Chegamos a mais um capítulo de Encanto Grego! Agradeço imensamente aos queridos e atenciosos Orphelin e Sandra Alencar pelos comentários, bem como pelo apoio que tenho recebido! Aproveito para informar que este capítulo será como um "divisor de águas" desta fic, pois os próximos capítulos já estarão completamente interligados às sides "A Coleira Vermelha do Destino", "Insólito Amor", "Lar, doce Grego Lar", e "À primeira vista" (Sage&Albafica, ainda não comecei a postar essa, mas já está preparada para sair do 'forno'). Irei terminar de postá-las antes de dar continuidade a Encanto Grego, então espero que todos tenham tempo para acompanhar as histórias paralelas para não ficarem perdidos ao retornarem à história principal. Espero que gostem deste capítulo e das sides! Grande abraço, até mais!

Determinação

- Shion... eu posso entrar? – Hakurei parou de andar ao chegar na porta do quarto, temendo que o irmão reagisse mal à presença dele. No entanto, o olhar violáceo de Shion pousou sobre o dele com o temor e a admiração de sempre.

- É claro Haku, sente-se. – Shion suspirou, perguntando-se como pôde ter insultado aquele que cuidou de si como um pai. Baixou a cabeça, envergonhado, mexendo com as mãos calejadas pelo trabalho manual nervosamente quando Hakurei beijou sua testa antes de se sentar ao seu lado e encará-lo com preocupação.

- Desculpe-me Shion, eu não pretendia assustá-lo daquela forma. Eu deveria ter conversado com você antes... por minha culpa vo-...

- Não diga isso, Haku, a minha opinião não importa. Eu não deve-...

- É claro que importa! Eu só não imaginei que você fosse ficar daquele jeito!

- Eu... não tinha o direito.

- A culpa foi minha por ter sido tão repenti-...

- Mas eu não devia ter dito tudo o que eu disse, eu fui hipócrita!

- Mas mesmo que você e Dohko sejam homens, ambos têm a mesma idade. Você tem razão, Asmita tem idade para ser meu filho.

- Mas não é.

- Mas é amigo do seu filho, e tem a idade dele. Minha filha mais velha tem mais idade do que meu marido, você tem toda a razão em me recriminar. Especialmente depois de toda a dor que eu lhe causei no passado... – Shion arregalou os olhos com a atitude estranhamente submissa de Hakurei, percebendo o quanto suas palavras e mal-estar haviam deixado o irmão abalado, e ficou indignado por ver o irmão agir com resignação.

- Não, não tenho! Como é que você pode cogitar concordar com as coisas que eu disse? Seu marido é apenas um garoto, mas você não o ama? Vai desistir dele tão facilmente depois de me dar um susto desses? – Shion agarrou a gola da camisa de Hakurei, fazendo com que o irmão arregalasse os olhos.

- Não é isso Shion, fique calmo... eu só não quero contrariá-lo enquanto está nervoso. Eu não desistiria de Asmita mesmo que assim você desejasse. – Hakurei cobriu as mãos do irmão em sua gola com uma das mãos e o abraçou carinhosamente com o outro braço.

- Eu estou calmo! É que eu não posso me perdoar por ter sido tão injusto com você! – Shion apertou o abraço, emocionado com o gesto carinhoso do irmão.

- Não teria sido se eu não tivesse sido com você primeiro. Você espelhou em mim o preconceito que eu tive quando eu descobri sobre seu namoro com Dohko. Eu deveria ter tentado compreender, jamais deveria ter feito o que fiz. Você sofreu durante anos por minha culpa... o karma que eu lhe causei se voltou contra mim mais uma vez...

- Você só estava tentando me proteger! Não era?

- Sim, era.

- Então!

- Então o quê?

- Não fique se desculpando como se fosse um irmão idiota! Eu sempre tive orgulho de ter um irmão mais velho tão sábio e forte, não me faça arrepender disso! – Hakurei não aguentou segurar o riso ao escutar as palavras de Shion, gargalhando alto.

- Você é louco, Shion. Quer dizer que depois de tudo ainda se orgulha de mim?

