Laços de Família


Disclaimer: Jensen Ackles e Jared Padalecki não me pertencem. Eu não os conheço nem sei o que se passa com eles, isso tudo é fruto apenas da minha imaginação.

Sinopse: Jensen Ackles perdera tudo que tinha, tudo que importava, seu pai, sua mãe, sua estabilidade. Sua vida não era para ser desse jeito. E o culpado de tudo tinha um nome: Jared Padalecki. J2, PADACKLES, UA.

Beta: Este capítulo não foi betado! T.T


Avisos: 1. Atenção, essa fic é slash, ou seja, relação homossexual masculina, se você não gosta, não leia. Se gosta, sinta-se à vontade para ler e comentar.

2. Contém lemon, isto é, relação sexual entre homens, se vc é menor de 18 anos, é aconselhável que não leia, mas isso quem decide é você.

3. Essa fic é UA (Universo Alternativo)

3. O título da história é uma clara referência ao livro da Clarice Lispector, mas elas ficam só no título mesmo. Eu sequer li o livro, infelizmente.


Capítulo 3: Testamento – parte II


- O senhor tem certeza de que isso é realmente necessário? – Jensen perguntou, ainda sem olhar para Jared, que se encontrava sentado ao seu lado, ambos de frente para o advogado.

- Como eu já disse, essa era uma das cláusulas do testamento do seu pai – respondeu o Dr. Wallace, inclinando levemente a cabeça ao terminar de falar, como se dissesse "não há nada que eu possa fazer".

- Vamos lá, Jensen. Quanto mais cedo isso começar, mais cedo termina. Aí você pode sair daqui e ir cuidar da sua vida e nós dois nunca mais vamos precisar dividir a mesma sala novamente – Jared provocou. Ele estava cansado de ser tratado como o destruidor de lares pela família e por alguns amigos de Jeffrey. Por um bom tempo ele tentou não ligar para isso. Mas agora já não importava mais. E ele não iria mais aguentar nenhuma provocação calado.

Jensen respirou fundo e deu um pequeno sorriso de desdém.

- Nossa, parece que alguém nem vai esperar o corpo do papai esfriar, já 'tá louquinho pela leitura do testamento, não é? O que foi, 'tá com medo do meu pai ter te deixado com uma mão na frente e outra atrás? – agora Jensen encarava Jared. Olhava nos olhos do homem mais jovem, apenas esperando pela sua reação.

Jared sorriu. Um sorriso seco e sem a mínima graça. Mas ele já esperava por isso. Aliás, esse tipo de acusação nem era novidade para ele. E se Jensen queria atingi-lo de alguma forma, era melhor caprichar um pouco mais, porque não estava conseguindo.

- O seu pai não me deixou nada nesse testamento, Jensen. Eu mesmo cuidei disso. Tudo que o seu pai podia me dar ele me deu durante os dez anos que nós passamos juntos. E isso ninguém nunca vai poder tomar de mim – Jared falou, olhando firmemente nos olhos de Jensen.

- Ah, você tem sorte, então, sabe, porque o meu pai, o meu pai um filho da mãe conseguiu tomar de mim.

- Jensen, por favor. Não me culpe pelas coisas que você mesmo provocou. Você afastou o Jeff da sua vida – disse Jared, com um tom de voz cansado.

- Eu não afastei meu pai da minha vida. Eu afastei a vida que ele levava com você. Se ele tivesse tido um pouco de decência, nunca teria se envolvido nessa pouca vergonha – o tom de voz de Jensen já estava um pouco exaltado. Não demoraria muito para ele perder a cabeça e sair dali antes mesmo da leitura do testamento. Ele se perguntava se mesmo depois de morto, seu pai ainda conseguiria complicar a sua vida?

- Decência? Quem é você pra vir falar em decência comigo? O cara que 'tá de ressaca no dia seguinte ao enterro do próprio pai? Ah, eu esqueci, esse é o mesmo cara que não falava com o pai há dez anos e que deixou ele morrer chamando seu nome – Jared já estava tão exaltado quanto Jensen, e usava o mesmo tom de voz do outro.

Jensen abriu a boca para dizer algo. Mais uma provocação ou um simples xingamento barato. Mas as últimas palavras de Jared o atingiram em cheio. "Morrer chamando seu nome." Jensen olhou novamente para o rapaz sentado ao seu lado. Jared tinha o rosto levemente vermelho e seus olhos brilhavam. Mas era um brilho triste, cansado. Jensen teve a certeza de que o que ele dissera era verdade. Ninguém poderia ser capaz de mentir tão bem. Jeff morrera chamando por ele. E ele não estava lá.

