quando criança tinha vindo muitas vezes passar as férias ali com os pais, e a lembrança do prazer que sentia, brincando na água e correndo pela praia, ainda estava gravada em sua memória. Fora uma sorte ter conseguido aquele emprego.

Com um suspiro, Bella terminou de tomar o café e voltou para a sala. Tinha ficado à toa muito tempo e era hora de iniciar o trabalho. Em frente ao espelho, ajeitou os cabelos e examinou o terninho verde, para ter certeza de que estava com uma aparência elegante e eficiente. Em seguida, pegou a chave e saiu para o hall espaçoso, onde ficava o elevador.

Ela era dona de uma beleza viva e sensual, que sempre fazia o possível para abafar. Há muito tempo tinha aprendido que boa aparência e feminilidade não ajudavam uma mulher a subir no mundo dos negócios, e por isso havia adquirido um estilo agradável, porém prático e simples, de se arrumar. Geralmente, usava roupas atraentes, mas que escondiam as curvas de seu corpo, e prendia os longos cabelos castanhos, de reflexos avermelhados, num coque baixo. Como nada poderia diminuir o encanto de seu rosto oval, de linhas clássicas e olhos chocolates, ela evitava, cuidadosamente, deixar transparecer qualquer emoção que pudesse dar vida a suas feições, tornando-as mais bonitas. Há alguns anos, tinha decidido que seria uma mulher de negócios e havia se modificado da cabeça aos pés para se encaixar nessa categoria.

Saindo do elevador, Bella atravessou, com cuidado, o saguão de lajotas cor de terra, que fora lavado e ainda estava húmido e escorregadio. O encarregado da receção, um rapaz atraente, mas de ares afeminados, sorriu para ela. Alec estava sempre limpo e bem-arrumado, e gostava tanto de seu modo de vestir quanto detestava o da Sra. Newton, a encarregada da lanchonete, que usava roupas fora de moda e cabelos tingidos de um loiro avermelhado.

— Oi, Alec. Tudo bem? — Bella perguntou, e o rapaz ergueu os olhos para o céu. — Tão mal assim?!

— Quer que eu lhe conte tudo por ordem de acontecimento ou prefere que comece pelas coisas mais graves?

— Meu Deus! — Bella abriu a meia porta e passou para a área atrás do balcão de receção. Junto à parede dos fundos ficava a mesa da telefonista e, à esquerda, a escrivaninha de Jane, a moça que desempenhava a função de secretária da gerência e assistente do rececionista, além de servir de intérprete para os muitos mexicanos e hispano-americanos que se hospedavam ali. — Oi, Jane.

— Oi. Quer uma xícara de café? — Ofereceu a bonita loira, sorrindo alegremente.

— Quero, sim. Parece que vou precisar de um estimulante. — Bella encaminhou-se para o escritório da gerência, que ficava à direita, destrancou a porta e abriu a janela. — Muito bem, Alec, pode me contar tudo.

Alec seguiu-a e recostou-se no batente da porta, de onde poderia controlar a chegada dos hóspedes.

— Bem, em primeiro lugar, aquela recepcionista nova, do turno da noite, não tem a menor ideia do que seja uma reserva. Ela colocou várias pessoas, que pretendem ficar mais do que uma noite, em quartos reservados para outros hóspedes, que deverão chegar hoje.

— Com quantos quartos ela fez isso?

— Mais ou menos vinte.

— Estamos sem lugar para os hóspedes que vão chegar?

— Não, porque vários hóspedes estão de saída. Mas o sujeito do quarto 906 está bravo conosco. Ele havia reservado o quarto 908 para um amigo que deve chegar hoje, e a louca da Jessica deu o 908 para um casal que chegou ontem à noite e que pretende ficar três dias.

— Explique isso ao casal do 908 e mude-o para outro quarto. Mais algum problema desse tipo?

— Por enquanto, não. Mas vou ter um trabalhão, remanejando as reservas. Àquela garota não tem inteligência?

— Não sei. Vou ajudar você com o remanejamento e à tarde, quando Jessica chegar, explicarei a ela o sistema de reservas. Mais alguma coisa?

Jane entrou com o café e respondeu por Alec.

— Duas camareiras e um dos homens da manutenção não vieram trabalhar hoje.

