Carmen purificationis OU Eles não são anjos

Tot ad finem praeliorum
bonus angelus malo mortem intulit
cuius corpus praeceps dedit flumini.

Evaserunt undae rubrae
sanguine perenniter,
mortui sunt et pisces omnes.

Lumen tamen unde veniens
nemo fuit qui diceret
mundo illuminando apparuit,
angelusque vulnus alter persanavit
dimicantis angeli.

Carlos Drummond de Andrade

xoxoxoxoxoxxoxo

Quase tres horas se passaram desde a confirmação da morte do Professor Remus Lupin; devagar o salão principal da escola foi recebendo alguns poucos bruxos, uma vez que era obrigatória a presença de alguns membros do Ministério em uma situação dessas.

Fora aquele grupo de cinco bruxos que eu não conhecia, o restante das pessoas era de outros professores e poucos alunos da escola, o Diretor, Madame Pomfey... e meu colega Draco Malfoy.

- Foi um prazer trabalhar com a Senhorita, Senhorita Silva.

Vaca mentirosa, falsa.

- O prazer foi meu, Senhor Malfoy.

Ser ignóbil, abjeto !

- Acho que Sev... o professor Snape está precisando de consolo, está sozinho quieto ali no canto.

Vai logo pegar seu butim, lixo humano! Antes que ele perceba a porcaria que você é.

- É... acho que é um bom momento para me aproximar.

Vende até a alma pelo que quer, sangue-puro...pura perversão, isso sim.

- Professor Snape...professor ?

- Ah. Malfoy.

- Sinto muito, professor.

- Sei o quanto sente, Malfoy.

- Eu também admirava o professor Lupin.

- Você o admirava.

Mentiroso.

- Sim, Professor... alguém para conquistá-lo tem que ser realmente admirável.

- Ah.

- Professor - e o toque em seu braço era um misto de conforto e promessa de toques menos sutis - saiba que estarei por perto. Sempre, sempre estarei.

- Ótimo... Draco.

Fosse o tom de voz - baixo, (cansado?) -com que foi dito seu primeiro nome, ou fosse o olhar intenso dirigido a ele, Draco percebeu naquele momento que tinha ganho a batalha. Não pode esconder perfeitamente o brilho de júbilo em seu olhar, apesar da máscara de seu rosto continuar a mesma, mas não retirou o braço de onde estava. E ato contínuo sentiu a mão do professor sobre a sua, dando tapinhas enquanto dizia :

- Estou cansado, Draco, por favor me acompanhe ao meu gabinete. Não pretendo dar demonstrações sentimentais a nenhum dos presentes.

- Claro, professor... Severus.

A outra mão tocando a testa úmida de suor, o braço do aluno sustentando o seu - e a si mesmo -, com passos lentos e quase inseguros ele se retirou do grande salão principal onde estava sendo velado o seu companheiro de tanto tempo, Remus John Lupin, o lobisomem registrado no Ministério da Magia que mais tempo viveu, graças à sua poção Mata-Cão.

Todos os olhares seguiram os dois que devagarinho se retiraram para a sala de Snape, num misto de perplexidade e compreensão.

Somente após a saída de Snape da sala é que meus olhos conseguiram chorar todas as lágrimas que meu coração insistia em gerar. E tardia e dolorosamente me dei conta que também eu amava aquele lobisomem.

xoxoxoxoxoxoxoxoxoxox

- Sente-se aqui... Severus.

- Obrigado, Draco.

A mão demorada no braço do outro, a mão escorregando pelo seu corpo... não, ele não estava entendendo errado. Snape era seu. E fora tão fácil, tão absurdamente fácil que ele deveria ter pensando nisso há mais tempo. Mas não podia, de maneira alguma se expor a que pensassem que ele tinha envenenado propositamente o maldito lobisomem, não ele, filho de Lucius Malfoy, futuro Ministro da Magia.

- Me ajude a me deitar um pouco aqui no sofá, fique aqui comigo.

Seu corpo tremeu um pouco ante a expectativa de que tudo daria certo tão rápido, mas como bom sonserino prosseguiu bancando o amigo solícito.

Snape virou-se de costas para ele, abrindo uma gaveta na sua escrivaninha e puxando de lá uma corrente com um belíssimo pingente cor de âmbar, entregou a corrente a Draco.

- Um presente. Muito especial.

- Era... dele ?

- Não, mas foi feito para ele. Um amuleto de proteção, de... alma.

- E você está me dando ?

- Porquê, estou entendendo errado suas atitudes, Draco ?

- Não. Não. Sou todo seu, para o que quiser, Severus.

- Excelente, Draco. Era exatamente o que eu precisava ouvir.

E aproximou-se do loiro, beijando-o longamente, enquanto prendia o fecho da corrente, pousando-a em seu pescoço.

- Draco.

- Sim, Severus ?

- Você não tem frequentado todas as suas aulas.

Um sorriso nos lábios finos, quase de escárnio.

- Tenho, sim.

- Então não tem se aplicado devidamente.

Mal tinham se aproximado, o outro já queria controlá-lo... bem estilo dele, mesmo. Mas hoje, somente por hoje, ele faria o joguinho dele. Afinal, quem se deixava enganar tão facilmente por um aluno era muito fácil de controlar. Somente o mestiço lobisomem é que não tinha tirado proveito disso.

- Porquê diz isso, Severus ?

A tentativa de roubar um beijo, frustrada pela mão interpondo-se à boca cúpida.

- Oclumência. Torna Incorporatione Änima Remus John Lupin corpore Draco Lucius Malfoy.

O sorriso desmanchado no rosto, o grito mudo da percepção da dimensão do que tinha sido feito, o rosto abaixado até o peito, a febril e vã tentativa de arrancar o amuleto, o brilho azulado que emanou do cristal e envolveu completamente o loiro...o amuleto tornado rosa novamente, sua cor original, e o sorriso voltando rapidamente ao rosto que se ergue vencedor. Mas de outra forma.

- Você demorou.

- Ele era um Malfoy, eu tinha de ser sutil. Tudo bem, Remus ?

- Tudo, meu amor.

- Vamos, temos de voltar ao salão principal e enterrar aquele corpo. Você ficou bem de olhos claros.

xoxoxoxoxoxoxoxoxo

Poema da purificação

Depois de tantos combates
o anjo bom matou o anjo mau
e jogou seu corpo no rio.

As água ficaram tintas
de um sangue que não descorava
e os peixes todos morreram.

Mas uma luz que ninguém soube
dizer de onde tinha vindo
apareceu para clarear o mundo,
e outro anjo pensou a ferida
do anjo batalhador.

Carlos Drummond de Andrade

Torna Incorporatione Änima Remus John Lupin corpore Draco Lucius Malfoy. Volte a incorporar-se, alma de Remus John Lupin no corpo de Draco Lucius Malfoy. Não precisa nem bola de cristal pra ver que é magia negra da Braba, né ? :)

a-há ! Vocês acharam que eu teria coragem de matar o Lupin ? Eu não, adoro esse lobisomem...e espero que tenham curtido Venenos, como eu curti escrevê-la.

E quero agradecer a alguém em especial : Marck Evans, que teve paciência e esteve próximo enquanto eu me engalfinhava com os venenos de escrever minha primeira fic slash. Obrigada, meu amigo.