A sala do Dr. Wallace, que poucos segundos antes se encontrava preenchida pelas vozes exaltadas de ambos os homens, agora estava repleta de silêncio. Jared e Jensen apenas se encaravam, sem dizer uma única palavra, mas também sem nunca desviarem o olhar. Jensen com seu olhar desafiador de costume, estava pronto para levar aquilo até as últimas conseqüências. Até que Jared não aguentasse mais e fizesse alguma coisa. Qualquer coisa.

A tensão era quase palpável entre eles, até o Dr. Wallace decidiu intervir. O homem fez um bastante forçado com a garganta, antes de começar a falar.

- Meus jovens, por favor. Vamos nos ater a leitura do testamento, apenas. Esse foi um dos últimos desejos do seu pai, Jensen. E do seu companheiro, Jared. Por favor - o advogado ainda ficou na expectativa por alguns segundos até que Jensen finalmente desviou os olhos de Jared, voltando-se para o Dr. Wallace novamente. Jared logo fez o mesmo e ambos passaram a encarar o advogado.

- Melhor nós começarmos logo, então – continuou o Dr. Wallace.

- Okay, vamos acabar logo com isso – disse Jensen, já impaciente. Jared apenas balançou a cabeça para o advogado, concordando com o outro homem.

O Dr. Wallace finalmente retirou o documento de dentro do envelope. A sala estava impressionantemente silenciosa, e era possível ouvir até mesmo o barulho das folhas de papel sendo manuseadas pelo advogado.

Desde o início da leitura, mesmo com a parte mais burocrática do protocolo, a atenção era total da parte de Jensen e Jared. O texto do testamento de Jeffrey era bastante burocrático, afinal, havia sido elaborado, sob a supervisão de Jeffrey, pelo próprio Dr. Wallace. Nada de muito pessoal ou sentimental. Muitos termos técnicos e uma aparente frieza impressionante.

Como já era esperado, a maior parte dos bens de Jeffrey foram deixados para seu único filho, Jensen Ackles. Uma parte fora doada para instituições que cuidam de pessoas com câncer, como era seu desejo desde que passou a sentir na pele a realidade de uma doença tão terrível quanto essa.

Jensen prestava atenção, tentando disfarçar certa surpresa com as atitudes do pai. Era quase triste admitir, mas aquele homem de quem o Dr. Wallace falava era praticamente um estranho para ele. Não o conhecia mais, não de verdade. Para Jared, no entanto, não havia nenhuma surpresa até ali. Nem o fato de ele não ter sido citado nem uma vez sequer ainda. Ele e Jeffrey haviam conversado – e discutido – muito sobre essa questão. Jared não queria nenhuma parte da herança de Jeffrey. Ele achava que aceitar qualquer coisa, além de lhe trazer muita dor de cabeça e possíveis embates com Jensen, era quase como macular a relação que ambos mantiveram esse tempo inteiro. Ele agora já era um homem independente, capaz de se manter por si mesmo, e com orgulho demais para ouvir mais insultos, de qualquer um.

Depois de algumas discussões, Jeffrey acabou concordando com o companheiro.

O Dr. Wallace, depois de ler quase todo o testamento, fez uma pausa em que ambos os outros dois homens pensaram que ele já havia terminado a leitura. Mas antes que qualquer um dos dois pudesse dizer alguma coisa, o advogado interveio.

- Esse era o texto original, que você, Jared, inclusive já conhecia – ele disse, se dirigindo ao homem mais jovem. Jared assentiu. – Entretanto, algumas semanas antes de... – parecia procurar um termo adequado – De... vir a falecer, o meu cliente me procurou e expressou seu desejo de acrescentar uma cláusula ao testamento.

Ambos os homens olharam para o advogado claramente confusos.

- Como assim, que tipo de cláusula, o Jeff não me falou nada sobre isso – Jared disse, enquanto Jensen apenas observava atentamente.

- Exatamente, e o Jeffrey me pediu que não comentasse nada com você, ele não queria ter aborrecimentos nesses... últimos momentos.

Jared encarava o advogado com uma expressão pasma. Não tinha ideia do que Jeffrey poderia querer esconder dele.

Depois de alguns instantes em que os três homens ficaram em silêncio, Jensen resolveu "agilizar" um pouco as coisas.

- Certo, e que cláusula é essa? – disse, notando que só então Jared pareceu lembrar-se de sua presença naquela sala.

O Dr. Wallace voltou a segurar o testamento, antes de limpar a garganta e começa a ler.

"É de minha vontade que esta cláusula seja inclusa ao meu testamento.

Jared, sei que você deve estar confuso agora, e provavelmente ficará chateado comigo, mas eu não pude permanecer firme em minha palavra para com você.