Bella não ficou surpresa. Faltas eram comuns, principalmente na sexta e na segunda-feira. Na verdade, constituíam um de seus maiores problemas, e o salário baixo que o hotel pagava a seus funcionários tornava difícil resolvê-lo.

— Jane, telefone para a agência de empregadas, em Brownsville, e veja se consegue alguém para nos ajudar hoje. Como estamos fora de temporada, uma pessoa será suficiente. Sabe se os que faltaram pretendem voltar?

— Angela telefonou para avisar que estava doente, mas os outros... Só Deus sabe!

Jane saiu e Bella olhou para Alec.

— O que mais?

— Guardei o melhor para o fim.

— Não diga!

— Aro Volturi telefonou um pouco antes de você descer e disse que virá até aqui hoje. Precisa falar com você.

— Aro Volturi?! Mas por quê?

— Só Deus sabe! — Sorrindo com ironia, Alec voltou para o balcão de recepção.

Bella suspirou e tomou um gole do café, pensativa. Que razão teria Volturi para querer vê-la? Embora fosse o proprietário do hotel, ele não tomava parte ativa em sua administração, preferindo dedicar-se ao shopping center e ao restaurante que possuía em Harlingen, a cidade onde morava.

Esperançosa, Bella imaginou se ele não teria resolvido reformar o hotel, mas logo descartou essa ideia. Volturi havia deixado claro, um mês atrás, que não tinha dinheiro para isso.

E não estava mentindo. Os negócios não tinham corrido bem, na última temporada, por causa de um derramamento de petróleo que poluíra as praias do Texas. Depois, em agosto, um furacão atingira a ilha, danificando o saguão e grande parte dos terrenos em volta do hotel. Todo o dinheiro do fundo de reserva fora gasto consertando o estrago, com grande prejuízo para o Brisas, que não pertencia a uma cadeia de hotéis nem tinha o apoio de um poderoso conglomerado financeiro.

O que era uma pena, na opinião de Bella, pois o Brisas, construído doze anos atrás, tinha uma estrutura forte e elegante. Todos os quartos davam para o mar e possuíam sacadas delimitadas por encantadoras grades de ferro batido, posicionadas de tal modo que, de uma, não se via a outra. Mas o saguão estava precisando ser redecorado, e a pintura estava começando a descascar em vários pontos. Ao longo dos anos, hóspedes descuidados haviam danificado a maioria dos quartos, e só reparos de emergência tinham sido feitos. Além disso, o equipamento mecânico estava em péssimas condições e vivia quebrando, o que só contribuía para acelerar a decadência do hotel.

Com esforço, Bella afastou o sr. Volturi dos pensamentos e começou a abrir a correspondência sobre a escrivaninha. Quando terminou, levou mais dois pedidos de reserva para Alec e ajudou-o a consertar a confusão que Jessica tinha feito com os quartos na noite anterior. Estava a ponto de voltar para seu escritório, quando a porta da frente se abriu e Aro Volturi entrou.

— Bom dia, sr. Volturi — cumprimentou, adiantando-se para recebê-lo.

Volturi sorriu e apertou a mão que ela lhe estendeu. Era um homem magro e de olhar ansioso, com uma úlcera estomacal causada pelos altos e baixos de uma vida dedicada a aventuras financeiras.

— Como vai, sra. Swan? Espero que tenha recebido o meu recado.

— Recebi, sim. Vamos até o meu escritório, por favor. Aceita uma xícara de café?

— Não, não, obrigado.

Volturi dirigiu-se para o escritório da gerência e Bella seguiu-o, tendo o cuidado de fechar a porta atrás de si, para se proteger dos ouvidos interessados de Alec e Jane. Em seguida, sentou-se à escrivaninha e esperou que ele falasse.

Volturi sentou-se também, ajeitou as mangas do casaco e olhou em torno. Então, com um suspiro, começou:

— Sra. Swan, a senhora conhece, melhor do que ninguém, as dificuldades financeiras que o Brisas tem enfrentado.

Bella fez que sim, imaginando, apavorada, que ele iria exigir que cortasse mais algumas despesas. Não havia mais nada que pudesse ser cortado.

— Eu não tenho condições de reformar este hotel — Volturi continuou, limpando a garganta. — Por isso, ainda que o Brisas seja o meu maior orgulho, fui obrigado a desistir dele, Acabo de vendê-lo.