- Eu? Louco?

- Sim, e estressado.

- Olha só quem está falando! Só está com essa cara sorridente porque está em lua-de-mel! Sabe há quantos anos eu não via você sorrir? – Shion tentou prender o riso, mas o sorriso de Hakurei era tão raro e cristalino que o contagiou. Era um alívio para Shion ver Hakurei voltar a sorrir, depois de anos em luto em razão da perda da esposa e do filho mais velho.

- É verdade, já sei do que você está precisando para desestressar!

- Hakurei, pare de concordar comigo! É irritante!

- E o que não te irrita, Shion?

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- Lar, doce segundo lar! – Sisyphos esboçou um enorme sorriso enquanto andava orgulhosamente pelo hall de entrada do hotel acompanhado dos dois belos sobrinhos.

- Obrigado pela carona, tio. – Aiolia caminhava pelo hall com uma expressão tão miserável que Sisyphos correu atrás dele, dando-lhe dois tapinhas nas costas e passando o braço pelos ombros dele.

- Olia, o que vai fazer amanhã de noite? Ainda tem praticado tênis com o seu irmão?

- Ele não vai jogar amanhã por causa do Saga. Acho que o Kanon tá deixando ele mais louco do que já é, brigando com o Milo todos os dias, e o Olos tá tentando dar um jeito no nervosismo dele.

- Hum... eles não mudam. E se eu fosse você, me manteria bem longe do Kanon para não piorar a situação. Mas que tédio você deve estar passando nesse hotel sem Aiolos! Que tal jogar tênis comigo e com o Cidão amanhã, para sair da rotina?

- Com o Cidão? Ficou louco, Sis? Aquele cara tem jeito de ser mal-humorado pacas!

- Mas ele não é. Só quando está trabalhando, ou quando alguém está tirando fotos minhas!

- Haha... então o cara é uma pilha, sempre tem alguém tirando fotos suas por aí!

- Quê isso, é proibido usar flash no hotel. Ele nem vai perceber!

- Fala sério, que cara ciumento! O que ele é, seu namorado?

- Nem é!

- Não mesmo?

- Não, mas só porque não quer!

- Ele não quer? Que cara louco! - Aiolia arregalou os olhos, surpreso. Afinal, seu tio Sis era sempre assediado por onde quer que fosse, por homens e mulheres das idades mais variadas.

- Não.

- Por quê?

- Diz que trabalha demais, que não tem tempo para isso.

- Ah tá... para trabalhar tem tempo, para namorar não tem. Do contra! Eu hein...

- Tá achando o quê, Olia? Que ser complicado é privilégio dos jovens? Então fica marcado para amanhã às dezenove horas. – Sisyphos riu com gosto, abaixando-se para encarar os olhos do sobrinho, e aliviado em perceber que ele parecia mais descontraído depois da breve conversa. Despediu-se dos jovens e saiu na direção de seu quarto com o celular em mãos, digitando uma mensagem nele. Aiolia seguiu na direção de seu próprio quarto, sendo seguido pelo primo sem que percebesse que o mais jovem o acompanhava em silêncio.

- Olia, seu namorado tá namorando o namorado do tio Sis até hoje? – Regulus se fez notar sem tirar os olhos do Playstation portátil, mas teve o aparelho tomado pelo primo.

- Eu já disse que o Milo não é mais meu namorado e que o Kanon não é mais namorado do tio Sis! Agora o Milo namora com o Kanon, eu já disse antes! Vou ter que desenhar? Vai lá falar pro Cidão que o Kanon é namorado do tio Sis, seu idiota!

- Vai você, eu não quero morrer ainda! Olia... seus pais estão viajando de novo? – Regulus tomou o Playstation portátil de Aiolia, guardando na mochila antes que o primo resolvesse quebrá-lo.

- Estão sim. Por quê? – Aiolia continuou a andar sem dar muita atenção ao garoto, tentando se esquivar de seus interrogatórios fora de hora.

- Você não se sente só sem o Milo e sem o Olos por perto?

- O que um pirralho como você sabe sobre isso? Vai ver se eu estou na esquina! – Aiolia escancarou a porta do quarto e se atirou na cama, gemendo de dor e levando a mão onde doía.