Sei que você não queria que eu te deixasse nenhum bem material, mas acho que seria totalmente ilógico e estúpido se eu não pudesse te deixar somente isso: a nossa casa.

Eu realmente gostaria que você continuasse vivendo lá, porque eu sei o quanto você adora aquele lugar. Sei que pode ser difícil, no começo, mas você é forte, vai superar. E não se preocupe, eu não vou voltar para te assombrar lá. Prometo.

Aquela casa tem a essência da nossa vida juntos, nossos melhores e piores momentos. Não posso imaginar alguém que não seja você vivendo lá.

Por favor, entenda e aceite esse meu último pedido.

Com amor, Jeffrey."

- Eu não acredito que ele fez isso – disse o moreno, depois de alguns momentos analisando a situação. Por mais que ele realmente não quisesse ficar com nada da herança de Jeffrey, sair daquela casa iria ser muito difícil para Jared. Jeffrey estava certo, ele passara os melhores e os piores momentos de sua vida ali. Aquela casa era um pedaço de sua história. Não pôde evitar um sorriso. Jeffrey ainda conseguia surpreendê-lo.

- Que comovente – disse Jensen, propositalmente quebrando o clima do momento. – E antes que alguém me pergunte, não, eu não tenho qualquer oposição a essa última decisão do meu pai – deu um leve sorriso, verdadeiramente não intencional. Levantou-se, ajeitando o terno que vestia e ficando de frente para o advogado do pai. – É até bastante justo – dirigiu-se a Jared – que você recebesse alguma coisa pelos dez anos de... serviços prestados.

As últimas palavras saíram com um desdém impressionante. Jensen não iria perder aquela oportunidade. Não mesmo. Mas a resposta de Jared veio quase imediatamente. Jensen nem saberia de onde veio o golpe que o atingiu se houvesse outras opções por perto.

Foram necessários apenas alguns segundos para que ele estivesse quase no chão. O soco de Jared só não o derrubou porque ele conseguiu se apoiar na cadeira. Quando conseguiu olhar para cima novamente, Jensen viu Jared já de pé, próximo a si, massageando o punho. Tinha realmente usado muita força.

- Seu filho da...

- Cala a boca, seu idiota! – cortou Jared – Será que você não consegue deixar de ser um desgraçado sacana nem por um segundo? – Jared estava irado.

- Eu só disse a verdade, não venha se fazer de vítima pra cima de mim! – respondeu Jensen, enquanto recuperava a compostura e acariciava a face, dolorida pelo soco.

- Meu Deus! – interveio novamente o advogado. – Por favor, vocês dois, controlem-se! O Jeffrey ficaria arrasado vendo isso!

- Não venha falar em nome do meu pai! E eu não fiz nada, foi esse... esse aproveitador que me atacou! – Jensen disse, apontando para Jared.

- E é melhor você calar a boca antes que eu faça algo pior! – Jared finalmente respondeu, já claramente fora de si. Jensen tinha o incrível poder de tirá-lo de si.

- Por mim essa palhaçada termina aqui! Eu vou embora – Jensen deu seu último olhar de desprezo para Jensen antes de se virar para o Dr. Wallace. – Acho que nós já terminamos, qualquer coisa o senhor tem meu telefone.

Mas antes que ele pudesse se dirigir até a saída, o advogado o impediu, remexendo em suas gavetas.

- Na verdade existe mais uma coisa, Sr. Ackles – o Dr. Wallace tinha mais um envelope em mãos. – Isso me foi entregue uma semana antes de Jeffrey falecer. As instruções eram para que eu as entregasse a vocês no dia da leitura do testamento.

Jensen encarava o advogado com uma expressão de cansaço. Sinceramente, só queria sair dali. E beber, de preferência, até esquecer aquilo tudo. Seu pai, o maldito Jared Padalecki, aquele testamento. Sua vida miserável.

- Qual a bomba dessa vez? Será que meu pai não para de aprontar nem depois de morto.

Jared teve de se controlar para não dar outro soco em Jensen. Foi o braço do Dr. Wallace, que já havia dado a volta na mesa, que o impediu, na verdade.

- Calma, rapazes. Já está acabando – o homem mais velho disse e calmamente retirou mais dois envelopes menores de dentro do envelope maior que tinha em mãos. – Essas cartas foram escritas pelo Jeffrey. Ele pediu que eu as entregasse a vocês.

Então o advogado entregou um envelope a cada um dos homens. Jeffrey havia escrito uma carta para seu filho, Jensen, e uma para o seu amante, Jared. Nelas, ele havia tentando escrever tudo que gostaria de dizer para as duas pessoas mais importantes de sua vida.