— Vendê-lo?! Mas... quem... Para quem?

— Para a Corporação Cross, uma companhia de Houston que se dedica à área de lazer.

— Já ouvi falar deles. Vi até as fotos de um condomínio maravilhoso que eles construíram na Flórida.

— Eles trabalham principalmente no Texas e no sul. São uma companhia nova, mas muito empreendedora.

— Mas, sr. Volturi, o que eles podem querer com o Brisas? Pelo que sei, só constroem hotéis novos.

— Realmente, mas eles se interessaram pela localização do Brisas, que é a melhor da ilha. E também gostaram da estrutura do hotel. O que eles pretendem é reformar tudo e acrescentar mais uma piscina e duas alas de condomínios.

— Entendo... — Bella murmurou, certa de que logo estaria de volta à fazenda de laranjas no Vale do Rio Grande onde se criara. Os novos proprietários na certa trariam um gerente de sua confiança para dirigir o hotel. E talvez até substituíssem os outros funcionários por gente treinada por eles.

— Assinei os papéis de venda ontem, em Houston. O Brisas não é mais meu.

— O novo proprietário vai entrar em contato comigo?

— Vai, sim. Cross quer começar a reforma o mais rápido possível. Amanhã, um arquiteto virá examinar o hotel. Você não estava trabalhando para mim, mas quatro meses atrás, quando iniciamos as negociações, ele passou por aqui para dar uma olhada em tudo. Naturalmente, o exame agora será mais detalhado. De qualquer modo, pretendo ir buscá-lo no aeroporto e apresentá-lo a você antes de ir embora. O avião dele chega à uma hora. Duas, duas e meia, estaremos aqui.

Volturi levantou-se e Bella imitou-o. Ainda atordoada pela notícia, acompanhou-o até a entrada do hotel. Quando a porta de vidro fechou-se, atrás dele, virou-se para encarar os rostos curiosos de Alec e Jane.

— O que foi? — Jane perguntou, preocupada. — Você está com cara de quem levou um choque.

— E levei mesmo. Jane, diga a todos os empregados que quero falar com eles às dez e meia, na sala de jantar. Tenho uma comunicação importante a fazer.

— O quê? — Alec pressionou.— Vamos lá, Bella, não faça mistério.

— Não vou fazer. Volturi vendeu o hotel para a Corporação Cross.

— O quê?! — Alec e Jane exclamaram, ao mesmo tempo.

— O hotel foi vendido — Bella repetiu. — A Corporação Cross, que o comprou, é especialista em áreas de lazer. Eles vão reformar tudo por aqui.

— Já não era sem tempo — Jane comentou. — Este pobre hotel bem que está precisando de alguns melhoramentos.

Alec lançou-lhe um olhar sombrio.

— É, e nós podemos estar no meio das "coisas velhas" que serão jogadas fora.

— Eu não havia pensado nisso — Jane murmurou, toda a excitação desaparecendo de seu rosto. — Vamos ser despedidos, Bella?

— Não sei. Um representante da Cross deve chegar amanhã. Talvez ele possa nos dizer. Por falar nisso, Alec, a suíte da cobertura está ocupada?

— Não. Quer que eu a reserve para o sujeito da Cross?

— Quero, sim.

— Qual é o nome dele?

— Não sei. Fiquei tão surpresa com a notícia da venda do hotel que até me esqueci de perguntar a Volturi o nome dele. Escreva Corporação Cross no cartão de reserva.

A não ser pelo encontro com os empregados, o resto do dia correu de forma normal. Durante o almoço, Lauren tentou saber mais alguma coisa a respeito da venda, mas Bella não lhe disse nada. Todos os funcionários estavam com medo do futuro, e ela gostaria de poder animá-los. No entanto, como não tinha ideia do que os novos proprietários pretendiam fazer, ficou com medo de alimentar falsas esperanças e preferiu calar-se.

Aparentando tranquilidade e confiança, cumpriu os deveres de sempre como se nada tivesse acontecido. Por dentro, porém, estava se roendo de preocupação. Para onde iria, se fosse despedida? A indústria do lazer estava atravessando uma fase difícil, e uma mulher com um filho pequeno teria dificuldade para arranjar outro emprego de gerente.