- Eu sei porque eu também ia ficar sozinho se o tio Sis não estivesse cuidando de mim desde que o papai morreu. Leãozinho, onde está doendo? Deixa eu ver? Eu vou fazer medicina, lembra? – Regulus se debruçou sobre o primo, puxando a blusa dele para cima e arregalando os olhos ao ver um hematoma no tórax dele.

- Nossa, Olia! Bateu em algum lugar? Você não colocou gelo nisso? Já está roxo! Deve ter arrebentado algum vaso sanguíneo!

- Não arrebentou nada, seu exagerado! Agora cala a boca que eu quero dormir!

- Só se você me deixar dormir aqui também!

- Mas que saco! Por que você não vai dormir com o tio Sis ou pede um quarto para você?

- Ele falou que era para eu dormir com você hoje. Que posso ficar no quarto dos seus pais ou outro quarto também, se eu quiser, mas eu não gosto de ficar sozinho!

- Merda! Você não consegue dormir sozinho até hoje e vai prestar vestibular, pirralho?

Regulus sorriu, sabendo ter vencido a discussão com o primo. Ligou para a recepção e pediu um balde de gelo e uma bolsa de água quente. Atirou as roupas de Aiolia jogadas sobre a cama em um canto qualquer do quarto e ajeitou um canto mais afastado dele para dormir. Ao receber o balde de gelo e a bolsa de água quente, passou a cuidar do machucado do primo com gelo enquanto ele se distraía em digitar uma mensagem no celular, apagar e digitar de novo até resolver enviar. Logo depois, Aiolos telefonou e Regulus aproveitou-se da nova distração do primo para trocar a bolsa de gelo pela de água quente, até que ele parasse de fazer careta de dor e conseguisse dormir. Acabou adormecendo também, satisfeito em se sentir útil enquanto futuro médico.

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Dohko andava de um lado para o outro na sala de espera da observação enquanto aguardava o retorno de Hakurei, perguntando-se qual teria sido a reação de Shion ao encontrar o irmão. As mãos dentro dos bolsos da calça suavam pelo nervosismo, o medo de perder o marido caso ele se exaltasse novamente o corroia. Praguejava mentalmente contra Asmita, culpando o jovem por qualquer mal que pudesse ser causado a Shion pelo reencontro com Hakurei – conhecia o marido a ponto de ter a certeza de que ele não chamaria pelo irmão antes de acalmar o filho e lhe garantir que tudo está bem e que ele não precisaria se preocupar consigo. Em suas andanças em círculo, deparou-se com Mu e deu o melhor de si para esboçar um sorriso que acalmasse a si mesmo e ao enteado.

- Doh, o médico disse que hora iria liberar o meu pai da observação?

- Provavelmente pela manhã, mas você não precisa passar a noite aqui. Seu pai ficará mais tranquilo se você retornar para o hotel e esperar por ele lá. Onde está o seu amigo Femanis? – Mu apertou os punhos ao escutar o sobrenome de Aiolia, só então se recordando de que ele é filho dos ausentes patrões de seu pai. Pensando bem no assunto, só havia visto o casal de patrões duas vezes nos dois meses em que estava na Grécia, e demorou a conhecer os irmãos Aiolia e Aiolos em razão da longa viagem que os mesmos fizeram à filial hoteleira de Creta.

- Nós discutimos, acho que ele voltou para o hotel. – Dohko afagou os cabelos de Mu, sorrindo de canto.

- Eu e seu pai discutíamos bastante antes de nos acertarmos de vez... – Mu torceu o nariz ao notar o sorriso de Dohko se alargar.

- Não vejo sentido na sua comparação, não tem nada a ver! Olha só quem está voltando! E agora é a minha vez de ir lá falar com o meu pai. Não vá furar fila para matar saudades de novo, hein! – Mu brincou com o padrasto, eufórico em ver o tio retornar pelo corredor com um leve sorriso no rosto, e nem esperou que Hakurei se aproximasse deles para andar apressadamente pelo corredor por onde ele havia passado. Abriu a porta do quarto e avistou o pai na cama, ajustada de forma que ele pudesse se manter confortavelmente sentado. Pai e filho entreolharam-se e Shion sorriu alegremente. Mu abraçou o pai com carinho e delicadamente, afundando o rosto nos cabelos dele.

