-Boa tarde, Itachi. Obrigado por ter vindo. Por favor, sente-se. –Itachi agradece e senta no sofá da sala da casa do ruivo e Gaara senta-se á sua frente. Uchiha Itachi, advogado, era o irmão mais velho de Sasuke e amigo da família do ruivo.

-Imagino que Sasuke já tenha lhe contado sobre o que se trata a nossa reunião. – Itachi nega com a cabeça. –Ele só me disse que era referente à adoção de Chiana, mas não entrou em detalhes. Eu disse á ele que preferia ouvir tudo de vocês. Nem sabia que Chiana era adotada.

-Ela é filha biológica de Ino e eu a adotei depois do nosso casamento. –Gaara explica e olha para o rapaz que esperava por mais esclarecimentos, então solta um suspiro. –Ela é filha biológica do meu irmão, Kankuro.

Itachi ouve aquilo surpreso. –Você já sabia disso antes do casamento? –Gaara confirma e com calma conta toda a história desde o início. Itachi acompanha a narração, interrompendo uma vez ou outra para tirar alguma dúvida. –Então, até antes do transplante, Kankuro não acreditava que a menina fosse sua filha?

-Não.

-Por quê? Ele tinha motivos para isso? – Gaara olha para o homem irritado e Itachi levanta as mãos em sinal de defesa. –Não quis ofender Ino, Gaara. Somente quero entender o que se passou. Se Kankuro e Ino viviam juntos há mais de seis meses, por que ele não acreditou que fosse o pai do bebê? O que houve?

-Eu não sei, nunca soubemos o que levou meu irmão a agir assim.

-O que ele disse quando pegou o teste de paternidade?

-Apenas uma frase: "Ela mentiu, durante todos esses anos, ela mentiu." E depois me mostrou o resultado.

-E de quem ele estava falando?

-Não sei, não tenho a mínima idéia. Estava preocupado com Chiana, ela havia sido internada novamente. Meu interesse estava nos resultados dos exames que diriam se Kankuro era ou não compatível. Só isso me interessava, eu nunca tive dúvidas de que Kankuro fosse o pai biológico da Chiana. –Gaara fala nervoso e Itachi concorda com a cabeça. Sabia sobre a doença de Chiana, ele mesmo tinha feito exames para verificar se podia doar a medula para a namorada do sobrinho.

-Quando vi que ele era compatível, marquei nossa volta para os Estados Unidos. Kankuro fez a doação e o transplante foi realizado. Ele voltou para Inglaterra antes da alta de Chiana. Isso foi há quatro meses. Nos falamos algumas vezes por telefone durante esse tempo, ele queria saber sobre o estado de saúde dela. – Gaara pega alguns papéis de dentro de uma pasta sobre uma mesinha ao lado do sofá e entrega para Itachi. –Isto chegou ontem.

Itachi analisa os papéis em suas mãos por vários minutos. –Aqui diz que Ino trouxe o bebê da Inglaterra sem autorização do pai. E que Kankuro nunca abriu mão de seus direitos paternos e nem autorizou a adoção da menina. Isso é verdade?

-Itachi, eu informei Kankuro de que Ino tinha retornado aos Estados Unidos com o bebê e ele me respondeu que isso não era assunto dele. E antes de me casar com Ino eu conversei com ele sobre a adoção, Kankuro me deu a mesma resposta, que não era de sua conta. Na festa do meu casamento voltei a tocar no assunto com ele e sua atitude não havia mudado. Ele nunca se importou com o destino de Chiana.

-Ele não acreditava ser o pai naquela época. Ao que parece, a atitude de Kankuro em relação á Chiana mudou agora que ele sabe ser o seu pai biológico. Ele tem provas disso. Por que não foi realizado o teste logo após o nascimento?

-Porque Ino acho que seria humilhante, ela nunca traiu Kankuro e o fato dele desconfiar dela a magoou muito.

-Eu entendo e não tiro as razões dela, nenhuma lei obriga uma criança á ser submetida ao teste de paternidade, á menos que a mãe esteja preiteando o reconhecimento paterno e pagamento de pensão. Então ao não fazer o exame, Ino não infligiu a lei, ela nunca exigiu nada de Kankuro.

-E Kankuro poderia ter exigido isso?

-Sim, ele poderia, mas não o fez. Então nesse ponto estamos cobertos. Mas, ainda temos a questão sobre a vinda de Chiana para os Estados Unidos sem a devida autorização paterna. O juiz poderá entender que Ino resolveu separar pai e filha. –Itachi encara o ruivo por alguns segundos e depois volta á falar. -Gaara, gostaria de falar com a Ino.

-Eu não quero que ela fique nervosa ou estressada, Itachi. Ino está grávida e a gestação não está indo tão bem quanto deveria. –Havia uma nota de preocupação e medo na voz de Gaara que não passa despercebido á Itachi. Ele já estava ciente da situação de Ino, quando ela havia passado mal, Sasuke também pedira um teste de gravidez que dera positivo. Porém, como Ino estava se alimentando mal e esgotada, havia o risco de um aborto espontâneo.

-Eu sei, meu irmão me contou. Vou tentar não estressá-la, porém não há como evitar que ela se envolva na questão. Podemos pedir um adiamento do processo até o parto, contudo depois disso, teremos que tomar providências.

-Então você acha que iremos á litígio? –Gaara, o sotaque britânico denunciando o quanto ele estava nervoso.

-Não tenho dúvidas. Isto é uma notificação, é um primeiro contato. Depois disso me parece claro que Kankuro irá exigir seus direitos de pai na justiça. Você, Ino e Chiana devem ficar preparados. –Gaara concorda e se dirige para as escadas. –Vou chamar Ino, ela está descansando, Chiana e Joshua estão na casa dos meus sogros.

Gaara chega ao quarto e entra sem bater, encontrando Ino dormindo, a mão pousada de forma protetora sobre o ventre arredondado. Ele sorri e senta ao lado dela, chamando-a com carinho, ao mesmo tempo que acariciava os cabelos loiros espalhados sobre o travesseiro.

Ino desperta e encontra o marido ao seu lado. Ele sorria, porém ela percebe a preocupação nos olhos verdes dele.

-Olá, dormiu bem? Como se sente?

-Bem. –Ela o beija e senta na cama. –Itachi já chegou?

-Sim, há meia-hora. Ele quer falar com você e eu vim chamá-la. –Gaara ajuda Ino a levantar e ela se apóia no marido, às vezes sentia tontura e fraqueza. –Ele disse algo?

-Somente que devemos nos preparar. – Gaara responde tenso e Ino o abraça. A cada minuto sentia mais raiva do cunhado. Parecia que Kankuro queria castigá-los por algo.

Eles descem e Ino sorri ao ver o amigo. Itachi se adianta e abraça a loira, beijando seu rosto em seguida. –Você me parece ótima Ino.

-Obrigada, Itachi. –Ela responde e todos se acomodam sentados. Ino respira fundo e aguarda.

-Ino, Gaara já me colocou á par da situação. Eu gostaria de tirar algumas dúvidas com você, se não for incomodar muito. Quero ter toda a munição possível caso Kankuro venha a entrar com um processo.

-Acha que ele fará isso?Ele tem algum direito sobre Chiana? Pode exigir a guarda dela? –Ino pergunta nervosa e triste.

-Acalme-se meu amor, Itachi está querendo se preparar para qualquer eventualidade.

-Exatamente, Ino. Não precisa ficar estressada. – Itachi diz, porém no fundo sabia que as coisas podiam ficar complicadas, aquele não era um simples caso de custódia e guarda.

-Ino, Gaara me contou que Kankuro nunca aceitou Chiana como filha. Ele duvidava da paternidade. Alguma vez ele lhe disse por que pensava assim?

-Não, nunca. Ele me expulsou de casa sem nenhuma explicação.

-Me conte o que aconteceu, por favor. –Itachi pede com cuidado, aquele era um terreno perigoso. Ino respira fundo e começa a falar.

-Kankuro me disse que iria viajar, ficaria fora de Londres o dia todo. Quando eu cheguei em casa á noite encontrei minhas malas no meio da sala. A empregada me disse que ele tinha mandado arrumar todas as minhas coisas e que eu deveria sair de lá imediatamente ou ela deveria chamar a policia. Fiquei apavorada e telefonei para Gaara, não tinha idéia do que fazer.

-Ele já sabia sobre a gravidez?

-Estávamos desconfiados, mas ainda não tínhamos certeza. Eu fiz o teste no mesmo dia que ele me mandou embora e estava ansiosa para contar á ele. –Ino responde triste. A alegria de saber da gravidez tinha durado poucas horas.

-Ino, essa gravidez foi planejada? –Ino olha zangada para o amigo. –Está me acusando de ter engravidado de propósito, para dar um golpe?

-Ino, não se exalte. Não estou acusando você de nada, apenas me inteirando dos fatos. –Itachi fala com calma, pelo jeito aquele assunto era delicado demais para o casal. Gaara pega na mão da esposa e aperta, de leve, depois se vira para o advogado.

-Itachi, Ino tinha apenas dezoito anos, estávamos em época de provas na universidade e a nossa vida estava uma correria. Ela não estava tomando os anticoncepcionais como deveria. Não foi intencional. – Gaara defende a esposa. Ele e Ino já haviam conversado sobre aquilo no passado. Ele sabia que Ino tinha sido descuidada, contudo havia sido um erro.

-Certo, eu entendo. –Itachi fala de forma conciliatória, entedia bem o que Ino e Gaara queriam dizer com aquilo. – E qual foi a reação dele quando soube do bebê? O que ele disse exatamente, você se lembra?

-Como se eu pudesse esquecer. –Ino responde e fecha os olhos, a cena humilhante de anos atrás volta a sua memória e ela deixa escapar um soluço. –Amor, se acalme, pense na nossa filhinha. –Gaara fala acariciando o ventre dela e Ino abre os olhos e concorda.

- Como eu disse, telefonei para Gaara e ele chegou antes do irmão. Eu lhe contei o que estava acontecendo, sobre a gravidez e então decidimos esperar Kankuro para conversar.

-E quando ele chegou, o que aconteceu?

-O mundo desabou. Quando ele me viu, começou a gritar visivelmente alterado. Havia bebido e estava agressivo, furioso. Me ofendeu, humilhou, disse coisas horríveis. Que havia descoberto toda a verdade, que eu era uma vadia, uma vagabunda e ele queria que eu sumisse para sempre.

-Fui eu que contei sobre a gravidez, Itachi. Fiquei com medo de que Kankuro agredisse Ino fisicamente e me coloquei entre os dois. Quando ele soube sobre o bebê, começou a rir de forma histérica e perguntou se Ino sabia quem era o pai. – Gaara conta, ainda segurando a mão da esposa. Aquelas lembranças eram dolorosas.

-Para mim isso foi o suficiente. Disse á Gaara que queria sair dali, pegamos minhas malas e fomos embora. Quando estávamos esperando pelo elevador, Kankuro saiu no corredor e falou que queria um teste de paternidade comprovando que ele era o pai do bebê. –Ino conclui e encosta a cabeça no ombro do marido que passa o braço por seus ombros.

-E como era a vida de vocês? Havia harmonia ou viviam brigando? Chegaram a se separar alguma vez? –Ino nega novamente. –Nós vivíamos bem, éramos felizes. Kankuro era carinhoso, calmo, nunca tínhamos tido nem mesmo uma discussão até aquele dia. Ele era ciumento, mas nada fora do comum. A nossa única desavença era sobre meu modo de me vestir despojado. Ele queria que eu fosse mais sofisticada, que eu usasse saltos e jóias. Que eu fosse como Matsuri, ex-esposa de Gaara. –Itachi concorda com a cabeça e reflete durante alguns segundos, depois volta á falar.

-Ino, agora pense. Quando Kankuro pegou o teste de paternidade, ele disse que alguém havia mentido, uma mulher. Tem idéia de quem ele estava falando? Poderia ser alguma ex-namorada?

Ino olha confusa para o advogado e nega com a cabeça. –Kankuro estava sozinho há meses quando nos conhecemos. Ele nunca comentou nada sobre ex-namoradas. Por que está perguntando isso? Acha que tem relevância?

-Veja bem. Pelo que vocês me contaram, você e Kankuro formavam um casal estável, fiel. Nunca tiveram desavenças ou brigas. Então por que de repente aconteceu essa mudança? Com certeza tem alguém por trás disso. Alguém que tinha interesse na separação de vocês, ou que fez isso apenas por maldade.

-Isso faz diferença? –Gaara indaga entendendo o que o advogado estava querendo dizer. Itachi confirma com a cabeça.

-Sim, faz diferença. Essa pessoa separou Ino e Kankuro. Se alguém mentiu e causou a separação de vocês o juiz poderá entender que Kankuro foi vitima de uma armação que o afastou da filha.

-Itachi, ele pode conseguir a guarda de Chiana? –Ino respira aliviada ao ver Itachi negar com a cabeça. –Não acredito que algum juiz daria a guarda de Chiana para o pai biológico. Ela já tem dezesseis anos, nesta idade o filho escolhe com quem quer ficar. E Chiana tem um lar sólido, estruturado. Uma família equilibrada. Está em um lugar seguro, saudável. E o principal, ela é feliz aqui. –Itachi olha para Gaara, o que iria dizer á seguir deixaria o ruivo zangado, com certeza. –Mas Kankuro pode pedir que a adoção seja anulada e os documentos de Chiana alterados.

-Como é? –Gaara levanta de supetão e anda pela sala, passando as mãos pelo cabelo. –Como assim, anular a adoção? Ela foi feita de forma legal, legitima.

-Sim, mas o pai biológico não foi consultado formalmente, Gaara. Não há nenhum documento afirmando isso. Sei que você falou com ele, contudo se Kankuro não confirmar isso, será sua palavra contra á dele.

-Eu vou para Inglaterra falar com ele. –Gaara fala decidido.

-Não faça isso, meu Amor. Vocês vão discutir, vamos esperar os próximos passos de seu irmão e deixar tudo nas competentes mãos de Itachi. –Ino fala apaziguadora. Não queria que Gaara e Kankuro brigassem. A situação já estava bem tensa. Ela coloca as mãos sobre a barriga. Estava no sexto mês de gravidez e não vinha se sentindo bem. O peso do bebê estava baixo, ele ainda não tinha atingido o tamanho esperado para o tempo gestacional e sua saúde estava em risco.