Quando Anthony saltou do ônibus escolar e entrou correndo no saguão do hotel, Bella estava exausta e ansiosa por deixar o escritório.

— Como foi? — Perguntou sorrindo ao menino, quando ele se aproximou a toda velocidade. — O que acha de irmos até Porto Isabel esta noite, comer camarões?

— Tudo bem — Anthony declarou, respondendo a ambas as perguntas. — Olhe, mamãe! A sra. Carmen me disse para lhe mostrar isto.

Bella examinou a folha de papel que ele lhe estendeu e franziu a testa, surpresa.

— Cento e dez? Como você pôde tirar cento e dez neste teste? Pensei que cem fosse a nota máxima.

— É que o teste foi tão difícil que a sra. Carmen deu uma pergunta a mais, para ajudar. E eu acertei todas.

Sorrindo, Bella estendeu os braços para ele.

— Venha cá, meu geniozinho da matemática. Quero lhe dar um abraço.

Anthony era uma criança meiga e afetuosa, e se atirou prontamente nos braços dela. Nunca conhecera o pai e, por causa disso, era mais apegado à mãe que a maioria dos garotos. Bella às vezes se preocupava com a falta da figura paterna na vida do filho, mas depois de Edward nunca mais se apaixonara por ninguém, e não pretendia casar só para dar um pai a Anthony. Seu próprio pai poderia ter sido um substituto, mas nunca tinham sido muito chegados e, desde o nascimento de Anthony, mal se viam.

Bella abraçou o garoto mais uma vez, depois soltou-o.

— Posso ir brincar na praia até a hora da gente sair?

Sorrindo, ela passou a mão pela testa do filho e afastou um punhado dos pesados cabelos cobre que tinham caído sobre os olhos dele. Apesar de pequeno para a idade, Anthony era um garotinho cheio de energia, que estava sempre catando conchas, pescando ou simplesmente correndo pela praia, feliz da vida.

— Pode, mas volte às cinco e meia. Não, espere! Eu vou me encontrar com você lá. Estou precisando andar um pouco.

Anthony desapareceu como um relâmpago, e Bella voltou ao trabalho. Às cinco, Jane saiu e ela começou a juntar os papéis espalhados sobre a escrivaninha. Às cinco e meia, terminou tudo e subiu para trocar de roupa. Vestiu short e camiseta, e soltou os cabelos, escovando-os com cuidado, até fazê-los brilhar. Seria delicioso caminhar ao longo da praia, com o vento soprando os fios avermelhados de um lado para o outro. Fora criada numa fazenda e muitas vezes sentia falta da liberdade e da vida ao ar livre que costumava ter. Nessas ocasiões, era com verdadeiro alívio que se livrava dos modos sérios e comedidos que tinha adotado.

Bella desceu correndo a escada que dava para a piscina, nos fundos do hotel, e Cullenou o pátio de lajotas em direção à praia. Pisando na areia macia, respirou fundo, deliciada com a cena diante de si. O sol estava se pondo no horizonte, e seus últimos raios tingiam de dourado as ondas que vinham se quebrar a seus pés. Crianças e adultos brincavam mar adentro, com água pela cintura, seus risos alegres ecoando pelo ar. Um dos maiores encantos turísticos da ilha era o fato de a água ser tão rasa, por uma extensão tão grande.

Fazendo sombra para os olhos com a mão, ela começou a caminhar ao longo da praia, procurando Anthony. Finalmente, viu-o agachado na areia, construindo um forte com outra criança. Chamou-o, e ele se levantou depressa, limpou o short com a mão e correu ao encontro dela.

— Olhe o que arranjei! — Anthony gritou, ao chegar perto dela. Tirou dos bolsos dois punhados de conchas e exibiu-as com orgulho. Quando Bella terminou de examiná-las, o menino guardou-as de novo e puxou a mãe para a beira da água.

— Fiquei sabendo de uma novidade hoje, no trabalho — Bella começou, caminhando ao lado dele. — O sr. Volturi, o dono do hotel, veio me ver esta manhã. Ele me contou que vendeu o hotel para uma companhia de Houston.

— Por quê? Ele não queria mais o hotel?

— Acho que queria, sim, mas não pôde ficar com ele por falta de dinheiro. O Brisas está precisando de uma boa reforma, e isso vai ficar muito caro.