- Que susto você nos deu, pai! Por favor, nunca mais faça isso! – Mu fixou os olhos nos do pai e franziu o cenho, recebendo em resposta dois beijos em sua testa, um em cada pintinha.

- Eu prometo. Não quero ver você com o rosto enrugado nessa idade! – Shion deslizou o polegar pela pele franzida entre as pintinhas dele, sentindo o abraço do filho se apertar. Ficaram abraçados em silêncio durante alguns minutos, enquanto o pai afagava os cabelos do filho e ele desfrutava do som das batidas do coração do pai.

- É bom que você cumpra a sua promessa, ou vai ficar sem marido. O Doh está quase fazendo um buraco no chão de tanto andar para os lados e até tomou chocolate quente...

- Chocolate quente? Ele não gosta de chocolate quente! E ninguém trouxe para mim?

- Pai! Pensando em chocolate quente numa hora dessas? – Mu riu abertamente, sacudindo a cabeça divertidamente. - Eu irei para o hotel, mas comporte-se enquanto estiver sozinho com o Doh! Seus batimentos cardíacos estão sendo monitorados!

- Mu! - Shion gargalhou ao imaginar que qualquer tentativa de namoro no quarto poderia ser interrompida por algum plantonista desesperado.

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Aiolos deixou o celular no modo silencioso após conversar com Aiolia e verificar que o irmão estava bem, pois havia se surpreendido com o telefonema súbito dele. Mexia nos cabelos de Saga, que finalmente parecia haver se acalmado após ter tomado algumas (muitas) gotas de rivotril com suco de maracujá. Saga voltou o olhar para Aiolos ao notar que era observado, sem mover a cabeça do colo dele.

- O que foi?

- Estou admirando você... – Aiolos abaixou o tronco, capturando o corpo de Saga em seus braços e rolando por cima dele na cama, deleitando-se com a visão do namorado descabelado sobre a cama.

- Acha que algumas gotas daquele remédio irão me derrubar? Irá precisar de mais do que isso. – Saga sorriu ironicamente, deslizando as mãos pelos braços e ombros de Aiolos.

- Acha que eu pretendia te derrubar com aquele remédio? Você sabe que eu gosto de viver perigosamente... – Aiolos sorriu de canto, lambendo os lábios de Saga.

- Acho que preciso de um remédio mais forte. Alguma sugestão? – Saga deslizou a mão pelo tórax e ventre do namorado, descendo pelo baixo ventre quando um barulho alto vindo do outro lado da parede os interrompeu. Saga levou as mãos ao rosto ao escutar o que parecia ser algo se quebrando, e respirou pesadamente. Seguiram-se gritos de Kanon, Milo, e o barulho de algo (ou alguém) sendo atirado no chão.

- É sério, Aiolos. Eu não aguento mais... precisamos nos mudar antes que eu enlouqueça de vez. Antes que eles se matem, eu ainda mato aqueles dois. – Aiolos suspirou, abraçando o namorado.

- Amanhã a gente resolve. Vem. Vamos para a sala...

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Mais de uma hora se passou até que Shaka e Camus finalmente pudessem deixar o hospital, com o diagnóstico de uma torção no tornozelo de Camus e de uma contusão no maxilar de Shaka. O motorista do Hotel Femanis se assustou ao ver o rosto inchado do loiro que estava aparentemente saudável quando chegou ao hospital, mas nada disse. Os rapazes se dirigiram à recepção e pegaram as chaves dos dois quartos: do que estavam a princípio e do quarto que Camus havia reservado para si quando discutiram. Shaka ajudou Camus a se deslocar até seu quarto, ficando um tanto desconcertado quando ele se sentou com as costas recostadas no encosto da cama, sem saber o que dizer ou como agir diante dele.

- Você prefere que eu vá para o outro quarto ou que eu lhe faça companhia?