Gaara reflete e concorda. Não podia deixar a esposa preocupada, isso a afetaria e ao bebê. Ele a abraça com carinho, queria protegê-la de tudo aquilo, o irmão não poderia ter escolhido hora pior para começar uma batalha jurídica pela filha. Itachi observa o casal, faria o que estivesse ao seu alcance para ajudar.

- Eu vou entrar em contato com o advogado de seu irmão. Explicarei a situação para ele e tentarei fazer algum acordo fora dos tribunais. Será menos traumático para todos.

-Itachi, eu não aceito que a adoção de Chiana seja anulada, seria como se eu a estivesse rejeitando. Não quero que minha filha passe por isso, principalmente agora. Deixe isso claro ao advogado de Kankuro.

-Farei o possível, Gaara, mas vocês terão que contar á Chiana o que está acontecendo. –Itachi olha para os dois, pensativo. –Ela nunca perguntou sobre o pai biológico?

-Milhões de vezes. Ela queria saber porque o pai não gostava dela. Com o tempo ela foi entendendo que Kankuro não a queria e quando Gaara veio morar conosco e ela passou a chamá-lo de pai e nunca mais perguntou algo sobre Kankuro. –Ino responde.

-Eles se falaram alguma vez? Chegaram á se encontrar? –Ino nega. –Nunca, Kankuro nunca quis vê-la ou falar com ela. Nunca nem mesmo disse o nome dela. Sempre a chamou de bastarda. Eu não entendo porque ele quer ser reconhecido como pai dela, na minha opinião, Kankuro criou uma mentira para fugir da responsabilidade sobre um filho. Ele nunca se importou com Chiana antes e minha filha só não passou necessidades graças á generosidade de Gaara. –Ino acaricia o rosto do marido. –Gaara foi o único pai que Chiana teve em toda a sua vida e é por isso que eu também não concordo com a anulação da adoção, isso não é justo.

-Itachi, iremos lutar, se for preciso iremos aos tribunais e não aceitaremos que Kankuro mude qualquer coisa na vida de Chiana.

XXX

Kankuro olhava para Londres através da janela de seu apartamento. Pensava em Chiana, na filha que ele nunca aceitara. Nunca acreditara que fosse o pai da garota, porém estava enganado. Ou melhor, havia sido enganado.

Havia perdido Ino e sua filha por ter acreditado nas mentiras de uma mulher egoísta e maldosa. Podia ter sido feliz, com sua família, mas não. Fora idiota o suficiente para duvidar da palavra da mulher que amava.

Ele olha para o copo em suas mãos e pensa na loira. Ino havia jurado que nunca o traíra, implorara para que acreditasse nela e ele apenas rira e a mandara embora. Ainda exigira um teste de paternidade. Na época a negação de Ino em fazer o teste lhe dera a certeza de que não era o pai do bebê, contudo, agora, conseguia raciocinar com mais clareza e via que ela havia se sentido humilhada, havia ficado magoada e esse fora o motivo de ela não aceitar se submeter.

Ela dissera a verdade. Ele era o pai do bebê, Ino nunca o traíra, havia sido fiel.

"Idiota, idiota." – ele pensa e com raiva e atira o copo contra a parede, vendo o liquido âmbar escorrer até o chão onde estavam os cacos. A empregada vem atraída pelo barulho, porém bastou um olhar raivoso do patrão para que ela voltasse para a cozinha sem nada dizer.

Kankuro encosta a cabeça para trás e fecha os olhos. Imagens de sua vida com Ino desfilam em sua mente. Quando ela viera morar com ele, ali naquele apartamento, tinham sido felizes. Ino nunca aceitara nada dele, apenas alguns presentes sem grande valor, nunca aceitava um centavo sequer, continuava vivendo da mesada que recebia dos pais, era orgulhosa demais.

Ele tinha comprado um anel de noivado maravilhoso e muito caro. Pretendia pedi-la em casamento, mas fora idiota e acreditara nas mentiras que lhe foram contadas, agora era tarde, tarde demais. Ino estava casada com seu irmão e Gaara havia adotado Chiana. Tinha perdido a mulher para o outro. Contudo, ainda podia recuperar sua filha, o advogado dissera que ele tinha chances de anular a adoção e assim se tornar o pai legal de Chiana.

Esperava que o irmão não ficasse furioso, seria apenas uma mudança nos documentos da menina, Kankuro precisava disso, era a forma de dizer á filha que ele á queria, que havia cometido um erro e agora estava arrependido. Será que a ela o aceitaria? Temari havia dito que Chiana adorava Gaara, que ele sempre fora seu pai em todos os sentidos, desde que a menina nascera. Era agradecido ao irmão, se não fosse por Gaara, sua garotinha teria tido uma vida difícil.

Chiana havia estudado em colégios caros, tinha uma casa, viajava muito, tudo graças á Gaara que sempre tinha feito o possível para que ela tivesse o conforto ao qual tinha direito. Kankuro era um homem muito rico e Chiana era sua única filha. Assim que sua paternidade fosse legitimada ela passaria a ser herdeira de uma grande fortuna. Será que isso a convenceria á aceitá-lo? Duvidava, se ela tinha o mesmo espírito da mãe e os mesmos princípios do pai adotivo, dinheiro não seria o suficiente para que ela o perdoasse. Era capaz de deixá-la com mais raiva.

Mas a verdade era imutável, Chiana era sua filha e herdeira e ele a faria aceitar o fato, mesmo contra a vontade.

XXX

Chiana descansava a cabeça no colo do namorado. Estavam na casa dele, assistindo um filme qualquer. A jovem não conseguia se concentrar na história. Estava preocupada com a mãe e a irmãzinha que ainda não nascera. Sabia que algo estava errado, apesar dos pais não dizerem nada.

-Quer mais pipoca? –Eric pergunta e Chiana o olha sem parecer entender. –Pipoca?

-Chiana, você está muito distraída. O filme já está no final e eu duvido que tenha prestado atenção á alguma cena que fosse.

-Tem razão, desculpe. É que eu estou preocupada com minha mãe. Ela e papai estão escondendo algo de mim, tenho certeza. Ela está indo á cada quinze dias ao médico para fazer o pré-natal. Isso não é normal.

Eric analisa as feições da namorada. O transplante havia sido realizado á mais de cinco meses e a garota estava se recuperando. Ainda continuava magra apesar de já ter recuperado cinco quilos, sua saúde ainda inspirava cuidados.

-Não fique preocupada. Sua mãe deve estar sendo extra cuidadosa por causa do que vocês passaram. Tenho certeza de que está tudo bem.

-Não sei, não. Além disso, meu pai está tenso desde que um oficial de justiça esteve lá em casa. Eles ficaram um tempão conversando no escritório e depois meu pai chamou a minha mãe e eu a ouvi chorando. Queria tanto saber o que está ocorrendo para poder ajudar. Eles fizeram tanto por mim, queria retribuir de alguma forma.

-Amor, tenho certeza de que eles irão lhe dizer na hora certa, até lá se concentre em sua recuperação, combinado? Se curar é a maior retribuição que você poderia lhes dar.

Chiana sorri de leve e concorda, fechando os olhos em seguida. Sentia sono e alguns minutos depois ela dormia tranqüila enquanto Eric velava seu sono. Ele sabia de tudo o que estava acontecendo, os problemas com a gravidez de Ino e a situação com o pai biológico da garota. Era muito injusto, depois de tudo o que aquela família havia passado, eles ainda terem que enfrentar essas situações.

Eric sabia que Gaara e Ino estavam adiando contar tudo para Chiana para não comprometer a recuperação da jovem, mas não poderiam esconder os fatos por muito mais tempo. Logo Kankuro entraria com um processo de reconhecimento de paternidade. Aquilo abalaria a frágil saúde da namorada. Chiana ainda estava muito fraca e uma noticia como aquela poderia causar danos sérios.

XXX

-Sente-se melhor? –Gaara pergunta acariciando a barriga da esposa, preocupado. Ino estava pálida, tinha passado muito mal naquele dia. Ela olha para o marido. –Estou melhor, sim. Fique tranqüilo.

-Há mais de um ano que eu não sei o que é ficar tranquilo. –Ele desabafa e fecha os olhos, cansado. Ino senta na cama e abraça o marido. – Vamos superar tudo isso, Gaara. Não se desespere, Kankuro não vai tirar Chiana de nós.

-Que história é essa, mamãe? – Eles olham para a porta e encontram Chiana na parada na entrada do quarto. Gaara solta um suspiro, nervoso. Era só o que faltava, queriam poupar Chiana o máximo que pudessem, ela ainda não estava bem.

A garota entra no quarto, olhando para os dois, séria. –Por favor, me contem o que está acontecendo. Sei que tem algo incomodando vocês e tem á ver comigo. O que Kankuro fez?

-Filha, sente aqui. Eu e seu pai precisamos conversar com você. –Chiana concorda e senta ao lado da mãe na cama, aguardando. Há anos que não tinha noticias de seu pai biológico e nem queria ter, sempre se sentia humilhada quando lembrava que ele nunca quis nem ao menos conhecê-la.

Gaara senta ao lado da menina e passa o braço por seus ombros, puxando-a de encontro ao peito. –Princesa, mantenha a calma, por favor.

-O que está acontecendo, papai? Mamãe disse que Kankuro quer me tirar de vocês.

-Chiana, Kankuro fez um teste de paternidade e finalmente aceitou que é seu pai. –Ino fala olhando firme para a filha, ela vê que Chiana fica pálida. A garota olha de um para o outro. –Como assim, ele fez o teste de paternidade? Não estou sabendo nada sobre isso.

-Eu falei com ele na Inglaterra, Princesa. Pedi que ele fizesse exames para verificar se poderia doar a medula para você. E entreguei uma mecha de seus cabelos para que ele fizesse o teste de paternidade.

-Por que fez isso, papai? –Ela pergunta nervosa e fica em pé, se distanciando de Gaara, o que deixa o ruivo preocupado. –Princesa, eu imaginei que ele não aceitaria fazer os exames se não tivesse certeza de ser seu pai biológico.

-Ele não é meu pai, nunca foi. –Chiana exclama mais nervosa ainda. Gaara respira fundo e passa as mãos pelos cabelos, ficando em pé também. – Princesa, não fique assim.

-Foi ele quem fez a doação? –Ino confirma e Chiana a encara, nervosa. –E agora que ele descobriu que é realmente meu pai quer me tirar de vocês? Ele quer que eu vá para a Inglaterra?

-Não, princesa, ele não pode te tirar de nós. –Gaara fala abraçando a menina que tremia. Como ele temia, aquela noticia tinha abalado Chiana. Ele ainda estava frágil física e emocionalmente.

-Mas ele quer fazer algo, certo? Ele está tramando algo, ou vocês não estariam tão nervosos. O que está acontecendo?

-Ele quer anular a adoção. –Ino responde tensa. Era melhor contar tudo de uma vez. Chiana se afasta para olhar o rosto de Gaara. Estava apavorada, amava o pai adotivo que sempre a tratara com carinho e devoção. Como poderia deixar de ser sua filha?

-Não, por favor, não deixe que ele faça isso. – Ela pede agoniada e Gaara volta a apertá-la em seus braços.

-Princesa se acalme-se, lutaremos com todas as armas contra isso.

-A culpa é minha, se eu não tivesse ficado doente, nada disso estaria acontecendo. –Ela olha para mãe. –Você não está bem, não é? Tem algo errado com você e minha irmã, eu sei, eu posso sentir.

-Filha, está tudo bem, não se preocupe. Você não tem culpa de nada, não diga isso. –Ino fala, mas a menina nega com a cabeça, começando a chorar em seguida. Gaara afaga as costas dela, tentando passar tranqüilidade e segurança, algo que ele mesmo estava longe de sentir. A garota não podia ficar tão nervosa, não agora que ainda estava se recuperando.

-Chiana, a decisão caberá á um juiz, porém não importa o que ele diga, Gaara sempre será seu pai. Você sabe disso. –Ino fala tentando acalmar os dois. Chiana olha para a mãe e concorda, movendo a cabeça lentamente. –Você tem razão, Kankuro jamais será meu pai, não importa o que ele diga ou faça. –Havia força e firmeza nas palavras da garota e Ino sorri, orgulhosa de sua filha.

-Sim, Princesa. Você está certa, faremos tudo para evitar que isso aconteça, contudo se o juiz decidir assim, nada mudará em nossa vida.

-Chiana, Gaara jamais deixará de amá-la não importa se o nome dele conste ou não em seus documentos. Itachi conseguiu convencer o advogado de Kankuro á esperar que o bebê nasça para então entrar com o processo de anulação da adoção. Até lá, vamos deixar esse assunto de lado, está bem?

Chiana concorda e olha para o pai. Tentava esconder o medo de que o nome de Gaara fosse tirado de seus documentos. Não queria outro pai. Ela se aproxima da mãe e faz um carinho em sua barriga, beijando o local em seguida. –Eu pensei em um nome para ela.

-Qual? –Gaara pergunta e senta ao lado de filha. Chiana enxuga o rosto e sorri. –Alexandra. O que acham?

Ino e Gaara se olham, haviam pensado em muitos nomes, mas aquele era realmente lindo. Chiana continua. –Significa defensora da humanidade e indica uma pessoa de caráter conciliador. Quem tem esse nome sempre procura resolver os problemas dos outros e conquista a todos com sua enorme meiguice.

-Acha que sua irmã será tudo isso? – Ino pergunta com carinho, o nome tinha lhe agradado. Chiana confirma com a cabeça e Gaara a abraça. –Então está escolhido. Será Alexandra.

Os três ficam um longo tempo ali, deixando o silêncio falar por eles. Tinham vivido momentos difíceis, porém o amor os mantivera unidos e o mesmo amor os ajudaria a enfrentar as futuras dificuldades.

XXX

Kankuro chega ao prédio da empresa e sobe até sua sala. Em sua mesa havia uma pilha de papéis para ler e assinar. Ele solta um suspiro e se acomoda, começando a trabalhar. Havia ficado duas semanas no Japão, cuidando da filial de lá. Os negócios iam muito bem, a empresa estava em franco desenvolvimento. Ele e os irmãos estavam muito ricos e os acionistas também.