— E o novo dono tem dinheiro para fazer a reforma?

— Tem, sim. Ele vai até aumentar o hotel.

— Oba! Então eu vou poder ver a construção. Vai ser divertido. Quando eles começam?

— Não sei. Amanhã, um homem vem dar uma olhada em tudo, para traçar os planos do que precisa ser feito. Acho que só depois disso eles vão começar a construir as novas alas.

— Já pensou, mamãe? Pode ser que eles comecem durante às férias, quando não tenho que ir à aula. — Anthony fez uma pausa e olhou-a. — Você não gostou?! Não quer que eles aumentem e reformem o hotel? Está com uma cara!

— Claro que quero. Eu só fiquei um pouco preocupada com isso tudo. Pode ser que o novo dono não me queira aqui. Pode ser que ele queira colocar no meu lugar uma pessoa que já conheça.

— Você pode ser despedida?

Bella sorriu do tom incrédulo do filho.

— Posso. Muitas dessas companhias que lidam com hotéis só empregam gente treinada por eles.

— Se isso acontecer, o que a gente vai fazer? Mudar para outro hotel?

— Espero que sim. Eu vou mandar cartas me oferecendo para trabalhar nos outros hotéis da ilha e nos hotéis de Brownsville e Harlingen. Se der, prefiro ficar por esta região mesmo.

— E se não der? E se você não conseguir emprego em lugar nenhum? O que vamos fazer?

— Se o pior acontecer, podemos ir morar com meu pai, na fazenda. O que acha disso?

Anthony refletiu por alguns instantes.

— Acho que seria divertido morar numa fazenda. Mas não tenho certeza. Nunca ficamos muito tempo lá, para eu saber. — Ele fez uma pausa, depois acrescentou: — Eu também não sei se gosto de vovô.

— Não sabe?!

— Não. Ele está sempre sério, nunca ri. E vive falando de um jeito engraçado com você, como se estivesse zangado com alguma coisa.

— E provavelmente está. Eu amo meu pai, mas nunca nos demos bem. Não combinamos em um monte de coisas. — Suspirando, Bella olhou para o mar. — Ele quer que a gente vá viver com ele, e eu quero ser independente. Às vezes, fico pensando se estou agindo certo, não querendo ir para casa. Nossa vida tem sido dura para você, Anthony? Você acha ruim ter que ficar com uma empregada enquanto eu trabalho? Acha ruim termos que nos mudar sempre que arranjo um novo emprego?

— Como assim?! — O garotinho ergueu o rosto confuso para ela. — Está querendo saber se eu preferia viver em outro lugar?

— É. Como a fazenda do vovô. Gostaria que não tivéssemos que morar num hotel ou que não nos mudássemos tanto? Não se sente sozinho?

— Não. Eu gosto da fazenda, mas gosto daqui também. Posso nadar, brincar na areia e correr em volta do hotel. É muito divertido.

Bella olhou para o filho, imaginando, mais uma vez, se tinha feito o melhor por ele, ao insistir em criá-lo. Mas o rostinho aberto e sorridente de Anthony afastou suas dúvidas. Era um garoto normal e bem ajustado, em casa e na escola. Num gesto afetuoso, estendeu a mão e despenteou os cabelos do menino.

— Bem, chega de pensar nisso. Estou morrendo de fome. E você?

— Eu também. Vamos apostar uma corrida até em casa?

Rindo, ela concordou, e os dois partiram. Apesar de pequeno para um garoto de nove anos, Anthony era rápido, e Bella teve que se esforçar para não ficar para trás. Ele alcançou o hotel alguns segundos antes que ela chegasse, corada e ofegante.

— Ganhei! Ganhei! Sou o garoto mais rápido da minha classe.

Depois de lavar os pés no chuveiro externo, eles subiram para se arrumar. Bella só trocou o short por uma saia de brim e calçou sandálias, pois eram poucos os restaurantes, naquela região, que exigiam roupas formais de seus frequentadores.

Mesmo assim, atraiu muitos olhares de admiração, quando atravessou o pátio com Anthony para pegar o carro. Mas não ligou; entre o trabalho e Anthony, tinha pouco tempo para encontros com o sexo oposto. Além disso, não tinha o menor interesse pelos homens que conhecia.

Bella dirigiu-se para a ponte que ligava a ilha ao Estado do Texas.