- Prefiro que fique. Creio que não há mais razões para dormirmos em quartos diferentes, embora seja tarde para deslocar a minha bagagem ou a sua.

- Então você não se importa se eu dormir na mesma cama que você? No outro quarto há duas camas, neste há apenas uma. – Shaka observou com algum receio, temendo que Camus rejeitasse a sua proximidade por estar chateado com ele.

- Você se importa?

- Não. Mas não foi esse o motivo da minha pergunta. É que... não sei mais como lidar com você. Digo... ainda não assimilei tantas mudanças repentinas e sei que ainda está chateado comigo. A verdade é que não consigo distinguir o que devo e o que não devo fazer, o que devo ou não dizer, porque sempre havia imaginado que o certo seria tratá-lo como sempre tratei ao meu irmão. – Camus franziu o cenho ao ouvir a voz de Shaka soar um tanto hesitante, em contraste com a personalidade forte e decidida dele.

- Você me ama?

- Sim. Eu te amo, Camus.

- Então tenha isso em mente, e esqueça o resto.

- Está me dizendo para ser irracional? Ou apenas inconsequente?

- Estou tentando dizer que prefiro que você aja de forma coerente com os seus sentimentos.

- Você poderia ser mais específico?

- Você poderia ser mais pragmático?

- Mas estamos em uma discussão semântica!

- Afinal, o que você gostaria de fazer neste exato momento se não estivéssemos em uma discussão semântica?

- Eu gostaria de beijá-lo.

- Então por que não beija?

- Porque não sei se é essa a sua vontade. Espere... essa foi uma pergunta retórica ou se trata de um verdadeiro questionamento? – Shaka parecia confuso, tentando perceber através da leitura corporal algum gesto que pudesse lhe servir como dica para a resposta. Porém, Camus lhe parecia o mesmo de sempre: impassível, impossível de ser 'lido'.

- Por que não testa a hipótese positiva? Você tem 50% de possibilidade de acerto.

- Oh sim, e 50% de possibilidade de erro.

- É uma questão de perspectiva. Por que você não tenta deixar de ser tão pessimista? – Camus sorria levemente diante da expressão surpresa do outro.

- Você sorriu para mim... – Shaka pensou alto em um murmúrio, boquiaberto. Até então ele não se lembrava de ter visto Camus sorrindo para si sem que o assunto fosse Asmita. Antes julgava que Camus preferia seu irmão, mas agora perguntava-se o motivo da seriedade constante dele diante de si. Concluiu que Camus estava sempre sério perto dele porque lhe devia ser difícil esconder seus sentimentos se assim não agisse, e que por isso ele não aparentava apreciar a sua companhia. – Então apostarei na perspectiva otimista. 50% de acerto.

Shaka sentou-se na beirada da cama de frente para Camus e roçou seus lábios nos dele, deslizando a ponta da língua por entre eles para umedecê-los, e os adentrou com sua língua vagarosamente, ignorando a dor em movimentar o maxilar e ocasionalmente esbarrar o queixo no rosto dele para continuar com aquele contato, sendo correspondido pelos lábios entreabertos e pela língua do outro enroscando-se lentamente na sua. As mãos de Shaka deslizaram pela nuca e ombro de Camus, descendo por seus braços, antebraços, e os dedos quentes se entrelaçaram nos dedos gelados até apertá-los. Apartaram o beijo e Camus afastou os fios loiros da face esquerda, distribuindo cuidadosamente alguns beijos onde estava inchado. Shaka tocou as têmporas dele firmemente com as pontas dos dedos, deslizando-os para o couro cabeludo para afastar as mechas ruivas das faces alvas para distribuir algumas carícias ali, antes de tomar os lábios dele em um beijo um pouco mais intenso que teve de ser interrompido pela dor insuportável que ele sentiu ao forçar o maxilar.

- Vamos colocar mais gelo nisso, Shaka... – Camus suspirou, esperando que o loiro teimoso se levantasse e buscasse o balde de gelo.