Ele pensa em Gaara, há meses que não se viam. Temari intermediava as conversas entre os dois, ambos se evitavam devido a situação de Chiana. Seu advogado havia dito que era praticamente certa a anulação da adoção, já que ele não havia desistido de seus direitos paternos oficialmente.

Esse pensamento lhe traz um gosto amargo á boca. Ele nunca acreditara ser pai da garota e em todas as vezes que Gaara lhe falara sobre a adoção, deixara claro que não se importava. Sabia que estava agindo errado, sua consciência gritava que estava sendo desonesto e desleal. Ele tinha declinado de seus direitos sim, em mais de uma ocasião, contudo não sabia que Chiana era sua filha.

O telefone em sua mesa toca e ele atende rápido, dissera à secretária que não queria ser incomodado e que só lhe passasse o que fosse de máxima urgência.

-Diga, Karin.

, chamada dos Estados Unidos para o Senhor. –Ela faz uma pausa. –Sabaku no Chiana.

A surpresa toma conta do rosto do homem moreno. Chiana queria falar com ele?

-Chiana? Minha sobrinha? – A secretaria confirma e aguarda. A garota havia ligado durante a semana procurando por Kankuro. Karin a havia avisado de que Kankuro estava viajando e voltaria naquele dia, então não estava surpresa de que a garota estivesse ligando logo cedo.

-Pode passar, Karin. – Ele responde depois de alguns segundos de hesitação. Logo ele ouve a voz da jovem pela primeira vez em sua vida. – Alô.

-Alô. Pois não, Chiana, pode falar. – Ele incentiva com a voz calma, porém, estava tremendo e suando pela emoção de falar com a filha.

-Kankuro?

-Sim, sou eu. Em que posso lhe ajudar, princesa? – Ele fala sem pensar. Já tinha ouvido o irmão tratar Chiana assim e imaginou que ela não se importaria.

-Não me chame assim, nunca mais me chame assim, você não tem esse direito. –A voz feminina sobe um oitavo, ela se zangara. Apenas seu pai adotivo tinha o direito de chamá-la desse jeito.

-Me desculpe, não queria ofendê-la. – Ele se retrata imediatamente e aguarda, alguns segundos depois a garota volta a falar.

-Quero falar com você em uma conversa em vídeo. –Chiana volta a falar, surpreendendo o homem. Pelo computador eles poderiam se ver. Era isso que ela queria?

-Você quer me ver?

-Eu quero falar com você. – Ela repete, desta vez com a voz mais firme e ele concorda. Ela lhe passa os dados e desliga em seguida.

Kankuro olha para o telefone mudo em suas mãos. Por que Chiana queria vê-lo? Rapidamente, liga seu notebook e entra no Skype. Ele coloca os dados de Chiana e aguarda, logo a vê chamando-o e então abre a tela, vendo a menina.

Chiana o olha sem acreditar. Não sabia que aquele era seu pai biológico. Era o mesmo homem que ela vira zangado na sala do ruivo uma vez e depois no casamento de seus pais.

- Então você é Kankuro? Eu não sabia.

Kankuro não entende o que ela quer dizer com isso. Ele observava a menina. O rosto dela estava magro e em sua cabeça havia apenas uma leve sombra de cabelo escuros nascendo. Os olhos dela pareciam enormes e ela passava a impressão de fragilidade, o que deixa Kankuro preocupado, sabia que a menina ainda não estava totalmente curada.

Chiana também observava o homem. Kankuro era bonito, moreno, tinha um rosto marcante e forte. Nenhum dos dois sorria, analisando-se como oponentes.

-O que posso fazer por você? –Kankuro pergunta depois de alguns minutos naquele mutismo. Chiana solta um suspiro e então começa a falar, lentamente. –Por que nunca quis me ver? Por que nunca me quis?

-Não sabia que era minha filha. –Ele responde com sinceridade e um brilho de raiva passa pelos olhos da garota. –Não sou sua filha, um teste de paternidade não te faz meu pai.

-Chiana, por que queria falar comigo? O que você quer?– Ele pergunta, cruzando os braços. Aquela conversa seria difícil.

-Quero que nos deixe em paz. Que nos esqueça e desista de anular a adoção. Quero que tudo volte como antes, com você me ignorando e eu sendo filha de Sabaku no Gaara, como dizem meus documentos. Não quero que nada mude, não quero que você entre na minha vida. Agora sou eu que não quero você.

A resposta brusca e furiosa assusta Kankuro, não pelas palavras, mas pela expressão no rosto da garota e pela firmeza com que foram ditas.

-Chiana, você não tem idade para entender essas coisas.

-Você tinha idade suficiente para entender quando eu nasci e assim mesmo me ignorou. Meus pais eram pouco mais que adolescentes, mas me assumiram e me criaram, me deram amor, carinho e segurança. Você nunca me deu nada.

-Sou um homem rico, posso lhe dar o que quiser.

-Cale a boca, imbecil. – Ela fala furiosa, assustando o homem novamente.

–Não fale assim comigo. –Ele fala rispidamente, a garota estava passando dos limites, na opinião dele. –Me respeite.

-Por quê? Por que deveria respeitá-lo? Nunca se importou comigo, nem mesmo quando fiquei doente.

-Fui eu quem lhe fez a doação da medula óssea, caso não saiba. –Ele retruca, se arrependendo em seguida, não pretendia cobrar isso da filha.

-Só porque descobriu que eu era mesmo sua filha. Não tente se passar por bonzinho ou me comprar, não seja cafajeste a esse ponto.

-É melhor parar de me ofender, garota. – Ele diz zangado e Chiana sorri sem alegria. –O que você fará? Me por de castigo, me mandar para cama sem jantar, ou me proibir de jogar vídeo-game por um mês? Francamente, acho que é um pouco tarde para essa conversa.

-Chiana, o que você quer afinal? Estou tentando ser paciente, mas sou um homem ocupado.

Chiana para de sorrir e abaixa a cabeça por alguns instantes, depois volta á olhar para Kankuro. – Meu pai e minha mãe estão sofrendo. Ela está grávida e o bebê não está bem. Por favor, não anule a adoção. Isso só os faria sofrer ainda mais.

-Chiana, eu não quero magoar ninguém.

-Mas você já nos magoou nos magoou muito. Principalmente á minha mãe. – Ela fala e ele fecha os olhos, respirando fundo. Sabia que havia magoado Ino, porém não podia fazer nada além de pedir perdão, o que ele faria assim que se encontrasse com ela.

-Isso foi á muito tempo, não posso mudar o passado. Só quero corrigir a sua situação.

-Não há nada de errado com a minha situação, sou filha de Sabaku no Gaara, não só de fato como de direito também. Ele é o único pai que eu tive em toda a minha vida, a minha adoção significa muito para nós dois. Não nos tire isso, por favor. Farei o que você quiser em troca, mas, por favor, não me tire do meu pai. –Agora a menina chorava, lágrimas desciam pelo seu rosto e ela soluçava. Aquilo cortou o coração de Kankuro.

-Não chore, não fique assim.

- O que você quer que eu faça? Minha mãe não está bem, meu pai vive nervoso e tenso e eu me sinto culpada por tudo. Se eu não tivesse ficado doente você jamais faria o teste de paternidade e nada disso estaria acontecendo. Meus pais não estariam sofrendo, minha mãe não teria ficado nervosa á ponto de sua gravidez correr risco. Tudo é minha culpa. Tudo por minha causa. –Ela fala soluçando.

Kankuro fica sem saber o que dizer. A tristeza da menina era tocante, ela estava sofrendo por causa dos pais.

-Eu não sabia que Ino não estava passando bem. – Ele fala conciliador, entendia a preocupação da garota. –Instrui meu advogado á esperar o parto, para então resolvermos a questão.

-Não faça isso, por favor. –Ela fala apertando as mãos, nervosa, sua voz saindo trêmula. – Eu nunca te pedi nada, mas agora eu imploro. Não faça isso. – Chiana chorava triste e Kankuro se sente mal com aquilo, sente um desejo imenso se protegê-la e confortá-la. Queria que ela parasse de chorar.

-Chiana, vamos esperar seu irmão nascer e depois eu irei para os Estados Unidos para conversamos, concorda?

-Irmã. –Ele a olha sem entender e ela continua, triste. –É uma menina, seu nome é Alexandra, fui eu que escolhi.

-É um lindo nome. Você tem bom gosto. –Chiana sorri durante um segundo, depois volta a ficar triste. – Então, você não fará nada até Alexandra nascer? Promete?

Kankuro concorda com a cabeça, aquilo já havia sido decidido entre as partes, o advogado de Gaara havia solicitado um adiamento, pedindo que o processo só se iniciasse depois do bebê nascer, agora o homem entendia o motivo. Ino e o bebê não estavam bem e essa informação mexe com a consciência dele. Seria justo tudo pelo que a família do irmão vinha passando?

-Você me dá notícias de sua irmã? Gostaria de saber se está tudo bem com ela e Ino. – Chiana o olha surpresa, porém concorda.

-Adeus, Kankuro. – Ele olha para menina. –Isso é apenas um até logo, iremos nos ver em breve.

Chiana solta um suspiro e depois desliga a conexão, sem responder. Sentada na cama de seu quarto, ela recomeça a chorar, triste. Sentia-se impotente diante de tudo o que estava acontecendo. Havia ficado muito feliz quando soubera da gravidez da mãe, depois viera a noticia do transplante e ela pensara que tudo estava bem, outra vez. Agora se via em uma situação mais infeliz ainda. Não queria outro pai, não queria que Kankuro fizesse parte de sua vida.

Ela decide telefonar para Eric, falar com o namorado a ajudava a enfrentar tudo aquilo.

XXX

-Gaara, tenho certeza de que ela consegue respirar sozinha. –Ino fala brincando para o marido e Gaara a olha rapidamente, voltando a atenção para o bebê que dormia no berço, ao lado da cama da mãe. Alexandra havia nascido no dia anterior. Os médicos decidiram fazer uma cesariana, Ino ainda estava no oitavo mês. A menina era bem pequena e precisava de cuidados especiais, porém era linda, aos olhos do pai.

-Eu só quero ter certeza de que ela está bem. –Ele fala sentando na beirada da cama. Ino acaricia a face do marido e o beija, depois volta o olhar amoroso para a filha. –Ela ficará bem, e nós também, logo estaremos juntos em nossa casa.

Gaara a abraça e beija delicadamente, se afastando depois. –Chiana queria muito ver vocês, mas Shizune não achou uma boa idéia, ela ainda não pode se expor, deve evitar hospitais e lugares com grande aglomeração de pessoas.

-E Chiana concordou? –Gaara confirma e Ino sorri. –Pelo jeito Shizune foi bem convincente.

-Na verdade, Chiana anda muito distraída, quieta, acho que não insistiu porquê estava com o pensando em outro lugar.

-Ela está preocupada, Gaara. Se sente culpada por toda essa situação, fica repetindo que se não tivesse ficado doente, Kankuro não teria feito o teste de paternidade.

-Eu já disse á ela que não tem culpa de nada. Chiana tem que se concentrar em melhorar, ficar boa logo. Não quero minha filha tensa e chorando trancada no quarto. –Ino concorda com as palavras dele. –Bem, agora que Alexandra nasceu, acho que podemos esperar pelo processo de anulação da adoção.

Gaara fica triste ao ouvir isso. A adoção significava muito para ele e Chiana. Fora uma forma de deixar claro o quanto ele a queria como sua filha e que a amava muito.

-Sim, vamos esperar pelos próximos passos do meu irmão. – Gaara e Kankuro não se viam á meses, Gaara estava evitando ir até a Inglaterra. Temari dissera aos acionistas que Gaara estava com problemas pessoais muito sérios. Não entrara em detalhes, mas todos sabiam da doença de Chiana, contudo não sabiam que a garota era filha biológico de Kankuro que queria ter a paternidade reconhecida. Á pedido de Gaara, Temari não se envolvera na situação entre os dois irmãos.

O celular de Gaara toca e ele o atende rápido ao ver que era Itachi quem estava ligando. Será que Kankuro não iria nem esperar que Ino e Alexandra voltassem para casa?

-Gaara, parabéns, Sasuke me contou sobre o bebê. Elas estão bem?

-Obrigado, Itachi. Ino e Alexandra estão bem, irão para casa no fim de semana.

-Que bom, fico feliz, dê meus parabéns para Ino também. Eu irei vê-la quando estiverem em casa. –Gaara concorda e aguarda. –Gaara, o advogado de Kankuro me telefonou.

-Inferno! Meu irmão não perde tempo. Ele já quer entrar com o processo?

-Na verdade, Gaara, estou confuso. Sasori me disse que Kankuro virá para os Estados Unidos daqui um mês e quer uma reunião apenas entre as partes. Ele disse ao advogado para não fazer nada até lá.

- Que estranho. Por que daqui um mês?

-Foi isso que me deixou confuso. Sasori disse que Kankuro não quer deixar Chiana estressada. Ela está preocupada com a irmã e Kankuro quer que Alexandra esteja mais forte. Está preocupado com a saúde de Chiana. Ele quer conversar sobre a a filha. O que você acha?

-Como ele soube sobre o bebê? –Gaara indaga curioso, não havia dito nada á Temari nem a ninguém na Inglaterra sobre a saúde delicada da filha caçula.

-Nem imagino. –Itachi responde. Não estava entendendo a tática de Kankuro naquela situação.

-Por mim tudo bem, se Kankuro quer conversar, então vamos marcar um encontro quando ele chegar. Não imagino o que ele tenha á dizer, mas enfim é meu irmão e eu gostaria de falar com ele antes de tomarmos alguma atitude. Marque com Sasori.

-Eu farei isso. Vou telefonar imediatamente para Sasori e pedir que ele agende. Até mais Gaara. –Ele desliga e Gaara guarda o celular no bolso, voltando sua atenção para a esposa e a filha.

-O que houve? –Ino pergunta curiosa e Gaara volta á sentar ao seu lado e lhe conta o que Itachi dissera. –Talvez ele tenha se arrependido e queira pedir desculpas por tudo.

