Disclaimer Básico:
- Saint Seiya Não Me Pertence! Uma pena, eu sei, todas nós merecíamos nem que fosse só um pouquinho...
- Mu tb não me pertence, nem o Shaka, nem qualquer outro, mas nessa fic eu faço deles o que eu quiser! E se você não curte Yaoi, ou cenas fortes, ou muito açúcar, sugiro que procure ler um livro.
- Como ariana de corpo e alma (e nascença, óbvio), eu sei muito bem como é ser esse bicho esquisito da primeira cas zodiacal. Por isso, nessa fic, o Mu vai ser mais humano que realmente aparece no anime, ok?

Enjoy Minna!
Tsuki Koorime

Ps.: Semelhanças com a vida real não são mera coincidência... e eu ainda vou me matar por escrever isso...


Por Trás de Mim Mesmo

Capítulo 1.

"Aqui: cada cidade é uma ilha, sem laços, traços, sem trilha

E o medo a nos rodear

Então: bem vindos à minha terra feita de homens em guerra

E outros loucos pra amar"

Pierrot - Marina Lima

Os olhos verdes abriram-se lentos, alongando aquela sensação única que dava a si mesmo. Um dia de paz. Mu fitou o céu claro das 11horas, erguendo os braços num gesto preguiçoso.

Estava cansado. A guerra contra Hades fora mais que uma simples batalha. Havia sido a batalha mais crucial que o Santuário presenciara nos últimos tempos. E ele estava lá, lutando, defendendo Athena, protegendo seus amigos e companheiros, ainda que lutando contra eles, ainda que deixando em seu peito um coração gritar por dentro pela morte de quem não se pôde evitar...

Suspirou, abaixando a cabeça, as mãos puxando para trás os cabelos arroxeados e soltos, as costas se arqueando até tocar a parede, os pés um pouco para frente e os olhos longes num ponto qualquer além dos portões do templo.

Agradeceu, em seu íntimo, mais uma vez pela bondade de sua deusa. Seus amigos estavam todos de volta. Todos eles voltaram do reino de Hades e receberam sua nova chance. Ele voltara, mais que uma recompensa de todo seu sacrifício. Talvez, Mu pensava em segredo, fosse uma recompensa por sua própria devoção à deusa...

"Você está um carneirinho muito prepotente hoje." - disse para si mesmo, rindo.

Virou-se, fitando a longa escadaria para as próximas onze casas. Lembrava exatamente daquele dia, quando todos voltaram, quando sentiu aquele cosmo amigo lhe tocar a alma mais uma vez. Ele subiu as escadas feito um louco, largando sua casa sem hesitação. E de repente, aquele sorriso, aqueles olhos se abrindo devagar, num comprimento mudo e sincero. Não se conteve, abraçando o cavaleiro de Virgem.

Shaka me olhou com aqueles olhos azuis e secretos dele, que eu já perdi a conta de quantas vezes tive a honra de ver. Ele sorriu, aliviado, e me disse com a voz baixa de sempre que estava bem.

"Não! Nada de bem! Você está de volta, Shaka! Você voltou dos..."

Mas eu nunca terminei. Droga de estrela essa a de Áries, te deixa sentimental nas horas mais impróprias... eu queria dizer tanta coisa pra ele, e simplesmente não sabia como. Eu, que sempre tive uma palavra certa na hora certa, fiquei mudo diante dele.

Completamente...

"Estou feliz por ter voltado, Mu, meu amigo."

Sim, eu também estava feliz. Mas além de emotivos, todo ariano é um egocêntrico emocional. Eu queria mais palavras... eu queria... eu queria tanta coisa que não cabia dentro de mim e, por um momento, eu achei que todos aqueles anos calados ao seu lado estavam descritos na minha cara, numa nudez explícita e cortante.

E ele simplesmente disse:

"Eu também estava sentindo sua falta, ariano."

Mu voltou a abaixar a cabeça, agora sem se importar dos fios que lhe caiam sobre a face.

Houve uma grande festa, tudo parecia estar em paz e progredindo. Então Milo e Camus se acertaram, ali mesmo, na frente de todo mundo. Não demorou muito até outros 'casais' aparecerem: Afrodite e MM, Aioria e Marin, até aquele menino, o Seiya parecia não querer mais tempo e estava sempre ao lado de sua querida Saori Kido.

Tudo andava, seguia em frente, correndo em seu rumo certo.

Menos ele. Menos Mu. Menos aquele eterno guardar de sentimentos preso sob sua proteção ao amigo virginiano.

Nada mudara entre os dois. Nem se distanciaram, nem se aproximaram, nada. Nem um único momento, um movimento sequer, uma linha que fosse entre antes e depois. Nada. Mu continuava a ser o único e mais confidente amigo de Shaka, lhe servindo de companhia nas horas de sossego, ou até de desafio num treinamento mais adequado.

E era exatamente isso que o cansava. Sob a face calma e serena, aqueles olhos verdes e passivos, ardia o fogo que só aqueles sob o signo de Áries saberiam entender. Um fogo silencioso, alastrante, que se expande por todo o corpo e consome qualquer razão e pensamento, num momento fugaz e fosco, desaparecendo como veio, deixando suas marcas além do pensamento, em cada gesto, em cada lembrança.

Era assim que Mu se sentia. Em cinzas.

Olhou novamente para as escadarias, já ouvindo as vozes dos outros cavaleiros. Já era perto do meio-dia? Nem notara. Estava cansado demais para se importar com o tempo. Olhou para o céu, e sorriu com nua tristeza.

"Hoje vai chover."

Respirou fundo, obrigando os lábios a se inclinarem levemente, num doce sorriso que recebia os amigos. Já estavam bastante abalados com sua mudança de hábito matinal - quem poderia aceitar que o ariano mais controlado de todo Santuário se deixasse na cama até as onze da manhã? Não, já bastava de assunto para um dia inteiro.

Ajeitou a bata, seguindo os amigos escadarias acima.

Olhou para o horizonte, longe, onde árvores escuras se formavam lentamente.

Era uma pena, um dia tão bonito...

Era mesmo uma pena ter tomado aquela decisão, um amor tão perfeito...