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Mu retornou do quarto onde Shion estava em observação com a recomendação de que deveria voltar para o hotel com Hakurei e Asmita. Dohko estava aliviado por ter visto Hakurei retornar do quarto com uma expressão amigável, e se despediu do enteado com um abraço carinhoso e um beijo na face, para então agradecer a Hakurei e Asmita com uma mesura oriental. Hakurei imitou o gesto de Dohko, e Asmita fez o mesmo depois de assimilar com surpresa o que significavam aqueles gestos. Dohko retornou ao quarto de Shion, e Mu sorriu satisfeito, acompanhando o tio e o amigo até o estacionamento e esquecendo-se temporariamente da discussão com Aiolia.

Hakurei abriu a porta do carro para Asmita e Mu entrarem, mas estendeu o extenso braço à frente do sobrinho quando ele ia entrar no veículo, impedindo sua passagem. Mu trombou no braço do tio e o encarou com surpresa, sem entender o motivo daquela atitude, quando Hakurei ergueu seu braço esquerdo para observá-lo. Foi só então que Mu percebeu que a pressão dos dedos de Aiolia havia deixado uma marca em seu braço, e engoliu seco ao notar como o tio estava com uma expressão realmente assustadora. Praguejou mentalmente por não haver descoberto antes de Hakurei aquela marca para poder escondê-la antes que o tio visse, mas era inútil lamentar agora.

- Quem fez isso com você, Mu?

- Ahn... isso? Não foi nada... nem foi por querer, tio! É que eu fico marcado por qualquer coisa, minhas pernas sempre ficam marcadas quando esbarro em qualquer lugar e... – Mu foi se encolhendo sob o olhar inquisidor de Hakurei.

- Não foi o que eu perguntei. – Hakurei rosnou entre os dentes, procurando por Aiolia com o olhar, e Mu voltou o olhar para Asmita à procura de alguma ajuda para inventar qualquer desculpa, mas já imaginava que o amigo não iria colaborar com Aiolia logo depois de ter o irmão gêmeo golpeado por ele.

- Amor, porque pergunta a Mu se já sabe a resposta? – Asmita suspirou, sabendo que Hakurei chegaria à conclusão correta mesmo que ele e Mu tentassem dissimular ou inventar alguma desculpa.

- Eu vou matar aquele grego!

- Não, não vai! - Mu respondeu em um ímpeto, temendo pela integridade física de Aiolia ao notar a expressão do tio para si. Tinha plena certeza de que Hakurei realmente mataria Aiolia se ele estivesse à sua frente naquele momento. Percebeu que, devido aos últimos acontecimentos, Asmita pouco parecia disposto a auxiliar o grego, mas decidiu recorrer à amizade dele para evitar que um desastre acontecesse. Asmita logo percebeu o olhar suplicante de Mu para si e suspirou vencido, tomando as chaves do carro da mão do marido e trocando com ele um olhar intimidador.

- Não que eu tenha a intenção de defender aquele grego, mas você prometeu que não se intrometeria mais nos assuntos dos seus parentes. Mu é maior de idade, é consciente dos seus atos e anda na companhia daquele rapaz por livre vontade. E pela semelhança física de Aiolia com Sisyphos e Regulus, imagino que sejam parentes próximos...

- Sim! Ele é primo do Regulus, é sobrinho do Sisyphos e do seu falecido amigo Ilias, tio. E, mais importante... ele não me machucou por querer. – Mu finalmente se pronunciou, esquecendo-se de respirar ao sentir a pesada mão do tio pousar carinhosamente sobre sua cabeça.

- Você gosta dele de verdade, não é? – Os olhares verdes se cruzaram, e Mu engoliu seco diante da pergunta do tio. Notando o desespero do amigo, Asmita passou o próprio antebraço pelo dele, puxando-o para entrar no carro antes que o interrogatório de Hakurei começasse.

- Asmita, eu estava conversando com Mu!

- Deixemos essa conversa para depois, já é madrugada! - Hakurei bufou com a resposta do marido, observando o sobrinho de canto de olho, extremamente preocupado com ele, quando o celular vibrou no bolso da calça.