-Seu irmão? Arrependido? Pedindo desculpas por um erro? Francamente, Gaara, você realmente acredita que isso seja possível? –Ino fala séria.

-Ino, Kankuro é meu irmão, eu o conheço. Não sabemos o que houve no passado, porque ele agiu daquela forma.

-Eu sei. Ele não quis assumir a responsabilidade sobre um filho, uma criança, então se agarrou a primeira desculpa que encontrou para se eximir. Inferno! Eu já havia me esquecido que aquele crápula era o pai biológico de Chiana. Por que ele tinha que aparecer? Por que ele simplesmente não nos esquece como tem feito nos últimos anos?

Gaara abraça a esposa com carinho, sabia que a mágoa dela era grande, Ino havia sofrido muito com a atitude injusta de Kankuro. Mas aquilo era passado, estava na hora de sua família se reconciliar e ele faria o possível para que isso acontecesse.

XXX

Gaara e Itachi chegam ao hotel onde Kankuro estava hospedado e aguardam serem conduzidos á suíte dele. Ele abre a porta do quarto assim que Gaara bate e recebe o ruivo com um abraço apertado. –Parabéns pelo bebê, Gaara. Temari me mostrou as fotos da menina, ela é linda.

Gaara fica surpreso. Kankuro havia ignorado sua família nos últimos sete anos, ainda nem conhecia Joshua pessoalmente.

-Obrigado, Kankuro. Este é Uchiha Itachi, meu amigo e advogado.

-Prazer, Sr. Uchiha. Porém sua presença não era necessária, esta será apenas uma conversa entre irmãos. – Kankuro fala olhando firme para o outro homem.

-Eu pensei que você queria falar sobre a anulação da adoção, Kankuro, por isso pedi que Itachi me acompanhasse. –Gaara esclarece, observando o irmão. Kankuro usava roupas informais, uma camiseta manga longa, calças jeans e mocassim, havia dispensado o terno e a gravata

-Posso esperar por você na recepção, Gaara. –Itachi fala levemente constrangido. Também tinha entendido que Kankuro queria conversar sobre a situação da filha biológica. Gaara concorda e Itachi se retira do aposento, deixando os irmãos á sós.

Kankuro aponta a poltrona. –Sente-se, Gaara. Sei que deve estar com pressa para voltar á sua casa, mas essa conversa é muito importante.

- Sobre o que você quer falar, exatamente, Kankuro? Se é sobre Chiana, então acho que Itachi deveria permanecer aqui. Não pretendo abrir mão da adoção, Chiana é minha filha e nada que você diga ou pense mudará isso.

-Eu sei. – Kankuro fala com calma surpreendendo Gaara. – Não vou mais pedir a anulação da adoção, Gaara. Isso só vai trazer dor e sofrimento para Chiana e eu não quero isso.

-Então, o que quer? – Gaara relaxa um pouco sobre a poltrona.

-Você não disse nada sobre o teste de paternidade. –Kankuro encara o irmão caçula. –Por quê?

-Nunca duvidei que você fosse o pai. Isso não é assunto meu, só diz respeito á você e Ino. A única coisa que me interessava era salvar a vida de Chiana. Da minha filha. –Havia um tom ameaçador e possessivo em sua voz que não passou despercebido á Kankuro.

-Eu entendo. Cometi um grave erro no passado e perdi Ino e Chiana. Agora não é justo que eu tente recuperar minha filha, isso só a deixará com raiva de mim. Chiana é sensível e passou por momentos difíceis. Não quero que ela sofra mais.

-Kankuro, como soube sobre Alexandra? Quem lhe contou sobre a saúde delicada dela?

-Chiana. – Kankuro responde tranquilamente. –Ela me telefonou no dia que a irmã nasceu e me contou que Alexandra havia nascido prematura, pois os médicos decidiram fazer uma cesariana.

-Chiana lhe telefonou? –Kankuro concorda. –Ela me disse que o liquido amniótico estava secando e o bebê corria perigo. Ela está bem agora?

-Sim, está. Por que Chiana lhe telefonou? E por que eu não fui avisado sobre isso? Você não tinha o direito de falar com minha filha sem o meu conhecimento. –Gaara fala irritado.

-Eu e Chiana nos falamos um mês antes do nascimento de Alexandra. Ela estava nervosa, estressada e me implorou que não anulasse a adoção. Eu não tinha idéia de que isso era tão importante para vocês, sinto muito. Quando descobri que Chiana era de fato minha filha, não pensei em mais nada além de reconhecê-la. Sasori me disse que seria fácil, eu simplesmente não imaginei que isso os magoaria tanto.

Gaara fecha os olhos por alguns segundos. Eles tinham passado por tanta tensão á toa. Kankuro se levanta e rapidamente prepara dois copos com uísque, entregando um ao irmão caçula, depois volta á sentar e continua.

-Eu deveria ter falado com você, antes de tomar qualquer atitude. Me perdoe.

-Ino achava impossível você pedir perdão. Ela ficará espantada.

-Ela deve me odiar muito. –Kankuro fala com tristeza e toma um gole da bebida.

-Nós nunca falamos sobre você, na verdade chegamos á esquecer que você era o pai biológico de Chiana. Ela é minha filha desde que nasceu. E eu sou o pai dela em todos os sentidos. –Gaara pensa durante alguns segundos, antes de prosseguir. –Ela sofreu muito durante os primeiros nove anos de vida, por não ter o nome de um pai em seus documentos. Se sentia constrangida quando alguém lhe perguntava sobre isso. Então, quando eu e Ino nos casamos, tratei de adotá-la o mais rápido possível. Eu falei sobre isso com você em mais de uma ocasião.

-Eu sei, Gaara. Eu sei e minha consciência não estava me dando paz, mas como eu disse, não imaginava que isso fosse importante para ela, para vocês. Sinto muito. Quando Chiana me telefonou para contar sobre Alexandra, estava chorando, nervosa e eu fiquei preocupado, ela ainda está em recuperação. Céus, eu só causei mal á vocês. Não era essa a minha intenção.

-E qual era a sua intenção, Kankuro? O que você acha que aconteceria depois de anular a adoção? Achou que Chiana o chamaria de pai e iria morar com você na Inglaterra?

-Não, claro que não. Só queria que todos soubessem que ela é minha filha.

-Por quê? –Gaara indaga olhando sério para o irmão mais velho.

-Gaara, eu só queria regularizar a situação dela, é minha única filha, portanto minha herdeira por direito. Queria que ela recebesse a herança que deixarei um dia.

-Francamente, Kankuro. Acha mesmo que isso significa algo para ela? Por anos Chiana desejou conhecer você, falar com você, receber um carinho, um abraço e você simplesmente á ignorou e agora se preocupa que ela receba dinheiro? Você realmente não conhece minha filha.

-Eu sei que isso não importa para ela, Chiana já deixou bem claro que não quer nada de mim, nem mesmo me ver ou falar comigo. Ela me odeia. – Kankuro fala em voz alta, nervoso. Ser rejeitado pela filha o estava machucando, mesmo sabendo que ele merecia.

-Chiana não o odeia, ela nunca aprendeu á odiar. Ela é uma menina doce, meiga, alegre. A doença a abateu muito, porém não mudou sua personalidade.

-Você a criou bem, Gaara. Lhe devo milhões de agradecimentos por ter feito o que pode por ela. Tenho uma divida eterna com você.

-Kankuro, você não me deve nada. Eu amo Chiana e tudo o que fiz por amor. Nunca tive dúvidas de que ela era sua filha, mas sempre me senti como o pai dela e nada vai mudar isso, nunca. -Kankuro baixa a cabeça se sentindo derrotado. Tinha vindo aos Estados Unidos apenas para se desculpar com o irmão.

-Gostaria de conhecê-la pessoalmente? – A pergunta surpreende Kankuro. Ele ergue a cabeça e encara o irmão. –Você permitiria isso?

-Se ela concordar, não vejo mal algum. Ela é sua sobrinha e eu ficaria feliz que você se aproximasse de minha família, conhecesse Joshua e Alexandra. O que me diz? Posso combinar com Chiana para que ela se encontre com você? Poderiam almoçar juntos, porém ela ainda não pode freqüentar lugares públicos e cheio de pessoas.

-Eu adoraria, Gaara. Ela pode almoçar comigo aqui na suíte do hotel. – Kankuro se sentia emocionado com a possibilidade de ver e falar com a filha. –Como ela é?

Gaara fala sobre a filha mais velha. Kankuro acompanhava tudo, sedento de informações, queria saber mais sobre a garota, para alegria do caçula que adorava falar sobre os filhos. Aquilo era o inicio de uma reconciliação, de uma aproximação familiar. A amizade e o contato com os irmãos eram importantes para Gaara e Kankuro.

-Perdi tanta coisa. –Kankuro fala com um suspiro.

-Ainda há tempo para recuperar parte do que perdeu. –Gaara fala e fica em pé. -Eu já vou, Kankuro. Segunda-feira eu volto á trabalhar.

-Não se preocupe com isso, Gaara. Eu e Temari avisamos aos acionistas que você estava com problemas pessoais, mas que isso não afetaria o bom desempenho da filial americana, se precisar posso assumir as coisas por aqui até que tudo esteja em ordem em sua casa.

-Não será necessário. Temos uma pessoa para ajudar, uma enfermeira que contratamos quando Chiana estava doente, ela vai auxiliar Ino nesses primeiros meses. Não é fácil cuidar de três filhos. –Gaara responde sorrindo. – Pretende ficar até quando?

Kankuro fica em silêncio, pensando. Pretendia ir embora no dia seguinte, só viera para falar com Gaara e pedir desculpas. -Acha que Chiana concordará em vir me ver?

- Assim que Chiana entender que você não é mais uma ameaça á adoção, ficará curiosa para conhecer o tio. Chiana é uma garota amorosa, Kankuro.

-Então ficarei mais uma semana aqui. Assim terei tempo de visitar sua família e conhecer meus sobrinhos. –Gaara sorri satisfeito e abraça Kankuro, saindo em seguida.

XXX

Gaara para em frente ao hotel e desce do carro junto com a filha. Chiana apertava um álbum de fotos de encontro ao peito e era visível o quanto ela estava tensa e nervosa.

-Você está bem?

-Estou apavorada. –Ela confessa.

-Por quê?

-É tão estranho conhecer Kankuro. Quando falei com ele, eu fui rude e grosseira, queria afastá-lo, implorei para ele me esquecer. Acho que devo ter dado a pior impressão possível. Ele deve me achar muito mal educada.

Gaara ri das palavras da filha e a abraça. –Duvido que alguém possa pensar isso de você, Princesa. –Ele fica sério em seguida. –Filha, se não quiser ir, tudo bem, ninguém vai forçá-la. –Chiana nega com a cabeça, no fundo se sentia curiosa para conhecer Kankuro, queria entender porque ele a tinha ignorado durante toda a sua vida. –Eu trouxe umas fotos para que ele veja como eu era.

Chiana usava uma camiseta preta de manga longa, com a estampa de uma banda de rock na frente, calças jeans justas, tênis e uma boina na cabeça cobrindo os cabelos que ainda estava nascendo. Os olhos pareciam enormes no rosto magro, ela havia passado um batom claro o que lhe emprestava um pouco de cor disfarçando a palidez.

-Filha, você está linda. O importante é que esteja curada. Não havia necessidade de trazer as fotos, tenho certeza de que Kankuro não vai se importar com sua aparência, ele está tão curioso para conhecê-la quanto você para conhecê-lo.

-Você não está chateado?

Gaara vira a garota de frente para ele e aperta seus braços de leve. –Princesa, nada do que aconteça hoje entre você e Kankuro vai mudar o fato de que você é e sempre será minha filha. Eu te amo e sempre amarei, fique tranqüila. Sei que durante toda a sua vida, você quis conhecê-lo, essa é a oportunidade que estava esperando.

-Mamãe não ficou feliz com isso.

-Sua mãe ainda está magoada com Kankuro, mas ela sabe que você tem todo o direito de conhecer seu pai biológico. Ela vai entender, não se preocupe.

-Certo. Você vem me buscar? Ás quatro?

-Claro, Princesa, quando você sair estarei aqui, como combinado, se quiser ir embora antes, basta me telefonar, está bem?

Ela concorda e se afasta em direção á recepção. Nas costas ela carregava uma mochila em forma de sapo (1), que Gaara havia lhe dado quando ela tinha doze anos. Ele sorri ao ver aquilo e entra no carro, sabia que a filha ficaria bem. Ela e Kankuro precisavam dessa conversa.

Kankuro andava nervoso pela suíte; estava ansioso por aquele encontro. Temia que a filha o odiasse e só estivesse indo até lá para ofendê-lo. Inquieto ele aguarda que Chiana chegasse ao quarto, a recepção já o avisara de que ela estava subindo.

Chiana bate na porta com cuidado, uma batida apenas e ela se abre, como se Kankuro estivesse esperando do outro lado. Ela olha para o homem moreno, ele era alto, tão alto quanto Gaara.

-Bom dia, Chiana, entre, por favor.

Chiana entra sem dizer nada, parecia que a voz havia sumido. Ela abraçava o álbum com força parada no meio do aposento, não sabia bem o que fazer.

Kankuro parecia tão perdido quanto ela. Ele fica esperando que ela diga algo, porém a garota continuava muda, então ele respira fundo e aponta a poltrona. –Não quer se sentar? Ficará mais confortável. – As palavras pareceram quebrar o transe ao qual ela parecia presa. Chiana coloca o álbum sobre uma mesinha junto com a boina e olha em volta, o lugar era luxuoso e muito bonito. Ela vê a mesa posta para dois onde havia uma caixa baixa, pequena e quadrada revestida de veludo preto com um laço de fita prateado, uma jóia provavelmente.

-Está com fome? – Kankuro pergunta inseguro. Não sabia lidar com crianças e adolescentes, não sabia o que dizer á própria filha. – Seu pai me disse que você deve comer á intervalos regulares.

Chiana olha para ele e concorda com a cabeça se acomodando á mesa. Kankuro pega a caixa e entrega á Chiana. –Abra, por favor. – Ela faz o que ele lhe pede, como previra tratava-se de uma jóia. Um cordão de ouro branco com um pingente de perola e diamante e brincos combinando. O conjunto era simples e delicado, próprios para uma adolescente. A garota olha para a jóia sem tocá-la.