A Ilha do Padre, como era chamada, não passava de uma estreita faixa de terra paralela ao litoral sul do Texas. Sua extremidade norte ficava na altura da cidade de Corpus Christi, e a extremidade sul, quase na altura de Brownsville. Padre Sul e Padre Norte eram duas comunidades completamente independentes, que ocupavam os extremos da ilha sem nem uma estrada de terra para uni-las. Padre Sul, mais conhecida como simplesmente "a ilha", tinha apenas uma rua principal, da qual saíam seis ou sete ruas secundárias com, no máximo, quatro quarteirões de comprimento. Palmeiras cresciam em cada Cullenamento e em frente a muitos dos hotéis, dando à paisagem um ar tropical, intensificado pela areia branca das praias e pelo tom azul do mar.

O principal meio de vida da ilha era o turismo, e hotéis, motéis e condomínios espalhavam-se por toda parte, com algumas casas de veraneio espremidas entre eles. A não ser pelos restaurantes, mercearias e lojas de artigos de praia, não havia mais nenhum comércio no local. A maioria das pessoas que trabalhavam ali preferia morar em Porto Isabel, uma cidadezinha no continente que fornecia à ilha tudo que lhe faltava.

Bella e Anthony comeram camarão à moda do Golfo num restaurante simples mas muito bom de Porto Isabel. Quando voltaram, Anthony fez o dever de casa e foi para a cama. Nenhum deles falou de novo sobre a venda do hotel ou as mudanças que poderiam ocorrer em suas vidas.

Depois de ver se o filho estava bem acomodado, Bella tentou examinar algumas contas. Mas suas pálpebras logo começaram a pesar e ela resolveu dormir cedo. Lavou o rosto, escovou os cabelos, colocou uma camisola leve e foi para o quarto. No entanto, ao passar pela porta de Anthony, não resistiu e entrou para dar mais uma olhada nele.

Anthony estava deitado de costas, com os braços estendidos ao lado da cabeça, dormindo a sono solto. Sorrindo, Bella percorreu com um olhar amoroso os contornos do rostinho queimado de sol. Os malares eram largos e salientes, a boca firme; e as sobrancelhas mais pareciam dois riscos negros. Dela, Anthony só tinha herdado os olhos claros. A coloração e o formato do rosto eram do pai. E, quanto mais ele crescia, mais suas feições se assemelhavam às do pai.

"Dormindo, ele é a cara de Edward", Bella pensou, com um aperto no coração. Seus olhos encheram-se de lágrimas e, depressa, ela deixou o quarto do filho.

No dia seguinte, ninguém foi capaz de se concentrar totalmente no trabalho. Todos estavam nervosos com a chegada do representante do novo dono, inclusive Bella. Para o importante encontro, havia escolhido sua roupa mais elegante e discreta, um conjunto de saia e blazer cor de chocolate, com uma blusa de seda bege, A não ser pelos brincos de ouro e o relógio no pulso, não estava usando nenhum enfeite.

Mais ou menos às duas e meia, quando estava lendo uma carta pela terceira vez, Jane entrou no escritório.

— O sr. Volturi chegou. E você precisa ver o sujeito que veio com ele! Absolutamente maravilhoso!

Bella sorriu.

— Que entusiasmo! Talvez seja melhor eu deixar você falar com ele.

— Bem que eu gostaria!

Rindo do tom fervoroso de Jane, Bella passou por ela e pisou no saguão no momento exato em que a porta da frente se abriu e o sr. Volturi entrou, acompanhado pelo arquiteto, um homem alto, com sobrancelhas escuras e cabelos espessos e cor de cobre. Seu rosto era anguloso e os lábios, firmes. Olhos escuros, sombreados por cílios também negros e espessos, percorreram o saguão e pousaram nela, estreitando-se de repente, cheios de surpresa.

Absolutamente imóvel, atordoada pelo encontro inesperado e sem acreditar no que estava vendo, Bella retribuiu o olhar. Vagamente, como se estivesse muito longe dali, ouviu o sr. Volturi pronunciar seu nome. O sangue estava latejando em seus ouvidos e, por um momento, teve medo de desmaiar.

Não podia ser! E, no entanto, era. Depois de todos aqueles anos, o homem que nunca tinha esperado rever estava diante dela: Edward!