- A essa hora, Sage? O que foi? Hum... já está tudo bem com Shion, ele deve ter alta pela manhã. Como assim irresponsável? Faria alguma diferença se você estivesse aqui, energúmeno? Não estou dizendo que você seja inútil, quero dizer que a sua presença não seria necessária neste momento! Mu está ótimo, melhor impossível. Já até arrumou um namorado na Grécia. É verdade sim, acha que eu inventaria isso? Como ele é? Eu diria que...

- Tio! – Mu estreitou os olhos para Hakurei, irritado com o tio pela 'delação'. Conhecendo Sage, ele certamente se deslocaria de onde quer que estivesse para conhecer seu 'namorado', perguntaria as intenções dele, o ameaçaria caso fizesse algo de 'errado' consigo, e ainda passaria algum tempo observando-os para se certificar de que o 'namorado' estava cumprindo com o 'combinado'. Hakurei estreitou os olhos em resposta, continuando a conversa com Sage como se Mu não tivesse se manifestado. Asmita deu partida no carro com alguma dificuldade, e já estavam no meio do caminho quando Hakurei desligou o telefone.

- Escute, Mu. Sage pode ter sido um péssimo pai, mas é um excelente tio para você, e tem todo o direito de se preocupar com o que lhe acontece ou deixa de acontecer. Já não está na hora de você parar com essa implicância?

- Que implicância? Não sei do que você está falando, tio... – Hakurei revirou os olhos ao mirar a expressão contrariada do sobrinho, que agora havia cruzado os braços e observava alguma coisa 'importante' na calçada.

- Perdoem-me por interromper... mas acho que estamos perdidos. – Asmita declarou, para a surpresa de Mu e Hakurei, que só então se deram conta de que o loiro se esforçava sozinho no intento de refazer o caminho feito na ida para o hospital.

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- Alba, prepare as nossas malas e pegue as chaves da sua casa, sim? – Sage suspirou longamente e massageou as têmporas, contendo o gênio difícil para não descontar o nervosismo nos familiares.

- Ficou louco, pai? Só porque o Mu arrumou um namoradinho grego? – Manigoldo trincou os dentes ao notar o olhar de Sage sobre si, arrependendo-se da pergunta. Era óbvio que o pai perseguiria qualquer um que 'ousasse' se aproximar demais do seu queridinho Mu, e não havia nada que ele ou ninguém pudesse fazer para impedi-lo quando estava determinado a fazer alguma coisa, nem mesmo Albafica. – Já entendi, pai. – Levantou-se, irritado, deixando todos para trás e batendo a porta do quarto.

- E o Odin, tio? – Yuzuriha, ainda incrédula, apontou o dog alemão gigante que estava em alerta, já observando Sage com desconfiança.

- Vamos de carro, oras!

- Mas tio, o papai não vai ficar bravo com o senhor? – Atla estava um tanto apreensivo com a decisão súbita do tio, lembrando-se de que estavam no apartamento dele justamente porque o pai e Asmita estavam em lua-de-mel.

- Vamos ficar na casa do Alba, Atla. Deixe o seu pai comigo...

- Ah... – Atla teve um péssimo pressentimento, mas Yuzuriha se abaixou, murmurando no ouvido dele.

- Oras... você não quer ver o Reggie? Ele não iria para Athenas nesta semana? – Atla exibiu um sorriso radiante, segurando a mão da irmã e puxando-a para o quarto de visitas, para que ambos fizessem as malas logo. Sage trocou um olhar cúmplice com o marido, indo até a porta do quarto do filho e batendo fortemente nela.

- Mani, abra a porta. – Passaram-se alguns instantes sem que o garoto abrisse a porta, no que Sage a esmurrou com mais força. – ABRA LOGO, MANIGOLDO! – Logo a porta foi aberta por dentro, no que Sage entrou no quarto e a trancou novamente, discutindo fervorosamente com o adolescente. Albafica finalmente se ergueu do sofá, suspirando longamente e andando até o próprio quarto, seguindo as orientações de Sage, apesar de ter a certeza de que aquela era uma péssima ideia.

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Fim deste capítulo!

Muito obrigada,

Até mais!

Nathalie Chan