-Pertenceram á minha mãe, ela ganhou do meu avô quando fez quinze anos. Eu ficaria muito feliz se você as aceitasse e usasse, por favor. –Chiana concorda e fecha a caixa. –São lindas, obrigada.

-Vamos comer? – Ele aponta para a refeição. – Certo. –Ela observa a mesa, servindo-se em seguida. Kankuro também se serve, voltando á admirar a menina. Chiana era educada e tinha uma elegância natural. Parecia sofisticada também, mais do que Ino quando ambos haviam se conhecido.

Mesmo usando roupas despojadas e com os cabelos nascendo ainda, ela era linda. Ele tenta entabular uma conversa. –Gaara me contou que você quer cursar Economia, como ele.

-Quero ser economista, como meu pai. –Ela dá ênfase ás duas últimas palavras. Queria deixar claro qual era a posição de Gaara em sua vida, ele sempre seria seu pai.

-Sim, claro, acho uma excelente idéia. Seu foi um aluno excepcional, o melhor de sua turma. – Chiana apenas move a cabeça, assentindo e continua á comer.

-Espero que esteja tudo ao seu gosto, Chiana.

-Está ótimo, Kankuro, obrigada. –Ela responde de má vontade, na verdade mal sentia o gosto da comida, queria voltar para sua casa e esquecer que aquele homem existia. Kankuro parece ler seus pensamentos. Ele deposita os talheres sobre a mesa e fica um longo tempo observando o próprio prato, aquele silêncio o estava sufocando, ele solta um suspiro e encara Chiana, triste.

-Você não está á vontade, vou telefonar á Gaara e pedir que ele venha lhe buscar. – Ele fica em pé e então Chiana reage.

-Não, espere. Me desculpe, essa situação é muito difícil para mim, não queria ser grosseira, me perdoe, por favor.

-Eu entendo, para mim também é difícil. –Ele volta á se sentar. –Chiana, não quero atrapalhar sua vida, só queria conhecê-la, prometo que não vou interferir em nada. Já disse á Gaara que não pretendo pedir anulação da adoção, não imaginava que isso fosse tão importante para vocês. Sinto muito por todo o dissabor que causei.

-Obrigada por entender. –Ela faz uma pausa. –E obrigada por ter doado á medula, você salvou minha vida. –Havia lágrimas nos olhos dela. Gaara havia dito que ela ainda estava frágil emocionalmente, eles tinham passado por coisas demais nos últimos meses.

-Os dois últimos anos foram muito difíceis para nós; a minha doença, a gravidez da minha mãe, o nascimento prematuro da Alexandra, tudo isso nos causou muito dor e medo. Agora parece que tudo está bem, novamente.

-Fico feliz por vocês. –Kankuro fala com simplicidade, sentindo-se tocado pela sensibilidade da jovem. Eles terminam á refeição e Kankuro pega a sobremesa. Os olhos de Chiana brilham ao ver o mousse de chocolate e ela sorri, o primeiro sorriso desde que havia chegado.

Assim que terminam ele se acomodam nos sofás e Kankuro aponta para o álbum de fotografias. –Posso olhar?

-Sim, claro. Eu as trouxe para que você visse como eu era. –Havia constrangimento na voz da menina e, num impulso, Kankuro coloca a mão sobre a dela. – Não tenha vergonha de sua aparência atual, você está linda, o que importa é que está curada.

-Meu pai diz a mesma coisa.

-E você deveria acreditar. –Chiana sorri, novamente, desta vez um sorriso radiante e lhe estende o álbum que Kankuro pega, ansioso. Havia visto várias fotos de Chiana na casa de Temari. A irmã lhe mostrara todas as fotos que possuía da família de Gaara. Ele a tinha procurado para contar sobre o teste de paternidade e ela quase o agredira, furiosa.

Ele começa a folhear o álbum e vê Chiana ainda pequena, no colo de Gaara, havia várias fotos deles juntos e Kankuro entende. Chiana queria que ele soubesse que não poderia substituir o pai adotivo, nunca. Ele também vê imagens de Joshua, o garoto era ruivo como o pai e tinha olhos azuis, como a mãe.

Havia várias fotografias de Ino também e Kankuro sente um nó se formar em sua garganta. Aquela família poderia ser dele, se não tivesse sido tão idiota. Ele continua olhando, agora as fotos retratavam uma festa. Ele lança um olhar interrogativo para a garota.

-Minha festa de quinze anos. – Ela esclarece e ele confirma com a cabeça, havia recebido o convite para o evento, porém o rasgara e nem se dera ao trabalho de mandar um cartão ou um telegrama. Mais mágoas e arrependimentos.

-Um Bentley? - Ele indaga, surpreso e a garota ri, era a primeira vez que ele a ouvia rir com alegria. – Meu pai queria alugar uma limusine para me levar até o salão de festas, mas eu quis um Bentley. São muito mais bonitos, na minha opinião.

-Eu concordo com você. Meu pai também preferia esse carro. Ele tinha acabado de receber um dias antes do acidente de avião. – Ele comenta ainda olhando a foto dela ao lado de Gaara, com o carro ao fundo. Ela estava linda, usando um vestido lilás longo, tomara-que-caia, com uma saia em tule. Os cabelos dela estavam soltos, enfeitados com uma tiara de strass. Ela e Gaara sorriam, felizes.

-Meu pai detesta, já tentei várias vezes convencê-lo a comprar um, mas ele é irredutível nesse ponto. Nem sei como ele concordou em alugar um para o meu aniversário.

-Sei porque seu pai odeia esse carro. – Ela o olha aguardando uma explicação e ele continua. –Quando ele tinha quase dezesseis anos, destruiu o Bentley que era do meu pai. –Chiana fica surpresa com a informação. –Meu pai é tão cuidadoso ao volante.

-Sim, eu sei. Seu pai é uma excelente pessoa, Chiana.

-Me conte como ele destruiu o carro do vovô. –Ela pede surpreendendo Kankuro. Ele analisa as feições da garota, Temari tinha razão, Chiana era muito parecida com a avó paterna. –Vou lhe contar, mas não diga nada á ele, por favor. –Ela concorda e aguarda. Kankuro percebe que ela havia abaixado a guarda e fica feliz.

-Quando Gaara estava com quinze anos se envolveu com um grupo da pesada. Uma gangue. Os rapazes eram mais velhos, arruaceiros, viciados e bêbados. Temari estava com vinte anos e já trabalhava na empresa. Mas Gaara passava o dia todo á toa, matando aula.

-Sério? Meu pai fez isso? –Kankuro concorda e volta á falar. – Uma noite ele pegou o carro junto com mais dois amigos e saíram pelas ruas de Londres. Os três estavam embriagados e Gaara perdeu o controle da direção indo de encontro ao muro de uma escola pública nos subúrbios. Me telefonaram do hospital para onde ele havia sido levado, os outros dois fugiram do local do acidente. Lembro que corri como um louco até lá, estava apavorado.

-Imagino que você tinha ficado furioso com o meu pai. –Chiana comenta e Kankuro sorri de leve. –Na verdade, eu fiquei tão aliviado de encontrar seu pai vivo e inteiro que nem cheguei á falar nada. Somente o abracei e chorei. –Ele percebe a expressão de incredulidade dela e então explica.

-Chiana, eu havia perdido meus pais á três anos, não estava pronto para perder mais ninguém que eu amava. Fiz de tudo para ficar com a custódia de Gaara e Temari quando nossos pais faleceram. Seu pai tinha apenas doze anos na época e o juiz de menores queria mandá-lo para um orfanato. Não foi fácil convencê-lo de que eu era capaz de cuidar dos meus irmãos. Se Gaara fosse levado á justiça, eu perderia a guarda dele, com certeza.

-E o que aconteceu? –Chiana pergunta, curiosa e interessada. Nunca teria imaginado que seu pai havia sido um delinqüente juvenil no passado.

-Convenci o médico a deixá-lo passar á noite no hospital, assim ele não precisaria ir para a delegacia e liguei para meu tio, que era advogado. Yashamaru conseguiu um acordo, sem que o caso fosse levado á julgamento. Gaara teve que cumprir um ano de serviços comunitários e eu mandei reconstruir o muro da escola, pintá-la inteira e ainda doei móveis e livros. Isso me ajudou á manter á guarda de Gaara.

-Você ama muito meu pai. – Kankuro confirmou com a cabeça. –Então, porque nos ignorou durante todos esses anos? Entendo que não queria me ver ou a minha mãe, mas Joshua não tinha nada á ver com o passado.

-Eu fui injusto, com todos vocês. Sinto muito, espero que possam me perdoar um dia. –Kankuro fala, sua voz demonstrando remorso e culpa. Eles ficam em silêncio, cada um imerso nos próprios pensamentos. Chiana é a primeira á falar.

-Por que, Kankuro? Por que você nunca quis me ver? – A pergunta tanto tempo presa sai em um sussurro. Kankuro a olha firme, já esperava por isso. -É uma longa história, Chiana. Longa e triste. –Ele faz uma pausa e então continua. –Alguma vez você confiou em alguém sem sentir a menor dúvida á respeito da sinceridade dessa pessoa?

Ela confirma com a cabeça, confiava em Eric e em sua família.

-E foi traída?

-Esta falando da minha mãe? –Ele pergunta com raiva e ele nega. –Não, sua mãe nunca me traiu, agora eu sei. -A menina o olha surpresa. –De quem você estava falando, então?

-De Matsuri. Já ouviu falar dela?

-Sim, ela é foi a primeira esposa do meu pai. Eu não cheguei a conhecê-la. Minha mãe disse que ela é sofisticada e da alta sociedade de Londres.

-Sim, isso mesmo. Ela é muito bonita e nós éramos grandes amigos, pelo menos era o que eu pensava.

-Soube que foram mais que amigos. –Ela fala com desdém. Sua mãe tinha lhe contado sobre o relacionamento de Kankuro e Matsuri.

-Tem razão, eu fiz essa besteira, porém eu não me casei com ela. –Chiana ri da resposta, surpreendendo Kankuro.

-Sim, você está certo. Papai teve a infeliz idéia de se casar com ela, ainda bem que ele percebeu o erro e se livrou dela logo. O que ela fez?

-Ela me enganou. Inventou uma mentira terrível e me separou da mulher que eu amava e que estava grávida, foi isso que ela fez. –Chiana o ouve, espantada. –Do que está falando, Kankuro?

-Chiana, eu amava muito a sua mãe e pretendia pedi-la em casamento. Fiz a besteira de contar isso á Matsuri. –Ele fecha os olhos durante alguns segundos, pensando, pela milésima vez, como pôde acreditar em Matsuri. –Eu disse á ela que iria pedir Ino em casamento e lhe mostrei o anel que eu havia comprado. Ela riu e disse que eu era um idiota. Disse que Ino tinha um amante na universidade.

-E você acreditou, assim, do nada? Matsuri diz que minha mãe estava te traindo e você a coloca na rua?

-Não foi assim, Chiana. Matsuri me disse que Ino estava me traindo com um amigo e que ela podia provar. Ela me deu um endereço e disse que eu deveria ir até lá para comprovar.

-Eu fui um idiota. Disse á Ino que iria viajar, aluguei um carro e fiquei em frente ao prédio que Matsuri me indicou, ficava em um bairro mal falado. Fiquei lá por horas, esperando para flagrar Ino. Matsuri me contou que o rapaz era um artista plástico pobre e que ele e Ino estavam querendo me aplicar um golpe.

-E o que aconteceu?

-Eu já estava lá há horas quando vi Ino entrando no prédio. Ela ficou lá dentro por mais de três horas e eu continuava no carro. Esperei que Ino saísse. Assim que ela foi embora, eu entrei no prédio, um lugar horrível, mais parecia um chiqueiro, sujo, mal-cheiroso, com drogados e prostitutas sentados nos degraus. Não podia acreditar que Ino freqüentasse um lugar como aquele.

-Eu bati na porta do apartamento dele e aguardei. Um rapaz magro, com aspecto doentio chamado Sai abriu a porta e eu o empurrei e entrei. O lugar era nojento. –Chiana observava o rosto de Kankuro, ele parecia perdido no passado e ela espera. Ele solta um suspiro e volta a falar. – A primeira coisa que vi foi um quadro dela nua na parede imunda. Olhei em volta e vi a cama desfeita.

-Aquilo em enfureceu e eu peguei Sai pelo pescoço. Céus, minha vontade era matá-lo, porém eu queria saber a verdade. Primeiro ele negou, disse que ele e Ino eram apenas amigos, mas eu lhe dei uns socos e então ele me contou tudo. Porém nada do que ele me disse era verdade.

-O que foi que ele te disse? –Chiana pergunta, já imaginando o desfecho da história e sentindo pena de Kankuro pela primeira vez.

-Contou que ele e Ino eram amantes, mas como ele não tinha dinheiro, ela estava tentando aplicar um golpe em mim, queria se casar comigo e continuar mantendo o caso com ele. Disse que eles já estavam juntos há tempos. Mas que agora que eu tinha descoberto tudo, eles teriam que encontrar outro trouxa rico para me substituir. Corri de lá nauseado. Não podia acreditar que Ino fosse capaz disso.

-Então você a mandou embora, mesmo sabendo que ela estava grávida. – Chiana o olha triste e ele confirma. –Sim, Chiana, eu fui idiota o suficiente para mandar Ino embora.

-Tudo foi armação de Matsuri?

-Sim, com certeza. Ele deve ter combinado tudo com o tal rapaz.

-E por que ela fez isso?

-Gostaria de saber, acho que foi por maldade. Há anos que não vejo Matsuri, desde que descobri que ela havia mentido para Gaara sobre nós. –Ele olha para Chiana e vê que a garota não sabia sobre aquilo, então ele lhe conta o que havia acontecido.

-Ela deve ser uma pessoa muita má ou louca.

-Ela destruiu minha vida, me fez perder Ino e você.

-Matsuri não foi a única culpada, você poderia ter conversado com minha mãe. Poderia ter confiado nela. Porém preferiu acreditar em outras pessoas. Minha mãe não merecia o que você fez. Nem eu. – Agora a voz de Chiana estava triste, tudo que Kankuro havia lhe contado lhe parecia tão absurdo.