Jared pegou sua carta e a apertou com força entre os dedos. Ele não fazia ideia de que Jeff havia feito aquilo. Ele tentava se convencer, desde a morte de Jeff, que eles haviam dito tudo que deviam um ao outro, que não havia restado lacunas. Mas ele sabia, no fundo, que isso não era verdade.

Jensen, por sua vez, quase arrancou a carta das mãos do Dr. Wallace. Ele sequer olhou para o envelope, apenas o guardou rapidamente no bolso. Quem visse poderia pensar quem o jovem não tinha se importado com aquele último gesto do pai, mas a verdade é que ele estava assustado demais com a possibilidade de "ouvir" o que o pai tinha a lhe dizer depois de tanto tempo afastados.

- Se isso é tudo, então, eu não tenho mais nada pra fazer aqui – disse Jensen, por fim. – O senhor já sabe, qualquer coisa, pode me ligar. Adeus.

Jensen saiu sem dizer mais nada. Caminhou até a porta e, mesmo que tenha parado por um segundo, não olhou para trás. O som da porta batendo foi o que fez Jared voltar a si.

- Me desculpe por isso. Eu realmente perdi a cabeça – ele disse, sem encarar o advogado. Parecia estar distante dali.

- Tudo bem, vocês não são os primeiros que chegam às vias de fato na minha sala, acredite – o Dr. Wallace deu um pequeno que sorriso, ao qual Jared não correspondeu. – Bem, mas, eu acho que isso foi tudo – continuou. – Caso haja algum problema, pode me procurar. Eu fui advogado do Jeffrey por um bom tempo, se você precisar dos meus serviços, não pense duas vezes antes de me chamar!

Disse e estendeu a Mao para Jared, que a segurou de volta, apertando firmemente.

- Muito obrigado. E mais uma vez, perdão pelo meu comportamento – Jared disse, enquanto segurava a Mao do outro homem. O Dr. Wallace apenas sorriu e balançou a cabeça.

-J2–

Jensen nunca iria admitir, mas o turbilhão dos últimos minutos realmente mexeu com ele. Ele saiu da sala daquele advogado em direção ao seu carro o mais rápido possível, quase correndo. Queria ir para casa, se trancar no seu escritório e tomar algumas boas doses de whisky antes de abrir aquela carta. Se é que ele a abriria.

Era simplesmente assustadora a possibilidade de saber o que o pai dele tinha a dizer depois de tanto tempo. Foi também por isso, pelo medo, que ele se recusou a retomar qualquer tipo de contato com Jeff, mesmo nos últimos momentos.

Ele parou no estacionamento do prédio, prestes a entrar no carro, e respirou fundo. Seu rosto ainda doía por causa do soco. Ainda mais isso, ele pensou. Quem aquele cretino acha que é?

Fechou os olhos e passou a mão no local que havia sido atingido pelo punho de Jared. O pior de tudo, para Jensen, era saber que talvez ele merecesse aquele soco. Que talvez ele tenha pedido por aquilo. Que talvez tenha gostado... e que precise de mais.

-J2-

Jared se despediu do Dr. Wallace e seguiu para casa. Sua casa. Jeffrey era teimoso, ele devia ter imaginado que ele aprontaria alguma dessas. E seria bobagem negar que ele não ficara feliz com isso. Ele amava aquela casa, não queria ter de se desfazer dela. Não se imaginava longe dela. No fundo, gostava da ideia de ser assombrado pelos fantasmas que habitavam ali. Eles não o deixariam só.

Embora soubesse que precisava – e iria – seguir com a sua vida. Ele só gostaria de ter tido um pouco mais de tempo com Jeffrey. Ainda havia tanta coisa que eles queriam fazer juntos, tantos desejos... Tudo ficou pelo caminho. E Jared realmente não entendia como o filho do seu companheiro escolheu não aproveitar o único tempo restante que teria com o pai. Aquilo era inadmissível, inimaginável para Jared.

E os acontecimentos dessa manhã só o fizeram notar o quão desprezível era aquele sujeito. Não conseguia entender como Jeff fora capaz de gerar alguém assim. Realmente tinha algo muito errado com aquele homem, e Jared achava tão injusto que ninguém o fizesse ver o quanto ele era doente e pequeno. O quanto ele ainda tinha de aprender.

Jared não conseguia se conformar.

Continua...


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n/a: Desculpem pela demora! D:

Esse capítulo já está pronto há duas semanas, mas eu tive alguns problemas e não pude postar!!!

Obrigada a todos que tem lido e a quem deixou reviews!

Beijos! ;*