- Eu errei, deveria ter confiado em sua mãe, porém eu estava cego de ódio e de ciúmes. Aquele retrato dela na parede, completamente nua pareceu prova suficiente da infidelidade dela.

-Foi tudo mentira, armação. Matsuri queria separar vocês e conseguiu. Ela sabia que mamãe estava grávida? – Kankuro nega. –Eu não lhe contei isso. Ainda não tinha certeza de que Ino estivesse grávida.

-Minha mãe acha que você não quis assumir a responsabilidade sobre uma criança e foi por isso que criou uma mentira sobre ela ter lhe traído e a mandou embora.

-Isso não é verdade. Quando Ino me disse que talvez estivesse grávida eu fiquei feliz, torci para que fosse verdade. Porém quando tudo aconteceu, fiquei furioso. Achei que o bebê não fosse meu, exigi que ela fizesse um teste de paternidade e quando ela se negou, me convenci de que se Ino não estivesse me traindo, teria feito o teste.

-Quantos erros, quantas mentiras. Você preferiu creditar em uma mulher cruel e louca, magoou minha mãe e a mandou embora. E me ignorou durante toda a minha vida. – A voz de Chiana sai baixa, carregada de mágoa.

-Sim, você tem toda a razão, eu deveria ter confiado em sua mãe.

-E agora, Kankuro? O que você quer? – Chiana pergunta olhando séria para ele. –Sabe que não pode substituir Gaara em minha vida. Ele é meu pai, sempre foi desde que eu nasci. Foi ele quem me deu carinho, amor, segurança, conforto.

-Eu sei disso, Chiana, e não tenho a pretensão de tomar o lugar dele, sei que você não aceitaria isso. Porém, gostaria de ser seu amigo. Ficaria muito feliz em recebê-la em minha casa, na Inglaterra e de passarmos algum tempo juntos. Contudo, é você quem decide. Se não quiser mais me ver, eu entenderei e não a procurarei mais.

Chiana reflete sobre tudo o que ouvira. Era evidente que Kankuro estava arrependido do que havia feito. Havia remorso em sua voz, ele estava sofrendo. Ela poderia dizer não, que não queria vê-lo nunca mais, porém seus pais não á ensinaram á ser cruel ou vingativa. Kankuro era seu pai biológico e tinha lhe salvado a vida doando a medula óssea.

-Penso que já está na hora de você fazer parte da nossa família. Meu pai te ama, ele me disse que você terminou de criá-lo, ele tem sofrido com seu distanciamento. Joshua sempre teve curiosidade em conhecê-lo, Brian e Sarah falam muito de você. – Chiana fala citando os primos, filhos de Temari. –Gostaria de conhecer meus irmãos? Alexandra ainda é pequena, contudo ela é muito manhosa e adoraria mais um colo. O que acha? -Chiana olha para Kankuro, aguardando. A idéia de serem amigos não era má. Sabia que seu pai ficaria muito feliz em ter mais contato com o irmão mais velho.

-Isso seria muito bom, Chiana, adoraria fornecer mais um colo para Alexandra. –Ambos riem e Chiana olha para o relógio, ficando surpresa. Já eram quase quatro horas. Ela fica em pé e pega a mochila. – Logo meu pai vem me buscar.

-Sim, você está certa. – Kankuro também fica em pé. –Obrigado por ter vindo, Chiana.

Chiana levanta a cabeça para olhar o rosto de Kankuro. –Obrigada pelo convite. –Eles se despedem e ela sai rápido para se encontrar com o pai que a esperava na recepção. Ia com o coração leve, feliz. Tinha estabelecido um contato com o pai biológico, o conhecera e não estava irritada ou desapontada. Kankuro a tratara bem, eles podiam ser amigos.

Kankuro fica um longo tempo pensando em Chiana, após a partida dela. A garota era linda, inteligente, sensível, amável e muito educada. Sabia que nunca seria visto como pai dela, porém poderiam ser amigos, se Ino concordasse. Precisava falar com a cunhada, pedir perdão e tentar se redimir. Não seria fácil, ele a tinha humilhado e desprezado durante anos. A ofendera e a filha que haviam gerado juntos e agora, tentaria obter o perdão e formar um laço de amizade, sabia que Gaara sofria por conta de sua indiferença e faria de tudo para mudar isso. Uma nova vida, um novo tempo para sua família.

XXX

Ino andava de um lado para o outro dentro do quarto com a pequena Alexandra no colo. A menina estava inquieta, nervosa e ela sabia que a culpa era sua. Passava sua ansiedade para a filha, contudo não conseguia se controlar. Kankuro era esperado para visitá-los naquele dia. Ela gostaria de dizer que não se importava, que a presença dele não a atingia, porém era mentira. Ela se importava sim, e muito.

Alexandra choraminga e Ino solta um suspiro, sentando na poltrona que havia no quarto, ao lado do berço. Ela ajeita a filha no peito e a menina começa a sugar lentamente, com esforço. A amamentação era difícil, o bebê ainda não tinha força suficiente e era preciso paciência para dar-lhe de mamar.

Ino começa a cantar baixinho, embalando a menina com carinho, seus filhos era a razão de sua vida. Seus filhos e seu marido e era por causa dele que estava tentando aceitar a presença de Kankuro em sua casa. Sabia quanto o distanciamento do moreno magoava Gaara. Mesmo que o marido não falasse, Ino podia sentir sua tristeza, o casal era tão ligado, havia tanta afinidade entre eles que um parecia saber o que o outro pensava. Era por Gaara que Ino estava fazendo aquele sacrifício, mas ela sabia o quanto aquilo lhe custava.

-Está tudo bem? – Ela se vira ao ouvir a voz masculina, Gaara estava parado na porta do banheiro da suíte deles. Havia acabado de sair do banho e Ino podia sentir o cheiro discreto do sabonete. Ele usava apenas uma calça jeans velha, a camiseta jogada displicentemente sobre o ombro e gotas de água brilhavam em seu peito. Com passos lentos ele se aproxima e a beija na testa, sentando na cama á sua frente. –Ino, eu perguntei se está tudo bem?

-Sim, esta tudo bem. –Ela mente e desvia o olhar para a filha que tinha parado de mamar, era sempre assim, Alexandra mamava pouco por vez, então era importante lhe oferecer o peito várias e várias vezes.

-Não precisa mentir para mim, meu amor. Sei que a visita de Kankuro á está incomodando. - Gaara fala mansamente, em voz baixa para não assustar o bebê. Ino solta um suspiro e acaricia a cabeça da filha que estava quase dormindo. –Ele é seu irmão, você tem todo o direito de recebê-lo aqui. – Ela fala, tentando esconder sua relutância.

-Não diga isso. Não quero que se sinta obrigada, ou que faça isso apenas para me agradar.

-Então por que o convidou? – Ela indaga irritada encarando o marido, depois desvia o olhar, frustrada. Não queria acusar Gaara, não queria brigar com ele.

Gaara sentia o mesmo, estavam casados á oito anos e nunca tinham brigado, nenhuma vez durante todo aquele tempo. Ele acaricia a cabeça dela e Ino fecha os olhos ao sentir a mão dele deslizar pelos cabelos dela até seu rosto.

-Porque está na hora de nossa família se reconciliar, ele está arrependido, quer pedir perdão, quer ser perdoado, enterrar o passado e recomeçar. Foram anos de mágoa e ressentimento de ambos os lados, sei que você e Chiana não têm culpa, e ele sabe também. Vamos tentar superar tudo, deixar de lado. Nada poderá apagar o que aconteceu, contudo não precisamos remoer isso constantemente.

-Eu não fico remoendo isso, já tinha até me esquecido que homem amargo e insensível existia, esquecido que ele é o pai de Chiana. – Ino fala zangada. Ao ver que Alexandra dormia, tranqüila, ela se levanta e coloca a filha no berço, ficando um longo tempo olhando para a menina. Gaara se aproxima e coloca as mãos em seus ombros, puxando-a para perto. Ele encaixa o rosto na curva do seu pescoço dela e passa os braços pela cintura da esposa.

-Será apenas uma rápida visita. – Gaara fala com a voz calma e beija sua pele, provocando um arrepio nela. – Kankuro não ficará muito tempo, ele voltará para Inglaterra amanhã, vem apenas para se despedir.

-Só para se despedir? –Ela repete em dúvida e Gaara a aperta mais um pouco, na verdade Kankuro queria vir para falar com Ino e pedir perdão. Chiana havia contado para os pais sobre Matsuri, o que ela havia feito, despertando a raiva de Gaara e a revolta de Ino. – Apenas se despedir? De quem? De você e Chiana? Francamente Gaara, eu não sou boba. É claro que Kankuro não vem apenas dizer adeus. Ele quer dar opiniões, ordens, impor seu jeito preconceituoso e hipócrita. Vai começar a criticar as roupas de Chiana, o comportamento, os gostos. Fazer comentários pejorativos sobre o estilo de vida dela. Vai tentar controlar a vida da filha dele

-Chiana é minha filha, Ino. – Gaara fala, agora em tom zangado e Ino solta um suspiro, virando-se de frente para ele. Havia determinação nos olhos verdes claros. Ele se afasta e cruza os braços, encarando a loira. –Chiana é minha filha, sempre foi e sempre será. – Ele volta á falar, abrandando a voz e Ino concorda. –Sim, ela é sua filha e é bom que Kankuro não se esqueça disso. Se ele fizer qualquer comentário em contrário eu o colocarei para fora daqui á chutes e pontapés se for necessário.

-Ele não fará isso, Ino. Ele somente quer estabelecer um laço com Chiana, ser amigo dela. –-Gaara explica mais uma vez e Ino meneia a cabeça e volta á olhar a menina dormindo dentro do berço. –Você não sabe o quanto é difícil ver Kankuro dentro de minha casa, junto aos meus filhos, principalmente perto de Chiana. –Ela desabafa, triste.

- Kankuro não é uma ameaça, Ino, não precisa ter medo dele. -Ele fala apaziguador, não queria ferir a esposa.

-Eu não tenho medo dele, só não consigo esquecer o que ele fez. Ele me ofendeu dezenas de vezes, me chamando de vagabunda, vadia e interesseira. E chamou a minha filha de bastarda por anos. E agora, ele descobre que estava errado e quer estabelecer um laço? Ser amigo da filha que ele desprezou? Não sei se consigo aceitar isso, Gaara. Pelo menos não com a mesma facilidade que você.

-Ino, também não está sendo fácil para mim. Sei que você sofreu muito, eu estava lá ao seu lado. Sei que foi doloroso e que você enfrentou uma situação complicada tendo um bebê sem o apoio do pai da criança. –Abraça a esposa com carinho e Ino afunda o rosto no peito dele, procurando aconchego como uma criança. Gaara sempre lhe fornecera conforto e naquele momento ela precisava disso. Sentia-se desamparada e assustada, temia que Kankuro magoasse Chiana e Gaara com sua arrogância e falta de sensibilidade. –E se ele ferir a nossa filha? Se ele disser algo que a magoe?

-Ele não fará isso, não se atreveria. Eu estarei lá e protegerei nossa filha. – Gaara afirma, acariciando as costas dela e Ino concorda. –Eu protegeria minha família sempre. Com a minha vida, se for necessário.

-Vamos torcer que não seja necessário; a vida com três filhos não seria fácil sem você. – Ela fala com um sorriso fraco e ele a beija, beijando suas mãos em seguida. –Eu te amo, Ino. Amo nossos filhos, nossos momentos juntos, tudo pelo que já passamos faz parte da nossa vida, da nossa história. Quando peguei Chiana no colo pela primeira vez, ainda na sala de parto, eu jurei que dedicaria minha vida á cuidar e proteger ambas. Kankuro não poderá atrapalhar o que sentimos um pelo outro, o que temos, o que construímos com o nosso amor. Nada do que ele fizer pode nos atingir e se ele tentar algo, qualquer coisa, eu mesmo o chutarei para fora daqui. Não duvide disso.

Ino fica emocionada pela expressão no rosto do marido. Nos olhos dele havia um profundo amor e uma força de sentimentos, uma gama de emoções tão fortes que abalaria até mesmo a mais fria das criaturas. Ele a amava tanto quanto ela o amava e nada do que Kankuro pudesse tentar fazer mudaria isso. Ela abraça o marido novamente e o beija com intensidade. Não temia mais a visita do cunhado, Gaara estaria ali forte e calmo como sempre, lhe dando apoio e segurança, cuidado e amor.

Alexandra resmunga, atraindo a atenção dos pais. Ino se solta do marido e a pega no colo, sentando com ela na poltrona, novamente. Iria tentar amamentá-la mais um pouco. . Eles ouvem a campainha e Gaara se apressa em direção á porta. -Não se estresse, se não quiser descer, não se sinta forçada. Eu entendo e não estou chateado, sei que está fazendo um grande esforço e sou grato por isso.

-Eu descerei. Ele é meu cunhado e eu irei recebê-lo em nossa casa. Você está certo, não há nada que Kankuro possa fazer ou dizer que nos atinja. Ele não tem esse poder, nunca teve e está na hora de deixarmos o passado para trás. – Ino fala confiante e Gaara sorri antes de beijá-la e sair do quarto.

Kankuro esperava para ser atendido. Estava nervoso, fazia cinco dias que tinha almoçado com Chiana e tinha que confessar que queria ver a filha novamente. A porta se abre e ele vê um garotinho ruivo de olhos azuis, seu sobrinho Joshua, agora com sete anos.

-Olá, você deve ser Joshua. –O garoto concorda com a cabeça e antes que diga algo, Gaara aparece ao seu lado. –Boa tarde, Kankuro, seja bem-vindo á nossa casa. –Kankuro sorri e abraça o ruivo, depois ambos entram. –Sente-se, por favor.

-Obrigado pela acolhida, Gaara. – Kankuro fala com simplicidade e sinceridade, feliz por estar na casa do irmão mais novo. Sabia que aquilo era importante para o ruivo, e também era importante para ele. Joshua se acomoda ao lado do pai e sorri para o tio. –Você fala igual ao papai quando está nervoso.

Kankuro levanta uma sobrancelha, sem entender e Gaara sorri, divertido. –Ino sempre diz que meu sotaque se acentua quando estou tenso ou nervoso.

-Imagino que isso tenha ocorrido muitas vezes nos últimos tempos. Como está sua filha, Alexandra? Poderei conhecê-la?

-É claro que sim, Ino a está amamentando, depois você poderá conhecê-la, ela adora um colo, então se prepare. –Gaara responde sorrindo e acaricia a cabeça de Joshua. –Ela é muito chorona e barulhenta, principalmente de noite. É muito chata.

-Não fale assim da sua irmã, Joshua, já conversamos sobre isso. –Gaara chama a atenção do menino com carinho e o garoto sorri e se encosta ao pai. –Certo, pai, desculpe.

-Por favor, vá chamar sua irmã, diga á ela que Kankuro chegou. – O menino fica em pé e sai correndo em direção ás escadas.

-Ele é lindo Gaara e parece muito esperto e inteligente. – Kankuro elogia com honestidade.

-Sim, ele é. Passou por momentos difíceis também, por conta dos últimos problemas que passamos, eu e Ino o deixamos um pouco abandonado e ele ficou revoltado, suas notas caíram e ele começou a procurar briga na escola. Mas agora está tudo bem. –Gaara acrescenta sorrindo e Kankuro sorri de volta. Era bom estar com o irmão. Eles passam os minutos seguintes conversando sobre a empresa, enquanto esperavam pelo restante da família.

Chiana vê a mãe colocando a irmã no berço e se aproxima, chamando Ino. –Oi, ela mamou?

-Oi, meu amor. Ela mamou um pouco, como sempre. – Ino responde sentando junto com a filha. –Não é fácil.

-Vai dar tudo certo. Alexandra vai ficar bem. –Chiana fala beijando o rosto da mãe e Ino a abraça. –Você esta certa. –Ino fala com um sorriso carinhoso, abraçando a filha. –Você era um pouco maior que ela quando eu a trouxe para os Estados Unidos. Tinha apenas dois meses. Eu estava apavorada, não tinha a mínima idéia do que faria. Precisava trabalhar, contudo não tinha diploma ainda e nunca havia trabalhado antes. –Ino conta, as lembranças da época difícil que voltavam com a presença de Kankuro em sua casa.

-Logo que chegamos, ficamos na casa dos seus avôs. Eu consegui um emprego noturno em uma loja de conveniência que ficava num posto de gasolina. Gaara descobriu e ficou furioso, ele veio para cá para falar comigo. Disse que eu não devia trabalhar naquele lugar e fez uma proposta, ele daria uma pensão para você, desde que eu saísse do emprego e voltasse a estudar.

Chiana sorri, aquilo era bem o estilo super-protetor do pai.

-Eu não queria aceitar, afinal Gaara não tinham nenhuma obrigação conosco, porém ele me convenceu quando disse que você era muito pequena e precisava de mim. Eu deveria me formar para poder dar um futuro melhor á você. Ele estava certo, eu não poderia me sustentar e sustentar você com o que eu ganhava e estudar era a melhor forma de conseguir um bom emprego.

-Ele passou á pagar uma generosa pensão todos os meses, além de assumir outros custos, como meus estudos. Disse que eu poderia lhe devolver o dinheiro depois de formada, mas é claro que nunca aceitou. Nenhum centavo. Quando eu aluguei uma casa para nós duas, ele passou a vir á cada dois meses e se hospedava com a gente. Era tão bom, na época ainda éramos apenas amigos, ele era meu melhor amigo.

-Ainda é, certo? – Chiana fala sorrindo e Ino sorri, também. –Sim, você tem razão. Gaara sempre foi e sempre será meu melhor amigo.

-Bem, Gaara ajudava em tudo. Comprava roupas e sapatos para você, nos levava em passeios e viagens. Até comprou uma casa e colocou em seu nome. A casa onde morávamos antes de nos mudarmos para cá. –Chiana assente, ela sabia disso. A casa era perto de onde moravam atualmente e estava alugada, o aluguel era depositado todos os meses em sua poupança.

-Gaara fazia tudo isso apenas pela amizade e amor que sentia por você. Jamais pediu ou esperou nada em troca. Esse foi o principal motivo do divórcio dele. Matsuri morria de ciúmes, ela achava que existia algo entre eu e Gaara. – Ino termina de falar e olha para a filha. –Ainda não entendo porque ela fez o que fez. Mas ela não foi a única culpada. Kankuro também teve grande parte da culpa.

-Eu disse o mesmo á Kankuro. Mas papai quer superar o passado e eu farei isso por ele. – Chiana acrescenta. –Sabe disso, certo, mãe?

-Sim, eu sei, também estou aceitando a presença de Kankuro aqui para agradar Gaara, apenas por ele. –Joshua entra no quarto, chamando a irmã. –Papai pediu para chamá-la, Chiana. Kankuro está aí, ele é alto como o papai e fala muito engraçado. –Ino e Chiana riem divertidas. –É sotaque inglês, o sotaque dele é mais carregado porque ele mora em Londres.

-Vamos filha, seu pai está nos esperando.

Chiana concorda e ambas levantam. Ino dá uma olhada no bebê que dormia e depois desce junto com a filha. Era hora de encarar Kankuro.

-Imagino que Ino não queira falar comigo ou me ver. –Kankuro fala com cautela e Gaara concorda. – Não a pressione. Ela falará com você quando estiver preparada. Peço que espere.

-Olá, Kankuro. –Ele se vira ao ouvir a voz de Chiana e fica em pé. – Olá, Chiana. Como está?

-Muito bem. –Ela responde e abraça o homem moreno. – Fico feliz em recebê-lo em nossa casa. – Chiana se afasta e olha nos olhos do homem moreno. Kankuro parecia nervoso. Suas palavras seguintes confirmam seu pensamento. –Eu também estou feliz por ser bem recebido.

-Boa tarde, Kankuro. – Ele levanta os olhos e vê Ino parada ao lado de Gaara. – Seja bem vindo em nossa casa.

-Obrigado, Ino. – Ele responde com a voz vacilante. – Quanto tempo.

-Sim, muito tempo. – Ela fala cruzando os braços. Gaara olha de um para o outro, a tensão entre eles era palpável. Ele se dirige para a copa. –Chiana, Joshua, venham me ajudar.

Os dois irmãos se olham e depois seguem o pai. Chiana sabia que Kankuro queria falar com sua mãe e estava preocupada com isso.

-Faz muito tempo, Kankuro. Porém não vou dizer que senti saudades, ou pensei em você. Na verdade nem me lembrava de sua existência e só estou falando com você em consideração ao meu marido, não me agrada nada vê-lo, por mim jamais voltaria á olhar para sua cara.

Kankuro respira fundo, a conversa seria difícil. Ino caminha até o sofá e senta. –Sente-se. – Ela fala com educação e Kankuro se acomoda á sua frente.

-Ino, sei que pedir perdão é pouco. Eu errei, acreditei na pessoa errada.

-Você está certo, pedir perdão é pouco e inútil, você acreditou em Matsuri por quis. –Ela rebate sem desviar o olhar.

-Ela era minha amiga.

-Uma amiga rica, sofisticada, elegante e fina. E eu era apenas a mulher com quem você morava. Não passava de uma americana de classe média que usava roupas simples e baratas. É claro que você não tinha motivos para crer em mim. – Ela acrescenta sarcástica.

-Isso não é verdade, Ino. Não tem nada á ver. – Ele fala nervoso e ela ri. – Por favor, Kankuro. Se fosse o contrário, se fosse eu no lugar de Matsuri, duvido que você acreditasse. Ela era perfeita, você sempre nos comparava e eu perdia.

-Eu fui um idiota, estúpido e você tem toda a razão de sentir raiva.

-Não sinto raiva de você, como disse, nem me lembrava mais de sua existência. Preferia que continuasse nos ignorado. Chiana não precisa de você, ela tem Gaara. Ele sempre foi o pai dela, desde que ela nasceu. Você não significa nada. Nunca significou. Nunca se interessou por ela antes.

-Eu estava errado e estou sendo duramente castigado. Como acha que me sinto vendo Chiana me encarando como um estranho?

-Para ela você é um estranho, e não me interessa em nada como se sente. Você nunca se importou em saber como eu me sentia. Simplesmente me chutou para fora de sua casa e sua vida. Nunca para pensou em mim ou em Chiana.

-Não sabia que ela era minha filha. Você se negou a fazer o teste de paternidade. –Ino o olha zangada e se levanta, em poucos passos se aproxima do cunhado e lhe dá uma sonora bofetada, dando-lhe as costas em seguida. Kankuro põe a mão sobre a face que ardia, mas não diz nada, sabia que merecia. –Chiana começou a perguntar sobre o pai assim que aprendeu a falar. Não havia um dia que ela não quisesse saber de você ou saber porque você não gostava dela. Eu e Gaara dizíamos que você estava muito ocupado, ou viajando. Porém chegou um momento em que as desculpas não mais a satisfaziam e eu lhe contei parte da verdade. Disse que você não queria filhos e por isso nos separamos.

-Eu queria filhos, Ino, fiquei feliz quando soube que você talvez estivesse grávida. Nunca quis fugir da responsabilidade como você imaginou. – Ele responde com calma. – Se tudo aquilo não tivesse acontecido...

-Se Matsuri não tivesse mentindo, inventado tudo aquilo, e se você não tivesse acreditado. Se você pelo me tivesse dado o beneficio da dúvida, me contado o que estava acontecendo. Contudo, preferiu me atirar porta afora como um cachorro sarnento. No fundo você preferiu pegar o caminho mais fácil.

-Mais fácil? Acha que foi fácil passar por aquela situação. Ver um retrato seu de corpo inteiro, completamente nua na parede daquele lugar? Pensar que você e aquele nojento eram amantes? Passar todos esses anos acreditando nisso? Sem acreditar que Chiana era realmente minha filha?

-Ela não é sua filha, nunca foi. O pai dela é Gaara. Não há lugar para você na vida dela. Se você acreditou em uma mentira tão medíocre quanto essa foi porque quis. Deveria ter me contado o que havia acontecido, falado sobre Sai, eu teria explicado a minha presença na casa dele. Tudo seria esclarecido. Contudo, você não é do tipo que dá explicação, Matsuri sabia que seu orgulho jamais permitiria que me perguntasse algo.

-Eu vim aqui lhe pedir perdão, Ino. Meu erro foi grande, contudo não sou o único culpado. –Ele fala triste. –Matsuri queria nos separar e conseguiu.

-Falou com Matsuri sobre o que houve? Perguntou á ela o motivo de ter feito o que fez?

-Nunca mais a vi, desde que descobri que ela mentira para Gaara.

-Ah, sim, claro. E naquele momento não lhe passou pela cabeça que ela tivesse mentindo antes também?

Kankuro abre a boca para responder e depois fecha, sem dizer nada e Ino meneia a cabeça. –É claro que não. Deve ter sido difícil ver que seu modelo de mulher de classe não passava de uma pessoa mesquinha e maldosa. –Ino o olha durante alguns segundos. –O que você quer, Kankuro?

-Apenas conhecer Chiana melhor, passar um tempo com ela, sem exigir nada. Não posso esperar fazer parte da vida dela, já se passaram dezessete anos. Porém gostaria de conviver mais com a família de meu irmão. Fiz muitas bobagens, dei as costas á Gaara, quando deveria agradecer de joelhos pelo que ele fez por Chiana.

-Sim, deve mesmo. Ele sempre amou Chiana, desde que ela nasceu e fez de tudo para que ela tivesse uma vida segura e confortável. Foi o pai dela e eu não aceitarei que tente tirar isso deles. – O olhar de Ino era feroz, parecia uma leoa defendendo a cria. Ele concorda e Ino se senta, pensando, depois toma uma decisão e começa a falar sem olhar para Kankuro. –Naquele dia Sai me ligou, disse que não se sentia bem. Nós éramos amigos, pelo menos foi o que pensei. Ele era viciado em heroína. Quando cheguei lá, ele estava deitado, parecia muito mal. Não havia comido nada e estava muito fraco. Eu lhe preparei uma refeição rápida e ficamos conversando, não havia nenhum quadro na parede. Ele pediu que eu ficasse um pouco por ali e como você havia me dito que ficaria fora de Londres naquele dia, eu aceitei fazer companhia á ele. Sai dormiu durante umas duas horas e eu fiquei por ali. Estava com o resultado do teste de gravidez e fiquei pensando em nós e no bebê. Quando ele acordou, vi que estava melhor e fui embora. Ele deve ter colocado o retrato na parede logo após a minha saída.

-Matsuri deve ter lhe dado muito dinheiro para fazer isso. – Havia tristeza na voz de Kankuro. –Sim, ele deve ter feito isso por dinheiro. Nunca mais falei com ele, Sai morreu de overdose algumas semanas antes do nascimento de Chiana. Eu e Gaara estivemos presentes ao funeral.

-Acha que pode enterrar o passado, Ino? Faria isso por Gaara e Chiana? Eu gostaria de vê-los mais vezes, porém é você quem decide. –Kankuro a olha, ansioso. Se Ino aceitasse aquela oferta de paz, então ele poderia conviver mais com a família do irmão.

-O passado já esta enterrado há muito tempo. Posso aceitar você perto da minha família. Sei que Gaara sente sua falta e é por ele que aceitarei seu pedido de perdão. Apenas pelo meu marido. –Ambos se encaram e Kankuro concorda. Ele poderia passar mais tempo com a filha biológica e conhecê-la melhor, isso o deixava feliz.

XXX

-Sr. Sabaku, uma chamada urgente do Hospital Maggie's Cancer Caring Centre. –A dúvida era expressa na voz da secretaria.

-Para mim? Tem certeza? – Kankuro pergunta, sem entender. –Sim, eu confirmei, a enfermeira diz que uma amiga sua está internada lá. Devo dizer que você não está?

-Deve ser algum engano, eu falarei com a enfermeira. – Karin passa a ligação e Kankuro aguarda, logo ele ouve uma voz feminina e suave. –Sr. Sabaku?

-Sim, sou eu, em que posso ajudá-la?

-Temos uma paciente que diz ser sua amiga internada aqui. Ela gostaria de falar com o Sr. pessoalmente, seria possível vir visitá-la?

-Acho que há algum engano, eu não conheço ninguém nesse hospital. Qual é o nome dela?

-Sato Matsuri. – A resposta surpreende Kankuro. Então Matsuri estava doente e queria falar com ele? Ele pensa em dizer que não iria, mas queria confrontar a mulher com a verdade e então diz á enfermeira que visitaria Matsuri naquela tarde, desligando em seguida.

Kankuro para o carro no estacionamento do hospital e entra, depois de se identificar na recepção, sobe até o quarto da ex-amiga, parando diante da porta. Ele bate e aguarda, uma voz fraca o manda entrar. Assim que a vê, se assusta com sua aparência. A mulher percebe e sorri, sem alegria.

-Kankuro, tive duvidas se você viria, fiquei espantada quando a enfermeira me disse que concordou em vir me visitar. Imagino que já tenha descoberto tudo. -Ela fala sem demonstrar de remorso e Kankuro a olha espantado. –Então você confirma o que fez?

-De que adiantaria negar? Irei morrer em breve e lhe chamei aqui para contar a verdade. – Ela responde e fecha os olhos, parecia exausta. Estava magra, pálida, os ossos do rosto salientes. Usava um lenço cobrindo a cabeça e seus olhos estavam fundos e opacos. Seus braços sobre o lençol estavam bem finos, as mãos mais pareciam duas garras onde era visível as veias azuis.

- O que aconteceu com você?

-Estou morrendo. – Ela repete sem abrir os olhos. – Vou morrer em breve, acho que é algum castigo por tudo que fiz no passado, na verdade não me importo. Perdi tudo mesmo, Gaara, você, minha saúde. Não me restou nada. Nem mesmo o dinheiro que possuo pode me salvar. Há um ano desmaiei na casa de um amigo, acordei no hospital para descobrir que tinha um tumor inoperável no cérebro que irá me matar em pouco tempo. Tenho no máximo mais dois meses de vida.

-Eu sinto muito, mas não entendo porque me chamou. Não temos nada á dizer um ao outro.

-Quero lhe contar a verdade e fazer uma confissão. Queria que alguém soubesse o que fiz. – Ela fica em silêncio e então abre os olhos, Kankuro espera, pelo jeito falar deixava Matsuri muito cansada. Apesar do que ela lhe tinha feito, sentia pena da mulher.

-Como você já descobriu, eu menti, fui eu quem armou tudo para que você pensasse que Ino tinha um amante. Porém, eu não sabia que ela estava grávida. Queria apenas abalar sua certeza de que Ino estava com você por amor e não por interesse. Ver vocês dois juntos me enjoava. Você e Gaara pareciam fascinados por aquela mulherzinha sem classe. Ele vivia dizendo o quanto a amiga era nobre, sincera, doce, aquilo me dava náuseas. Então quando você me contou que pretendia pedi-la em casamento eu fiquei furiosa. – Ela para de falar e respira fundo, tomando fôlego, antes de continuar.

-Eu estava com Gaara há mais de um ano e ele nem ao menos me convidara para morarmos juntos e aquela suburbana que não tinha onde cair morta consegue um pedido de casamento em poucos meses? Eu queria fazer com que Gaara parasse de idolatrá-la, contudo o tiro saiu pela culatra. Ao invés dele ficar com raiva dela, ele a levou para morar em seu apartamento.

- Briguei com ele, disse que estava tudo terminado entre nós, mas Gaara não se importou. Disse que a amiga precisava do apoio dele. Faltava só babar cada vez que falava do bebê que iria nascer, parecia que era o pai, não o tio. Eu ficava cada vez com mais raiva, vendo Ino receber tanta atenção dele. Para piorar, Sai passou a me chantagear, a cada vez pedia mais dinheiro para manter o segredo e não contar á você que tudo era armação.

- Um dia Sai ameaçou contar tudo á Gaara e eu fiquei apavorada. Ele disse que precisava de mais drogas e então eu decide que era hora de me livrar dele. –Kankuro a olha alarmado e ela ri. – O que foi? Acha mesmo que eu correria o risco de você ou Gaara descobrirem tudo? Precisava me livrar dele e foi o que fiz. Levei heroína adulterada para ele. O idiota estava tão desesperado por uma dose que nem suspeitou. Eu o deixei lá, para que alguém o encontrasse e sai antes que me vissem.

-Você o matou? Matou Sai para que ele não contasse o que você fez? –Kankuro não conseguia acreditar que a mulher com quem ele morara por mais de dois anos fosse capaz disso. –Meu Deus, Matsuri tem idéia da gravidade disso?

-Sim e não me importo, como disse irei morrer. Nem dará tempo de ser levada á julgamento. Não sinto remorso, ele teve o que mereceu. – A resposta em tom ácido e seco deixa Kankuro revoltado. – Você é completamente insana, perversa. Destruiu minha vida e a de Sai apenas por pura diversão e inveja.

-Não seja melodramático, Kankuro. Você podia ter contado o que viu á Ino, podia ter lhe dado uma chance de explicar, contudo preferiu acreditar em mim. Eu não destruí sua vida, foi você mesmo quem fez isso e a vida de Sai foi destruída pela ambição e a droga. Se ele não tivesse me chantageado e ameaçado ainda poderia estar vivo.

-Eu vou embora, Matsuri, até poderia sentir pena de você, mas só consigo sentir asco.

-Como se eu me importasse, só queria mesmo que alguém soubesse do que eu fui capaz. –. Kankuro á olha durante alguns segundos. –Vou contar a policia tudo o que me disse, sei que você morrerá antes de ser indiciada, contudo os parentes de Sai têm direito de saber o que ocorreu com o rapaz.

-Faça o que quiser. – Ela fecha os olhos. – Eu o chamei aqui para lhe pedir um favor.

-Não acredito que ainda espere algo de mim. –Kankuro fala com raiva e Matsuri solta um suspiro, abrindo os olhos em seguida. –Kankuro, não tenho mais ninguém no mundo. Meus pais já morreram, não tenho irmãos e não me sobraram amigos. Meu ex-marido deve estar me odiando. Eu quero que alguém cumpra minha última vontade, apenas isso.

-O que você quer?

-Ser cremada e que me minhas cinzas sejam jogadas no Hyde Park. Por favor, Kankuro, diga que fará isso. Não tenho mais ninguém á quem pedir. Deixei todo o meu dinheiro para ser usado em pesquisas médicas. Talvez um dia a medicina encontre uma cura para isso.

-Está bem, farei isso. Agora vou embora, direi ao hospital para me avisar quando você morrer. Não espere mais nada de mim, não pretendo vir visitá-la ou chorar por você. Adeus Matsuri.

-Adeus Kankuro. –A despedida veio acompanhada de um soluço e uma lágrima desliza pelo rosto da mulher, porém Kankuro não vê, já havia partido Matsuri cobre o rosto com as mãos e chora, ao contrário do dissera, ela estava arrependida e sentia medo. Medo de morrer sozinha, esse era o preço que pagaria por todo o mal que causara.

XXX

-Ansiosa? –Chiana se vira para o homem sentado na poltrona ao lado no avião. –Muito, faz seis meses que não os vejo.

Kankuro ri alto. –Isso não é totalmente verdade, você os vê todos os dias pela Internet. E sei que seu pai telefonou dezenas de vezes esta semana.

-Ele queria ter certeza de que estarei voltando. -Havia um tom nostálgico na voz da jovem e Kankuro segura sua mão. – Sentirá saudades de Londres?

-Vou sentir muitas saudades de Londres, Kankuro. E de você também. –Ela responde e ele a abraça. Chiana tinha passado os últimos seis anos morando com ele, enquanto estudava Economia. Fora uma época maravilhosa quando ambos puderam se conhecer melhor.

-Vai ficar quanto tempo nos Estados Unidos?

-Quinze dias. Quero visitar a filial.

-Meu pai lhe disse quando começarei a trabalhar?

-Não vai querer férias antes? Sei que Temari quase arrancou seu couro durante o estágio.

-Eu aprendi mais com tia Temari do que com os professores decrépitos da faculdade.

-Sei pai disse o mesmo quando começou a trabalhar na empresa e ele se tornou o melhor diretor que temos, a filial americana foi a que mais cresceu nos últimos quinze anos.

Chiana concorda ainda aconchegada ao peito do pai biológico. –Sentirei sua falta, Anjo. –Ele sussurra no ouvido da garota, não seria fácil ficar sozinho novamente. Chiana levanta a cabeça e o observa. –Irei visitá-lo sempre e espero que venha me ver também. E nós falaremos todos os dias pela Internet.

Aos cinqüenta anos, Kankuro era um homem bonito e charmoso, que chamava a atenção das mulheres, contudo continuava solteiro. Ele e Chiana haviam construído uma sólida amizade baseada no respeito e na confiança. Arrependimentos, mágoas, remorso e raiva tinham ficado para trás, Chiana abrira o coração e encontrara um lugar para ele em sua vida.

A decisão de estudar em Londres fora recebida com alegria por todos, ela fizera o curso de graduação e pós-graduação na mesma instituição onde Gaara se formara. Kankuro insistira em pagar por seus estudos e depois de muita discussão convencera os pais dela. Ele queria fazer algo pela filha biológica.

Chiana volta a se acomodar em sua poltrona e olha em volta. Estavam no avião particular de Kankuro, ele havia comprado para facilitar suas viagens e dos irmãos. Era de uso exclusivo da família e estava sempre pronto para partir.

-Por que não tenta dormir um pouco, ainda falta muito para chegarmos. -Ela concorda e fecha os olhos. Kankuro fica um longo tempo analisando as feições dela. A cada dia Chiana se parecia mais com a avó. O rosto delicado, a pele levemente amorenada, os olhos grandes e castanhos.

Seus cabelos estavam na altura do queixo, o que a deixava com um ar sofisticado. Uma comissária chega com duas taças de champanhe e sorri ao ver a menina dormindo, era a primeira vez que viajava com eles. –Sua filha é linda, Sr. Sabaku.

Ele sorri e não a corrige. – sim, ela é linda, inteligente e muito especial. – A moça concorda, se afastando e Kankuro volta a admirar Chiana.

-Obrigada, Kankuro. – Chiana fala com os olhos fechados e ele fica surpreso e constrangido. –Desculpe, eu a deveria ter corrigido. – Ele fala um pouco triste e Chiana abre os olhos, analisando o semblante masculino. –Não há necessidade disso, oficialmente sou sua sobrinha e biologicamente sua filha. Então não precisa ficar preocupado quando alguém diz que é meu pai. –Ele sorri e acaricia o rosto dela.

-Obrigada por entender, meu Anjo. –Chiana sorri e se aconchega ao peito dele, que a abraça, apertando-a junto ao seu corpo.

- Logo será Natal. –Ela comenta sorrindo e ele acaricia os cabelos dela. Faltavam três meses para a data, nos últimos anos ele costumara á passar as festas de fim de ano com a família do irmão caçula

-Sim, será Natal. E estaremos todos juntos mais uma vez. – Ele acrescenta e ela solta um suspiro feliz, ficando em silêncio. Logo está dormindo, tranqüila. Kankuro passa os dedos pela face dela, sempre se sentia emocionado quando Chiana se encostava nele e dormia, sabia que isso significava confiança. Ela confiava nele. E ele daria a vida pela felicidade dela. Já a tinha feito sua herdeira universal, ela receberia todos os seus bens. Chiana dissera que não queria nenhum centavo dele e Kankuro sabia que era verdade.

XXX

-Você está linda, minha filha. –Chiana sorri para mãe através do espelho, se sentia uma rainha em seu vestido de noiva. O modelo era de um estilista famoso e havia sido feito em Paris. Ela dá uma volta e sorri, feliz. Era o dia de seu casamento. Dali algumas horas estaria casada com Eric, o único amor de sua vida.

Ela vê Gaara aparecer e se vira de frente para o pai. –Céus, você cresceu tão rápido. Parece que nasceu ontem e agora já é uma mulher pronta para se casar. Não acredito que entregarei minha garotinha para aquele Uchiha.

Os três riem divertidos e Gaara estende a mão para filha, visivelmente emocionado. Ele e Kankuro iriam levá-la até o altar, Chiana não queria deixar o pai biológico de fora nesse momento tão especial na vida dela. Havia encontrado um lugar para ele em seu coração, eram amigos, confidentes. Ele era seu protetor. Dava-lhe conselhos, ajudava sempre que ela precisava.

-Eu lhe disse que poderia sumir com o rapaz rapidamente. Ninguém iria notar. –Kankuro fala, entrando na sala. –Mas você disse que era amigo dos pais dele e que Sasuke ficaria muito triste.

-Estou arrependido disso, agora.

-Parem os dois com isso. Eric já está começando a acreditar nas ameaças de morte, não ficaria surpresa se ele não aparecesse hoje e me abandonasse na frente da igreja.

-Se ele fizer isso aí sim será um homem morto. –Gaara fala. – Eu posso chamar alguns amigos, Gaara, basta dar a ordem, ainda é tempo.

-Pai, Kankuro, chega. Vocês estão me deixando nervosa. – Chiana avisa, porém o sorriso luminoso desmentia suas palavras. Aos vinte e sete anos ela era uma mulher linda, independente e muito feliz.

-Os carros já estão na entrada da casa, está na hora. –Ino avisa e Gaara solta um suspiro, insatisfeito. –Não acredito que terei que entrar em um Bentley novamente. Só mesmo você para me obrigar á isso, Princesa.

-Pai, eu amo Bentleys. Sabe disso.

-É, eu sei. E Kankuro ajuda muito lhe dando um Bentley de presente em seus aniversários. Mas, enfim, vamos antes que Eric pense que você desistiu.

-Ele sabe que eu jamais desistiria, espero por esse dia desde que o conheci, quando ainda éramos crianças. Agora vamos quero que ele veja como estou linda. - Os três saem juntos em direção á saída onde estavam os carros. Ela, Gaara e Kankuro iriam juntos em um carro e Ino iria em outro junto com Joshua e Alexandra. Era um dia importante para aquela família. Chiana ia entre os dois homens, sentia-se protegida e amada, sabia que os dois faziam parte de sua história. Uma História que havia começado antes do seu nascimento, Uma História cheia de altos e baixos, momentos de alegria e tristeza, dor e felicidade. Uma História para ser contada ás próximas gerações de Sabakus. Uma História de Amor.

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